O Estado de São Paulo (2020-05-16)

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A4 SÁBADO, 16 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS PARTICULARES.
Jair Bolsonaro,
presidente da República

»Recado. As reuniões do
gabinete de crise da Saúde
estavam suspensas desde a
saída de Luiz Henrique
Mandetta do ministério.
“Não há como fazer a gover-
nança do SUS, especialmen-
te numa emergência, sem a
construção de consensos e
sem gestão tripartite”, dis-
se à Coluna o presidente do
Conselho Nacional de Se-
cretários Estaduais de Saú-
de, Alberto Beltrame.

»Estilo. Na reunião de
quinta-feira, o então minis-
tro da Saúde não deu indica-
tivos de que poderia deixar
o cargo, tampouco falou
sobre o fetiche bolsonarista
do uso da cloroquina.

»O Breve? Militares apos-
tam que Eduardo Pazuello
será uma solução provisó-
ria. A leitura na caserna é
que é preciso um especialis-
ta em Saúde no cargo, e
que o general deixou o quar-
tel para uma “missão” na
secretaria executiva, não
para comandar a pasta.

»O Breve. Nelson Teich já
queria ter deixado o gover-
no na segunda semana no
cargo. Não sabia que a pres-
são de família, amigos e,
em especial, de Jair Bolso-
naro seria tão grande.

»Sem dinheiro. O presiden-
te da Frente Nacional de
Prefeitos, Jonas Donizette,
avaliou que a saída de Tei-
ch dificulta ainda mais a
interlocução dos gestores
locais com o governo. De
acordo com ele, muitas ci-
dades estão com equipa-
mentos de saúde em opera-
ção, mas ainda não recebe-
ram os valores do custeio.

»Ruim assim. “Um minis-
tério como esse tem que
ter estabilidade para as coi-
sas acontecerem. Não dá
para colocar alguém sem
comando ou ficar sem po-
der de decisão”, disse Jonas
Donizette.

»Sinal... Números compila-
dos pela Prefeitura de São
Paulo, aos quais a Coluna
teve acesso, mostram que
1,5 milhão de pessoas todos
os dias, em média, deixa-
ram de circular na capital
após a implementação do
novo rodízio de veículos.

»...verde. Na segunda-fei-
ra (11/05), primeiro dia da
medida, o sistema de trans-
porte urbano teve um incre-
mento de 90 mil passagei-
ros em relação à sexta-feira
(8/05). Porém, a frota de
ônibus foi aumentada em
1.600 veículos, o que absor-
veu a demanda. Para a Pre-
feitura, os dados mostram
que o rodízio tem sido efi-
caz no combate à covid-19.

»Debate. O Prerrogativas
realiza hoje, às 11h, a web-
conferência “O Legado da
Lava Jato e a Necessidade
de Reformar o Sistema de
Justiça”, com a participação
de Flávia Rahal, Alberto To-
ron, Fábio Tofic e Dora Ca-
valcanti. A transmissão será
no canal do YouTube do
grupo de advogados.

»Debate 2. Entre os tópi-
cos estará a estrepitosa pas-
sagem de Sérgio Moro pelo
Ministério da Justiça, após
ter sido o “inimigo número
um da advocacia”, segundo
Marco Aurélio de Carvalho.

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA

A


ntes de deixar o Ministério da Saúde, Nelson Teich
teve conversa na quinta-feira (14) com secretários
estaduais e municipais de Saúde e com a Organiza-
ção Pan-Americana da Saúde. Segundo quem participou
do encontro, Teich deu sinal de ter aprendido uma lição,
ainda que tardiamente: a importância da Federação. O
ex-ministro liberou a reunião, ocorrida ontem, do gabine-
te de crise da Saúde. Parece óbvio o ensinamento, mas
não é pouco no governo Jair Bolsonaro. Sem a união dos
entes, a covid-19 continuará fazendo vítimas.

