Folha de São Paulo - 13.03.2020

(ff) #1

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saúde


B2 SEXTA-FEIRA,13DEMARÇODE 2020


$
EscolastestamEAD

Algumas escolas
particulares de São Paulo
decidiram suspender
as aulas.Adecisãofoi
tomada peloVera Cruz,
em Pinheiros, apenaspara
duas turmas de alunos
comcasos nafamília,
pelo St.Paul’s, no Jardim
Paulistano,epelaAvenues,
no Jardim Panorama. No
caso do St.Paul’s, as aulas
serão transferidas paraum
ambientevirtual. Outros
colégios da capital que
decidiram não suspender
as aulastambém vão
utilizaroensinoadistância
(EAD).OPorto Seguroirá
testar uma modalidade
de EAD.OMater Dei, no
Jardim Paulista, deve ser
usada uma plataforma
comaqual ocolégiojá
trabalha.OSantaCruz, em
AltodePinheiros, já havia
ampliado medidas para
melhoraraventilação e
agorareforçououso de
álcool emgel. Funcionários
têmpassadooproduto
nas mãos detodos
que entram na escola.
ODanteAlighieri,nos
Jardins, cancelou algumas
atividadesextraclasse. O
Bandeirantes anunciou
que estáalinhado às ações
do governo brasileiro:“Até
omomento, ocolégio
seguesuas atividades
normalmente, estando
atentoasnovas orientações
das autoridades públicas”.
AUnicamp (Universidade
Estadual de Campinas)
anunciou na manhã
destaquarta (12) que
suspenderiatodas as aulas
eatividadesacadêmicas
atéodia 29. Porém, depois
queoCruesp,conselho
quereúne osreitores
das universidadesUSP,
UnicampeUnesp,decidiu
não suspender as aulas, a
universidadedeCampinas
disse que“discutirá
internamenteamedida
adotada anteriormentea
estareunião do Cruesp”.


  • Natália Cancian


brasíliaOavançodonovo
coronavírusdeverálevar em
breveamudançanoprotoco-
lo adotado pelarede de saú-
de paradiagnóstico da doen-
ça em alguns pontos do país.
Atualmente,arecomenda-
çãodoMinistério daSaúde é
quetodos os pacientescom
febreeoutros sintomasres-
piratórios, além de histórico
de viagem internacional, se-
jam submetidosaexames.
Diante da previsão de au-
mentodecasos,ogoverno já
se preparaparauma mudan-
ça no modelo. Segundoose-
cretário de Vigilância emSa-
úde,Wanderson Oliveira, a
ideiaéque ostestes deixem
de seraplicados em locais
—como cidades ou estados,
adepender daconcentração
decasos—com mais de 100
registrosdaCovid- 19.
Com isso, passariamaser
testadosparaovírusSars-
CoV- 2 apenas oscasos de pa-
cientesinternadoscompro-
blemasrespiratórios graves,
como pneumonia.
Para osdemais,valeriao
diagnósticoclínico, como
avaliaçãomédicados sinto-
mas.“A lguns locaisvãoche-
garaonúmerode 100 casos
confirmados.Quando che-
garaessenúmero, vamos
passaramonitorar oscasos
apartir da vigilância dero-
tina, queédesíndrome gri-
paledesíndromerespirató-
ria aguda grave. Isso significa
quevamos monitorar osca-
sos internados,eodado pa-
ra cada localidadedeixa de
existir”, disse nestaquinta.
Onúmeroequivale ao mo-
mentoemque há uma trans-
ferênciadeuma “fase decon-
tenção” para“mitigação”do
vírus, segundo planos decon-
tingência.Ainda não hápre-
visão de quando deveocor-
rermudançanatestagem a
nível nacional,avaliaçãode
que dependeriadeanáliseda
distribuição doscasos.
DeacordocomOliveira, o
ministériotambém planeja
alterarocritério usado para
definircasos que devemser
analisados para aCovid- 19.
Hoje entram nesse grupo
pacientescomsintomas e
históricorecente de viagens a
outros países. Caso hajacon-
firmação de transmissão sus-
tentada em alguma cidade,
quando não há vínculo en-
treoscasos,ocritério passa
aincluir viagensnacionais.
Nestaquinta,ocoordena-
dor docomitêdeemergência
deSãoPaulo,David Uip,in-
formou queoestado já apre-
sentatransmissão sustenta-
da, ou seja, que já há circu-
lação do vírus.Oministério
diz quevaianalisarocaso.
Em meioaoavançodeca-
sos,apastalançouedital pa-
ra colocar 5. 811 médicosex-
tras em postos de saúdeaté
oinício de abril.Onúmero
corresponde aototaldemé-
dicosque devemser contra-
tados por meiode novoedi-
taldoMais Médicos,confor-
me antecipado pelaFolha.
Dototaldevagas, 2. 588 de-
vemser emcapitaiseregiões
metropolitanas.Ametaére-
forçar oatendimento diante
da previsãode aumento de
casos donovocoronavírus.
Poderãoconcorrer àsva-
gasmédicos brasileiros ou
comregistro no país. Ocon-
tratovalerápor um ano.


