Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

À


normalidade. “Contudo, é de extrema importância que cada mulher seja
avaliada individualmente pela equipe médica, atendendo as necessidades
específicas e imprevisíveis que naturalmente podem ocorrer ao longo do
trabalho de parto e puerpério imediato, modificando a conduta padrão e
garantindo a segurança das pacientes.”


Não é preciso citar nenhum estudo científico para entender que privar de
água e alimentos uma mulher em trabalho de parto é crueldade. Apesar
disso, em 2011, segundo a pesquisa Nascer no Brasil, 75% das brasileiras
sofreram essa violência.


No meu caso, pouco importou. Sendo a minha obstetra sabidamente
anarquista, instalou-se na LDR2 uma entusiástica desobediência civil. A
meu pedido, Larissa, Natália e Gigio entravam e saíam do quarto
contrabandeando refrescantes copos de água e luxuriantes potes de
gelatina de pêssego. Não acho que teria sido possível suportar nem dez
minutos de trabalho de parto sem comer ou beber nada.


Talvez, nesse caso, eu implorasse por uma cesariana.


s cinco da tarde eu já havia atingido a dilatação completa (10
centímetros), mas havia um problema: o bebê estava empacado no
meio da bacia.

Em linguagem obstétrica, diz-se que o polo cefálico fetal estava no plano
das espinhas isquiáticas, ou plano 0, de acordo com a classificação do
obstetra americano Joseph DeLee. É o local mais estreito da bacia. Para
nascer, a cabeça do bebê precisa passar desse ponto até chegar ao +5, ou
seja, 5 centímetros abaixo.


Como as contrações também haviam empacado, às sete da noite a dra.
Larissa decidiu administrar uma dose baixa de ocitocina (12
mililitro/hora), e foi aumentando aos poucos. Ela anunciou que, se o
bebê não descesse até as nove, nos prepararíamos para uma cesárea.

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