Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

águas que a indústria petrolífera vem poluindo há décadas. O lago não
cheira mal, mas há bastante lixo no calçadão que o margeia.


Juan Pablo e eu nos sentamos num banco protegido do sol pela sombra
das palmeiras. Conto a meu sobrinho que, quando eu e meus irmãos
erámos crianças, nossos pais nos levavam a um enorme parque a poucos
quilômetros dali, onde fazíamos piqueniques aos domingos. Brincávamos
com o cachorro, mamãe nos servia sanduíches, meus irmãos jogavam
bola e eu, num hábito pouco admirável, arrancava flores. Era o passeio
simples e econômico de uma família de classe média baixa, mas que,
agora, seria um luxo para minha cunhada, seja porque o transporte
público degringolou e não há dinheiro para os lanches, seja porque as
pessoas estão preocupadas com coisas mais urgentes.


Depois de esgotar as histórias de infância que conto para meu sobrinho,
não sei mais o que fazer no shopping center. Não posso comprar nada
para ele porque as máquinas de cartão bancário não funcionam, nem
minha conexão de internet. Chegou, então, a hora de voltar. Sem ônibus à
vista, caminhamos. “Eles continuam com a história da sabotagem em
usinas hidrelétricas. Mas, que nada, amigo, as turbinas é que estão
estragadas”, comenta um homem com outro, na porta de uma oficina
mecânica. Na falta de explicações sólidas, todos inventam teorias que
permitam racionalizar os cortes que vêm sendo feitos há uma década,
mas agora chegaram a um ponto dramático.


Em 2009, quando várias regiões do país ficaram às escuras ao mesmo
tempo, Hugo Chávez criou o Ministério do Poder Popular para a Energia
Elétrica e anunciou a reconfiguração da Corporação Elétrica Nacional
(Corpoelec), que ele havia inaugurado apenas dois anos antes. Também
havia lançado a Missão Revolução Energética, um de seus programas
sociais, que, na verdade, apenas financiou a substituição das tradicionais
lâmpadas incandescentes por outras de baixo consumo. Como em 2010 os
problemas persistiam, Chávez lançou o Fundo Elétrico Nacional com um
investimento inicial de 1 bilhão de dólares.


Mas os apagões continuaram. O governo pôs a culpa do fenômeno em
fios desencapados, nas andorinhas, nos ratos e em um cabo mordido por
uma iguana que nos memes era representada como Godzilla para fazer

Free download pdf