Adega - Edição 175 (2020-05)

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Há regiões


produtoras


de vinho do


noroeste


ao sudeste


da Geórgia,


mas a maior


denominação


de origem


controlada do


país é Kakheti,


entre os rios


Alazani e Iori,


ao leste de


Tbilisi, capital


do país


Por lá, é possível ainda hoje contemplar este
legado milenar de cultura da vinha: o maghlari,
método arcaico de cultura extensiva, consiste em
cultivar as videiras com o mínimo de interven-
ção, até que se tornem verdadeiras árvores. É um
método mais presente no oeste georgiano, próxi-
mo de Kutaisi, e do mar. O dablari, mais seme-
lhante aos métodos modernos de cultura intensi-
va, busca conduzir o crescimento da videira por
meio de podas, para assim controlar a quantidade
e qualidade das uvas.
Para além dos métodos de cultivo da vinha, o
mais singular elemento da ancestral vitivinicul-
tura da Geórgia são os grandes vasos de terracota
utilizados nos processos de vinificação e arma-
zenamento: os qvevri. Inscrito desde 2013 como
Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade
pela UNESCO, o método de vinificação por qve-
vri fascina e inspira hoje produtores de vinho de
todo o mundo. Enterrados na terra, com apenas
um tampo de madeira visível, esses vasos de for-
mato oval permitem maior tempo de maceração
do mosto de uva, e aproveitam uma temperatura
mais amena abaixo da superfície. Alguns produ-
tores mantêm a tradição de cobrir as paredes in-
ternas dos qvevri com cera de abelha, o que altera
a qualidade da superfície de contato do vinho.
Há regiões produtoras de vinho do noroeste
ao sudeste da Geórgia, mas a maior denomina-

ção de origem controlada do país é Kakheti, en-
tre os rios Alazani e Iori, ao leste de Tbilisi. Após
a anexação do território pelos russos, em 1801,
iniciou-se na região o desenvolvimento de uma
vitivinicultura nos padrões europeus. Em Tsi-
nandali, ainda hoje um pequeno vilarejo, o poe-
ta romântico, e aristocrata nascido em São Pe-
tersburgo, Alexander Chavchavadze construiu a
maior vinícola (marani) de toda a Geórgia, onde
continua armazenado o primeiro vinho georgia-
no engarrafado: um Saperavi de 1841. A micro-
zona, de 653 hectares, dá nome a um dos vinhos
emblemáticos do país: uma mescla das uvas
Rkatsiteli e Mtsvane (que, em georgiano, quer di-
zer “verde”), o Tsinandali é um vinho branco de
corpo médio, cor de palha e viva acidez.

RKATSITELI (რქაწითელი)
Segundo o livro do Gênesis, após o dilúvio, Noé
teria se tornado lavrador e plantado uma vinha.
E bebeu do vinho, e embebedou-se. A vinha,
dizem muitos georgianos, complementando o
Antigo Testamento, era de Rkatsiteli. Os cachos
da Rkatsiteli são geralmente grandes, e com pe-
quenas bagas. As uvas atingem simultaneamente
altos níveis de açúcar e de acidez. Tem produtivi-
dade alta, amadurecimento tardio e é resistente a
temperaturas frias.
Uma das mais antigas castas do Cáucaso, a Rkat-
siteli é a variedade mais cultivada de toda a Geórgia.
Antes das campanhas antiálcool de Gorbatchov,
que promoveu a arrachage (desenraizamento, lite-
ralmente, em francês) de dezenas de milhares de
hectares de vinhedos, prejudicando severamente
a indústria do vinho soviética, era possivelmente a
casta mais cultivada em todo o mundo.
Na Geórgia, o método tradicional de vinificação
com as cascas da Rkatsiteli em qvevris ainda é pra-
ticado, em menor escala, e produz um vinho cor
de âmbar, com frescor, notas de especiarias e um
aroma de maçã verde inconfundíveis. Nas regiões
mais quentes de Kakheti, a Rkatsiteli é mobilizada
para a produção de vinhos fortificados, à maneira
dos Vinhos do Porto. Também são produzidos es-
pumantes com Rkatsiteli, mas os naturais altos ní-
veis alcoólicos dificultam a vida dos enólogos.
Na República da Moldávia, é chamada por
muitos nomes: Corolioc, Rkatiteli, Topolioc. É
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