Em outrafrente,apastadi-
vulgouque fará umedital pa-
ra alugar mais milleitosex-
tras de UTI paraserem distri-
buídosahospitais dereferên-
cianoatendimentodecasos.
Ototal éodobrodoinici-
almenteprevisto.
Osecretário-executivoda
pasta,João Gabbardo dos
Reis, diz queamedida segue
análisedocenário da Itália,
quevemenfrentando pres-
são no sistemadesaúde.“O
níveldepreocupaçãocom
leitos deUTIaumentou.”
Segundo ele,ogovernoava-
lia medidas paratentardimi-
nuirasobrecarga naredede
saúde,evitando queoSUS
entreemcolapso.“Nãoésó
colocar os leitos. Queremos
usar melhor.Não vamos man-
teremleitos de UTI pacientes
terminais,ou pacientesque
nãoteriam indicação.”
Paraisso,aideiaérever
os critérios deocupaçãode
leitoserecomendaroadia-
mentodecirurgias eletivas.
“Jáestamosfalandocom
os secretários de saúdepa-
ra tentar segurar.Sealguém
temprótese de quadril para
trocar,por exemplo, nãotem
por quefazeragora.Tudo
queforpossível deixar pa-
ra maisadiante”,afirmou.
Outramedida previstaserá
ampliaroprazo dereceitade
medicamentos —assim, em
vezdepegarremédios para
três meses, pacientes pega-
riam poratéseis,evitando
idaaunidades de saúde du-
ranteumsurtodadoença.
Ogovernovaipedir ao
Congresso créditoextraor-
dinário deR$ 5 bilhões pa-
ra despesas do Ministério da
Saúde.Amedidatemcomo
objetivoatender asnecessi-
dades surgidascomoavan-
ço docoronavírus no país. O
créditoextraordinárioéins-
trumentodestinado aoaten-
dimentodedespesas urgen-
teseimprevisíveis,como em
caso deguerra,comoção in-
terna oucalamidade públi-
ca.Amodalidade não entra
nacontadotetodegastos.
Osecretário-executivodo
Ministério da Economia,
Marcelo Guaranys, afirmou
queodocumentoseráenca-
minhado aoPalácio do Pla-
naltoequedeveser assina-
do pelo presidenteJairBol-
sonaronestasexta-feira( 13 ).
Amedidaocorreemum
momentoem que crescea
pressão de secretários de sa-
úde por maisrecursosdevi-
do aoavançodovírus.
OministrodaSaúde, Lu-
iz Henrique Mandetta,tem
ditoqueapandemia pode
“derrubar”sistemas de sa-
úde. “Se ele nãotemuma
letalidade individualeleva-
da, eletemuma letalidade
aosistema de saúde.”
EaANS (AgênciaNacio-
nal deSaúde Suplementar)
aprovou, nestaquinta( 12 ), a
inclusãodoexame de detec-
çãodonovocoronavírus no
roldeprocedimentos obri-
gatórios. Isso significaque a
parti rdeagora, os planosde
saúde serão obrigadosaofe-
recê-los narede credenciada.
Otesteserácobertoparaos
beneficiários que seenqua-
drem na definição decaso
suspeitoouprováveldeco-
ronavírus.Esó deveserfei-
to quando houver indicação
médica, de acordocomopro-
tocolo easdiretrizes defini-
das pelo Ministério daSaúde.

