O Estado de São Paulo (2020-05-18)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-2:20200518:
B2 Economia SEGUNDA-FEIRA, 18 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Primeira Pessoa


E-MAIL: [email protected]

O


s danos para a economia e pa-
ra as finanças públicas brasi-
leiras provocados pelo surto
da covid-19 serão gigantescos. Meu
modelo de projeção, baseado em hipó-
teses relativamente otimistas para o
cenário internacional e supondo saí-
da gradual do isolamento social, que
só terminaria completamente no se-
gundo trimestre de 2021, indica que o
PIB terá contração de 5,0% em 2020.
O déficit primário da União, no cor-
rente ano, deverá alcançar R$ 650 bi-
lhões (cerca de 9% do PIB).
De acordo com esse cenário, a dívi-
da bruta do governo geral (DBGG),
em 2021, será de 102% do PIB (concei-
to FMI), ou 90% do PIB (conceito go-
verno brasileiro). A diferença entre es-
sas duas métricas é que, ao contrário
do que faz o FMI, o governo brasileiro
exclui da DBGG os títulos de emissão
do Tesouro Nacional que estão fora
do mercado, na carteira do Banco Cen-
tral (BC). Por razões técnicas, prefiro
e adotarei aqui o conceito do FMI, até
porque é o utilizado em comparações
internacionais. Para ter uma ideia do
estrago, no final de 2019 a DBGG era
de 89% do PIB, ou seja, em dois anos
crescerá cerca de 13% do PIB.
Isso significa que o Brasil caminha
para a insolvência ou que entrará na
chamada dominância fiscal, possibili-
dade admitida recentemente pelo
economista Samuel Pessôa? Não ne-
cessariamente, pois nos restam alter-
nativas para lidar com o problema.
O primeiro ponto a lembrar é que,
para um dado resultado primário, a
dinâmica da dívida depende do dife-
rencial entre a taxa real de juro (r) e a
taxa real de crescimento da economia
(g). Tudo indica que r-g, ao menos nos
próximos dois a três anos, tenderá a
ser nulo ou até mesmo negativo, o que
ajudará a conter, ou até mesmo a redu-
zir, a relação dívida/PIB. Duas razões
dão suporte a essa previsão: uma de
natureza externa, outra doméstica.
A razão externa é que os juros nomi-
nais nos países desenvolvidos serão
mantidos em patamares muito bai-
xos, até mesmo negativos, não só pela
inexistência de quaisquer sinais de in-
flação no futuro visível, como também
para tentar estimular a recuperação da
atividade econômica e evitar a defla-
gração de forte crise de inadimplência
de devedores, tanto empresas como

pessoas físicas. Para os interessados,
sugiro a leitura de um importante arti-
go do consagrado economista Kenne-
th Rogoff, em que propõe taxa de juros
básica de até -3% ao ano nos EUA:
https://www.project-syndicate.org/com-
mentary/advanced-economies-need-dee
ply-negative-interest-rates-by-kenneth-
rogoff-2020-05.
A razão doméstica é que, no que
pese ser provável modesta retoma-
da do crescimento da economia a
partir de 2021, o PIB efetivo deverá
continuar abaixo do potencial (hia-
to do produto negativo) pelo menos
até o final de 2022, o que possibilita-
rá ao BC manter a taxa real básica de
juro em patamar muito baixo, prova-
velmente aquém da taxa de cresci-
mento do PIB, sem ameaçar o cum-
primento da meta de inflação.
Apesar disso, a solução da crise
fiscal não virá sem sacrifícios. A re-
forma administrativa, muito mais
severa do que a que se pensou antes
da epidemia, e uma reforma tributá-
ria que inclua não só a excelente pro-
posta contida na PEC 45, que cria o

Imposto sobre Bens e Serviços, co-
mo também drástica redução dos
privilégios tributários da população
mais rica, como os hoje concedidos
no sistema de lucro presumido e nas
vultosas desonerações e renúncias
fiscais, serão instrumentos impor-
tantes para o ajuste das contas públi-
cas e para o aumento de produtivida-
de da economia.
Mas não é só isso. O governo ain-
da possui estatais valiosas que po-
dem e devem ser privatizadas, e ne-
cessita retomar o programa de con-
cessões. Essas medidas não só me-
lhorarão as finanças públicas, como
impulsionarão a produtividade e o
crescimento econômico.
Como se vê, a questão é mais po-
lítica do que técnica, e aí é que mora
o maior perigo.