Antes de sair, Teich fez


gesto pela Federação


ALBERTO BOMBIG
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
[email protected]
POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/COLUNA-DO-ESTADAO/

KLEBER SALES/ESTADÃO

Nome em teste de
Bolsonaro é de filho de

farmacêutica. Pág.A


Covid-


Teich se demite da Saúde


e expõe governo em crise


Menos de um mês após assumir, ministro sai no auge da pandemia da covid-19, que já causou


14 mil mortes no País; é o segundo titular da pasta que deixa o cargo por atritos com Bolsonaro


Tânia Monteiro
Luci Ribeiro / BRASÍLIA

Vinte e nove dias após assu-
mir o cargo, o ministro da Saú-
de, Nelson Teich, pediu de-
missão ontem em meio a di-
vergências com o presidente
Jair Bolsonaro. A saída de Tei-
ch no auge da pandemia do
novo coronavírus expõe a fra-
gilidade de Bolsonaro, que en-
frenta uma crise atrás da ou-
tra na política e na economia
e, com a popularidade em que-
da, já admite que precisará de
apoio no Congresso para “sal-
var” o governo.
O presidente pretende fazer
um pronunciamento na noite
de hoje, em rede nacional de rá-
dio e TV, para defender a volta à
“normalidade” e o retorno ao
trabalho no momento em que o
desemprego cresce e partidos
já se articulam para pedir o seu
impeachment (mais informa-
ções na pág. A11). O estopim da
nova crise – que levou à saída de
Teich – foi a decisão do presi-
dente de mudar o protocolo de
uso da cloroquina no combate à
covid-19. A doença já deixou
mais de 14 mil mortos no País.
Pressionado a ampliar a pres-
crição do medicamento, apesar
da falta de comprovação sobre
sua eficácia para tratar o corona-
vírus, Teich já havia avisado Bol-
sonaro, na tarde de anteontem,

que era preciso aguardar a con-
clusão de estudos científicos.
Não adiantou: em transmissão
ao vivo, naquela noite, Bolsona-
ro disse que faria a mudança no
protocolo. “Quem manda sou
eu”, afirmou a auxiliares. “Não
vou ser um presidente pato
manco.” Teich confidenciou a
amigos que, naquele momento,
já havia chegado ao seu limite e
que tinha um nome a zelar.
No dia em que o governo com-
pletou 500 dias, Teich pediu de-
missão. Foi o nono ministro a
deixar a Esplanada – o último
deles havia sido o ex-juiz Sérgio
Moro, que comandava a Justiça
e, ao sair, há 22 dias, acusou Bol-
sonaro de interferência política
na Polícia Federal. O caso moti-
vou abertura de um inquérito
no Supremo Tribunal Federal
(STF), que agora se debruça so-
bre o conteúdo do vídeo de uma
reunião ministerial, e pode
abrir caminho para o afastamen-
to do presidente ou um proces-
so de impeachment (mais infor-
mações na pág. A12).

Nomes. O presidente almoçou
ontem com a médica Nise Yama-
guchi, defensora do uso da cloro-
quina em pacientes contamina-
dos pelo coronavírus. O Estadão
apurou, no entanto, que o diálogo
não correspondeu à expectativa
do Planalto e, com isso, a indica-
ção dela para a vaga de Teich per-

deu força. Outros nomes citados
são os do deputado Osmar Terra
(MDB-RS), ex- ministro da Cida-
dania, e do almirante Luiz Froes,
diretor de Saúde da Marinha.
Ontem à tarde, em um breve
pronunciamento, Teich preferiu
não polemizar com o presidente,
embora também discordasse de-
le sobre outros temas. O médico
sempre defendeu o isolamento

social para evitar a disseminação
da doença, enquanto Bolsonaro
quer afrouxar a quarentena.
“A vida é feita de escolhas e eu
hoje escolhi sair”, disse Teich.
(mais informações nesta página).
Em sua curta passagem pelo mi-
nistério, o médico foi várias ve-
zes desautorizado por Bolsona-
ro. Na segunda-feira, por exem-
plo, ele se mostrou surpreso ao
saber de um decreto incluindo
salões de beleza, academias e
barbearias na lista de atividades
essenciais que deveriam reabrir.
“É fogo, hein?”, lamentou Teich.
Em guerra com governado-
res e com o Supremo, Bolsona-
ro procura agora um ministro
da Saúde com perfil concilia-
dor, que possa ajudar o governo
a vencer a batalha da comunica-
ção, vista como perdida até
aqui. Alçado à condição de mi-
nistro interino, o general Eduar-
do Pazuello terá a missão de as-
sinar o novo protocolo da pasta,
liberando o uso da cloroquina
(mais informações na pág. A8).
“A única coisa que sei é que
foi um mês perdido, jogado na
lata do lixo”, afirmou o ex-mi-
nistro Luiz Henrique Mandet-
ta. / COLABOROU VERA ROSA

