O Estado de São Paulo (2020-05-16)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-2:20200516:
A2 Espaçoaberto SÁBADO, 16 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






O Banco Central antecipou a
impressão de R$ 9 bilhões em
dinheiro vivo por causa do co-
ronavírus. Não se trata de
uma nova estratégia para con-
ter os reflexos econômicos da
pandemia, mas sim um efeito
da mudança de comportamen-
to dos brasileiros em meio à
crise. A produção já estava pre-


vista na programação anual da
Casa da Moeda. Contudo, o
BC antecipou o pedido de R$ 9
bi em cédulas ao ter constata-
do que há “entesouramento
do dinheiro”. O processo ocor-
re porque as pessoas estão
guardando dinheiro.

http://www.estadao.com.br/e/moeda

N


estes dois meses de
convívio, regados a in-
tensa preocupação e an-
gústia de todos os brasileiros
em relação à pandemia de co-
vid-19, temos encontrado vá-
rios conflitos inerentes a uma
situação de tanto estresse.
Desde a gripe espanhola, não
vivenciada pela maioria dos se-
res vivos atuais, a humanidade
não era submetida a agressão
tão implacável, rapidamente
disseminada, com significati-
va taxa de mortalidade, morbi-
dade e tempo tão prolongado
de necessidade de recursos de
alta complexidade. Isto posto,
deveríamos imaginar que a si-
tuação traria imediata união
de todos nós, com premência
pela atividade coesa, que privi-
legiasse o coletivo.
É fato que, pela maneira co-
mo se iniciou e alastrou, a
pandemia pegou a todos de
surpresa, deixando-nos estu-
pefatos, demandando ações
para as quais ainda não nos
havíamos preparado, eis que
seu causador, o coranavírus
Sars-CoV-2, foi só então des-
coberto, sua transmissão e fi-
siopatologia eram totalmente
desconhecidas e a terapêutica
adequada, uma incógnita.
É plenamente compreensí-
vel e desejável que o médico,
desde seu juramento de Hi-
pócrates, imbuído do espírito
de ação em benefício do doen-
te e de propiciar o atendimen-
to que permita maior chance
de sucesso, nesse contexto de
ausência de possibilidades te-
rapêuticas definitivas, recorra
a medidas inovadoras ou por
analogia com doenças simila-
res já conhecidas, desenvol-
vendo o seu melhor.
Aos poucos vamos reconhe-
cendo o novo patógeno, extre-
mamente complexo e multifa-
cetado; surgem terapêuticas
dirigidas a vários pontos da ca-
deia de sua fisiopatologia,
principalmente no que respei-
ta às consequências da sua
ação, o que já traz melhora de
seu entendimento e dos resul-
tados. Em relação ao vírus em
si, existem até o momento vá-
rias tentativas terapêuticas di-
rigidas à eliminação do micror-

ganismo e/ou ao bloqueio de
sua atividade; tentativas bem-
vindas, mas ainda carecem de
dados científicos sólidos, que
nos permitam deduções ade-
quadamente fundamentadas.
No entanto, vejo-as propa-
gadas por colegas como se fos-
sem inquestionáveis e eles,
com glamour, indicassem um
perfume ou vestimenta de
sua preferência, causando
alarde e conflitos, intensifica-
dos pela mídia em geral.
Como membro, há quase 13
anos, do Comitê de Bioética
do Hospital Alemão Oswaldo
Cruz, que prima pela media-
ção de conflitos, e conhecen-
do a boa formação de muitos
colegas que expõem seus de-
poimentos conflitantes, aler-
to para discussão de princí-
pios bioéticos fundamentais
da prática médica:
1) Privilegiar a beneficência.

2) Evitar a maleficência, já
que é tão perniciosa quanto a
não execução da beneficência
e, neste caso, é mister conside-
rar tanto os efeitos colaterais
da terapia como os possíveis
efeitos nefastos econômicos,
políticos e emocionais das in-
formações disseminadas, sem
evidência de real benefício.
3) Respeitar a autonomia
dos pacientes, dos profissio-
nais, em relação a suas deci-
sões preventivas ou terapêuti-
cas, mas também dos colegas
que atuam nas áreas de en-
frentamento da covid-19 e, ba-
seados em dados científicos,
discordam da sua opinião.
4) Primar pela justiça, que
não será feita com informa-
ções conflituosas, mas com a
busca de todos juntos pelo me-
lhor tratamento para todos.
No entanto, como membro
da Comissão de Ética do mes-
mo hospital desde 2010, re-
lembro princípios fundamen-
tais do Código de Ética Médi-
ca, que julgo pertinentes para
a ocasião.

