Adega - Edição 175 (2020-05)

(Antfer) #1

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Ao ouvir a mestre, lembro de uma cena marcante
que presenciei no seu Mesa III, em São Paulo.
A freguesa, fascinada com o oceano de pastas (frescas
e secas) à disposição na casa, comprava em volume,
como se fosse servir um prato diferente para cada
membro da família. Aí veio a Ana.
Com a voz suave e a leveza que apaixona, ela
se dirigiu à mulher: “Eu sou a Ana Soares, posso
ajudar?”. Na sequência, como uma professora, quase
mãe ou avó, foi falando sobre cada massa, cada
acompanhamento. E sugeriu: “Olha, acho que você
deve levar só essa aqui. Serve muita gente, sabe?”.
E continuou: “Ela vai bem com tanta coisa... Me diz,
você tem abobrinha na sua casa? Posso lhe ensinar um
molhinho ótimo que até criança faz...

Tem abóbora? Um pesto com ela também fica
delicioso e é igualmente fácil de preparar”.
Juro, nunca na vida tinha visto uma empresária
desvender o seus produtos, para fazer uma entrega mais
justa. Sim, esta é a Ana Soares.
“Nesse momento tão difícil, eu tive muita sorte
de já fazer um trabalho que vai para a casa das
pessoas. Mas isso não significa que elas apenas abram
pacotes, para servir e comer. É preciso se envolver
com a comida. Nem que seja cozinhar a massa por
minutinhos, aquecer um molho, finalizá-lo...”
Então, vem a hora de escolher a forma mais
atraente de montar o prato ou, melhor ainda, a
travessa. “Existe coisa mais linda do que compartilhar

a comida? Do que dividir uma mesma experiência?
Cada um ao seu modo... Porque paladar é algo muito
pessoal, não é? O papel do cozinheiro é ensinar,
buscar o conforto de quem come.” E de si próprio,
Fazia tempo que a Ana não cozinhava para si
mesma, buscando eternas referências que viu durante
a vida toda. E mais: deixando-se levar pela intuição.
“Não tem nada melhor. Me acalma demais.”
Então, fala do frango ensopado, que precisa de
água pingada aos poucos. E também da polenta com
o que quisermos dentro dela. O prato a faz lembrar
da mãe. “Que tempero ela tinha! Que cuidado
com cada detalhe...”. E sempre dizia: “Minha
filha, cozinha é cuidar, melhorar a cada passo até
chegarmos a perfeição”.

Com uma certa poesia, Ana fala do gesto.
“Cozinhar é uma sucessão de gestos: dos dedos que
esfregam o sal, do pulso que dá movimento para
faca, das mãos que balançam para trazer a fumaça
perfumada que sai das panelas ao encontro do nariz.”
“A cozinha nos ajuda a exercitar a humildade, algo
que anda em falta na humanidade... Talvez esteja aqui
a gênese de todos os nossos problemas. Que bom que
todos nós estamos cozinhando mais...”
O processo, defende, ajuda também a sermos
menos preconceituosos. “Outro dia fiz uma salada
niçoise deliciosa, com uma lata de atum. Fiz com
tudo morno: as batatas, as vagens... Para ficar mais
confortável. Adorei o resultado.”

“Estamos num tempo de ler, o que é muito diferente de ver.
É hora de ouvir o som das palavras, sem propriamente escutá-las”

A Mesa III acaba de lançar seu e-commerce, com
entregas para toda a cidade de São Paulo em
até 1h. Na loja virtual (loja.mesa3.com.
br), a gente encontra produtos renovados
diariamente, dentre massas recheadas
e de fio, molhos, antepastos, quiches,
tortas e sobremesas. Na estreia do serviço,
o cardápio disponível é uma seleção dos
favoritos da Mesa III: clássicos da casa para
finalizar em casa, como agnolotti de Burrata,

o ravioli-Plin de zucca e o cappelle de vitela e
amêndoas, que podem ser acompanhados por
molhos como o delicado de tomates - basta
aquecer e servir. Os itens também estão à
disposição para take away diretamente na
rotisseria, que suspendeu o funcionamento
do Mesa III Café por tempo indeterminado.
A Loja de Fábrica também faz delivery, com
pedidos pelo telefone.
Tels.: (11) 3868-5500 e (11) 3673-3448

Na sua casa
Como pedir a comida da Aninha por telefone ou pela internet
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