O Estado de São Paulo (2020-05-16)

(Antfer) #1

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A12 Política SÁBADO, 16 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Os prefeitos paulistas que não
prestarem informações sobre
os gastos para enfrentar o
novo coronavírus pode-
rão receber multas
de até R$55,2 mil do
Tribunal de Contas
do Estado de São
Paulo (TCE-SP).
Segundo levanta-
mento do órgão, um
total de 519 municí-
pios, dos 644 fiscalizados,
ou deixaram de prestar contas
(198), ou o fizeram de modo ina-
dequado (320), desde o decreto
de calamidade, em 20 de março.

CGU, Polícia Civil e Ministério
Público do DF deflagram on-
tem a Operação Grabato
para apurar irregulari-
dades em contrata-
ções sem licitação
da Secretaria de
Saúde do DF. As
investigações mi-
ram contrato de
R$79 milhões com
empresa para geren-
ciamento 200 leitos no
hospital de campanha construí-
do para atender pacientes de
covid-19. A secretaria diz que
colabora com as investigações.

Cidades paulistas deixam
de prestar conta de verba

PANDEMIA

BRASÍLIA


Três dias após afirmar que não
havia citado a palavra Polícia
Federal na reunião ministe-
rial do dia 22 de abril, o presi-
dente Jair Bolsonaro admitiu
ontem ter usado o termo “PF”
no encontro. O recuo ocorre
após a Advocacia-Geral da
União (AGU) apresentar ao
Supremo Tribunal Federal
(STF) manifestação com a
transcrição das falas do presi-
dente em que aparecem as pa-
lavras “PF” e “família”.
A manifestação da AGU foi
apresentada no inquérito aber-
to no Supremo para apurar de-
núncia do ex-ministro da Justi-
ça e da Segurança Pública Sér-
gio Moro de interferência políti-
ca de Bolsonaro na PF.
Em depoimento, Moro disse
que, durante o encontro do dia
22, o presidente ameaçou demi-
ti-lo caso não promovesse mu-
danças no órgão. O relator do
inquérito no Supremo, minis-
tro Celso de Mello, vai assistir
ao vídeo da reunião e só depois
vai decidir se derruba ou não o
sigilo da gravação.
Ao falar com jornalistas na
porta do Palácio da Alvorada,
ontem pela manhã, Bolsonaro
foi confrontado com o conteú-
do da manifestação da AGU.
Ele voltou atrás e disse que ci-
tou a sigla PF, mas alegou que
falava do setor de inteligência.
“Ô cara, tem a ver com a Polícia
Federal, mas é a reclamação
‘PF’ no tocante ao serviço de in-
teligência”, declarou.


Bolsonaro carregava uma fo-
lha impressa com a manchete
do jornal Folha de S.Paulo: ‘“Vou
interferir e ponto final’, afir-
mou Bolsonaro sobre PF”, além
de publicações da revista Cru-
soé e do jornal O Globo. “A inter-
ferência não é nesse contexto
da inteligência não, é na segu-
rança familiar. É bem claro, se-
gurança familiar. Não toco em
PF e nem Polícia Federal na pa-
lavra segurança”, disse o presi-
dente, que defendeu a divulga-
ção do vídeo da reunião. Na ma-
nifestação, a AGU pediu que
apenas a parte referente ao in-
quérito seja exibida.
Questionado se falava em in-
terferência no Gabinete de Se-
gurança Institucional (GSI), ór-
gão responsável por garantir a
segurança do presidente e de
seus familiares, Bolsonaro de-
monstrou irritação e chamou a
entrevista de “palhaçada”.
“Não vou me submeter a um in-
terrogatório da parte de vocês.
Espero que a fita se torne públi-
ca para que a análise correta se-
ja feita”, disse.

