Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

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“Não se deve confiar num político que nunca perdeu eleição”, diz Luiz Paulo Vellozo Lucas sobre Hartung. “Quem nunca
perdeu é porque mudou muito de lado” CREDITO: EGBERTO NOGUEIRAÍMÃFOTOGALERIA


aulo Hartung recebeu o convite no apagar das luzes de 2014, depois
de encerrada a dura campanha eleitoral daquele ano. Havia saído
vitorioso na disputa pelo governo do Espírito Santo e já preparava
as medidas inaugurais de um terceiro mandato à frente do estado,
quando soube que o chefe do Executivo fluminense, Luiz Fernando
Pezão, gostaria de recebê-lo para uma conversa, no Rio de Janeiro. O
encontro, à primeira vista corriqueiro, reunindo à mesa dois antigos
aliados, cresceria em importância e significado nos anos seguintes,
sobretudo quando rememorado por admiradores de Hartung.

O anfitrião havia sido vice de Sérgio Cabral por dois mandatos, e naquele
momento tinha acabado de conquistar, pelo voto, o comando do Palácio
Guanabara. Queria ouvir de Hartung – economista de formação e seu
correligionário no pmdb – impressões sobre a economia brasileira e as
finanças públicas nos dois estados, os maiores produtores de petróleo e
gás no país.

Havia motivos de preocupação. Em dezembro de 2014, estimativas de
integrantes do mercado financeiro reunidas no boletim Focus, do Banco
Central, indicavam quase estagnação da economia no ano seguinte, com
alta prevista do Produto Interno Bruto de pouco mais de 0,5% (um
número que hoje parece ingênuo, diante da queda de 3,8% que sobreviria
nos doze meses seguintes). Também o preço do barril de petróleo
assustava. Depois de se manter acima dos 100 dólares até meados
daquele ano, ajudando a encher os cofres capixabas e fluminenses, o
valor da matéria-prima vinha caindo em um precipício, uma baixa
seguida da outra, até alcançar a marca de 50 dólares, na passagem de
2014 para 2015. Os royalties recebidos pela produção da commodity
costumavam representar algo entre 10% e 15% da receita, tanto no
Espírito Santo quanto no Rio de Janeiro. Era uma boa quantidade de
dinheiro, portanto, que vinha deixando de entrar nos cofres públicos, mês
após mês. Como a atividade econômica de forma geral também rateava, e
com ela os recursos que os estados arrecadam via impostos, a perspectiva
era de queda forte nas receitas à disposição dos dois governadores.
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