Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

Dito isso, segundo a Organização Mundial da Saúde, não há evidências
de que taxas de cesárea maiores de 10% em uma dada população
contribuam para reduzir os índices de mortalidade da mãe e do bebê.
Pelo contrário: a cirurgia pode levar a complicações significativas como
infecções, hemorragias, embolia pulmonar, trombose e laceração
acidental de algum órgão, como bexiga, uretra e artérias. Não há como
prever a reação da paciente à anestesia. Também pode haver problemas
de cicatrização que afetarão as próximas gestações: aumentam as chances
de ruptura uterina, placenta prévia e descolamento prematuro da
placenta. A recuperação é mais longa e muitas vezes dolorosa. Segundo
um estudo de 2006 publicado no periódico Obstetrics & Gynecology, o
risco de morte materna é 3,6 vezes maior na cesariana em comparação ao
parto normal.


Para o bebê, a cesariana implica em um maior risco de distúrbios
respiratórios e de retenção de fluido nos pulmões. Uma cesárea eletiva
(programada antes que a mulher entre em trabalho de parto) realizada
nas semanas 37 e 38 aumenta em 120 vezes o risco de síndrome do
desconforto respiratório, em comparação a quando ela acontece nas
semanas subsequentes. Pode haver demora para adaptar-se à vida
extrauterina, bem como para estabelecer a respiração e manter a
temperatura do corpo e as taxas de glicemia. Inúmeros estudos apontam
também que a falta de contato com a flora vaginal tem um impacto
negativo no sistema imunológico do bebê, favorecendo o surgimento de
alergias alimentares precoces, alergias de pele e doenças autoimunes. A
longo prazo, ele tem mais chances de desenvolver asma, rinite alérgica,
diabete tipo 1 e obesidade.


Por fim, a cesariana também tem apresentado correlações com as altas
taxas de prematuros no país (11,5%), pois muitas vezes o procedimento é
agendado antes de se atingir a maturidade fetal. As principais sequelas
são no neurodesenvolvimento e nas funções pulmonares do bebê. Um
estudo de 2010 publicado na Revista de Saúde Pública mostrou que, no
Brasil, as taxas de baixo peso ao nascer sobem quando o índice de
cesáreas passa de 30%.


É por isso que a OMS recomenda que a cesariana seja feita apenas
quando há necessidade médica. Mas, como eu disse, o brasileiro é um

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