O Estado de São Paulo (2020-05-16)

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A16 Metrópole SÁBADO, 16 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Marcio Dolzan / RIO


Após o Rio registrar um aumen-
to de cerca de 100% no número
de mortes entre o início de abril
e o de maio, o Ministério Públi-
co do Estado (MP-RJ) encami-
nhou ofício à prefeitura do Rio
pedindo a elaboração ou adapta-
ção de um Plano de Gestão de
Óbitos. Segundo dados do ór-
gão, a capital fluminense teve
2.048 óbitos nos 11 primeiros
dias de abril, ante 4.170 mortes
no mesmo período deste mês.


Os números são gerais e con-
sideram todas as causas de mor-
te na cidade, mas a pandemia do
novo coronavírus é vista como
central para o salto nos regis-
tros. Segundo o ofício do MP-
RJ, a gestão municipal precisa
elaborar um “planejamento das
ações em um cenário de óbitos
em massa em decorrência da
pandemia, o que lamentavel-
mente já se avizinha”.
Principal foco de covid-19 no
Estado, a capital tinha até on-
tem 1.631 mortes confirmadas
pela doença. O documento do
MP-RJ recomenda que o plano
de gestão contenha, entre ou-
tras medidas, o profissional res-
ponsável por atestar e emitir as
declarações de óbitos, o órgão
responsável por efetuar o trans-
porte do corpo até o local de

identificação ou de acondicio-
namento, um detalhamento
das medidas e benefícios assis-
tenciais voltados às famílias
que não disponham de recursos
para custear traslado e sepulta-
mento de parentes vitimados
pela covid-19.
Presidente do Sindicato dos
Estabelecimentos Funerários
do Estado do Rio de Janeiro (Se-
ferj), Leonardo Martins assegu-
ra que, no momento, o sistema
não enfrenta problemas para
atender ao aumento da deman-
da por sepultamentos, mas vê
como positivo um planejamen-
to nesse sentido para evitar
transtornos no médio prazo.
“Hoje temos crematórios e
cemitérios com vagas suficien-
tes”, disse Martins ao Estadão.
“Mas caso o número de óbitos

aumente exponencialmente te-
ríamos, sim, de ter locais como
câmaras frigoríficas nas unida-
des ou até mesmo nos cemité-
rios – alguns já possuem –, para
que possamos levar os corpos
mais rapidamente e acelerar o
processo.”
Ao Estadão, a prefeitura do
Rio informou, por meio da

Coordenadoria de Cemitérios,
“que não recebeu, até o momen-
to, ofício do Ministério Público
estadual para integrar o grupo
de estudo formado pelo gover-
no do Estado para elaborar um
plano de gestão de óbitos”. A
prefeitura diz que o “decreto do
governador cita apenas órgãos
estaduais para este fim”, mas
“está sempre à disposição para
auxiliar no que for necessário e
estiver ao alcance do órgão, ca-
so seja solicitada oficialmente”.

No Estado. Os números de co-
vid-19 continuam expressivos
em todo o Estado do Rio, que
ontem confirmou mais 191 mor-
tes no período de 24 horas, se-
gundo a secretaria estadual de
Saúde. São seis mortes a mais
do que o Estado de São Paulo
registrou nesse período (187).
No total, São Paulo segue com
número maior de mortes: 4.505,
ante 2.438 no Estado do Rio. Fo-
ram registrados 520 novos ca-
sos em território fluminense,
chegando a um total de 19.987.

WILTON JUNIOR/ESTADÃO–13/5/

Bruno Ribeiro
Mariana Hallal

O Estado de São Paulo chegou a
58.378 pessoas infectadas com
o novo coronavírus, das quais
4.501 morreram, segundo da-
dos divulgados ontem pelo go-
verno do Estado. O dado repre-
senta novo recorde de registros
em 24 horas, 4.092.
Para se ter ideia, o Estado de-
morou entre 26 de fevereiro e 3
de abril para chegar ao total de
4 mil casos, número equivalen-
te ao registrado entre quinta e
sexta-feira. Também foram re-
gistradas 187 novas mortes no
período.
O recorde anterior de novos

casos havia sido no dia 5, quan-
do se chegou a 3,8 mil registros
em um dia. Segundo o secretá-
rio estadual da Saúde, José Hen-
rique Germann, a taxa de ocupa-
ção de leitos de unidade de tera-
pia intensiva (UTIs) na região
metropolitana é de 84,4%. No
interior, é de 68,8%. Ao todo, o
Estado tem 3.904 pessoas inter-
nadas em UTIs e outras 6.
em enfermaria.
O novo coronavírus já está
em 70,5% das cidades do Esta-
do de São Paulo e, segundo o
governo estadual, mais de 40%
das infecções e mortes pela co-
vid-19 referem-se a pessoas
que moram no interior, litoral e
Grande São Paulo.
O governador João Doria
(PSDB) anunciou ontem a com-
pra de 2 milhões de testes rápi-
dos. Em abril, o Estado já havia
comprado 1,3 milhão de testes,
totalizando R$ 199 milhões em
investimento. Os exames serão
aplicados em parceria com o

