O Estado de São Paulo (2020-05-18)

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A14 SEGUNDA-FEIRA, 18 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


ROBSON


MORELLI


Esportes

Guilherme Amaro


O futebol brasileiro está para-
lisado por causa da pandemia
do novo coronavírus, mas Co-
rinthians, Santos e São Paulo
vivem bastidores agitados.
Não apenas para planejar o
restante da temporada, como
também por ser ano eleitoral
nos três clubes paulistas. Em
razão da covid-19, futuros
candidatos angariam apoio
por meio de reuniões virtuais
e conversas por aplicativos
de mensagens. Muitos ainda
aguardam para lançar candi-
daturas de forma oficial.
No Corinthians, o grupo Re-
novação e Transparência está
no poder desde quando Andrés
Sanchez venceu a eleição em



  1. A tendência é de que o
    candidato da situação seja o
    atual diretor de futebol do clu-
    be, Duílio Monteiro Alves. Na
    oposição, quem surge como no-
    me forte é um dissidente do Re-
    novação e Transparência e ex-
    presidente do clube alvinegro:
    o delegado Mario Gobbi.
    Após comandar o Corin-
    thians entre 2012 e 2015, Gobbi
    se afastou da vida política. Ele
    reapareceu em reunião do con-
    selho deliberativo do clube no
    fim do ano passado e deve ser
    candidato do Movimento Co-
    rinthians Grande, que conta


com importante número de
membros dissidentes do Reno-
vação e Transparência.
Gobbi participou de trans-
missões pela internet e assu-
miu que pode ser candidato. “O
Corinthians está numa hemor-
ragia política. Aceito voltar.
Não pertenço a grupo político
nenhum. Venho para apazi-
guar. Quero fazer uma gestão
financeira boa. Dar credibilida-
de para o clube. Sem política”.
Um oponente já confirmado
é Augusto Melo, que concorreu
a vice na chapa de Antonio Ro-
que Citadini na eleição passada.
Em entrevista ao Estadão, ele
contou que a ideia de se candida-
tar à presidência surgiu em uma
conversa justamente com Ma-
rio Gobbi. “Acho que somente a
nossa candidatura pode ser con-
siderada como oposição, por-
que os outros já estiveram jun-
tos das pessoas da situação”,
disse o empresário, que foi dire-
tor da base corintiana entre as
temporadas de 2015 e 2016.
Outro que deve disputar a
eleição é Paulo Garcia, que con-
correu no pleito passado e tem
grande influência principal-
mente no conselho deliberati-
vo do clube. “De minha parte
tenho dedicado muito tempo
em aperfeiçoar um plano de go-
verno moderno e bem profissio-
nal para no momento oportuno

apresentar a todos”, afirmou
por meio de comunicado.
No Santos, o presidente José
Carlos Peres cogita candidatar-
se novamente para o próximo
triênio, apesar de ter enfrenta-
do até processo de impeach-
ment no Conselho Deliberati-
vo. O clube conta com diversos
grupos políticos que buscam
unificar algum candidato para

ter mais força na eleição. Uma
dessas movimentações deve ter
o segundo candidato mais vota-
do no pleito passado, Andres
Rueda, como representante.
“Estou tentando uma pacifi-
cação das oposições, o ambien-
te está bem conturbado na Vila.
Se eu não conseguir, vou pensar
mais para frente se serei candi-
dato ou não. Estou tentando
juntar lideranças que existem
para criar um pacto de gover-
nança, independentemente de
quem seja o presidente, para
cumprir com as determinadas
normas éticas e operacionais,
agir de acordo com o estatuto
do Santos, de forma colegiada.
Não há pensamentos antagôni-
cos, a maioria pensa no bem do
clube, mas tem vaidades e algu-
mas rusgas pessoais ainda”, afir-
mou Rueda ao Estadão.
Até agora, dois conselheiros
anunciaram a pré-candidatura:

Miltinho Teixeira, filho do ex-
presidente Milton Teixeira e ir-
mão de Marcelo Teixeira, que
também é ex-mandatário do
clube e atualmente presidente
do Conselho Deliberativo do
Santos; além do conselheiro Es-
meraldo Tarquínio. O atual vi-
ce-presidente, Orlando Rollo,
afirmou ao Estadão que não vai
se candidatar. Ele rompeu com
José Carlos Peres no início da
gestão, em 2018. Na Vila, primei-
ro e segundo não se bicam.

Morumbi. No São Paulo, o pre-
sidente Carlos Augusto de Bar-
ros e Silva, o Leco, não pode ten-
tar a reeleição. O único candida-
to já confirmado é o ex-diretor
de marketing Julio Casares, que
tem apoio de grupos da situa-
ção e também da oposição, co-
mo o ex-presidente José Eduar-
do Mesquita Pimenta, derrota-
do por Leco na eleição passada.

