O Estado de São Paulo (2020-05-16)

(Antfer) #1

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B6 Economia SÁBADO, 16 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


A sobrevivência das empresas


l]
ROBSON BRAGA DE
ANDRADE

O


enfrentamento dos impactos
devastadores da pandemia
da covid-19 exige medidas ro-
bustas para garantir a sobrevivência
de milhares de empresas e a manuten-
ção de milhões de empregos. A princi-
pal delas é facilitar o acesso ao crédi-
to. Algumas iniciativas do governo pa-
ra elevar a liquidez do sistema finan-
ceiro, reduzir o custo e aumentar a
oferta de financiamentos já foram
adotadas. Mas, em meio a tantas incer-
tezas, elas se mostram pouco eficazes
para impedir a insolvência de um gran-
de número de empreendimentos.
Em razão disso, a Confederação Na-
cional da Indústria (CNI) encami-
nhou ao governo diversas propostas

destinadas a destravar este que é o princi-
pal gargalo enfrentado pela indústria.
Em outros períodos de forte enfraqueci-
mento da atividade econômica, os estí-
mulos ao consumo estavam entre as
principais medidas para reanimar a eco-
nomia. Na atual crise, a retração é conse-
quência das medidas de contenção da
pandemia, que levaram ao fechamento
de grande parte do comércio de bens e
serviços, restringindo o consumo de for-
ma drástica. Com isso, as receitas das em-
presas desabaram e são insuficientes pa-
ra custear despesas fixas, elevando a pos-
sibilidade e inadimplência.
Diante do aumento dos riscos, as insti-
tuições financeiras se retraíram. Por isso
é necessário adotar medidas extremas
para fazer com que o crédito, de fato, che-
gue às empresas a um custo baixo. Uma
das alternativas é o Tesouro Nacional as-
sumir parte do risco dos financiamen-
tos, como ocorre na Europa e nos EUA.

Esse é o único modo de evitar falências e
o aumento ainda maior do desemprego.
Para pequenas e médias empresas, pro-
pomos que o Banco Central crie uma li-
nha de crédito para capital de giro nos
moldes do Main Street Lending Program,
do Federal Reserve. Essa ação emergen-
cial deve contemplar taxa de juros máxi-
ma, carência no período de calamidade

pública e prazo de pagamento longo. Os
bancos que disponibilizarem financia-
mentos ficarão com 5% dos empréstimos
concedidos e o BC comprará os outros
95%. Com o Tesouro assumindo a maior
parte do risco, instituições financeiras de-
verão oferecer crédito a taxas baixas.

É importante, ainda, ampliar o volu-
me de recursos e a cobertura do Fundo
Garantidor de Investimentos do BN-
DES e do Fundo Garantidor de Opera-
ções. Esses instrumentos já existem e
são fundamentais para assegurar o aces-
so ao crédito, especialmente a empresas
que não têm garantias reais. Além de
aportar mais recursos, esses fundos pre-
cisam aumentar a parcela dos emprésti-
mos garantidos, pois o porcentual atual
não é adequado à gravidade da crise.
Além disso, uma forma eficiente de fa-
zer com que os recursos públicos che-
guem ao caixa das empresas é a permis-
são para que prejuízos fiscais contabiliza-
dos durante o período de calamidade pú-
blica sejam compensados com lucros re-
gistrados nos últimos dois anos. Com is-
so, elas terão restituição do Imposto de
Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Con-
tribuição Social sobre o Lucro Líquido
(CSLL) já pagos no período, para refor-
çar o caixa. Trata-se apenas de uma alte-
ração temporal no momento do uso do
prejuízo fiscal, que seria compensado
com lucros obtidos no futuro.

Sugerimos, também, que o gover-
no inclua o IRPJ, a CSLL e o Imposto
sobre Produtos Industrializados en-
tre os tributos que já tiveram o prazo
de pagamento adiado. E, ainda, que a
Receita Federal acelere o processo de
homologação e pagamento dos pedi-
dos de ressarcimento de saldos credo-
res de tributos federais. Todas essas
medidas são importantes, pois viabili-
zam a liberação de recursos para as
empresas utilizarem no pagamento
de fornecedores e salários, evitando
consequências ainda mais graves pa-
ra a economia brasileira.
A expectativa do setor industrial é
de que o País prossiga somando esfor-
ços para proteger a população e as em-
presas dos efeitos da pandemia. E que
já comece a discutir estratégias para
uma reativação sustentável da econo-
mia. Com políticas públicas eficazes,
solidariedade e união de todos, o Bra-
sil vai superar esta crise.

]
EMPRESÁRIO, É PRESIDENTE DA CNI

Um relatório produzido pelo
Fórum Econômico Mundial
aponta que a pandemia
do novo coronavírus
ameaça o processo
de transição energé-
tica da economia
global, para siste-
mas mais sustentá-
veis, por conta da
redução da deman-
da por energia, da vola-
tilidade dos preços dos
principais produtos energéti-
cos e da pressão para mitigar
os custos socioeconômicos da
atual crise.