]
ECONOMISTA, DIRETOR-PRESIDENTE DA
MCM CONSULTORES, FOI CONSULTOR DO
BANCO MUNDIAL, SUBSECRETÁRIO DO TE-
SOURO NACIONAL E CHEFE DA ASSESSORIA
ECONÔMICA DO MINISTÉRIO DA FAZENDA

Brasil não necessariamente
caminha para a insolvência;
restam-nos alternativas
para lidar com o problema

P


rodutos de maior valor agregado são o novo foco da Votorantim Ci-
mentos no setor agropecuário. Depois de elevar em 750 mil toneladas
sua capacidade de produção de calcário agrícola no ano passado, a
empresa criou uma marca específica para os clientes do campo – a Viter –,
que reúne linhas de corretivos e nutrientes para o solo. Junto com o reposi-
cionamento no mercado, a companhia aumenta sua capacidade de produ-
ção em mais 1 milhão de toneladas de produtos diversos, para chegar a 4,
milhões de toneladas no fim do ano. Boa parte do volume adicional virá de
duas novas linhas de produção que entram em operação em 2020, em No-
bres (MT) e Itapeva (SP), e de ampliações de capacidade das unidades de
Nobres e Itaú de Minas (MG), conta Laércio Solla, gerente-geral da marca.
“Estamos deixando de tratar apenas de calcário agrícola e ampliando para
tecnologias de valor para o solo”, afirma.


Depois da covid,


a dívida pública


»Campo fértil. Novos produtos da
Votorantim combinam cálcio, mag-
nésio e enxofre, que se distribuem
rapidamente até camadas profundas
do solo. Outra aposta da empresa é
no insumo que acelera a renovação
da terra com altos teores de mine-
rais. Em 2019, R$ 72 milhões foram
investidos e neste ano outros R$ 27
milhões serão aportados, de R$ 200
milhões projetados até 2024.


»Horizontes. Com o reposiciona-
mento no agro, a companhia pretende
atender a outros segmentos, além de
crescer em soja, milho, citros e algo-
dão. Na mira estão café da região de
Alta Mogiana (SP) e de Minas, e extra-
tivismo e pastagens no Pará. Hoje, a
empresa tem forte atuação no setor
sucroalcooleiro do Sudeste e de grãos
do Paraná.


»Pode vir. O BDMG vai operar o
maior recurso de sua história em
crédito para o setor cafeeiro:
R$ 392 milhões na safra
2020/2021, aumento de 55% em
relação ao ciclo anterior. O ban-
co ampliou sua fatia de recursos
do Funcafé (Fundo de Defesa da
Economia Cafeeira).


»Aposta. A expectativa da institui-
ção é de forte demanda devido à bie-
nalidade positiva do café – a cultura
alterna ano de alta produção com ou-
tro de colheita menor. “Queremos
fornecer mais crédito aos setores es-
tratégicos da economia, especialmen-
te cooperativas e pequenos produto-
res da cadeia do café”, afirma Sergio
Gusmão, presidente do BDMG.

»Bons frutos. A Arpac, startup espe-
cializada em pulverização agrícola
por drones, fechou abril com fatura-
mento 70% maior que em igual mês
do ano passado e 2 mil hectares pulve-
rizados no período. A demanda veio
principalmente de áreas de cana-de-
açúcar em São Paulo e Goiás, conta
Eduardo Goerl, CEO da empresa. “O
resultado da primeira quinzena de
maio mostra que o crescimento vai
continuar firme”, projeta.

»Continua. No atual ciclo
2019/2020, que termina em 30 de
junho, a empresa prevê faturar
R$ 600 mil. Para 2020/2021, a
ideia é dobrar sua receita. A área
coberta também deve aumentar
dos atuais 50 mil hectares para
200 mil hectares, com o dobro de
equipamentos em operação.

»Papo reto. Dois executivos de
grandes empresas do agronegócio
pediram ao presidente Jair Bolsona-
ro que integrantes do governo pa-
rem imediatamente de criticar ou
mandar recados à China. A cobrança
foi feita durante videoconferência
do chefe do Executivo e do ministro
Paulo Guedes com empresários pau-
listas, na última quarta-feira (13).
Eles lembraram que os chineses são
os maiores parceiros comerciais do
Brasil no agro e que qualquer retalia-
ção seria desastrosa para o País.

»Fica. A ministra da Agricultura, Te-
reza Cristina, nunca esteve tão firme
no cargo como agora, diz o deputado
Alceu Moreira (MDB-RS), presidente
da Frente Parlamentar da Agropecuá-
ria. “O agro não improvisa e não cede-
rá (a pressões)”, avisa o parlamentar.

»Avante. A Associação Internacional
de Soja Responsável (RTRS) planeja
atingir neste ano 5 milhões de tonela-
das de soja certificada e vendida no
mundo no padrão RTRS, que atesta a
sustentabilidade da produção. Deste
total, de 4 milhões a 4,2 milhões de
toneladas devem vir do Brasil, prevê
Cid Sanches, consultor externo da
RTRS no País. Em 2019, foram 4 mi-
lhões de toneladas no mundo, sendo
3,3 milhões de toneladas só do Brasil.