Interferência. Segundo a trans-
crição enviada pela AGU ao Su-
premo, Bolsonaro disse aos au-
xiliares na reunião ministerial
que não pode ser “surpreendi-
do com notícias”. “Essa é a preo-
cupação que temos que ter: a
questão estratégia. E não esta-
mos tendo. E me desculpe o ser-
viço de informação nosso – to-
dos – é uma vergonha, uma ver-
gonha, que eu não sou informa-
do, e não dá para trabalhar as-
sim, fica difícil. Por isso, vou in-
terferir. Ponto final. Não é
ameaça, não é extrapolação da
minha parte. É uma verdade”,
afirmou o presidente.
Moro anunciou sua demissão
do Ministério da Justiça dois
dias depois do encontro, após
Bolsonaro exonerar o então di-
retor-geral da PF, delegado
Maurício Valeixo, contra a sua
vontade. No lugar, o presidente
tentou nomear o atual diretor
da Agência Brasileira de Inteli-
gência (Abin), Alexandre Rama-
gem, mas foi impedido pela Jus-
tiça. Bolsonaro optou, então, pe-
lo “braço direito” de Ramagem
na agência, Rolando Alexandre
de Souza.

Rafael Moraes Moura
Lorenna Rodrigues /BRASÍLIA

O presidente Jair Bolsonaro
utilizou como codinome em
um exame para detecção do
coronavírus o nome do filho
de uma das responsáveis pela
coleta do material utilizado
na análise, uma farmacêutica
que trabalha no Hospital das
Forças Armadas (HFA). A in-
formação foi revelada pelo
jornal Correio Braziliense e
confirmada ao Estadão pelo
Ministério da Defesa.
Os exames do presidente Jair
Bolsonaro foram divulgados na
quarta-feira por determinação
do Supremo Tribunal Federal

(STF) após o Estadão pedir na
Justiça para ter acesso aos lau-
dos. O jornal entrou ontem com
um recurso no STF para certifi-
car que o presidente Jair Bolso-
naro entregou mesmo à Justiça
todos os exames realizados para
identificar se foi contaminado
ou não pelo novo coronavírus.
Em um dos exames, o nome uti-
lizado é o do jovem R. A. A. C. F.,
de 16 anos. De acordo com o Mi-
nistério da Defesa, a mãe de R.A.,
que é tenente-coronel da Aero-
náutica, coordenava a coleta das
amostras para o exame de covid-
19 do presidente e de seus asses-
sores. Estava também sob a coor-
denação dela o envio do material
para o laboratório Sabin, respon-

sável pelo exame. O exame foi
por coleta de material da nasofa-
ringe, feita no dia 17 de março.
O Estadão está preservando
os nomes dos envolvidos por se
tratar de um menor. Segundo a
Defesa, o nome do filho foi o que
“ocorreu” à tenente-coronel no

momento da coleta, quando foi
pedida a utilização de um codino-
me. Além de trabalhar no HFA, a
tenente-coronel é sócia, com o
marido, de uma farmácia de ma-
nipulação em Brasília (DF). Em
foto nas redes sociais, ela colo-
cou os dizeres “Brasil acima de
tudo, Deus acima de todos”, slo-
gan utilizado por Bolsonaro.
Na quarta-feira, o Estadão fa-
lou, por telefone, com o pai de
R.A, marido da tenente-coro-
nel. Ele disse que não sabia o mo-
tivo de o presidente ter usado o
nome de seu filho. “Você podia
perguntar pra ele (Bolsonaro) e
me fala depois”, disse. O pai,
que também é farmacêutico, se
negou a responder se o jovem

R.A. havia feito exame para co-
vid-19. A reportagem ligou on-
tem para a mãe, mas ela desli-
gou o telefone depois da identifi-
cação da repórter e não respon-
deu às mensagens enviadas.
O laboratório Sabin disse que
não utiliza codinomes nos ca-
dastros realizados em suas uni-
dades. “Os casos referidos fo-
ram identificados e colhidos pe-
lo HFA ”, informou, em nota.
O Planalto não explicou a de-
cisão de Bolsonaro de utilizar o
nome de uma pessoa real. O Mi-
nistério da Defesa disse que “o
uso de pseudônimos em exa-
mes de saúde de pessoas públi-
cas, visando proteger a privaci-
dade, é comum e não represen-

ta irregularidade”.
Em um outro exame de covid-
19, o teste feito por Bolsonaro
foi atribuído genericamente ao
nome de “paciente 5”, sem ne-
nhuma informação adicional.
Este laudo foi emitido pela Fio-
cruz, que disse ter atendido “soli-
citação advinda do gabinete da
Presidência da República”.
Ao contrário do que fez com
os exames para covid-19, o presi-
dente se identificou com seu no-
me de batismo em exames médi-
cos feitos no Hospital das Forças
Armadas entre junho de 2019 e
janeiro de 2020. Um grupo de
hackers invadiu o sistema de in-
formações do Exército e divul-
gou esses exames na internet.

