O Estado de São Paulo (2020-05-18)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-2:20200518:
A2 Espaçoaberto SEGUNDA-FEIRA, 18 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






Levantamento do Instituto de
Ciência, Tecnologia e Qualida-
de (ICTQ) realizado entre 18 e
20 de março em 540 farmácias
de 18 capitais brasileiras mos-
trou variação de mais de
7.000% nos preços de artigos
de higiene em alguns casos.
Apesar dos números absurdos
verificados no Brasil, o profes-


sor Fernando Ribeiro Leite
Neto, do Insper, afirma que é
ilusão pensar que o aumento
excessivo de preços está vincu-
lado ao “jeitinho brasileiro”.
Segundo ele, situações assim
poderiam ser verificadas em
qualquer parte do mundo.

http://www.estadao.com.br/e/jeitinho

N


o Dia do Jornalista, 7
de abril, fui surpreendi-
do por um post no Fa-
cebook. Seu autor, Eduardo
Castro, brilhante jornalista,
mexeu com o coração do seu
ex-professor de Ética da Co-
municação: “Amor pela verda-
de, paixão pela liberdade e
uma imensa capacidade de so-
nhar. Foi o que você disse no
dia da minha formatura e eu
lembro todos os dias que le-
vanto para trabalhar. Para-
béns, professor”.
Confesso que me emocio-
nei. Ao mesmo tempo, caro
Eduardo, ao revisitar o que eu
disse lá atrás, e que você não
esqueceu, renovei minha con-
vicção da importância daque-
les valores: amor pela verdade,
paixão pela liberdade e uma
imensa capacidade de sonhar.
Eles resumem boa parte da
nossa missão e do fascínio do
nosso ofício. Hoje, mais que
nunca, numa sociedade radica-
lizada e intolerante, precisam
ser resgatados e promovidos.
A democracia reclama um
jornalismo vigoroso e inde-
pendente. Comprometido
com a verdade possível. O jor-
nalismo de qualidade exige co-
brir os fatos. Não as nossas
percepções subjetivas. Anali-
sar e explicar a realidade. Não
as nossas preferências, as sim-
patias que absolvem ou as an-
tipatias que condenam. Isso
faz toda a diferença e é servi-
ço à sociedade.
As redes sociais e o jornalis-
mo cidadão têm contribuído
de forma singular para o pro-
cesso comunicativo e propicia-
do novas formas de participa-
ção, de construção da esfera
pública, de mobilização da so-
ciedade. Suscitam debates,
provocam polêmicas (algumas
com forte radicalização) e
exercem pressão. Mas as notí-
cias que realmente importam,
isto é, as que são capazes de al-
terar os rumos de um país, são
fruto não de boatos ou meias-
verdades disseminadas de for-
ma irresponsável ou ingênua,
mas de um trabalho investiga-
tivo feito dentro de padrões
de qualidade, algo que está na
essência dos bons jornais.

Sem jornais a democracia
não funciona. O jornalismo
não é antinada. Mas também
não é neutro. É um espaço de
contraponto. Seu compromis-
so não está vinculado aos ven-
tos passageiros da política e
dos partidarismos. Sua agen-
da é, ou deveria ser, determi-
nada por valores perenes: li-
berdade, dignidade humana,
respeito às minorias, promo-
ção da livre-iniciativa, abertu-
ra ao contraditório. O jornalis-
mo sustenta a democracia não
com engajamentos espúrios,
mas com a força informativa
da reportagem e com o farol
de uma opinião firme, mas
equilibrada e magnânima. A re-
portagem é, sem dúvida, o co-
ração da mídia.
Jornalismo independente re-
clama liberdade. Não temos
dono. Nosso compromisso é
com a verdade e com o leitor.

Mas a reinvenção do jornalis-
mo passa por uma imensa ca-
pacidade de sonhar. É preciso
vencer comportamentos buro-
cráticos, reconhecer a nossa
crise e tratar de virar o jogo. O
fenômeno da desintermedia-
ção dos meios tradicionais,
por exemplo, teve preceden-
tes que poderiam ter sido evi-
tados não fosse o distancia-
mento da imprensa dos seus
leitores, sua dificuldade de en-
tender o alcance das novas for-
mas de consumo digital da in-
formação e, em alguns casos,
sua falta de isenção informati-
va e certa dose de intolerância.
Os leitores, com razão, mani-
festam cansaço com o tom
sombrio das nossas cobertu-
ras. É possível denunciar maze-
las com um olhar propositivo.
Pensemos, por exemplo, na ig-
nominiosa situação do sanea-
mento básico. É preciso rever-
ter um quadro que agride a dig-
nidade humana, envergonha o
Brasil e torna inviável o futuro
de gerações. Não seria uma be-
la bandeira, uma excelente cau-