Luci Ribeiro / BRASÍLIA


O presidente Jair Bolsonaro
sancionou com vetos o proje-
to que amplia os beneficiá-
rios do auxílio emergencial
de R$ 600. A sanção foi publi-
cada ontem no Diário Oficial
da União. Com a sanção, o au-
xílio emergencial poderá ser
pago a mães menores de 18
anos.
O presidente vetou a amplia-
ção do benefício para profissio-
nais informais que não estão ins-
critos no Cadastro Único. O
Congresso Nacional especifica-
va profissões que estariam ap-
tas a receber os R$ 600 do gover-
no, como motorista de aplicati-
vos, vendedores porta a porta e
ambulantes de praia.
Na justificativa para barrar as
alterações, o governo disse que
a proposta de lei feria o princí-
pio da isonomia por privilegiar
algumas profissões em detri-
mento de outras. O Executivo
informou também que o Con-
gresso não especificou qual se-
ria a origem da verba nem o im-
pacto do aumento das despesa
nas contas públicas.
O texto aprovado pelo Con-
gresso retirava dos requisitos
para receber o auxílio a exigên-
cia de renda máxima de R$
28.559,70 em 2018. Com isso,
pessoas que declararam rendi-
mento superior naquele ano,
mas perderam renda agora po-
deriam acessar o auxílio. O pró-
prio Ministério da Economia ti-
nha dado apoio à medida, que
beneficiaria carreiras como ta-
xistas, motoristas de aplicativo
e advogados.
Para evitar que o benefício
fosse pago indiscriminadamen-
te, o texto estabelecia que
quem tivesse rendimento supe-
rior à faixa de isenção neste ano
e recebesse auxílio deveria de-
volver o valor ao declarar o Im-
posto de Renda de 2021.
Bolsonaro, no entanto, vetou
essa ampliação. Dessa forma,
profissionais que receberam
mais do que R$ 28.559,70 em
2018 continuam impedidos de


pedir o benefício, mesmo que
tenham perdido renda neste
ano por causa da pandemia.
Na justificativa, o presidente
afirmou que esse critério “filtra
e focaliza a aplicação do dinhei-
ro público, concentrando-o nos
grupos que mais necessitam”.
O governo ainda vetou a pos-
sibilidade de homens solteiros
chefes de família receberem em
dobro o benefício emergencial.
Pelas regras vigentes, apenas
mães chefes de família têm a
prerrogativa para os R$ 1,2 mil.
A ministra da Mulher, Famí-
lia e Direitos Humanos, Dama-

res Alves, justificou o veto ao
afirmar que a ampliação coloca-
ria em risco o pagamento adicio-
nal às mães solteiras, já que o
Congresso não estabeleceu me-
canismos para impedir que pais
ausentes se colocassem como
chefes de família de forma frau-
dulenta para receber o benefí-
cio em vez das mães que efetiva-
mente cuidam das crianças.
A lei entra em vigor com a san-
ção e os vetos terão de ser anali-
sados pelo Congresso. Os parla-
mentares podem manter ou der-
rubar a decisão de Bolsonaro.

Fies. Além da alteração no au-
xílio emergencial, a lei sanciona-
da pelo presidente permite a
suspensão das parcelas do Fun-
do de Financiamento Estudan-
til (Fies) para os contratos que
estavam em dia antes do início
da vigência do estado de calami-
dade pública, em março.
Bolsonaro também vetou a
ampliação da renda mínima pa-
ra ter direito ao Benefício de

Prestação Continuada (BPC),
no valor de um salário mínimo
por mês, pago a deficientes e
idosos com 65 anos ou mais que
não conseguem se sustentar.
Hoje, é considerada incapaci-
tada de manter um idoso ou pes-
soa com deficiência a família
que tem renda mensal, por pes-
soa, igual ou inferior a um quar-
to de salário mínimo, o equiva-
lente a R$ 261,25. O projeto alte-
rava esse valor para meio salá-
rio, hoje em R$ 522,50. O Con-
gresso já derrubou veto de Bol-
sonaro a esse mesmo ponto e a
questão parou no Tribunal de
Contas da União (TCU), que
suspendeu a ampliação.
A justificativa do veto diz que
ampliar os gastos para além de
2020 não encontra respaldo na
decisão do Supremo Tribunal
Federal (STF) que permitiu ao
governo não cumprir regras fis-
cais neste ano. Para ampliar as
despesas a partir de 2021, o Con-
gresso precisaria indicar a fonte
de custeio da medida.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


A receita com exportações do
agronegócio brasileiro atingiu
a máxima histórica em
abril, superando pela
primeira vez os US$
10 bilhões. O valor
é 25% maior do
que o registrado
em abril do ano
passado, quando
os embarques rende-
ram US$ 8,18 bilhões.
Em nota, o Ministério da
Agricultura informou que o re-
corde refletiu o avanço nos em-
barques de soja, que tem a Chi-
na como principal mercado.

