Folha de São Paulo - 13.03.2020

(ff) #1

aeee


saúde


B4 SEXTA-FEIRA, 13 DE MARÇODE2 020


$
Quais são
os sintomas?

Ossintomas mais
comuns são:
•febre
•cansaço
•tosse seca
•dores nocorpo
•congestãonasal
•coriza
•dor degarganta
•diarreia
•dificuldade pararespirar

Oquefazercaso esses
sintomas apareçam?
Pessoascomquadros leves
(poucatosse,febrebaixa,
nariz escorrendo)devem:
•ficar em casa
•tomarremédios para
aliviar os sintomas
•beber bastanteágua
•fazerrepouso

Procureumhospital
se houver sintomas
gravescomo:
•tosse intensa
•catarrocom pus
•febrealtacom calafrios
•pontas dos dedos e
lábios arroxeados

Fuicontaminado.
Qualéotratamento?
Não há um medicamento
específico. Indica-
se repousoeingestão
de líquidos, além de
analgésicoseantitérmicos.
Nos casos de maior
gravidade,compneumonia
einsuficiênciarespiratória,
suplementodeoxigênio
emesmo ventilação
mecânica podem ser
necessários. Antibióticos
não devem ser usados
paraprevenir ou tratar
infecção porcoronavírus,
eles funcionam apenas
contrabactérias. Segundo
aOMS(Organização
MundialdaSaúde), a
maioria das pessoas (80%)
se recuperasem precisar
de tratamentoespecial

Quão letaléonovovírus?
Pel os dados disponíveis até
agora,aestimativaédeque
aletalidade seja emtorno
de 3,5%.Éuma cifrapouco
maior queadosarampo
—2,2%—,ebem menor
queadoebola—51%.
Ovíruscostuma vitimar
pessoas quetenham
moléstiascomo diabetes
(quemtemadoençatem
8,1vezesoriscodemorrer
emrelaçãoauma pessoa
sem problemas crônicos de
saúde), hipertensão (6,7),
doenças cardiovasculares
(11,7)edoenças
respiratórias crônicas(7,0).
Pessoasapartir de 80
anostêm6,4 vezes mais
riscodemorrer do que
orestodapopulação

OPINIÃO



  • AlexandreCunha
    InfectologistadoHospital Sírio-Libanês
    edoHospital Brasília,éconsultor
    médico do SabinMedicina Diagnóstica


Nosúltimosdois meses,há
uma epidemia se alastrando
entrenós:aepidemiadome-
do.Épreciso entãoque fique
claraamensagem de que o
novocoronavírus (agorade-
nominadoSars-Cov 2 )não
ofereceriscosignificativoa
vocêouaseus filhos.
Adoençanãotemuma fra-
çãodagravidade queoimagi-
náriopopular percebe.Pode-
se então perguntaroporquê
dessa mobilizaçãodepaíses e
da OMSsobreotema.Arazão
éque, emboraoSars-Cov 2 ea
doençaprovocada por ele, a
covid- 19 ,não sejam um gran-
de problemadesaúdeindi-
vidual,eles são um enorme
problemadesaúdepública.
Masqualadiferença?
Dopontodevistadesaúde
pública, as medidas drásticas
quevêmsendotomadas por
governos(quarentenas,can-
celamentodeeventoseaglo-
merações,fechamentodees-
colas, planos decontingên-


cia)fazemtodosentido.
Sãomedidas adequadas e
necessárias em algunscená-
rios. Elas visam diminuirave-
locidadecomqueaepidemia
se alastra, de modo que os
serviços de saúdeconsigam
absorvertodaademanda.
Sendo um vírus novo,para
qual não hávacina ou imuni-
dade prévia de partedapopu-
lação,ouniverso de susceptí-
veis éenorme,oquegeranú-
meroexponencial decasos em
período curto. Essesnovos ca-
sos, ao buscarem assistência
médica,demandamrecursos
epessoal em quantidade que
muitasvezessuperaacapaci-
dadedosserviços de saúde.
Eéexatamenteesseogran-
de riscodessaepidemia:com
serviços superlotados,porta-
dores da minoriadecasos gra-
vesemesmo portadoresde
outras doenças, crônicas in-
clusive, podemterseu prog-
nósticopiorado pela lotação
dos serviços de saúde.
Assim, pensandoemsaú-
de pública, no sistemacomo
umtodo,aOMS,oCDC,oMi-
nistério daSaúde, as secreta-
rias estaduais deSaúdeeos
gestores de hospitais públi-
coseprivadostêmtodos os

motivos parasepreocupar.
NoBrasil,devemosternos
próximos meses dezenas de
milhares decasos, mas,com
gestão adequada dosrecur-
sos essa epidemia pode pas-
sar,comováriasoutras pe-
las quais já passamos.
Já do pontodevistadesaú-
de individual, istoé,pensan-
do no riscoqueainfecçãore-
presentaparacadaum, pode-
se dizer queeste émínimo.
Bastaummínimo deracio-
nalidade, fugindo da histeria
coletivaquetomacontados
jornaisegrupos de Whatsapp
eencontrando abrigoemda-
doscientíficos, parapoder-
mosveroquantoapercepção

