Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

risco. Pouco depois, em 2017, uma meta-análise confirmou que as
mulheres que puderam se alimentar mais livremente tiveram partos mais
curtos.


Em face dessas novas informações, nos últimos anos, diversas entidades
internacionais têm liberado a ingestão de refeições leves durante o
trabalho de parto, tais como a Sociedade dos Obstetras e Ginecologistas
do Canadá (SOGC), o Colégio Americano de Enfermeiras Obstétricas
(ACNM) e o Instituto Nacional de Saúde e Excelência Clínica (Nice), do
Reino Unido. O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas
(ACOG), em um pronunciamento divulgado no ano passado, afirmou
que a ingestão de líquidos como água, sucos, chás e isotônicos deve ser
encorajada. Em um parecer de 2009, fez uma ressalva: disse que maiores
restrições na ingestão de líquidos poderiam ser aplicadas a pacientes com
“risco aumentado para cesariana”, o que seguramente não era o meu
caso. (A menos que parir no Brasil fosse considerado, por si só, um risco
aumentado para a cesárea. Risco estatístico, no caso.)


Assim como a OMS, em seu manual de 2018, recomenda a ingestão de
líquidos e alimentos para as gestantes de baixo risco, também o
Ministério da Saúde, em suas Diretrizes Nacionais de Assistência ao
Parto Normal, de 2017, afirma que “mulheres em trabalho de parto
podem ingerir líquidos, de preferência soluções isotônicas ao invés de
somente água”. E mais: as gestantes “que não estiverem sob efeito de
opioides ou não apresentarem fatores de risco iminente para anestesia
geral podem ingerir uma dieta leve”.


É importante destacar que nenhuma dessas entidades considerou proibir
a ingestão de água durante o trabalho de parto. Foi o que aconteceu no
meu caso. Além de ignorar todas as evidências e recomendações dos
organismos nacionais e internacionais, a restrição do anestesista
desconsiderava uma demanda do meu plano de parto: “Liberdade para
tomar água, sucos e alimentos leves, enquanto forem tolerados.”


Por e-mail, a assessoria do hospital alegou que é ofertada uma dieta de
acordo com a fase do trabalho de parto, que consiste em soluções
isotônicas, gelatina e sorvete de frutas. Ela é concebida para gestantes
saudáveis em partos que estão evoluindo dentro dos padrões de

Free download pdf