Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

E


justiça a tamanho estrago. Depois, culpou os sabotadores. Em 2016,
Maduro pediu aos venezuelanos para não usarem os secadores de cabelo,
atentando contra as cabeleiras longas e lisas, no estilo miss, muito
estimadas pelas mulheres do país. Agora os responsáveis pelos apagões
são o “Império” (como chamam os Estados Unidos), os franco-atiradores
e os “ataques eletromagnéticos”. Tudo isso ocorre – com muito de
tragédia e um pouco de ridículo – num país de 30 milhões de habitantes
que conta com a quarta maior hidrelétrica do mundo, fornecedora de
energia, inclusive, para o estado de Roraima.


Alguns acreditam no que o governo diz, outros não. Minha tia Rosa faz
parte do primeiro grupo. Quando as comunicações foram restabelecidas e
conseguimos nos falar ao telefone depois de alguns dias no escuro, ela se
apressou a me contar as sabotagens. “São capazes de tudo para tirar o
Maduro do governo”, disse. Minha tia tem 80 anos, não para de trabalhar
e costumava ir com frequência à vizinha cidade colombiana de Cúcuta
para fazer compras, tarefa exaustiva que levava o dia inteiro. Quem sou
eu para dizer no que ela deve acreditar?


mbora haja comida disponível nos mercados, Júlia compra
alimentos só para o dia, ou para no máximo dois dias, a fim de
evitar desperdício, caso haja novo corte de energia. Como há luz,
vamos às compras. Ela decide levar um frango para os próximos almoços.
Eu compro meio quilo de queijo.


Quando o dinheiro em espécie ficou escasso, as pessoas recorreram aos
cartões de banco para fazer seus pagamentos nas lojas e mercados.
Depois, à medida que os problemas de conectividade dificultaram a
conexão dos cartões, os negócios adotaram a transferência bancária do
cliente para o comerciante. Assim, na hora da compra, compete ao cliente
conseguir uma conexão para efetuar o pagamento. Se ele consegue e faz a
transferência, depois disso precisa enviar o comprovante via mensagem
de texto ou WhatsApp.


Durante o apagão, com as conexões e os bancos virtuais em pane, o país
abraçou o dólar em espécie como tábua de salvação. Apesar de ser pouco

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