R$ 79 mi
É O VALOR DO
CONTRATO ALVO
DA OPERAÇÃO
GRABATO

l‘Palavra’


Bolsonaro recua e


afirma que citou


‘PF’ em reunião


l Tratada agora como sigilosa
pelo governo de Jair Bolsonaro, a
reunião ministerial do 22 de abril,
a última com a participação com
o ex-ministro da Justiça Sérgio
Moro, foi presenciada por ao me-
nos 40 pessoas. Os “segredos de
Estado”, conforme alega o gover-
no, foram conversados na presen-
ça de todo o primeiro escalão,
presidentes de bancos públicos,
assessores especiais, ajudantes
de ordens, cinegrafista e fotógra-
fo. A quantidade de pessoas pode

ser conferida nas imagens divul-
gadas pelo Palácio do Planalto.
Além dos ministros e assesso-
res sentados à mesa, uma foto
ampla mostra cinco pessoas em
pé. Em outra imagem, é possível
verificar que o porta-voz da Presi-
dência, Otávio Rêgo Barros, e
outros três assessores estão sen-
tados em uma outra fileira de
cadeiras, encostada na parede.
O cuidado mais evidente ficava
por conta dos celulares. Nestas
ocasiões, para evitar vazamen-
tos, todos os participantes são
obrigados a deixar o celular do
lado de fora da sala. O único que
costuma ser exceção é o minis-
tro-chefe do Gabinete de Segu-
rança Institucional (GSI), Augus-

to Heleno. Já o telefone do presi-
dente costuma ficar nas mãos de
um ajudante de ordens.
Os encontros eram gravados
na íntegra e armazenados pela
Secretaria de Comunicação com
conhecimento do presidente.
“Nossa reunião é filmada e fica
no cofre lá o chip”, comentou
Bolsonaro no dia 28 de abril,
que, na época, ele mesmo suge-
riu a divulgação do vídeo. “Man-
dei legendar e vou divulgar. Ti-
rem as conclusões de como eu
converso com os ministros.”
A tendência agora é que as
reuniões com ministros deixem
de ser filmadas, como já ocorreu
na última terça-feira no Palácio
da Alvorada. / JUSSARA SOARES

A Associação Nacional dos
Membros do Ministério Públi-
co (Conamp) se posicionou
contra a Medida Provisória
966, publicada na quarta-feira
no Diário Oficial da União, que
livra agentes públicos de pro-
cessos civis ou administrativos
por “erros grosseiros” relacio-
nados à pandemia provocada
pelo novo coronavírus.
A nota, assinada pelo presi-
dente o presidente do Co-
namp, Manoel Victor Sereni
Murrieta, defendeu que a “res-
ponsabilidade de agentes po-

líticos e públicos por seus atos
é da essência do Estado de Di-
reito”. Considerada “genéri-
ca”, a MP abre brecha para
“subjetivismos” na definição
dos atos que podem ou não ser
responsabilizados.

lPrivacidade

DISTRITO FEDERAL

Número 2 da


PF pede para


depor outra vez


“(Eu disse na reunião do dia
22) A palavra ‘PF’, duas
letras. Tem a ver com a
Polícia Federal, mas é
reclamação PF no tocante
ao serviço de inteligência.”
Jair Bolsonaro
PRESIDENTE DA REPÚBLICA


Após transcrição


apresentada pela AGU


ao Supremo, presidente


afirma que fala se referia


a ‘serviço de inteligência’


Reunião ‘sigilosa’


contou com ao


menos 40 pessoas


GABRIELA BILO/ ESTADAO

Alvorada. Bolsonaro disse que usou termo PF, mas se referia a segurança, sua e da família