Vinícius Valfré / BRASÍLIA

O agora ex-ministro da Saúde,
Nelson Teich, fez um breve pro-
nunciamento ontem no qual dis-
se ter dado “o melhor” durante o
pouco tempo em que permane-

ceu na pasta. Teich pediu demis-
são por divergências com o presi-
dente Jair Bolsonaro, mas, no
discurso de seis minutos, foi pro-
tocolar. “A vida é feita de esco-
lhas e eu hoje escolhi sair. Dei o
melhor de mim nesses dias em
que estive aqui”, afirmou. “Não
aceitei o convite pelo cargo. Acei-
tei porque achava que podia aju-
dar as pessoas”, argumentou.
No pronunciamento, o ex-mi-
nistro fez um aceno a governa-
dores e prefeitos ao lembrar
que o sistema público de saúde

no Brasil divide atribuições en-
tre União, Estados e municí-
pios. Interpretações divergen-
tes sobre maneiras de enfrentar
a crise sanitária têm marcado a
queda de braço entre Bolsona-
ro e governos locais. Teich fez
uma única menção a Bolsonaro,
quando o agradeceu por tê-lo es-
colhido para a função.

“A missão da saúde é tripartite.
Envolve Conass (Conselho Nacio-
nal de Secretários de Saúde) e Cona-
sems (Conselho Nacional de Secre-
tários Municipais de Saúde). O Mi-
nistério da Saúde vê isso como al-
go verdadeiro e essencial”, disse.
Como revelou o Estadão, no
entanto, conselhos de saúde que
representam Estados e municí-
pios rejeitaram a nova diretriz
do Ministério da Saúde sobre dis-
tanciamento social, principal
promessa de Teich ao assumir a
pasta para rever a estratégia de
combate a covid-19. Segundo
gestores do SUS, o argumento
mais forte para não dar apoio às
regras é que seria inoportuno
lançá-las em meio ao aumento
de casos e mortes pela doença.

Paulo Ganime

‘A vida é feita de escolhas


e eu hoje escolhi sair’


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Teich ficou menos


dias no cargo até


que interino


Desorientação dificulta combate
à covid, dizem especialistas

BOMBOU NAS REDES!

lDespedida

Teich evita críticas ao
presidente e exalta
parceria do Ministério
com secretarias
estaduais e municipais
“Dei o melhor de mim nos
dias em que estive aqui. Não
aceitei o convite pelo cargo.
Aceitei porque achava que
podia ajudar as pessoas.”
Nelson Teich
EX-MINISTRO DA SAÚDE

Interino vai liberar cloroquina a mando de Bolsonaro. Pág. A8 }


lAo se demitir ontem, Nelson
Teich se tornou o ministro que
menos tempo ficou no comando
da Saúde desde a redemocratiza-
ção. Foram 29 dias. Ele coman-
dou o ministério por menos dias
até que um interino: José Carlos
Seixas (35 dias, em 1996). Entre
os ministros efetivos, o segundo
na lista de permanências mais
curta é Marcelo Castro (205 dias,
entre 2015 e 2016). Outros três
interinos lideraram o ministério
por menos tempo: Saulo Pinto
Moreira (10 dias, em 1993); José
Agenor Álvares da Silva (15 dias,
em 2016); e José Goldemberg
(19 dias, em 1992). / SAMUEL LIMA
E ALESSANDRA MONNERAT

Pág. A

GABRIELA BILO/ ESTADAO

Fora. Nelson Teich anunciou demissão durante entrevista coletiva no Ministério da Saúde; general assume interinamente

“Se os ministros eram ruins ou se eles não se subme-
teram a ordens infundadas, dá no mesmo, pois em
ambos os casos as decisões vieram do mesmo lugar.”

Deputado federal (RJ), líder do Novo

»CLICK. O cirurgião
plástico Dr. Rey viralizou
nas redes ao se oferecer
para comandar o Ministé-
rio da Saúde. Prometeu
soluções e defendeu o
uso da hidroxicloroquina.

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
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