Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

Ainda entre 2003 e 2006, a capacidade arrecadatória vinha crescendo
impressionantemente em todos os estados brasileiros – a uma média de
8% ao ano. No Espírito Santo, o salto foi ainda maior: os recursos à
disposição do governo Hartung cresciam quase 12%, em média, ano após
ano. José Teófilo Oliveira, que comandou a Fazenda estadual de 2003 a
2008, estima que nenhum outro estado da Federação tenha aumentado
tanto a receita de icms nesse período quanto o Espírito Santo.


Os gastos com pessoal, contudo, cresceram menos, cerca de 4% a cada
ano. O resultado é que, ao fim do primeiro mandato de Hartung, a fatia
da receita despendida com servidores havia diminuído, ficando entre as
menores do país – uma realidade que, apesar das flutuações nos
mandatos e governos seguintes, continua a valer até hoje. Em 2017,
apenas São Paulo destinava uma fração menor do seu orçamento para o
pagamento de ativos e inativos.


Antes do fim da década passada, os poços de petróleo capixabas também
começaram a produzir cada vez mais óleo e gás. “Nós pulamos de 16 mil
barris por dia para 400 mil barris”, lembrou Hartung. “Esse troço
empurrou tudo.” A circunstância de tudo ir bem na economia ajudou o
governador a montar, no poder, um espectro de alianças que ia da
esquerda à direita, arrastando tudo que se encontrava pelo caminho.
Numa entrevista que me concedeu no início de fevereiro, o expresidente
Fernando Henrique Cardoso se referiu a Hartung, no período em que
esteve no poder, como “o dono, entre aspas, do Espírito Santo”.


Prestes a completar o primeiro mandato, Paulo Hartung trocou
novamente de partido, mudando-se afinal para a legenda que
tradicionalmente é capaz de conciliar tantos interesses distintos: o PMDB.
“Fiquei pouco tempo no PSB. Foi uma passagem, uma baldeação”, ele me
disse, menos como quem se justifica do que como alguém que constata
um fato.


Na política nacional, o ex-tucano se aproximava cada vez mais do
presidente Lula e do pt, com reflexos nas escolhas locais. Luiz Paulo
Vellozo Lucas, que foi prejudicado por Hartung em suas ambições
políticas nesse período – e que até recentemente se manteve fiel ao
projeto partidário e ideológico do PSDB –, é crítico à concentração de

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