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opinião
SEXTA-FEIRA, 13 DE MARÇODE 2020 AERRAMOS
[email protected]Coronavírus
Éimprescindível que se leiaoarti-
go “Pandemia defake news”,deRo-
bertoDias (Opinião, 12 / 3 ). Osres-
ponsáveis por publicarem infor-
maçõesfalsas na internet devem
ser punidospela lei.Aspessoas
de nossa sociedade não estão ci-
entesosuficientedos danosque a
desinformação podecausar.Ade-
mais, classificar asfake news espa-
lhadas pelo paíscomo“pandemia”
foiuma metáforainteligentíssima.
Beatriz Lavez
(São Sebastião do Paraíso,MG)*
“Organizadoresdecidemcance-
laratopró-Bolsonarocomavan-
çodocoronavírus” (Poder, 12 / 3 ).
Bando de paulistas frouxos. Adivi-
nhem se osvalentesgaúchoscan-
celaramoGrenal de hoje.Eviden-
tementequenão! Os bolsomitos
da pauliceia estãoécommedode
um fracassoretumbantedessa di-
ta manifestação cívico-patriótica.
MarcosFernandoDauner(Joinville,SC)*
Bolsonaroacordou depois queoví-
rus encostou nele?Deixou de ser
algofantasiosoetípicodamídia?
HumbertoGiovine(Erechim,RS)Felicidade
Noagradávelartigo“Ovírus da lin-
guagem”(Cotidiano, 12 / 3 ), Sérgio
Rodrigues assentaque“ainda não
foidescobertoumtema em que a
ignorância seja preferível aoconhe-
cimento”.Foi sim:ocampo dafe-
licidade. Principalmentenos últi-
mos meses,vejo multidõesfelizes
comaignorância.Nãopor acaso,
AdãoeEva foramexpulsos doPa-
raíso porcomeremofrutodaárvo-
re da sabedoria.Digoháanos que
aignorânciaéabasedafelicidade.
LuizFernandoSchmidt(Goiânia,GO)Bolsonaroeaeleição
Tivesseosenhor Sérgio Morouma
sombradecaráter erepublicanis-
mo,tomaria parasi, ecom urgên-
cia,ainiciativadedeterminaràPF
que investigueagrave acusação de
fraude nas eleições apontadas pelo
senhorBolsonaro. Masémaisum
agentepúblicocomaobsessivae
exclusivapreocupaçãocomseu ar-
rivismo político.
Clarilton Ribas(Florianópolis, SC)Bolsonaro
Há muitoleiocomprazeracolu-
na deRuyCastro. Mas,apesarde
esperarsempreobiscoito fino de
suas observações, me surpreendi
comaque levavaotítulo “Receita
de impeachment” (Opinião, 11 / 3 ).
Que precisão,queclarezaesínte-
se! Estátudo alisobre estegover-
no inéditonahistóriabrasileira.
FredericoAlexandreHecker
(São Paulo,SP)*
Para entenderadinâmica mental
deBolsonaro, épreciso ler “O Caso
Schreiber”,deFreud. Ou seja: pa-
ranoia querelante. Porcausa disso
ele se sente seguro brigandocom
todo mundo.
PauloSérgio VargasWerneck,
médicopsicanalista(Taubaté,SP)Rachadinha
Creio quecontinuavalendo para
ointerminávelcaso “rachadinhas
do FlávioBolsonaro” jargõescomo
“debaixodesteangutemcaroço”ou
“pelo andar dacarruagem já sabe-
mos quemvemdentro”.Essecom-
plexoassunto mexe comtodos os
parlamentaresdaAssembleia Le-
gislativadoRio.Háuma cumplici-
dade entreeles,enenhumsema-
nifesta diantedodescalabro.Inte-
ligentemente—paranão ficarcom
pepino na mão—,adesembarga-
doraSuimei MeiraCavalieritomou
decisão de paralisarainvestigação.
PauloMarinho(Rio de Janeiro, RJ)BPC
Émuitairresponsabilidade queo
Congressotomedecisõessem os
devidos lastros para puniropresi-
denteefazermédia comfamílias
querecebemoBenefício dePres-
taçãoContinuada (“Ampliaçãodo
BPCdeR$ 20 bi compromete teto
degastos,diz Mansueto”,Merca-
do, 11 / 3 ). Cadapaístemocorona-
vírus que merece.
TaniaTavares(SãoPaulo,SP)*
Essegastoadicional do BPCéuma
atitude irresponsável. Se umtra-
balhadortem de esperaratéos 65
anos paraseaposentar,por que en-
tãoele iriacontribuircomaPrevi-
dência se nessa idadevaireceber
oBPC?Além disso, no Brasil,on-
deotrabalho informaléenorme,
vaiser injustocom osverdadeira-
mentenecessitados.