de riscoestádistorcida.
Àmedida queapandemia
evolui,conseguimosvercom
clarezaqueessenovovírus
nãoémuitomaisperigoso
do que outros vírusrespira-
tórios, emtermos de morbi-
dadeemortalidade,eatin-
ge em especial idososepaci-
entescomoutros problemas
de saúde,exatamentecomo
oInfluenza, porexemplo.
Sabe-se, por novosestu-
dos, queumterçodas infec-
ções peloSars-COV 2 são as-
sintomáticasequeaenor-
me maioria dossintomáticos
temuma doençabranda,co-
moresfriadocomum. Somen-
te pequena parcela temqua-
dromais sintomáticoecasos
graves são,naenorme maio-
ria, em pacientes já debilita-
dos oucomoutras doenças.
Hoje, dados de mortalidade
de países que fizeram notifi-
caçãonão só decasos graves
mostram queamortalidade
inicial,estimada em 3 %a 5 %
na China, naverdadeémais
próxima de 0 , 1 %a 0 , 2 %ebem
menos que isso em crianças e
adultos jovens semcomorbi-
dades. Crianças, em especial,
parecem ser curiosamente(e
felizmente!) grupo protegido
da Covid- 19 ,com mortalidade
0 mesmo nascoortes de mi-
lhares de pacientes daChina.
Éverdade que idosos são o
maiorgrupode riscoparaco-
vid- 19 .Mas eles sãoomaior
grupo de riscoparaqualquer

infecçãoetambém paraqual-
quer doençanão-infecciosa.
Sevocêtemumidosocom
mais de 80 anos emcasa, a
chancedestefalecerporco-
vid- 19 émuitomenordoque
elefalecerdeoutrascausas.
Mais alguns números pa-
ra trazer um poucoderazão
ao assunto(de 9 de março).
ACovid- 19 matou 4. 000 pes-
soas emtodoomundo.AIn-
fluenza(gripecomum) ma-
tou 65 mil pessoas só nos Es-
tados Unidos em 2018.
NaItália, houve 463 mortes
porcovid- 19 .Noano passa-
do,houvemais de 700 mortes
por dengue no Brasil.
NaAlemanha, no inverno
rigoroso,comtemperaturas
abaixode 10 °C,com popu-
lação idosa, sãoatualmente
1. 176 casos e 2 óbitos, morta-
lidade menorque 0 , 2 %.
Suécia,Noruega,Bélgica,
Áustria,SingapuraeMalá-
siatêmsomados 1. 349 casos
enenhum óbito.
Como se pode perceber,não
háamenorrazão paraalarde,
paraparanoia,parahisteria.
Quantoamedidas deres-
trição de viagens,dequa-
rentena, decancelamentode
eventoseaglomerações ou
atémesmofechamentode
escolas,omelhorasefazer
éseguir as orientaçõesdos
órgãos oficiais (Ministério
daSaúdeeSecretaria Esta-
dual deSaúde)edaSocieda-
de BrasileiradeInfectologia.

Vírusédesafio parasaúde pública,


mas pouco preocupante paraindivíduo



  • Cláudia Collucci,
    PhillippeWatanabe e
    ViniciusTorresFreire


sãopauloMédicosdeSão Pau-
lo entraram em uma “guerra
de WhatsApp” sobreasproje-
ções dedisseminaçãodono-
vo coronavírusnoBrasil eco-
mo tratarasinformações so-
breoassunto.
Asdiferentes narrativasco-
meçaramapartir de um áudio
no qualocardiologista Fábio
Jatene,diretordoserviçode
cirurgiatorácicadoInstituto
do Coração (InCor) do Hospi-
taldas Clínicas,apresenta um
cenário dramáticoparaadis-
seminaçãodo vírusnopaís.
Nagravação,que viralizou
nestaquinta( 12 )ecujaveraci-
dadefoiconfirmada pelocar-
diologistaàFolha,ele relata
umareunião quetevecom al-
guns dos maisrenomados mé-


dicosdeSão Paulo.Oáudio,se-
gundoJatene,foienviado ape-
nasaseuscolegas, masvazou.
Jatene afirma na gravação
que os médicos nareunião es-
timaram que em quatrome-
ses haverá 45 mil pessoascom
coronavírussónaGrandeSão
Paulo e 11 mil delasvãoneces-
sitar de UTIs(que nãoexistem
nessa quantidade).
SegundoaFolhaapurou, por
oraasautoridadesmédicas do
estado estimam que serão ne-
cessárioscercade 5. 000 leitos
de UTI, emboraaamplitude da
estimativaváde 2. 500 a 9. 000
lei tos, apenasna GrandeSão
Paulo.Ainda não há elementos
no Brasilparaestimaronúme-
ro decasos que necessitem de
acompanhamento intensivo.
Nestaquinta,oestado infor-
moutercontratado mil leitos
de UTI paracasosdacovid- 19.
Segundo essas estimativas,