Centro Paula Souza.
Com isso, São Paulo inicia
um plano de testagem dividido
em três fases, conforme deta-
lhou o prefeito Bruno Covas
(PSDB). A primeira etapa, que
começa na segunda-feira, tem
como objetivo examinar 145
mil servidores das forças de se-
gurança pública em 20 dias. O
atendimento será feio por meio
de agendamento em aplicativo
para evitar aglomerações. O Es-
tado afirmou que esse modelo
também deve ser ampliado pa-
ra profissionais da área da saú-
de que atuam em serviços esta-
duais e municipais, mas não ex-

plicou como isso vai funcionar.
A segunda fase deve testar pa-
rentes de pacientes com os sin-
tomas da doença e, na terceira
fase, pessoas com sintomas da
doença, mas que estavam em ca-
sa. “Esses pacientes não esta-
vam sendo atendidos até então
porque existe a recomendação
de que fiquem em casa”, disse
Covas. O governo também pre-
parou uma estratégia de con-
tenção entre as pessoas priva-
das de liberdade e os idosos que
vivem em asilos e abrigos. O Es-
tado garantiu que, quando hou-
ver casos suspeitos, uma equi-
pe de saúde será deslocada para
coletar a amostra. Não foi anun-
ciado um plano de testagem em
massa entre essas populações.

Meta. Com o incremento dos
exames, o Estado pretende che-
gar ao índice de 27 mil testes
por milhão de habitantes, próxi-
mo do nível de países como Itá-
lia e Espanha.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


No dia em que Nelson Teich
foi exonerado, menos de um
mês após tomar posse, o Mi-
nistério da Saúde informou
que foram registradas 824
mortes e 15.305 novos casos
por covid-19 em 24 horas. É
um novo recorde diário de
ocorrências, superando os
13.944 casos relatados an-
teontem. No período de 29
dias da gestão Teich, foram
mais 12.884 óbitos pelo coro-
navírus, um avanço de 666%.
Quando Luiz Henrique Man-
detta foi demitido, em 16 de
abril, o Brasil relatava 1.933 óbi-
tos por covid-19. Ontem, o País
chegou a 14.817 óbitos, além de
ter 218.223 contaminados pela
doença. Conforme ressalta o
Ministério da Saúde, porém, os
novos registros em 24 horas
não indicam efetivamente
quantas pessoas morreram ou
se infectaram de um dia para o
outro, mas sim o número de re-
gistros que tiveram o diagnósti-
co de coronavírus confirmado
nesse intervalo.
Ainda de acordo com o minis-
tério, há pelo menos 2.300 mor-
tes em investigação. Dos casos
confirmados de coronavírus no
País, 118.436 estão em acompa-
nhamento e 84.970 estão recu-
perados. O Estado de São Paulo


continua liderando em número
de casos (58.378) e mortes
(4.501) decorrentes da doença;
seguido pelo Ceará (22.490 ca-
sos e 1.476 óbitos); e pelo Rio de
Janeiro (19.987 e 2.438).
O avanço da doença pode ser
exemplificado pela capital pau-
lista. Até 9 de abril, foram regis-
trados 1.110 óbitos. Anteontem,
o município relatou 5.725 óbi-
tos, um aumento de 415,8 %. Me-
nos de três meses depois de re-
gistrar o primeiro caso confir-
mado de covid-19, o País tam-
bém ultrapassou anteontem a
marca de 200 mil infectados. Es-
pecialistas indicam ainda que
há subnotificação de casos, e
apontam que o número real de
infectados deve ser ainda
maior. Entre os países com o
maior número de casos confir-
mados da covid-19, o Brasil é o
que, proporcionalmente, me-
nos testa sua população, segun-
do dados do site Worldometer.
Os números oficiais da pande-
mia no País apresentam especi-
ficidades em relação aos dias da
semana – aos domingos e segun-
das, por exemplo, os novos re-
gistros diários tendem a cair.
Mas a média de novos registros
vem subindo. Apenas nos últi-
mos dez dias foram registradas
mais de 6 mil mortes por covid-
19 e 95 mil novos casos confir-
mados, o que indica, em média,
um patamar de mais de 600 no-
vos registros de óbito por dia,
com mais de 9 mil casos confir-
mados diariamente. Epicentro
da epidemia no País, São Paulo
bateu ontem o recorde de no-
vos casos confirmados da doen-
ça em apenas 24 horas (mais in-
formações nesta página).