Otávio deQueiroz(SãoPaulo,SP)*
Emrelação às criticasàaprovação
do BPC, aFolhadeveriafazer uma
reportagemcomparando esses
R$ 20 bilhõescomosinvestimen-
tosdodesgovernoBolsonarocom
as Forças Armadas, que aumenta-
ram 33 %em 2019 (só na estatalda
MarinhaforaminvestidosR$ 7 , 6
bilhões, segundoreportagem de
20 / 2 ).Parecem-me indecentes as
críticasaumprojetoquevaialivi-
ar um pouquinhoodrama de ido-
sosedeficientes que vivemcom
meio saláriomínimo.
BeatrizTelles(São Paulo,SP)*
SobreosR$ 20 bilhõesdoBenefí-
cio dePrestaçãoContinuada,gos-
tariaque aspessoasconsiderassem
as várias isençõesconcedidas pelo
governoavários segmentosda in-
dústria,docomércioedaagrope-
cuária.Gente, estamosfalando de
um benefício ao qualterãodireito
idososcommais de 65 anosepes-
soas comdeficiênciaecomrenda
familiar percapitainferiorameio
saláriomínimo(R$ 522 ). Quer di-
zerque issoéumabsurdo? Mas
as isenções parasetores mais or-
ganizadoseabastadoséaceitável?
Carlos AlbertoCeretta,professor
aposentadodaUniversidadeFederal
de Santa Maria (SantaMaria, RS)BolsaeBPC
“A çãodoBCamericano impede 3 º
circuit breaker naBolsa brasileira”
(Mercado, 12 / 3 ). Issotudoéfichi-
nha pertodoapocalipse da ampli-
açãodarendamensalvitalíciapa-
ra idososcarentes eportadoresde
deficiênciaincapacitante.
Ayer Campos(Brasília,DF)Atodecampanha
AFolhapoderiateresclarecidoque
afotodapáginaB 10 daedição des-
ta quinta-feira( 12 / 3 )retratauma
brincadeira que fizcomamilitân-
cia que acompanhava minha agen-
da decandidato, duranteacampa-
nha aogoverno do estado deSão
Paulo em 2006 .Conforme já escla-
recidoàépoca,convideiofotógra-
fo paraparticipareregistrarafoto.
Por isso, estaFolhapoderiaterdei-
xadoclaroqueoregistrofotográfi-
co foiuma bem humorada brinca-
deiraemato decampanha.
Aloizio Mercadante,ex-ministro
da Educação (SãoPaulo,SP).paineldoleitor(1º.mar,pág.a3)O
nomecorretodacidade onde mo-
ra oleitorMarcosRobertoBanhara
éPaulaFreitas,nãoPauloFreitas.guiafolha(13.mar.pág.27)Aexi-
bição naterça( 17 / 3 )de“AMonta-
nha dos SeteAbutres”, que integraaMostradeCinemaFolha 100 ,eo
debate que aconteceria logoapós
ofilme, publicados em partedos
exemplares,foramsuspensos após
ofechamentodaedição.Adecisão
foitomada devido aoavançodo
coronavírus.Uma novadataserá
anunciada mais adiante.PAINEL DO LEITOR
folha.com/paineldoleitor [email protected]
Cartasparaal. BarãodeLimeira, 425, São Paulo,CEP 01202-900.AFolha sereserva o
direitodepublicar trechos das mensagens. Informe seu nomecompletoeendereçoTENDÊNCIAS/DEBATES
folha.com/tendencias [email protected]
Osartigospublicadoscomassinaturanãotraduzemaopiniãodojornal.Suapublicaçãoobedeceaopropósitodeestimular
odebatedos problemas brasileirosemundiaisederefletir as diversastendências do pensamentocontemporâneoHá um ano, duranteomês dacome-
moração do DiaInternacionaldaMu-
lher,foi aprovadaalei que proíbe o
casamentodecrianças menoresde
16 anos(lei 13. 811 / 19 ).Resultado de
umacampanha de dois anos, leva-
daacabopela sociedade civileor-
ganizações nãogovernamentais,a
propostasensibilizou parlamenta-
res. Noentanto, otextoaprovado
ainda permitiuque adolescentes
de 16 ou 17 anos possamcasarcom
oconsentimentodeseus pais oure-
presentanteslegais.
