Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

duzentos espectadores. Após efetuar o corte, o cirurgião utilizou
inúmeros instrumentos para localizar o cálculo. Então tentou com o
próprio dedo. A certa altura, chegou a culpar a profundidade excessiva
do períneo do paciente, e se pôs a procurar um assistente com dedos mais
longos. A pedra foi finalmente extraída com um fórceps, sob aplausos
moderados da plateia – mas o paciente morreu no dia seguinte.


O termo “litotomia” permaneceu na história da medicina para designar a
posição até hoje mais utilizada para extrair outro tipo de concreção do
interior das gestantes. É também conhecida como posição ginecológica ou
posição do frango assado: a paciente fica em decúbito dorsal, com as
pernas afastadas e erguidas em estribos, enquanto o médico examina a
área, sentado em um banquinho.


Em 2012, segundo a pesquisa Nascer no Brasil, da Fundação Oswaldo
Cruz, 91,7% dos partos vaginais no país foram realizados com as
mulheres em posição litotômica. Hoje se sabe que essa não é a melhor
posição para dar à luz – pelo contrário. Um documento da organização
Cochrane, que faz revisões sistemáticas de estudos, concluiu que as
posições mais verticais (nas quais a mulher fica ajoelhada, sentada ou de
cócoras) apresentam uma menor duração do período expulsivo do
trabalho de parto, além de uma redução nas taxas de episiotomia (incisão
cirúrgica no períneo) e da utilização de instrumentos como o fórceps.


A posição litotômica dificulta a ação da gravidade, prejudica o descenso e
o encaixamento do bebê, e reduz tanto a amplitude da bacia quanto o
diâmetro pélvico. Além disso, aumenta o risco de compressão sobre a
aorta e a veia cava, reduz o fluxo de sangue ao útero e pode afetar a
oxigenação fetal. Em posições verticais, o sacro pode mover-se para trás,
aumentando o diâmetro de saída da pélvis, mas na litotomia todas as
estruturas posteriores ficam comprimidas. A mobilidade da pelve é
prejudicada.


Em referência às posições horizontais, Roberto Caldeyro-Barcia, médico
pioneiro na medicina materno-fetal, já afirmara em 1975: “Excetuando-se
ficar dependurada pelos pés, a posição supino [deitada de costas] é a pior
posição concebível para o trabalho de parto e a expulsão.”


É
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