sa a ser abraçada pela impren-
sa? Em vez de ficarmos reféns
do diz que diz, do blá-blá-blá
na entrada do Palácio da Alvo-
rada, das intrigas e da espuma
que brota nos corredores de
Brasília, que não são rigorosa-
mente notícia, mergulhemos
de cabeça em pautas que, de fa-
to, ajudem a construir um País
que não pode continuar olhan-
do pelo retrovisor.
Não podemos viver de cos-
tas para a sociedade real. Isso
não significa ficar refém do
pensamento da maioria. Mas o
jornalismo, observador atento
do cotidiano, não pode desco-
nhecer e, mais que isso, con-
frontar permanentemente o
sentir da sua audiência. A ver-
dade, limpa e pura, é que fre-
quentemente a população tem
valores diferentes dos nossos.
A internet, o Facebook, o
Twitter e todas as ferramen-
tas que as tecnologias digitais
despejam a cada momento so-
bre o universo das comunica-
ções transformaram a política
e mudaram o jornalismo.
Queiramos ou não. Precisa-
mos fazer a autocrítica sobre
o nosso modo de operar. Não
bastam medidas paliativas. É
hora de dinamitar antigos pro-
cessos e modelos mentais. A
crise é grave. Mas a oportuni-
dade pode ser imensa.
A violência, a corrupção, a
incompetência e a mentira es-
tão aí. E devem ser denuncia-
das. Não se trata, por óbvio,
de esconder a realidade. Mas
também é preciso dar o outro
lado, o lado do bem. Não deve-
mos ocultar as trevas. Mas te-
mos o dever de mostrar as lu-
zes que brilham no fim do tú-
nel. A boa notícia também é
informação. A análise objeti-
va e profunda, sem viés ideo-
lógico, é uma demanda dos lei-
tores. E, além disso, é uma res-
posta ética e editorial aos que
pretendem tornar o jornalis-
mo refém da fácil cultura do
negativismo.
Chegou a hora do jornalis-
mo propositivo e inspirador.

]
JORNALISTA. E-MAIL:
[email protected]

Fraude da Luckin Coffee
pode prejudicar outras em-
presas chinesas nos EUA.

http://www.estadao.com.br/e/bolsa

E-INVESTIDOR


‘Jeitinho brasileiro’ e álcool em gel


Diretoria já fez demissões e
adotou a redução salarial de
seus funcionários. Clube
teve receita de R$ 256,7 mi
no primeiro trimestre.

http://www.estadao.com.br/e/flamengo

l“Antes que milhões se contaminem nos ônibus e metrô, que é o que
iria acontecer se esse rodízio descabido continuasse.”
SUELI ZAGO

l“Se não criarem passes livres para profissionais essenciais ou algum
tipo de facilidade para estes se locomoverem, os rodízios não ajudarão.”
YURI BRESSLER

l“O ‘desgoverno’ concluiu, depois de dias, o óbvio que todos já sa-
biam desde o primeiro dia!”
IVAN CASTRESSE

l“Quando essa pandemia passar, poderia voltar com rodízio amplia-
do. O meio ambiente agradece.”
RENATO IGARASHI

INTERAÇÕES

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Seguindo a estratégia de pro-
dutos mais ‘acessíveis’, no-
vo tablet pode ser lançado
em 2020 custando cerca de
60% do dispositivo atual.

http://www.estadao.com.br/e/ipad

Espaço Aberto


P


or mais grave que seja a
atual pandemia, ela aca-
bará passando, como
aconteceu com outras no pas-
sado. Nenhuma, porém – nos
tempos modernos –, atingiu
tantos países e levou a uma pa-
ralisação econômica tão pro-
funda, decorrente da imposi-
ção de quarentena, que é indis-
pensável para evitar a propaga-
ção da doença.
Uma das muitas consequên-
cias desta quarentena é a redu-
ção do consumo de energia,
principalmente no setor de
transporte, que representa
mais de 25% de toda a energia
consumida no mundo.
O que aconteceu no setor
do petróleo foi o que se chama
“tempestade perfeita”. A de-
manda diminuiu justamente
na ocasião em que havia exces-
so de produção. O cartel dos
grandes produtores – princi-
palmente a Arábia Saudita e a
Rússia – não conseguiu fixar
cotas de produção, que manti-
nham o resto do mundo refém
do petróleo que produzia. O
preço do petróleo não decor-
ria dos custos de produção,
era fixado arbitrariamente pa-
ra suportar a economia dos re-
gimes políticos e sociais dos
países-membros do cartel.
Como consequência da fal-
ta de acordo dos produtores,
o preço do barril de petróleo
caiu de cerca de US$ 80 o bar-
ril para menos de US$ 20. No
mundo pós covid-19 ele dificil-
mente voltará aos níveis ante-
riores, pois grande número de
empresas e pessoas descobri-
ram que home office funciona e
o mesmo aconteceu com o en-
sino a distância, além do co-
mércio eletrônico.
A necessidade de desloca-
mentos vai se reduzir perma-
nentemente, com claros bene-
fícios para a qualidade do ar
nos grandes centros urbanos,
como as fotografias dos satéli-
tes nos mostram. Os benefí-
cios para a saúde, com a dimi-
nuição das doenças respirató-
rias, não foram quantificados
ainda, mas certamente ocor-
rerão. Além disso, as emis-
sões de gases de efeito estufa,
cuja redução já se está verifi-