»Promessa é dívida. Após vários
anos de demanda concentrada em
parte da Europa, a Ásia estreou nas
compras de soja RTRS em 2019,
com demanda de China, Japão, Viet-
nã e Tailândia. Os compromissos
assinados por empresas em todo o
mundo de ter parte do consumo cer-
tificada até 2020 também contribuí-
ram para o maior interesse. “Deve
perdurar nos próximos 4 a 5 anos o
crescimento da demanda por produ-
tos sustentáveis”, prevê Sanches.

POR CLARICE COUTO, ISADORA DUARTE,
GUSTAVO PORTO e LETICIA PAKULSKI

U


m dos maiores bancos globais
em presença física no mundo,
o Citi, que está em 98 países,
deu início a uma campanha em hospi-
tais e no próprio banco para ajudar
funcionários e comunidades a com-
bater o coronavírus antes mesmo de
a pandemia chegar ao Brasil. “Vamos
fazer um call, nesta segunda-feira,
com um grupo seleto de presidentes
do Citi onde o Brasil vai falar sobre
as melhores práticas e como o banco
pode ajudar outros países neste mo-
mento”, diz Marcelo Marangon, pre-
sidente do Citi para o Brasil.

lComo o Citi se preparou para a crise?
Por ser um banco global, a gente se
antecipou no final de fevereiro. Co-
mo recebíamos informações da Ásia,

começamos a testar acesso remoto e
imediatamente iniciamos um plano
de crise. Começamos a fazer calls
diários e, no início de março, toma-
mos medidas antes mesmo de a
OMS declarar pandemia. Identifica-
mos nossos times e começamos a
fazer trabalho remoto. Hoje, 98% da
equipe está em home office e apenas
2%, ou cerca de 40 pessoas, traba-
lham na empresa.

lPor ser um banco global, como as ma-
trizes estão ajudando umas às outras?
Temos calls diários entre os líderes
para discutir a crise. Nesta segunda-
feira, liderado por mim, vou fazer
um call para um grupo seleto de pre-
sidentes do Citi em que vou falar so-
bre as melhores práticas no Bra-
sil em tempos de coronavírus.
Participarão dez presidentes
da Ásia, América Latina, Áfri-
ca e Europa.

lO Citi tem feito uma série de
doações. Para quem?
Definimos nossa estratégia
na crise para focar em três
pilares básicos: funcionários,
clientes e comunidades das
quais fazemos parte. Fi-
zemos uma campa-
nha específica

com a associação dos funcionários
do Citi para que pudéssemos arreca-
dar fundos para colaborar nessa pan-
demia. Para cada R$ 1 doado pelo
funcionário, o Citi doa o mesmo va-
lor. Esses valores foram usados na
compra de mais de 10 mil cestas bási-
cas para comunidades carentes em
parceria com a ONG Gerando Fal-
cões. Também doamos máscaras pa-
ra os hospitais das Clínicas e do Ipi-
ranga. E, recentemente, doamos ta-
blets para pacientes em UTIs de hos-
pitais.

lE o ambiente de negócios no Brasil?
É adverso. É uma crise de saúde que
se transformou numa crise econômi-
ca de oferta e demanda e que está se
desenvolvendo para uma cri-
se financeira. Na crise, não
tomamos a decisão de
parar para ver. Vamos
ajudar nossos clientes.

lO governo tem de ajudar
grandes empresas?
O mais importante é
que a ajuda seja feita de
maneira temporária para
que as empresas se recupe-
rem, e não de maneira per-
manente. / MÔNICA
SCARAMUZZO

Opinião


l]
CLAUDIO ADILSON
GONÇALEZ

Ampliação. Planta de Itaú de Minas recebeu aportes da Votorantim


lGigante asiático

37,7%
foi a participação da China, em valor, no
total das exportações do agronegócio
brasileiro de janeiro a abril de 2020

Votorantim reforça


presença no setor agro


coluna do


‘Na crise, não


tomamos decisão


de parar para ver.


Nós vamos ajudar’


VOTORANTIM

O Mapa da Bolsa


IRB Brasil ON

Azul PN

Embraer ON

Grupo Pão de Açúcar ON

Gerdau PN

18,95%

9,38%

47,79%

-0,95%

53,58%

● As ações que mais subiram e as que mais caíram
na semana passada

FONTE: BROADCAST INFOGRÁFICO/ESTADÃO

OBS.: EMPRESAS QUE FAZEM PARTE DO ÍNDICE IBOVESPA

Melhores

BRF SA ON

Braskem PNA

Marfrig ON

B3 ON

Minerva ON

Piores

Na semana Em 1 mês

-43,41%

-32,85%

-32,87%

-11,98%

-3,45%

20,92%

15,01%

5,96%

4,71%

4,28%

0

-25,88%

-18,53%

-17,37%

-16,19%

-16,00%

HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO

Marcelo Marangon,
presidente do Citi Brasil

WERTHER SANTANA/ESTADÃO -21/12/
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