Essa brechaésinal de que ain-
da há muitoporfazernoBrasil.De
acordocomlevantamentos do Uni-
cef(Fundo dasNações Unidaspa-
ra aInfância), ocupamosoquarto
lugar noranking mundial docasa-
mentoinfantil de meninas, em nú-
meros absolutos.Atrásapenas de
Índia,BangladesheNigéria. Estima-
se umtotalde 2 , 9 milhões de uniões
precoces noterritório brasileiro, ou
26 %dapopulaçãocommenos de 18
anos em situaçãodeunião precoce
eforçada —índiceacima da média
da AméricaLatina, que soma 25 %.
Relações prematuras, em que um
dos parceirostêmmenos de 18 anos,
sãoconsideradaspela ONUcomo
uma violação dos direitoshumanos.
AONUtambém define essas uniões
comoforçadas—estratégia parares-
saltar as desigualdades estruturais
que submetem meninas no mun-dotodoàsituação,emque não há
“escolha”. Elasgeralmentevêmde
umcontextodetrabalho domésti-
coesofremcontrole em seus lares
de origem,recebendo poucoapoio.
OUnicef diz que“asconsequências
dessa práticasão arrasadoras para
avidaeodesenvolvimento” delas.
Além da gravidez precoce, que por
vezesaconteceantesdototalama-
durecimentocorporal, noivas jovens
ou aindacriançastêmmaior proba-
bilidade de viver em áreas rurais, em
famílias pobresecom menos aces-
so àeducação.Nospaísesondeéprecisoter 18
anos ou mais paracasar,onúmero
de matrículas escolaresdemeninas
éde 83 %,contra 69 %ondeaidade
legalestáabaixode 18 anos.Ocoe-
ficiente deempregofemininoéde
50 %nos paísescomcasamentolegal
acima dos 18 anos,contra 29 %onde
aidade legaléabaixodisso.Sãofa-
toresquetêmefeitoprofundonasa-
úde mentalefísicadas meninas, di-
ficultamaautonomiaeconômicae
acapacidade detomar decisões so-
breospróprioscorpos.
OCongresso brasileirotem uma
propostaparaalteraroCódigoCi-
vileretirarapossibilidade doca-
samentoinfantilexcepcional, que
temaautorização dos pais. Mas é
necessáriotambémconscientizar
oPoderJudiciárioeasinstituições
religiosas, organizações-chave,que
têmpoderparaoficializar uniões e
naturalizamaquestãosem questi-
onarpossíveis violações de direitos.
Somentecom essa adequação às
normas internacionais,das quais o
Brasilésignatário,poderemos pre-
encheralacunaexistenteecumprir
comoObjetivodeDesenvolvimen-
to Sustentável 5 (ODS 5 ),quedesa-
fiaoalcancedaigualdadedegênero
eoempoderamentodas mulheres e
meninas.Eexige“eliminartodas as
práticas nocivas,como oscasamen-
tosprematuros, forçadosedecrian-
çasemutilaçõesgenitaisfemininas”.Esteéumartigosobreosriscosre-
ais doavançodocristianismoreaci-
onário no Brasil, aoredor dogover-
noBolsonaro, esobrecomo perce-
ber queafédestereacionarismo é
umafé emcolapso.Como“fé emco-
lapso” eu entendoacompletaperda
desimetriacomapráticadeJesus
descritanostextos bíblicos,aqual
resumo em três princípios básicos
que aproximamamensagem deJe-
susàdefesadas liberdades, dores-
peitoàdiversidadeeàjustiça.
Obom samaritano,emqueoaco-
lhimentoéfeitonão porreligiosos,
maspor um samaritano secular,o
que indicaqueoprincípio da ética
da solidariedade superaasconvic-
çõesreligiosas;amultiplicaçãodos
peixes, em queoprincípio da justiça
distributivaeigualitáriaépostaem
favordeuma multidão,sem critérios
de “pertencimento”,mas de “neces-
sidades”; ealeituradolivrodopro-
feta Isaías, queJesusfaznonotem-
plo(evangelho de Lucas)enaqual
ele afirmaqueveio paraospobres
eparaproclamaralibertaçãodos
oprimidos—oqueéuma claradis-
tinção entreoseu princípio de sen-
sibilidadeeidentificação,oque ele
faz,eoqueotemplo,quecompõe
aestruturadepoder,sepõeafazer.
