Adega - Edição 175 (2020-05)

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á algum tempo, o debate em torno
do que se considera “vinho natu-
ral” está à tona. Muito se discute
o que seria um vinho natural. E,
para colocar mais lenha na foguei-
ra, sempre surge a pergunta: o que seria um vinho
“não natural”? Quando se fala de vinhos orgânicos
e biodinâmicos, as definições são mais “palpáveis”,
pois há métodos a serem seguidos e entidades cer-
tificadoras (sem falar de uma filosofia desenvolvi-
da em cima dos ensinamentos de Rudolf Steiner
no caso dos biodinâmicos). Mas, definir o que se-
ria um vinho natural torna-se um desafio, pois não
há parâmetros “universalmente” reconhecidos.
Bom, não havia. Em março, os franceses resolve-
ram estabelecer algumas regras para a produção do
que consideram vinhos naturais. O nome, na verda-
de, ficou definido como “vin méthode nature”, algo
como vinho de método natural – exatamente para
não criar uma celeuma com outros que não seriam
“vinhos naturais”. O Instituto Francês de Denomina-
ções de Origem, o INAO, e outros órgãos do governo
da França reconheceram uma designação elabora-
da pelo Syndicat de Défense des Vins Nature, um
sindicato criado no ano passado e liderado por dois
vinhateiros do Loire, Jacques Carroget, do Domaine
La Paonnerie, e Sébastien David.
O sindicato propôs algumas normas para ba-
lizar o trabalho dos produtores que produzem
vinhos naturais que até então estavam fora das re-
gras do INAO (ao menos a maioria) e, portanto,

não podiam ostentar os nomes de suas denomi-
nações de origem no rótulo, sendo “rebaixados”
para “vin de pays”, a denominação mais genérica
da França. Ser reconhecido por essa designação é
um importante passo para o reconhecimento den-
tro das AOCs (Appellation d’Origine Contrôlée)
francesas, mas também para o reconhecimento
como uma categoria em definitivo.

As regras e os polêmicos sulfitos
Segundo a cartilha do sindicato, para se qualifi-
car como “vin méthode nature”, além de, obvia-
mente, o produtor se filiar ao sindicato, seu vinho
deve ser produzido a partir de uvas colhidas à mão
e certificadas como cultivadas organicamente
por uma das principais organizações certificado-
ras do mundo. A levedura obrigatoriamente deve
ser indígena, ou seja, encontrada na vinha e não
comprada. Todas as adições, como ácido, açúcar,
tanino, água, corantes etc., são proibidas. Ainda
segundo o sindicato, o vinho também não deve
passar por procedimentos físicos extremamente
intervencionistas como osmose reversa, tecnolo-
gia de spinning cones, filtragem, pasteurização,
termovinificação etc.
Um ponto crucial na qualificação de um vi-
nho como “vin méthode nature” são os sulfitos,
que não podem ser adicionados antes e durante a
fermentação. No entanto, há a possibilidade adi-
cioná-los modestamente, pouco antes do engarra-
famento, para que o vinho seja finalizado. O nível,
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