O Produto Interno Bruto
(PIB) da Alemanha encolheu
2,2% no primeiro trimestre an-
te o quarto trimestre do ano
passado, com o impacto econô-
mico da pandemia de coronaví-
rus, segundo dados prelimina-
res com ajustes sazonais publi-
cados ontem pela Destatis, a
agência de estatísticas do país.
A queda é a maior desde o pri-
meiro trimestre de 2009. Em
relação a igual período de
2019, o PIB da maior economia
europeia encolheu 2,3%. A Des-
tatis também revisou o PIB ale-

mão do quarto trimestre ante
o terceiro trimestre de 2019,
de estável para declínio de
0,1%. Com perdas acumuladas
em dois trimestres seguidos, a
economia da Alemanha entrou
em recessão técnica.

lRenda declarada lEducação
Bolsonaro san-
cionou ainda
lei que permite
a suspensão
das parcelas
do Fies para
os contratos
que estavam
em dia antes
do início do
estado de cala-
midade públi-
ca, em março

Benefício emergencial poderá ser pago a mães menores de 18 anos, mas Bolsonaro barra aumento da renda mínima para ter acesso ao BPC


Gol, Latam e Azul aderem a pacote de socorro coordenado pelo BNDES. Pág. B8}


AGRONEGÓCIOS

Economia da Alemanha encolhe 2,2%


de janeiro a março e entra em recessão


Indústria tem a maior
queda em 101 anos
A produção industrial dos Es-
tados Unidos caiu 11,2% em
abril ante março, a maior que-
da mensal nos 101 anos de his-
tória do índice, informou on-
tem o Federal Reserve (Fed, o
banco central americano). O
setor foi fortemente afetado
pela pandemia do novo coro-
navírus, que provocou o fe-
chamento de fábricas em to-
do o país. Economistas proje-
tam ainda que a economia
americana recuará no segun-
do trimestre em um ritmo
nunca visto desde a Grande
Depressão.

ESTADOS UNIDOS

O processo de substituição
do diretor-geral da Organiza-
ção Mundial do Comércio
(OMC), Roberto Azevêdo,
começará nos “próximos
dias”, segundo o porta-voz da
instituição, Keith Rockwell.
Na quinta-feira, o brasileiro
que ocupava a função desde
2013, renunciou ao cargo, de-
vendo se desligar da organiza-
ção multilateral em 30 de
agosto. O anúncio foi conside-
rado um choque por causa do
momento de tensão global
por causa da pandemia de co-
ronavírus.

Escolha de novo diretor
deve começar logo

OMC

Revanche do


Congresso deve


custar caro


O


governo não cumpriu a promes-
sa de sancionar as alterações fei-
tas por deputados e senadores
que garantiriam o pagamento do auxílio
emergencial de R$ 600 a mais 7,5 mi-
lhões de pessoas. O presidente Jair Bol-
sonaro só sancionou a ampliação do be-
nefício para mães adolescentes, mas bar-
rou uma série de mudanças que seu Mi-
nistério da Economia tinha prometido
que passariam.
O custo extra dessas alterações seria
de mais R$ 10 bilhões para este ano,
além dos R$ 124 bilhões que estão pre-
vistos com as regras atuais. “É uma mu-
dança significativa, tem impacto rele-
vante, mas, do ponto de vista social, é
fundamental. O governo entendeu, com
Congresso, que a gente tem de apoiar”,
disse o secretário especial de Previdên-
cia e Trabalho do Ministério da Econo-
mia, Bruno Bianco, há um mês. Não foi o
que ocorreu.
Bolsonaro barrou o pagamento em
dobro do auxílio para pais chefes de fa-
mílias. Também vetou a retirada do cri-
tério de ter recebido menos de R$ 28,5
mil em 2018 para ter direito ao benefí-
cio. Esse ponto era importante para mo-
toristas de aplicativo, advogados e ou-
tros profissionais que perderam parte
considerável da renda este ano, por cau-
sa dos efeitos econômicos da pandemia.
Além de retomar tudo que foi barrado
pelo presidente, deputados e senadores
podem derrubar novamente o veto de
Bolsonaro à ampliação da renda para
meio salário mínimo para ter direito ao
chamado BPC, pago a idosos e pessoas
com deficiência de baixa renda. É tudo
o que a equipe econômica tenta evitar:
ações que seriam de combate à covid-19
se tornem permanentes. A conta: R$ 20
bilhões por ano.

]
É JORNALISTA

]
ANÁLISE: Murilo Rodrigues Alves

Importa, agora, viabilizar a
liberação de recursos para
pagar fornecedores e salários,
evitando agravar a situação

Opinião


Transição para energia
sustentável está ameaçada

FÓRUM ECONÔMICO

WILTON JUNIOR / ESTADÃO - 6/5/2020

Auxílio ampliado é sancionado com veto


R$ 28.559,70
é o valor da renda máxima em
2018 para se ter direito ao benefí-
cio; o texto aprovado pelo Con-
gresso Nacional retirava essa
exigência, mas o presidente
Bolsonaro vetou a mudança

Fila por ajuda. Auxílio emergencial de R$ 600 é pago em dobro para mães solteiras chefes de família

Exportações em abril
superam os US$ 10 bi

73,4%
FOI O AUMENTO
DAS EXPORTAÇÕES
DE SOJA NO MÊS
DE ABRIL

CLEMENS BILAN /EFE

ZONA DO EURO

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