CONAMP -20/3/

MEDIDA PROVISÓRIA 966


Associação de promotores criticam


isenção de punição a agentes públicos


Freixo desiste de
eleição para a prefeitura
Principal nome da esquerda
carioca, o deputado federal
Marcelo Freixo (PSOL) desis-
tiu de concorrer à prefeitura
do Rio neste ano. Seria a tercei-
ra tentativa de Freixo, que fi-
cou em segundo lugar nas ou-
tras duas ocasiões – ele foi der-
rotado por Eduardo Paes, em
2012, e Marcelo Crivella, em


  1. Em pesquisas recentes, o
    deputado aparecia em segundo
    nas intenções de voto. A desis-
    tência tem relação com a difi-
    culdade de Freixo de conseguir
    formar uma ampla aliança na
    esquerda do Estado.


RIO DE JANEIRO

O prefeito de São Paulo, Bruno
Covas (PSDB), recebeu alta
médica no começo da tarde de
ontem. Ele estava internado
desde a noite de quarta-feira
no Hospital Sírio Libanês para
tratar uma colite autolimitada


  • inflamação no cólon, região
    central do intestino grosso.
    Segundo boletim médico, o pre-
    feito “apresentou rápida me-
    lhora clínica e, após período de
    vigilância médica, deixou o hos-
    pital”. Covas passa por trata-
    mento contra um câncer me-
    tastático que atinge seu siste-
    ma digestivo.


Covas recebe alta após
inflamação no intestino

SÃO PAULO

Nome em teste é de filho de farmacêutica


“O uso de pseudônimos
em exames de saúde de
pessoas públicas, visando
proteger a privacidade, é
comum e não representa
irregularidade.”
Ministério da Defesa
EM NOTA OFICIAL

Codinome aparece em um exame de Bolsonaro para detecção da covid-19; mãe de jovem de 16 anos é tenente-coronel da Aeronáutica


Ação mira contratação
emergencial na Saúde

Pepita Ortega
Fausto Macedo

O diretor executivo da Polícia
Federal e ex-superintendente
da corporação no Rio, delegado
Carlos Henrique Oliveira, pe-
diu para prestar um novo depoi-
mento no inquérito que investi-
ga suposta tentativa de interfe-
rência política do presidente
Jair Bolsonaro na PF. Oliveira
deve ser ouvido novamente na
próxima quarta-feira.
O número 2 da PF contradis-
se Bolsonaro. Oliveira afirmou
em audiência na quarta-feira
passada que a regional fluminen-
se mirou familiares do presiden-
te. Segundo ele, o inquérito “era
de âmbito eleitoral, e já foi rela-
tado sem indiciamento”. Disse
ainda que a saída do delegado
Ricardo Saadi da chefia da PF no
Rio não se deu por “questões de
produtividade”, como alegou
Bolsonaro na primeira tentati-
va de trocar o superintendente
da corporação fluminense, pivô
da crise entre o presidente e o
ex-ministro Sérgio Moro.
A PF intimou outros três dele-
gados para serem ouvidos na in-
vestigação sobre as acusações
de Moro contra Bolsonaro. Na
terça-feira, prestará depoimen-
to o delegado Claudio Ferreira
Gomes, diretor de Inteligência
da corporação. A suposta co-
brança do presidente da Repúbli-
ca por relatórios da PF é um dos
pontos centrais do inquérito.
Na quarta, além de Oliveira,
vão depor os delegados Cairo
Costa Duarte e Rodrigo de Mo-
rais. Ambos estão lotados na PF
de Minas Gerais – Duarte é o
superintendente da unidade e
Morais é o responsável por con-
duzir as investigações sobre o
atentado à faca sofrido por Bol-
sonaro durante a campanha
eleitoral, em 2018.

Audiências. Nesta semana, fo-
ram prestados nove depoimen-
tos. Foram ouvidos os delega-
dos Maurício Valeixo, Alexan-
dre Ramagem, Ricardo Saadi,
Alexandre Saraiva e Carlos Hen-
rique Oliveira; os ministros Au-
gusto Heleno (Gabinete de Se-
gurança Institucional), Walter
Braga Netto (Casa Civil) e Luiz
Eduardo Ramos (Secretaria de
Governo); e a deputada Carla
Zambelli (PSL-SP).
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