lAlerta

MP recomenda que Rio apresente


plano para gestão dos óbitos


Roberta Paraense / BELÉM
ESPECIAL PARA O ESTADO


A pandemia do novo coronaví-
rus está sufocando, a cada dia, o
sistema de saúde do município
paraense de Altamira (PA), na
região do Xingu. Profissionais
de saúde e a população em geral
padecem com a falta de medica-
mentos, equipamentos de pro-
teção individual (EPIs) e, sobre-
tudo, com poucos leitos para
atender a crescente demanda


de pacientes. A cidade, localiza-
da a 816 quilômetros de Belém,
conta com apenas nove leitos
de unidade de terapia intensiva
(UTI) para atender cerca de 115
mil habitantes locais e de ou-
tras cidades da região. Ao todo,
são mais de 400 mil pessoas.
Altamira tem poucos locais
de atendimento à saúde. O se-
tor público do município conta
apenas com uma Unidade de
Pronto-Atendimento (UPA),
com o Hospital-Geral de Alta-

mira São Rafael, administrado
pela prefeitura, e com o Hospi-
tal Regional Público da Transa-
mazônica. O município, o mais
próximo da Usina Hidrelétrica
de Belo Monte, é considerado o
maior em extensão do Brasil.
“Não temos mais UTIs dispo-
níveis, estão no limite. As adul-
tas são ocupadas por pacientes
com vários tipos de problemas,
não é só de coronavírus. Daqui a
pouco, os médicos vão ter de es-
colher quem salvar”, relatou

um médico do hospital munici-
pal que prefere não se identifi-
car. “Não há testes disponíveis
para detectar a covid-19 e isso
pode ter impacto nos casos gra-
ves. Como anestesista, posso di-
zer que não há drogas como rela-
xante muscular nem propofol
(anestésico intravenoso)”, disse.
O profissional conta também
que os leitos de UTIs infantis já
estão começando a ser usados
para atender adultos. “Mas, se a
doença se agravar no municí-

pio, os pacientes terão de ir pa-
ra Santarém, a 500 quilômetros
daqui”, continuou o médico.
Uma carta, com a assinatura
de 68 médicos, relatando a situa-
ção, foi enviada ao Conselho Re-
gional de Medicina (CRM) e à
Justiça. “Faltam medicamen-
tos básicos para a manutenção
da vida e do tratamento intensi-
vo, colocando em risco a vida de
doentes para além daquele ine-
rente a essa terrível doença que
é a covid-19”, denuncia a carta.
O diretor do Sindicato dos
Médicos do Pará (Sindmepa),
Waldir Cardoso, comentou a si-
tuação dos profissionais de Alta-

mira. “Médico é muito reserva-
do. Quando chega à situação de
pedir ajuda é porque o proble-
ma fugiu do controle.”
O presidente do Conselho
Municipal de Saúde de Altami-
ra, Silvano Fortunato da Silva,
disse que a situação está saindo
do controle. “Não há medidas
severas de isolamento social
aqui. Nossa preocupação é que
não há suporte para um alto
índice de doentes na região.” O
Estadão pediu posicionamen-
to do governo do Pará, mas não
obteve retorno. A reportagem
não conseguiu contato com a
prefeitura de Altamira.

lIsolamento
O índice de isolamento social na
quinta-feira na capital chegou a
49%. Em todo o Estado, a taxa foi
de 48%, considerada aquém da
necessária (de pelo menos 60%)
para evitar a lotação de hospitais

Estudo em seis áreas da capital paulista aponta que 5% tiveram contato com o vírus. Pág. A17 }


lLetalidade


“Caso o número de óbitos
aumente exponencialmente
teríamos de ter locais para
que possamos levar os
corpos mais rapidamente.”
Leonardo Martins
PRESIDENTE DO SEFERJ

Número de mortes na
cidade dobra entre o


início de abril e o de maio


e leva órgão a pedir


providência da prefeitura


Subida. Rio teve 4.170 óbitos nos primeiros 11 dias de maio

Xingu tem só 9 leitos para 400 mil pessoas


SP tem recorde de 4.092 casos em 24 horas


O Estado registrou
58.378 pessoas
infectadas pelo
novo coronavírus e
4.501 mortes

AMANDA PEROBELLI/REUTERS–13/5/

Entre trocas,


nº de mortes


avança 666%


no País



  1. é o número total de mortes pelo
    coronavírus no Brasil registradas
    até esta sexta-feira pelo Ministé-
    rio da Saúde. País tem ainda
    218.223 infectados.


Em 29 dias com Teich, foram mais 12.


óbitos; País tem novo recorde de infecções


Vila Formosa. São Paulo é o Estado com o maior número de infecções e mortes; em seguida vêm Ceará, Rio e Amazonas
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