Sobre os princípios funda-
mentais do exercício da Medi-
cina: “Capítulo I – Princípios
fundamentais
I - A Medicina é uma profis-
são a serviço da saúde do ser hu-
mano e da coletividade e será
exercida sem discriminação de
nenhuma natureza.
II - O alvo de toda a atenção
do médico é a saúde do ser hu-
mano, em benefício da qual de-
verá agir com o máximo de zelo
e o melhor de sua capacidade
profissional.
IV - Ao médico cabe zelar e
trabalhar pelo perfeito desempe-
nho ético da Medicina, bem co-
mo pelo prestígio e bom conceito
da profissão.
V - Compete ao médico apri-
morar continuamente seus co-
nhecimentos e usar o melhor do
progresso”.
Sobre a responsabilidade
do médico diante da publici-
dade médica: “Capítulo XIII –
Publicidade médica
É vedado ao médico:
Art. 111. Permitir que sua par-
ticipação na divulgação de as-
suntos médicos, em qualquer
meio de comunicação de massa,
deixe de ter caráter exclusiva-
mente de esclarecimento e educa-
ção da sociedade.
Art. 112. Divulgar informação
sobre assunto médico de forma
sensacionalista, promocional ou
de conteúdo inverídico.
Art. 113. Divulgar, fora do
meio científico, processo de trata-
mento ou descoberta cujo valor
ainda não esteja expressamente
reconhecido cientificamente por
órgão competente.
Art. 114. Consultar, diagnosti-
car ou prescrever por qualquer
meio de comunicação de massa”.
Por fim, respondendo à per-
gunta título do texto, não há
dúvida de que muitas declara-
ções dadas durante a pande-
mia de covid-19 têm sido um
desserviço à população, mas,
além disso, se enquadram co-
mo infrações éticas, de acor-
do com o Código de Ética
Médica de nosso país!

]
MÉDICA CARDIOLOGISTA, PRESI-
DENTE DO COMITÊ DE BIOÉTICA DO
HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ

Escola reuniu conteúdo pro-
gramático nas redes sociais
para ajudar os alunos.

http://www.estadao.com.br/e/educacao

E-INVESTIDOR


BC antecipa impressão de cédulas


Plataforma de sites de casa-
mento e listas de presentes
diz que mais de 3.500 casais
tiveram que adiar a celebra-
ção desde março.

http://www.estadao.com.br/e/casamento

l“Teich diz que cloroquina não é eficiente e que afrouxar o isolamento
vai causar mortes. Teich é médico. Bolsonaro é paraquedista.”
HUGO BRITO

l“Outro militar no governo, agora na Saúde. Logo estaremos cheios de
amadores governando o País e atuando nas áreas técnicas.”
ALEXANDRE SAITO

l“Já foi tarde. Tratamento logo no início dos sintomas é a cura, che-
ga de demagogia. Que o próximo seja competente.”
THAIS PEZZOTTI

l“Teich percebeu que o esforço no Ministério da Saúde é inútil diante
de tanta corrupção dos governadores e a loucura do presidente.”
JANDA LAÍNE

INTERAÇÕES

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Campanha será válida en-
quanto não for possível jo-
gar com portões abertos. As
imagens serão aplicadas no
formato bandeirão.

http://www.estadao.com.br/e/torcida

Espaço Aberto


R


epito a mim mesmo
um verso de um poe-
ma do Augusto Meyer,
gaúcho como eu que conheci
pelas mãos de Manuel Bandei-
ra em 1958, no Instituto Na-
cional do Livro, no Rio de Ja-
neiro. Tornamo-nos amigos
então, ele encantado pelo fa-
to de eu declamar alguns de
seus poemas. Em especial
aquele verso que, em glosa,
agora repito assim: masco e re-
masco a minha ansiedade, mi-
nha angústia chewing gum.
Começo a escrever estas li-
nhas também a partir do Cân-
tico Negro, do José Régio: “não
sei por onde vou, não sei para
onde vou, sei que não vou por
aí!”. O ímpeto de escrever a
respeito de mim mesmo e da
superposição do passado, do
presente e do futuro toma
conta de mim. Múltiplo en-
quanto ser humano, fui mem-
bro do Poder Judiciário, vol-
tando a atuar como advogado
desde 2010. Hoje produzo li-
vros jurídicos e literatura de
verdade, retornando à fotogra-
fia. Muitos eu mesmo no pas-
sado e no presente – hoje,
aqui, agora – convictos de que
o tempo é convenção.
Escrevi a respeito disso no
meu A(s) Mulher(es) que Eu
Amo, afirmando que os acon-
tecimentos não são encadea-
dos, não se seguem uns aos
outros. Menos ainda conse-
quentes. Nada impede que o
antes ocorra depois e um esta-
lar de dedos seja mais longo
do que a eternidade. No qua-
dro da literatura que tento
praticar, um sujeito inventou
um descompressor do tempo,
mexeu no lugar errado e pum!
Entramos na Antiguidade e
passamos a ser uma civiliza-
ção sem pré-história. Começa-
mos pela metade. Dei-me con-
ta de que se aumentarmos
cem vezes, exatamente na
mesma proporção, o tamanho
de todas as coisas que enxer-
gamos, nada será diferente do
que é. Tudo exatamente na
mesma proporção. Objetos,
pessoas, horizontes, nós mes-
mos. Multipliquem por mil
ou os dividam por um milhão
e tudo será exatamente igual