opicodonúmerodenovos ca-
sos ocorreria daquiaummês.
Noestado deSãoPaulo, o
númerodecasos poderiair
de 80 mil a 100 mil.Noentan-
to,segundopessoasenvolvi-
das nos preparativos paraen-
frentaradoençanogoverno
do estado, poucosesabe so-
breascaracterísticas da epide-
miaemSão Paulo ou no Brasil.
Seráprecisolevaremcon-
ta,porexemplo,asmedidas
decontenção(como paralisa-
çãodeatividades) eaadapta-
çãodovírus ao clima.OHos-
pital das Clínicas de SP játe-
riareservado 75 leitos de UTI
apacientes docoronavírus.
Participaram dareunião ci-
entífica, entre outros médicos,
DavidUip (infectologista), Es-
per Cavalheiro(neurologista)
eMarcelo Amato(intensivis-
ta,especializado em UTIs).
SegundoJatene, Uip disse

que oscasos devemexplodir
apartir de agoraeosmais vul-
neráveis, quedevemrecebero
máximo deatenção,são os ido-
sos.Ataxade mortalidade en-
treeles chegaa 18 %,enquan-
to entreosjovenséde 0 , 2 %.
Deacordocomosmédicos,
ocenárioédemuitapreocu-
pação.Eles preveemtambém
que em quatromesesopico
da doençadeverápassar.
Nospróximos 15 diasficará
maisclarocomoadoençavai
afetaroBrasil, seopaíssegui-
rá aFrançaouaItália, queti-
nhamcercade 12 casosconfir-
mados em 21 defevereirocada
um. Em 10 de março,aItália
tinhamaisde 10 mil,eaFran-
ça,cerca de 1. 700 .OBrasil, por
ora, está no ritmodaFrança.
Outroqueteveumáudio
particularvazadofoiMarcos
Knobel,cardiologistaevice-
presidentedoHospital Isra-

Em ‘guerradeáudios’,médicos


debatem projeções da doença


Mensagens de especialistas vazadas no WhatsApptêmestimativasconflitantes


elitaAlbert Einstein.Avera-
cidade da mensagemfoicon-
firmada pelaFolha.
OmédicodoEinstein,na
mesma linhadeJatene, de-
monstrapreocupaçãocomo
impactoqueonovocorona-
víruspodeter sobreativida-
descotidianas. Ele afirma que
diversas escolastêmentrado
emcontatoparapedir conse-
lhos sobresuspender aulas e
que possivelmentemuitasfe-
charão já na próxima semana.
Por outrolado,hámédico
queafirme,também por áu-
dio de WhatsApp,que os nú-
meros apresentados pelosco-
legas sãoexageradosealar-
mistas demais. Um deleséAn-
thonyWong,toxicologistado
Hospitaldas Clíni casdeSP.
Segundo ele, “ 45 miléumnú-
meroabsurdo”.Amensagem
tambémfoiconfirmadapela
Folhacomopróprio médico.
Dados mostram que,com
exceção da China(commais
de 80 mildoentes, mais da
metade deles járecuperados),
nenhum outropaís alcançou
tais níveis.
Otoxicologistadiz que, pelo
Brasil se localizar no Hemisfé-
rio Suleestar noverão,ocon-
tágio deveser menordoque
nospaísesdoNorte. Ele citaa
Indonésia, quetem tidouma
evoluçãocontroladanos casos.

SegundoWong,paraamaior
partedapopulaçãoacovid- 19
serácomo uma gripe.“Todo
mundo estápreocupado,pen-
sandoqueofilhovaimorrer,
eapessoaquerealmente es-
tá em risco, aquelacom mais
idade, pode ser negligenciada.
Éisso que estámepreocupan-
do”,disseWongàreportagem.
Mais umáudio,confirmado
pelaFolhaeque eraparaser
particular,também se preo-
cupacomoalarmismo.Ain-
fectologistaCristhieniRodri-
gues, do Incor, diz queestava
presentenareuniãocomJate-
neeque os dados que ele cita
estãoforadecontexto.
Aespecialistaafirma que,re-
almente,teremosvárioscasos,
mas queamaioria seráumres-
friadocomum, inclusivemais
levedo queoH 1 N 1 .Ela diz,
porém, que deve-se ficar em
alertacomapopulação ido-
sa ecom outroscomproble-
mascardíacosepulmonares.
Ainfectologistapedecal-
maediz que deve-se esperar
as orientações das autorida-
desedequemrealmentees-
tudaoassunto. Segundo ela,
paraquadros levesderesfri-
adoomelhoréficaremcasa.
TantoamensagemdeWong
quantoadeRodrigues ressal-
tamqueapopulação nãode-
ve entrar em pânico.

Reflexoem espelho deshopping emTó quio,noJapão, exibe pessoas usandomáscaras paraseprotegerdonovocoronavírus Athit Perawongmetha/Reuters


[


Doponto devista
desaúde individual,
isto é, pensando no
riscoqueainfecção
representaparacada
um, pode-sedizer
queesteémínimo
Free download pdf