cando, não voltarão aos ní-
veis anteriores, o que dará
mais tempo para a adoção de
medidas de adaptação ao
aquecimento global.
O sonho dos ambientalistas
de reduzir o consumo de pe-
tróleo parece tornar-se reali-
dade graças à covid-19.
O que não vai se reduzir,
provavelmente, é o consumo
de eletricidade, porque as ati-
vidades domésticas (incluin-
do o home office) requerem
mais eletricidade. Daí os gran-
des planos, já propostos nos
Estados Unidos, para aumen-
tar a produção de eletricidade
a partir de fontes renováveis.
Nos pacotes de recuperação
econômica que estão sendo
adotados naquele país, esse é
um ingrediente importante.
No Brasil, perderão priorida-
de as ideias de que o País pode-
ria ser um grande exportador

de petróleo, uma vez que pro-
duzi-lo do pré-sal custa muito
mais do que na Arábia Saudi-
ta. Esperar que os royalties da
produção de petróleo “sal-
vem” a economia de vários Es-
tados, como o Rio de Janeiro,
provavelmente será em vão.
Mais grave ainda, a produ-
ção de etanol da cana-de-açú-
car – com todas as vantagens
ambientais que tem – vai ser
afetada seriamente, mas tal-
vez force o setor a fazer duas
coisas que deveria ter feito no
passado e não fez:


  • Instalar grandes reservató-
    rios para estocar etanol, que
    seria, então, disponível o ano
    todo, o que permitiria fazer
    contratos para exportação de
    longo prazo, o que o setor
    nunca fez, preferindo vender
    o álcool no mercado spot.

  • Investir pesadamente em
    pesquisa para aumentar a pro-
    dutividade da cana-de-açúcar,
    que deixou de crescer há vá-
    rios anos. Essa seria a única
    forma de baixar os custos do
    etanol, que poderia, então,


competir melhor com a gasoli-
na a preços baixos.
O movimento ambiental
pós-covid-19 enfrentará tam-
bém dilemas sérios, pois a ur-
gência de atacar problemas li-
gados à saúde, como sanea-
mento básico, vai aumentar.
As preocupações com mudan-
ças climáticas – que só se con-
cretizarão a logo prazo – pare-
cerão menos prioritárias.
Diante da tragédia causada
pela covid-19 há, contudo, ex-
pectativas de importantes
modificações nas percepções
das sociedades atingidas,
com reflexos culturais e po-
líticos positivos.
Essas expectativas se ba-
seiam na condução exemplar
da crise por governantes co-
mo Angela Merkel, na Alema-
nha, que adotou políticas pú-
blicas que reduziram conside-
ravelmente o número de víti-
mas, em contraste com ou-
tros dirigentes, como o presi-
dente Donald Trump, dos Es-
tados Unidos – e seus seguido-
res, como o presidente do nos-
so país –, que minimizaram a
gravidade do problema do iso-
lamento social. Angela
Merkel percebeu o vulto do
problema antes dos outros e
preparou seu país para enfren-
tar a crise, seguindo rigorosa-
mente as estratégias recomen-
dadas por seus cientistas.
É notório que, ao enfrentar
problemas complexos, há in-
certezas e pode haver diver-
gências entre os cientistas,
mas a própria natureza do mé-
todo científico corrige esses
problemas. A experiência aca-
ba eliminando as teorias in-
corretas. Por essa razão, des-
qualificar o trabalho dos cien-
tistas e o método científico é
o pior que dirigentes obscu-
rantistas poderiam fazer no
caso da covid-19.
Um maior respeito pela
ciência e pelos cientistas pode-
rá ser uma das consequências
mais positivas da tragédia hu-
manitária da crise atual.

]
PROFESSOR EMÉRITO
E EX-REITOR DA UNIVERSIDADE
DE SÃO PAULO (USP)

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
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FUTEBOL
Flamengo teme crise
‘mais longa e severa’

Apple pode turbinar
iPad mais barato

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]
José Goldemberg


Tema do dia


Paralisação e possíveis jogos
sem público fazem a bebida
ficar fora da validade.
http://www.estadao.com.br/e/cerveja

Energia e meio ambiente


após a covid-


Maior respeito pela
ciência pode ser uma
das consequências mais
positivas desta tragédia

Jornalismo propositivo


e inspirador


Precisamos fazer
autocrítica, dinamitar
antigos processos
e modelos mentais

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
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SÁBADO) E R$ 7,00 (DOMINGO). RJ, MG, PR, SC E DF:
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CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
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PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


SP retoma rodízio


‘tradicional’ e tentará


antecipar feriados


Medidas foram anunciadas pelo prefeito
Bruno Covas para manter população
dentro de casa durante pandemia

]
Carlos Alberto Di Franco

GIL FERREIRA/AGÊNCIA CNJ TABLET

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Starbucks chinesa
pode gerar crise

LONDRES

Estádios ingleses vão
jogar cerveja fora
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