O Estado de São Paulo (2020-05-16)

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O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 16 DE MAIO DE 2020 Economia B5


Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA


A economia brasileira regis-
trou retração de 5,90% em
março em relação a fevereiro,
segundo o Índice de Ativida-
de Econômica (IBC-Br), uma
espécie de “prévia” do Produ-
to Interno Bruto (PIB), divul-
gado pelo Banco Central
(BC) ontem. O número foi cal-
culado após ajuste sazonal,
uma “compensação” para
comparar períodos diferen-
tes de um ano.
Entre janeiro e março o recuo
foi de 1,95% ante o quarto tri-
mestre de 2019. Quando a com-
paração é feita com o resultado
do primeiro trimestre de 2019,
porém, o IBC-Br indica uma
queda menor, de 0,28% (sem
ajuste sazonal).
O resultado do nível de ativi-
dade no primeiro trimestre des-
te ano contou com impacto ain-
da limitado da pandemia do no-
vo coronavírus, que foi declara-
da pela Organização Mundial
de Saúde (OMS) no dia 11 de
março. Desse modo, afetou de
forma mais intensa os últimos
15 dias do trimestre.
Os Estados brasileiros come-
çaram a anunciar medidas de
distanciamento social, progres-
sivamente, a partir de meados
de março – quando o Distrito
Federal anunciou a suspensão
das aulas. Em 13 de março, São
Paulo e Rio de Janeiro anuncia-
ram medidas para limitar a cir-
culação e a concentração de pes-
soas.
No dado de março, porém, o
impacto dessas medidas já fo-
ram fortemente sentidos na ati-
vidade econômica. O Instituto
Brasileiro de Geografia e Esta-
tística (IBGE) registrou quedas
em todos os setores no mês: pro-
dução industrial (-9,1%), varejo
ampliado (-13,4%) e serviços (-
6,9%).


Queda intensa. O recuo do
IBC-Br consolida a expectativa
de retração do PIB já no primei-
ro trimestre, da ordem de 0,7%
a 0,8% ante o quarto trimestre
do ano passado, avalia o econo-
mista-chefe da SulAmérica In-
vestimentos, Newton Camargo
Rosa.
Camargo Rosa espera atual-
mente recessão de 5,4% este
ano, com queda mais intensa no
segundo trimestre, de cerca de
10% ante o primeiro trimestre,
retirados os efeitos sazonais.
“A queda da atividade foi


mais forte do que o esperado no
primeiro trimestre e acho que
todos estão esperando que o se-
gundo trimestre tenha núme-
ros ainda piores”, resume o eco-
nomista Maurício Nakahodo,
do Banco MUFG Brasil. De acor-
do com ele, há um viés de baixa
na projeção do banco de queda
de 8,7% no PIB do segundo tri-
mestre, devido à possibilidade
de extensão das medidas de iso-
lamento social para além de
maio.
“Para o segundo trimestre, es-
tou com uma queda de 9,0%,
mas tem uma chance boa de che-

gar em dois dígitos. E, com o rit-
mo que estamos vendo da pan-
demia, eu diria que na melhor
das hipóteses o terceiro trimes-
tre vai ser pouco negativo”diz
economista-chefe do Banco Fa-
tor, José Francisco de Lima
Gonçalves.
O IBC-BR do Banco Central é
um indicador criado para ten-
tar antecipar o resultado do
PIB, mas os números oficiais do
PIB do primeiro trimestre se-
rão divulgados pelo IBGE so-
mente no dia 29 de maio. Em
2019, o PIB cresceu 1,1%, o de-
sempenho mais fraco em três

anos.
Em 12 meses até março de
2020, sem ajuste sazonal, os nú-
meros do BC indicam uma ex-
pansão de 0,75% na prévia do
PIB.