“Estamos fazendo um traba-
lho de união de pessoas da situa-
ção e da oposição. Lançamos a
candidatura recentemente,
mas já vínhamos trabalhando
nela. O São Paulo precisa de
união e transformação. A cam-
panha será feita nos próximos
meses, após a pandemia, por
respeito em meio à dificuldade
dessa situação que o mundo vi-
ve”, disse Casares ao Estadão.
Casares ainda não sabe quem
enfrentará na eleição do fim des-
te ano. Marco Aurélio Cunha,
ex-diretor de futebol do clube e
atualmente coordenador de fu-
tebol feminino da CBF, estuda
lançar candidatura. Ele já co-
mentou o desejo de concorrer
ao pleito, mas analisa se terá
apoio de conselheiros. “Ainda
não defini. Não existe candida-
tura sem alianças”, afirmou.
O atual vice-presidente, Ro-
berto Natel, é outro nome que
surge entre os conselheiros pa-
ra o pleito. Ele é rompido com
Leco desde 2018. Votou pela re-
provação das contas do clube
no ano passado – mas votos pa-
ra a aprovação foram a maioria.
Natel avalia alianças e não
quis comentar sobre o cenário
político do clube no momento.
Com menos força, Sylvio Alves
de Barros Filho surge como op-
ção de grupos da oposição para
disputar a eleição no Morumbi.

Palmeiras. A eleição do clube
será só fim de 2021, quando o
atual presidente Mauricio Ga-
liotte não poderá se reeleger. O
cenário aponta para uma dispu-
ta acirrada entre a dona da Crefi-
sa, Leila Pereira, como candida-
ta da situação, e o ex-presidente
e agora opositor Paulo Nobre.
Nenhum deles até o momento
garante que estará no pleito, po-
rém, conselheiros aliados de
ambos já trabalham para viabili-
zar suas candidaturas. Vale di-
zer que os dois têm propostas
diferentes para o Palmeiras.
Antes da pandemia, Nobre
chegou a se reunir com compa-
nheiros de clube em almoço pa-
ra discutir possíveis propostas.
Leila se mantém ativa nas redes
sociais para interagir com torce-
dores. Nos jogos do Allianz, uti-
liza camisa com o número 21,
referência ao ano do pleito.

O


futebol está entre a vida e a
morte. Entre a vida e a mor-
te de seus torcedores. Tenta
se realinhar para oferecer distração
enquanto o planeta continua enter-
rando seus mortos por causa da pan-
demia. No fim de semana, a bola vol-
tou a rolar na Alemanha de uma ma-
neira como não se tinha visto ainda
desde que o mundo se dobrou dian-
te da covid-19. Não parecia futebol.
Nem mesmo para quem estava em
campo. Na torcida não tinha nin-
guém. A sensação era de um vazio
sem precedentes. E na TV, confesso
que foi estranho esperar boas joga-

das e gols, além de um pouco de ale-
gria, em meio a essa doença e cenas
terríveis que não nos saem da cabeça.
Será que temos o direito de nos diver-
tir e torcer no futebol enquanto o vírus
da morte não for controlado ou comba-
tido de vez como tantos outros que apa-
receram na humanidade antes dele?
Durante alguns momentos nas parti-
das da Bundesliga, achei que não. Isso
vai ser um questionamento comum de
agora em diante aos nossos sentimen-
tos, quando outros campeonatos euro-
peus vão ser retomados, como o Italia-
no, Espanhol e o badalado Inglês, até
chegar no Brasil, primeiramente os Es-

taduais e depois o Brasileirão 2020.
Temo que o próprio futebol esteja
entre a vida e a morte se ele recomeçar
fora do seu tempo, antes da hora, sem
sintonia com o restante do mundo. Te-
mo que as pessoas olhem para as joga-
das, e toda a movimentação do balé de
seus personagens em campo, como al-
go negativo, sem propósito nos dias
atuais. Isso colocaria o esporte mais
popular do mundo, e também o mais
apaixonante, contra a parede.
Porque não basta a TV mostrar, os
atletas aceitarem a jogar e todos os en-
volvidos na partida fazerem sua parte
se o grande interessado não estiver pre-
parado e a fim, o torcedor. Sem ele não
tem futebol. É para ele que se joga, em-
bora algumas pessoas achem que não.
Nas próximas semanas, o futebol se-
rá jogado em países que sofreram mui-
to e ainda sofrem com a pandemia. Re-
firo-me a dois deles: Itália e Espanha.
São povos que amam o futebol, mas
que estão anestesiados com tantas
mortes e sofrimento. Temo que a ne-

cessidade de retomar a modalidade
nesses lugares provoque o efeito con-
trário à sua intenção. A não ser que a
única intenção seja financeira, que é
legítima e importante para a volta da
vida após o pico da doença, mas que
pode despertar sentimentos errados.
O Brasil vai entrar nesta mesma si-
tuação em breve. Diferentemente da