Com esses princípios, nenhum
cristãoevangélicooucatólicopreci-
sa ser um militante. Ele naturalmen-
te teria apreçopela justiçaerecha-
çoaqualquerforma de açãoedis-
curso que lhe parecesse estranho a
isso.Poisaféemcolapso dos pode-
rosos pastoresàfrentedesuas in-
fluentes igrejasetantos sacerdotes
eleigoscatólicos,reacionáriacomo
é, fazocaminho inverso—ouseja,
eles pretendemconservaraestru-
tura de desigualdade (não necessa-
riamentesocialeeconômica) por-
queopoder deles estáali.LíderescomoJosuéValandroJr. ,
Silas Malafaia, asfamíliasFerreira
eValadão, Edir Macedo, MarcoFe-
liciano,igrejascomoBola deNeve e
sua estéticaemúsicas alternativas,
mas de base profundamentecon-
servadoraereacionária, ouonú-
cleocalvinista que integrahojeogo-
vernoBolsonaro, estãocomprome-
tidoscomummoralismovertical,
que idealizaeideologiza umJesus
soberano,tãoconservadorquanto
eles mesmos.Todosforjam umJe-
susávido porterodomíniodetu-
do (socialeculturalmente), sobre
todos, empenhado em,atravésde-
les, derrotarinimigos.Ederrotar de
várias maneiras.
Afilósofaamericana Iris Marion
Young,noseulivro“Justiceand the
PoliticsofDifference” (sem tradução
paraoportuguês),serefereaopres-
sãocomo possuindo cincofaces, a
saber:exploração,marginalização,desempoderamento,imperialismo
culturaleviolência.
Comessas cincofaces,aopressão
assume sua dimensão estrutural. E
comdimensão estrutural, elavai ci-
tarFoucault paralembrar que estru-
turasdepoder se manifestam não
apenas pela ação diretados que de-
témopoder,mas,aocontráriodis-
so,como efeitodepráticas deedu-
cação, muitasvezesliberaise“hu-
manas”,burocráticas, no diaadia.
Éassimaféemcolapso,ela está
operando na opressão,quasecomo
uma “práticadeeducação”,didati-
camente. E, emborareceba pouca
atenção,aféemcolapso não mobi-
lizamentesecorações apenas pelas
palavrasque são ditasdepúlpito;ela
também chega pelascançõesentoa-
das semanalmente, ouvidasexaus-
tivamente, nasrádiosenos cultos.
Éevidenteque “hinos”,católicosou
evangélicos, não precisamter como
prioridade qualquer mensagem soci-
al ou militante. Mas não deixa de ser
frustrante que, na maioriadas can-
ções, não seja possível encontrarves-
tígiosde simetriacomaéticadaso-
lidariedade, dadefesa da igualdade
eafirmação da diversidade,alémde
uma sensibilidadepolítica querom-
pacomosabusos das estruturas de
poder,parapensar,portanto, comu-
nitáriaecoletivamente.
Mas esteartigoépautado pela es-
perança.Aféemcolapso nãotemo
domínioda mensagem bíblicaeda
vivência deevangélicosecatólicos.
Muitos, intuitivamente, percebem
essaassimetria entreosamantes
do poder que queremfalar desau-
torizadamenteemnomedetodos
os cristãos,eaqueleseaquelas que
estão buscando viver suas vidasfa-
zendo algumadiferença coeren-
te comoque sabem queémaisco-
erentecomamensagemdeJesus.Parafugir do cristianismo
reacionárioedasuafé emcolapso
Casamentoinfantil: peso sobre
ofuturodemeninasemulheres
- Ronilso Pacheco
Teólogo, pastor auxiliar na ComunidadeBatistadeSão Gonçalo (RJ)eativista,éautor de“JesuseosDireitos Humanos” (Usina deValores)e“Teologia Negra:
oSoproAntirracistadoEspírito”(ed.Novos Diálogos)
Viviana Santiago
Gerentedegêneroeincidência política da Plan International BrasilemembrodoGTAgenda 2030
Núcleo bolsonaristaforja um Jesusávido porterodomínio de tudoedetodos
Estánas mãos do Congresso proibirauniãoexcepcionalconsentida
[
Aféemcolapso dos
poderosos pastores à
frentedesuas influentes
igrejasetantos sacerdotes
eleigoscatólicos,
reacionáriacomo é,faz
ocaminho inverso—ou
seja, eles pretendem
conservaraestrutura
de desigualdade (não
necessariamentesocial
eeconômica) porque o
poder deles estáali.[
DeacordocomoUnicef,
ocupamosoquartolugar
noranking mundial do
casamentoinfantil de
meninas, em números
absolutos.Atrásapenas
de Índia,Bangladesh e
Nigéria.“Consequências
dessa práticasão
arrasadoras paraavida
eodesenvolvimento”,
afirmaaONU.