Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

Na conversa com Pezão, Hartung não dourou a pílula, mostrando-se
pessimista “com o cenário brasileiro”, lembrou o engenheiro Julio Bueno,
que também participou do encontro. À época ele era secretário de
Desenvolvimento Econômico do Rio, cargo que ocupava desde o
primeiro governo Cabral. Pouco tempo depois, no início de 2015, Bueno
assumiria a Secretaria da Fazenda do estado. Comandaria as finanças
públicas fluminenses no pior período da crise, até meados de 2016,
cumprindo a função, segundo ele próprio definiu, de “capitão do
Titanic”.


Bueno estava presente ao encontro pela proximidade que tinha com
Hartung. Engenheiro da Petrobras, havia se tornado presidente da BR
Distribuidora nos anos finais do governo Fernando Henrique Cardoso.
Com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, e a dança das
cadeiras na estatal, perdeu o cargo. Paulo Hartung tinha boas referências
do executivo e decidiu convidá-lo para ser secretário de
Desenvolvimento Econômico do Espírito Santo. Bueno desempenharia a
função durante o primeiro mandato do político capixaba. Até ser
roubado, digamos assim, por Sérgio Cabral.


O engenheiro que se tornou gestor público descreve o político capixaba
como alguém “extremamente reservado”, sério – e que se leva a sério. “O
Paulo é como a mulher de César: ele é e parece ser. E eu aprendi isso com
ele. Porque eu sou sério também, mas se bobear eu não pareço ser, pelo
meu jeito, pelo meu temperamento.” De fato, Bueno é uma espécie de
caricatura do carioca boa-praça: informal, inteligente, bom de oratória,
expansivo. “A primeira impressão do Paulo comigo foi de preocupação.
Eu, carioca, extremamente brincalhão, né? Ele não.”


Naquele momento, contudo, finzinho de 2014, não era apenas o tipo de
temperamento que separava Julio Bueno de Paulo Hartung. O
engenheiro e o governador Pezão, embora confiassem na capacidade de
Hartung, discordavam do cenário que o convidado anunciava. Na
opinião dos dois, ainda era possível vislumbrar alguma salvação para as
contas públicas do Rio. “Eu era mais otimista que o Paulo. Achava que
venceríamos a crise ao longo do ano, em 2015, e aí voltaríamos a crescer.
Voltando a crescer, pronto, a receita também cresce.”

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