Europa, o País vive bagunça adminis-
trativa como há muito não se via. E ca-
da um vai por um caminho no futebol.
Aqui, a retomada vai se dar por ques-
tões financeiras dos clubes e dos profis-
sionais que dependem do futebol. Há
muita gente que vive da modalidade.
Sem jogos, não há salário. O futebol
ainda não está nos serviços essenciais
defendidos pelo presidente da Repúbli-
ca, Jair Bolsonaro, como manicures e

barbeiros. Mas há um forte interes-
se do seu retorno pelos clubes, que
passam o pires sem dinheiro das co-
ta de televisão, das bilheterias e da
venda de produtos da marca.
Temo mais uma vez que essa “for-
çada de barra” para que o futebol
brasileiro volte, por questões unica-
mente econômicas, atrapalhe mais
do que ajude nesse momento ainda
de incertezas com a doença. Temo
que as pessoas que gostem de fute-
bol não estejam totalmente prepara-
das para a sua retomada como meio
de entretenimento e disputa, por-
que nesse momento parece que ga-
nhar ou perder pouco importa. E se
divertir não combina com a situa-
ção. O futebol não pode perder sua
graça, grandeza e o amor de seus se-
guidores forjados nos últimos 100
anos. Temo que sua volta antes do
tempo provoque sentimento inver-
so ao que se espera. O futebol não
pode ser avaliado só como meio eco-
nômico. Ele é mais do que isso.

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Entre a vida e a morte


Na Espanha,


times já podem


voltar a treinar


A retomada do futebol fora
de hora pode provocar
sentimento inverso

BAYERN VENCE E AGORA
SOMA 12 RODADAS INVICTO

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


O governo espanhol autorizou
ontem os clubes a voltarem a
treinar em grupo a partir de ho-
je. Segundo comunicado da or-
ganização do Campeonato Es-
panhol, times como Real Ma-
drid, Barcelona e Atlético de
Madrid poderão trabalhar den-
tro dos centros de treinamento
desde que as atividades sejam
realizadas em grupos de no
máximo dez atletas por vez.
A permissão reforça o desejo

dos organizadores do Campeo-
nato Espanhol de retomarem
os jogos no próximo mês. O pre-
sidente da liga espanhola, Ja-
vier Tebas, pretende recome-
çar as partidas em 12 de junho.
Para a data ser confirmada, será
preciso a situação sanitária do
país continuar em evolução e
existir também a liberação das
autoridades. O plano dos espa-
nhóis é quando for possível, en-
cerrar o campeonato com parti-
das sem a presença da torcida.
O Diário Oficial da Espanha
publicou ontem a autorização
de volta aos treinos. O texto
diz que os clubes profissionais
poderão voltar aos treinamen-
tos se cumprirem medidas de

“prevenção e higiene”. O gover-
no do país permitiu que os gru-
pos de trabalho dos times pode-
riam ter até 14 jogadores por
vez, mas a organização do Cam-
peonato Espanhol preferiu re-
duzir esse número para dez
atletas.
Os clubes espanhóis estão
treinando desde 4 de maio, po-
rém os atletas têm realizado as
atividades de maneira isolada,
sem contato com os colegas. A
liberação para a volta de trei-
nos em grupos abrange todo o
território do país e até mesmo
regiões que continuam em si-
nal de alerta pela pandemia, ca-
sos da capital, Madrid, e da Ca-
talunha.

DISSIDÊNCIA

]A paralisação pela pandemia não
afetou a boa fase do Bayern de Muni-
que. Depois de dois meses sem jo-
gar, o time bávaro voltou a campo

ontem pelo Campeonato Alemão e
bateu fora de casa o Union Berlin por
2 a 0, gols de Lewandowski e Pavard.
Agora a equipe bávara acumula 12
rodadas de invencibilidade e se man-
tém na liderança quatro pontos à fren-
te do Borussia Dortmund.

HANNIBAL HANSCHKE/REUTERS

DANIEL AUGUSTO JR. / AG. CORINTHIANS-25/10/

Eleições


agitam


bastidores


dos clubes


Futebol. Corinthians, São Paulo e Santos


escolherão presidentes ainda em 2020


Lados opostos. Duílio Monteiro Alves e Mario Gobbi deverão ser candidatos no Corinthians

Mario Gobbi
EX-PRESIDENTE E CANDIDATO

‘O Corinthians está
numa hemorragia
política. Eu aceito
voltar. Venho para
apaziguar’
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