Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

plástico, para aumentar a capacidade de armazenamento. Depois,
substituiu a caixa-d’água de cimento por outra maior. Por fim, na última
década, transferiu as duas caixas para dentro da garagem, a fim de evitar
que lhe roubassem a água, infração que estava se tornando comum na
cidade.


Também Júlia instalou uma caixa-d’água em seu apartamento, há alguns
anos. Com capacidade para 500 litros, a estrutura ocupa metade da área
de serviço. De início, foi apenas uma precaução, mas com o tempo a
caixa-d’água tornou-se algo indispensável. Nos últimos anos, a água da
rua deixou de chegar ao conjunto residencial. O condomínio precisou
cavar um poço artesiano para abastecer os apartamentos, segundo um
cronograma de fornecimento. Primeiro, enche-se a caixa central dos dois
blocos; em seguida, a água é transmitida durante um par de horas aos
prédios, para que os vizinhos encham suas caixas-d’água, baldes e/ou
garrafas. É o que Júlia faz, quando a água finalmente volta a fluir: ela não
só enche sua caixa na área de serviço como também a máquina de lavar
roupa – cuja água será usada para lavar a roupa à mão –, várias garrafas
de plástico e um balde de 50 litros que coloca no box de um dos
banheiros.


Com o apagão, entretanto, as bombas hidráulicas do condomínio
deixaram de funcionar, e fazia cinco dias que Júlia não recebia uma gota-
d’água sequer. A reserva da máquina de lavar roupa foi a primeira a
acabar. Depois, terminou a água guardada no balde no banheiro. Ela
teve, então, que instalar uma mangueira na parte inferior da caixa na área
de serviço para retirar a água dali. Assim, toda manhã, minha cunhada
senta num banquinho, abre a chave conectada à mangueira e enche
pacientemente uma dezena de garrafas de 5 litros. É a água do dia, que
servirá para o banheiro e os trabalhos na cozinha. Embora a tarefa seja
cansativa, principalmente no calor, Júlia não se queixa, diz apenas que
gostaria de saber quando a eletricidade e a água vão voltar, para ela
poder lavar o cabelo, que usa sempre preso.


A geladeira, desligada há três dias, começa a cheirar mal. Júlia a deixa
semiaberta e examina a pouca comida que resta para conferir se ainda
resiste à falta de refrigeração. Em Maracaibo, cidade com altas
temperaturas o ano inteiro, o impacto da falta de eletricidade é muito

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