Governo agora


defendeteste só


paracaso grave


evêrisco aoSUS


Ministério atua parater 5.811 médicos


emil leitos deUTIamais,eUnião


quer queoCongresso libereR$5bi


Especialistasepoder público dizem que


RJ nãosuportará alta demandadecasos



  • JúliaBarbon e
    Ana Luiza Albuquerque


riodejaneiroAcrise da saú-
de que adoece oRio deJanei-
ro hácercadecincoanos de-
ve dificultarocombateaoco-
ronavírus.Otratamentodos
in fectados, por suavez, de-
vepressionar umarede que
já temdificuldadedeabsor-
verademanda da população.
Aavaliaçãoédemédicos
que acompanhamhátempos
aredepública. Eles afirmam
que,apesar deoestadoter
bom plano,napráticaépro-
vávelquefaltem leitos,profis-
sionaiseinsumoscomoavan-
ço da nova doença—atéago-
ra são 16 casosconfirmados.
Opróprio secretário estadual
de Saúde, EdmarSantos,eomi-
nistrodaSaúde, Luiz Henrique
Mandetta,admitemverproble-
mas na estrutura fluminense.
“A gentesabe as fragilidades do
Rio [...].ORio temque constru-
ir uma grandecapilaridade de
acessoàatenção primáriaemé-
dia”, disseoministro em visita
àcapital nestaquinta,aolado
do prefeitoMarcelo Crivella.
Já osecretário afirmou que
oestadotemmais leitos de
terapia intensivaqueaItália,
porémocupados: “Nossare-
de serámuitosacrificada.O
queagentetem de estrutu-
ra hoje não nos daráuma si-
tuaçãoconfortável”,declarou
em entrevistaaositeG 1 .AFo-
lhapediuentrevista comSan-
tos, mas não obteveresposta.
Apesar de aprovaroplano
decontingência estadual, o
médicoFlavio deSá,diretor
do Cremerj (ConselhoRegio-
nal de Medicina do RJ), diz que
as redes públicaeprivada não
comportarão enxurrada deca-
sos. “Hoje nãoteminfraestru-
tura estabelecida no Rio para
aumentodedemandanaes-
cala italiana.Ogoverno não
se preparou,emontar isso
num curtoespaçodetempo
exigirátrabalho hercúleodas

autoridades para recompor es-
truturas sucateadas”,diz.
Acrise na saúde do Rioatin-
ge as três esferas. Namunici-
pal, hácarência de profissio-
naisedeinsumos.Noâmbi-
to estadual,asituação já está
maiscontrolada, mas há su-
perlotação.E,naredefede-
ral, aUnião chegouaenviar
militares noanopassadopa-
ra dar um “choque degestão”.
Odéficit de leitoséproble-
ma histórico. SegundoaDe-
fensoriaPúblicadaUnião, oRJ
foioestado que mais perdeu
leitos emtodoopaís nos últi-
mos seis anos,de 27 mil para
21 mil(quedade 22 %).
Comosegundo maior núme-
ro decasos do país,oRio pas-
sou nesta quintaparao“nível 1 ”
de alerta da doença, queprevê
medidas nocaso de transmis-
sãolocal. Umcasal de idosos
quenãoviajounemteve con-
tatocomdoentes queviajaram
paraoexteriorteve resultado
positivoparaovírus.
Nesse estágio,oplano de
contenção estadual prevêa
criação de 206 leitosexclusi-
vosparacasos graves. Segun-
doosecretário,que prevêde

4. 000 a 10 milcasos noRJ,se-
rãoinauguradas 300 vagasnos
próximos dois meses.
Aindaédifícilprecisarqual
seráaquantidadedeleitos ne-
cessários. Isso porqueocom-
portamentodovírus no Bra-
sil continua incerto. “Existem
muitas incógnitas quantoao
ritmo da disseminaçãodado-
ença,comnossascaracterís-
ticasgeográficasedetempe-
ratura”,diz Flavio deSá.
SegundooMinistério daSa-
úde,cercade 80 %dos infecta-
dos pelocoronavírus nãotêm
complicações e, dentrodos
20 %que apresentamdificul-
dadesrespiratórias, 3 %preci-
sam de leitos de UTI.
Aideiaéque essas pessoas
entrem no sistemadesaúde
pelaredebásica,como clíni-
casdafamíliaeUBSsmunici-
paisde seus bairros, paranão
sobrecarregaroshospitais.O
problemaéque esseéumdos
principaisgargalos do estado.
“A crisenaatenção primária
vaiafetarmuito, poiséali que
80 %dos casos serãoatendidos
eresolvidoseque anecessida-
de de internação seráidentifi-
cada.Éaportadeentradados
pacientes”,diz RobertoMedro-
nho,professor de epidemiolo-
gia da UFRJ quetemsidocon-
sultado pelopoder público.
Asaúde básicavivereestru-
turaçãofeitapor Crivella. Es-
se sistemaéem grande parte
geridopor OSs(organizações
sociais).Desde 2017 ,oprefeito
extinguiuequipes de saúde da
família dizendoque seuante-
cessor,EduardoPaes (DEM),
expandiuarededeformade-
sordenada.Funcionários,po-
rém, sustentam quetem ocor-
rido desestruturaçãodosetor.
Nasegunda ( 9 ),aDefenso-
riaPública eoMinistérioPú-
blicofluminenses solicitaram à
Justiça queaprefeiturapreen-
chesse déficit de mais de 2. 500
profissionais desaúdeapós a
transferência dagestão de 80
unidades paraoutraOS.


Nãotem infraestru-
tura no Rio para
aumentodedemanda
na escala italiana.
Ogoverno não se
preparou,emontar
isso em curtoespaço
detempoexigirá
trabalho hercúleo
das autoridades para
recompor estruturas
sucateadas

Flavio de Sá
diretor do Cremerj

Palestinosusam equipamentodeproteção duranteoração em pátio da mesquitaal-Omari, em Gaza Mahmud Hams/AFP
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