Projeções. Por conta dos efei-
tos da pandemia, o mercado fi-
nanceiro estimou, na semana
passada, um tombo de 4,11% pa-
ra o PIB de 2020. Os reflexos da
pandemia têm derrubado a eco-
nomia mundial e colocado o
mundo no caminho de uma for-
te recessão.
O BC informou, nesta sema-

na, BC, que seu cenário básico
pressupõe “queda forte do PIB
na primeira metade deste ano”,
seguida de uma recuperação
gradual a partir do terceiro tri-
mestre de 2020.
O governo, por sua vez, pre-
viu uma retração de 4,7% para
este ano - considerando que as
medidas de distanciamento so-
cial terminarão em maio.
O Banco Mundial e o Fundo
Monetário Internacional (F-
MI) estimam queda do PIB bra-
sileiro de, respectivamente, 5%
e 5,3%./ COLABORARAM THAÍS
BARCELLOS e CÍCERO COTRIM

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Idiana Tomazelli
Sandra Manfrini / BRASÍLIA


O ministro da Economia, Paulo
Guedes, criticou a tentativa de
governadores de conceder rea-
justes salariais e outros benefí-
cios a servidores em meio à pan-
demia e voltou a defender o ve-
to a um trecho do socorro a Esta-
dos e municípios que permite
esses aumentos. Em coletiva no
Palácio do Planalto, o ministro
comparou o lobby do funciona-
lismo por reajustes a uma tenta-


tiva de “saquear” o País em
meio à pandemia e alertou que
“a sociedade vai punir quem su-
bir em cadáveres para fazer pa-
lanque”.
Guedes também fez um ace-
no ao Centrão, bloco de parti-
dos ao qual o Palácio do Planal-
to se aproximou em meio à cri-
se política como forma de garan-
tir sua governabilidade, ao refu-
tar qualquer “toma lá dá cá” e
dizer que se trata de um “centro
democrático programático,
não fisiológico”. Mas pediu ao
Congresso Nacional que mante-
nha o veto prometido pelo presi-
dente Jair Bolsonaro aos reajus-
tes.
“O presidente disse ‘conte co-
migo, nós vamos fazer esse ve-
to’. Mas o presidente não quer
que o veto se transforme em ex-

ploração política (com derruba-
da)”, disse o ministro, solicitan-
do “colaboração” do presiden-
te da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), nessa articulação.
“O importante para o Brasil não
é só a busca por popularidade”,
afirmou Guedes, acrescentan-
do que Bolsonaro “é popular,
não populista”.
“O pedido que faço é que não
transformem isso (veto) em ato

inútil”, disse o ministro.
O projeto de socorro a Esta-
dos e municípios foi aprovado
no Congresso Nacional com
um aval do próprio presidente
para beneficiar o funcionalis-
mo, principalmente da área de
segurança, atropelando a orien-
tação do ministro Guedes de ga-
rantir essa contrapartida ao so-
corro de R$ 125 bilhões aos Esta-
dos e municípios.

O congelamento integral ga-
rante economia de R$ 130 bi-
lhões para União, Estados e mu-
nicípios. Da forma como foi
aprovado no Congresso, o tex-
to dá alívio de apenas R$ 43 bi-
lhões. Depois de dar o aval, po-
rém, Bolsonaro avisou que aten-
deria “100%” ao pedido do mi-
nistro da Economia para vetar o
dispositivo.

Sanção. O Estadão/Broadcast
revelou, no entanto, que Bolso-
naro segura a sanção da propos-
ta e o veto aos reajustes para
que policiais do Distrito Fede-
ral consigam ter aprovado au-
mento prometido desde o fim
do ano passado. Os recursos
que pagam os salários das for-
ças de segurança do DF são ban-
cados pela União.
Hoje, Guedes criticou a ten-
tativa das categorias de pedir
aumento. “É inaceitável que
tentem saquear o gigante que
está no chão. As medalhas são
dadas após a guerra, não antes
da guerra”, disse. “Que histó-
ria é essa de pedir aumento an-
tes porque policial vai traba-
lhar mais? Se policial trabalhar

