National Geographic - Portugal - Edição 218 (2019-05)

(Antfer) #1
BOMBEIROS DO ALASCA 97

O foco do incêndio alastra, em todas as direc-
ções, através do musgo-das-renas seco. A maioria
dos homens desloca-se para sul, tentando cercar o
fogo. Dois homens com motosserras cortam o que
lhes aparece à frente junto do limite das chamas.
Alguns membros da equipa arrastam os troncos
não-queimados para zonas verdes, a fim de privar
o incêndio de combustível suplementar. Outros
combatem as chamas ao longo da zona carboni-
zada, usando batedores. Os hidroaviões Fire Boss
rugem sobre nós, de quatro em quatro minutos,
descarregando água. Os homens recuam, mas,
mesmo assim, ficam encharcados.
Após horas de trabalho frenético, os limites
norte e oeste do novo foco de incêndio estão pra-
ticamente sob controlo, mas as chamas rugem
agora para sul, levadas pela nortada. Os 16 bom-
beiros pára-quedistas não conseguem adiantar-
-se ao fogo. A sua única alternativa consiste em
retirarem-se antes que este lhes barre a saída.
No dia seguinte, o incêndio cresce para seiscen-
tos hectares e os bombeiros pára-quedistas são
obrigados a reduzir a equipa, passando da ofen-
siva à defensiva.
Agora, o seu objectivo é proteger o punhado de
cabanas, e uma unidade de alojamento, existentes
no lago Iniakuk. Embarcando em semi-rígidos,
transportam mangueiras de incêndio, bombas
de água e aspersores até cada estrutura do lago.
As bombas são instaladas no lago e os aspersores
montados para proteger os telhados das cabanas.
Jeff Poor é o proprietário da cabana mais per-
to do fogo. Já tem alguma idade. Nasceu na Cos-
ta Leste, mas migrou para aqui há muito. Cons-


truiu esta cabana à mão em 1976. “Fiquei tão
feliz por ver estes bombeiros pára-quedistas!”
diz Jeff, que vende as suas peles de lobo, marta
e lince a compradores russos. “Fico sempre feliz
por receber ajuda.”
Juntamente com o marido, Pat Gaedeke cons-
truiu a unidade de alojamento na extremidade do
lago em 1974. Foi ela que emitiu o primeiro aviso
sobre o incêndio. Está extasiada. “Nem acredito
na quantidade de recursos que estão a usar para
nos ajudarem”, comenta.
Por fim, depois de instaladas dezenas de asper-
sores e centenas de metros de mangueira, cada
estrutura fica protegida dentro de um semicírcu-
lo de canalizações capazes de encharcar, literal-
mente, a propriedade e assim evitar que ela arda.
Os bombeiros pára-quedistas regressam ao
acampamento às 22 horas. Exaustos, estendem-
-se no solo. Pêssegos em lata são passados de mão
em mão e os homens retiram as metades da lata
com os dedos enegrecidos. Um pedaço de queijo é
passado entre eles: cada homem corta um bocado
com a faca. “Malta, lembram-se daquela vez ...” e
alguém começa a contar uma história.

OS OITO BOMBEIROS pára-quedistas que participa-
ram no ataque inicial acabaram por passar 16 dias
a combater o incêndio no lago Iniakuk, antes de
serem rendidos. O fogo queimou mais de catorze
mil hectares, mas todas as estruturas construídas
na zona foram salvas. “O fogo ardeu todo o Verão e
ainda ardia quando nos fomos embora, em Setem-
bro,” conta Pat Gaedeke. “Por fim, a mãe natureza
apagou-o quando começou a nevar.” j

OS BOMBEIROS


COMBATEM AS CHAMAS


AO LONGO DAS ZONAS CARBONIZADAS.


OS AVIÕES RUGEM NO ALTO,


DESPEJANDO ÁGUA.


OS HOMENS ESTÃO


ENCHARCADOS.

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