Folha de São Paulo - 13.03.2020

(ff) #1

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ilustrada


C6 SEXTA-FEIRA, 13 DE MARÇODE 2020



  • LucasBrêda


sãopauloEm 1984 ,FelaKuti
tinhaumshowmarcado no
HollywoodBowl, mas não
conseguiu chegaraLos An-
geles. “Meupai tinha sido pre-
so injustamente”,lembraFe-
miKuti,seu filho maisve-
lho,que na épocatocavasax
comele na bandaEgypt 80.
“Foi inesperado,mascon-
seguimostocar. Acabeilide-
randoabanda por dois anos,
atéele sair dacadeia”, dizFemi,
quevemaoBrasil para shows
no NubluFestival, do Sesc.
Quandofoialçadoàlinha de
frente da Egypt 80 ,Femi tinha
osobrenome de líder,mas o
DNA não erasuficienteparalhe
renderotítulo de príncipe do
afrobeat—gênero criadopor
Fela, que misturajazz,funke
amúsicaiorubá. Em 1986 ,ele
fundouopróprio grupo,Po-
sitiveForce,einiciouabusca
por sua identidadeartística.
“A prendisax,pianoetrom-
petesozinho.Via meu paito-
car, lia livroseouviajazz”,diz.
Desde 1995 ,Femijálançou
dez discos. Masfoi só em 1998 ,
com“Shoki Shoki”,que ele
chamouaatenção dosfãsde
música,comaideia de moder-
nizareexpandiroafrobeat.
Enquanto atualizavaodis-
curso politizadodopai,Femi
destacavamaisosaspectos
dançantes doque os jazzísti-
cosdoafrobeat, emfaixas mais
curtasediretas(cercadecinco
minutos) queasdeFela(não
raro passavamdameiahora).
“Meu maior desafiofoiachar
minha alma.Todo mundo me
comparava ameu pai, diziam
que não poderia sercomo ele.
Nuncafoi minha intenção,só
queria ser um bom instrumen-
tistaefazermúsicasboas. Me
estressaram muitocomisso.”
“Diziamquemeupaitinha
feitoasmúsicas”,lembraFe-
mi, sobreseus primeiros hits.
Eleacreditaquefoisódepois
damortedeFela—em 1997 ,
em decorrência da Aids—,que
passouaserrespeitado.“Sa-
biamque meu pai não estava
mais ali para fazeramúsica.”
“BengBengBeng”,primeiro
hit deFemi, chegouaser censu-
rada pelogoverno nigeriano.
“Nem erauma músicapolíti-
ca,mas foibanida.Nasrádios,
nãotocamminhas músicas.”
Sobreasdenúncias decen-
suraporpartedogoverno
brasileiroatual, Femi diz que
asituaçãodevedeixar os ar-
tistasmaisfortes. “Hoje,com
as redes sociais,você fazoque
quiser. Issonão deveria impe-
dir ninguém de pôrseussen-
timentosreais nas músicas.”
Em seus últimostrabalhos
—emespecialnodisco“One
People OneWorld”, de 2018 —,
Femitemsemostradomais
pacíficoeotimista. “Gostode
pensarqueomundoéuma
grandecasa,enão podemos
morar sozinhos. Apesar de ser
muitopan-afri canista,gos-
to de ser global no quefaço.”
Femi afirmaque acorrupção
na Nigéria permanece eque os
governoscontinuam “cegos
àpobreza”. “Quandovocê en-
tendeacolonizaçãoeaescra-
vidão,vêquenãovamossair
dissoemcincoanos.Talvezmais
unscem.Temos quecontinuar
lutando,ouvindoamúsicado
meu paiefazendonossos fi-
lhos acreditarem queageração
deles podefazeradiferença.”
FemiKuti
Sábado(14), às20h. Sesc São
Josédos Campos,av.Adhemar
de Barros, 99.R$50

Fora da sombra


do pai,FemiKuti


levaseu afrobeat


dançanteashow


Saxofonista, quetoca no país, diz que


seu maior desafiofoi achar sua alma


enquantoocomparavam aFelaKuti


Femi Kuti
em show
no México,
em 2019


IsaacLópez/
Divulgação

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