mais, ótimo, recebe hora ex-
tra”, acrescentou.
O ministro avisou que não se
pode “deixar que se aproveitem
de momento de fragilidade do
País” para pedir aumentos sala-
riais. “Vamos subir em cadáve-
res para fazer palanque? Vamos
subir em cadáveres para se apro-
veitar do governo? A sociedade
vai punir quem subir em cadáve-
res para fazer palanque”, disse.
Ao criticar o lobby pelos rea-
justes, Guedes fez questão de
ressaltar que não vai faltar di-
nheiro para a saúde. O minis-
tro, porém, pediu “respeito de
parte a parte”.
“Estamos lutando a bordo do
mesmo barco. Vamos esperar
chegar em terra firme, aí come-
ça a brigar de novo”, disse.

lTudo pra baixo em março

SP fecha mais de


500 mil vagas


no 1º trimestre


Bolsonaro sanciona auxílio emergencial com vetos. Pág. B6}


lHora extra
‘Vamos subir em


cadáveres para fazer


palanque?’, diz Guedes


FERNANDO BIZERRA/EFE

Prévia do PIB do


BC apura queda de


5,90% em março


9,1%
foi a queda registrada em março
na produção do País, segundo o
IBGE

13,4%
foi o recuo do varejo em março,
de acordo com o IBGE

6,9%
foi a queda do setor de Serviços

No primeiro trimestre, recuo foi de 1,95% ante o mesmo período de


2019; indicador captou só parte da freada causada pela pandemia
Efeito covid-19. Paralisia da economia que começou em março derrubou atividade


http://www.sodresantoro.com.br


Em cumprimento à legislação vigente e preocupados com a

saúde de todos, os leilões estão sendo realizados somente online,

sem visitação pública, a fim de evitar aglomerações.

E COM DELIVERY DOS ARREMATES, EM CIDADES NUM RAIO DE ATÉ 100 KM DO

PÁTIO ONDE O VEÍCULO ESTIVER, AO CUSTO OBRIGATÓRIO DE R$ 500,00 PARA

VEÍCULOS LEVES E R$ 800,00 PARA UTILITÁRIOS PESADOS E CAMINHÕES.

Para distâncias maiores, consulte-nos sobre a disponibilidade.

Daniela Amorim / RIO

O Estado de São Paulo regis-
trou fechamento de mais de
meio milhão de postos de traba-
lho apenas no primeiro trimes-
tre deste ano. A população ocu-
pada encolheu 2,3%, o equiva-
lente a 515 mil empregos a me-
nos em relação ao trimestre en-
cerrado em dezembro de 2019,
segundo a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios Con-
tínua (Pnad Contínua) divulga-
dos pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
A taxa de desemprego local
subiu de 11,5% no último trimes-
tre do ano passado para 12,2%
no primeiro trimestre deste
ano.
O movimento foi semelhante
no restante do País. A taxa de
desocupação aumentou em 26
das 27 Unidades da Federação
na passagem do quarto trimes-
tre de 2019 para o primeiro tri-
mestre de 2020, embora o avan-
ço tenha sido estatisticamente
significativo – ou seja, acima da
margem de erro da pesquisa –
em apenas 12 delas.
No primeiro trimestre de
2020, o País tinha 3,1 milhões de
pessoas em busca de emprego
por dois anos ou mais, 200 mil
pessoas a mais que no trimestre
encerrado em dezembro. Mas
aumentou o desemprego de cur-
to prazo, um milhão de pessoas
a mais buscando uma vaga a me-
nos de um ano, sendo 400 mil
delas desempregadas há menos
de um mês.

DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 29/4/2020

Veto. Guedes voltou a dizer que Bolsonaro vai vetar reajuste

“Que história é essa de
pedir aumento antes
porque policial trabalhará
mais? Se trabalhar mais,
ótimo, recebe hora extra.”
Paulo Guedes
MINISTRO DA ECONOMIA

Ministro compara lobby


do funcionalismo por


reajustes a uma tentativa


de ‘saquear’ o País
em meio à pandemia

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