ao que temos aqui, agora.
Realmente estou confuso.
Não sei a respeito do que es-
crever, pois o tempo é uma
convenção e – aprendi ouvin-
do o Lulu Santos – nada do
que foi será de novo do jeito
que já foi um dia. Pois tudo
passa, tudo sempre passará.
O velho Heráclito me ensi-
nou ser impossível pisarmos
duas vezes no mesmo rio. De-
pois Hegel, ao ensinar que a
História não se repete e ou-
tro autor, ao escrever sobre o
18 Brumário.
Ainda que seja assim, mani-
festações do nosso Poder
Executivo hoje me pertur-
bam, de sorte que – sorte ou
azar? – não sei o quê, do que
falar, escrever...
Aqui mesmo, na edição de
2 de abril passado, afirmei
que a pandemia que hoje su-
portamos impacta sobre o to-

do do qual somos meras partí-
culas. Política é a atuação dos
que se ocupam dos assuntos
públicos, no quadro em que
estão inseridas relações insti-
tucionais e sociais. A suposi-
ção de que se possa instalar
acirramento entre essas rela-
ções é expressiva de ignorân-
cia ou de más intenções. Atua-
ção que, na primeira hipóte-
se, conduz a conflitos entre
instituições políticas e o todo
social. Conflitos que nos le-
vam àquelas palavras de Je-
sus: “Pai, perdoai-os, eles não
sabem o que fazem”. Na segun-
da hipótese, expressiva de
más intenções. Os graves mo-
mentos que hoje vivemos tra-
zem de volta um poema de Ál-
varo Moreyra, no qual ele afir-
ma que palavras não dizem
nada, melhor é mesmo calar.
Nada mesmo a dizer a respei-
to da atuação de quem se
dispõe a agredir o todo a fim
de obter vantagens pessoais.
São terríveis os momentos
que hoje vivemos. Além da
pandemia que assola o mun-

do em seu todo, habitamos
um país onde os juízes dos
nossos tribunais são agredi-
dos aos gritos pelas ruas. Co-
nheci Alexandre de Moraes
na Faculdade de Direito da
USP. Ele e o Toffoli eram da
mesma turma. Eu – mais ve-
lho que eles – professor da Fa-
culdade de Direito do Largo
de São Francisco. Anos de-
pois, início do ano 2000, Ale-
xandre tornou-se meu cole-
ga, docente lá nas Arcadas.
Quando chegou ao STF eu já
me aposentara por conta da
idade, mas esses três víncu-
los nos unem para sempre.
Um homem correto, pratican-
te de prudência – a phronesis
aristotélica – ao decidir corre-
tamente, no quadro da Cons-
tituição e das leis. A conduta
de Alexandre como magistra-
do traz a mim esperança e cer-
teza de que o Tempo nos li-
vrará não apenas da angústia
decorrente da pandemia, mas
também da insegurança po-
lítica que nos dias que cor-
rem suportamos.
Felizmente, no entanto, a
angústia dos dias de hoje é su-
perada por momentos de ale-
gria, quais os que me trouxe-
ram dois professores das ve-
lhas Arcadas do Largo de São
Francisco que haviam rompi-
do a amizade comigo e há
dois ou três dias me convoca-
ram para a ela voltarmos.
A música e a poesia me
acompanham, por conta do
que vou andar por aí, pra ver
se encontro a paz que perdi!
De repente soa em meus ouvi-
dos o último verso de um poe-
ma do meu amigo Manuel
Bandeira, Pneumotorax: a úni-
ca coisa a fazer é tocar um
tango argentino!
Os que por aí estão deve-
riam ouvir Sócrates: só sei
que nada sei! Embora no fun-
do de mim mesmo eu supo-
nha que Sócrates hoje se refe-
riria a outros, assim: só sei que
eles nada sabem!

]
ADVOGADO, PROFESSOR TITULAR
APOSENTADO DA FACULDADE DE
DIREITO DA USP, FOI MINISTRO DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
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PODCAST
Os noivos que
casaram a distância

Arena Corinthians vai
ter fotos da torcida

COMENTÁRIOS DE LEITORES NO PORTAL E NO FACEBOOK:

MIKE BLAKE/REUTERS CORINTHIANS/DIVULGAÇÃO

]
Eros Roberto Grau


Tema do dia


Marca quer celebrar auto
expressão em todo o espec-
tro de identidades LGBT.

http://www.estadao.com.br/e/lgbt

O tempora,


o mores


... o Tempo nos livrará
da angústia da pandemia
e da insegurança
política que suportamos

Comunicação inadequada à mídia, só um


desserviço à população ou infração ética?


Muitas declarações
feitas sobre a covid-
são contrárias ao
Código de Ética Médica

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)

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  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


Nelson Teich


pede demissão do


Ministério da Saúde


Após divergências com Bolsonaro,
médico deixa cargo 28 dias depois de
assumir; general será ministro interino

]
Janice Caron Nazareth

ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO FUTEBOL

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MODA

Pabllo Vittar é a nova
garota da Calvin Klein
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