O Estado de São Paulo (2020-05-18)

(Antfer) #1

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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 18 DE MAIO DE 2020 Economia B7


E


m abril, a indústria automobilística nacional produ-
ziu pouco menos de dois mil veículos. A produção
mensal correspondeu a menos de um dia de produ-
ção de uma planta da Fiat em Minas Gerais. Foi o desem-
penho mais fraco desde a chegada da indústria automobi-
lística ao País, em 1957.
A explicação deste número é o coronavírus e o fecha-
mento quase que completo da economia. O que significa
dizer que, em maio, a situação não deve mudar muito e,
provavelmente, nos próximos meses também não.
Há quem veja na pandemia uma razão para as segurado-
ras aumentarem seus lucros. É uma ideia equivocada. O
Brasil tem mais de cem seguradoras. Se dividirmos o total
de veículos novos produzidos em abril linearmente entre
elas, cada uma teria menos de vinte seguros novos. Mas,
como no mundo real é diferente, algumas com certeza
não fizeram um único seguro novo e a que segurou mais
não fez setecentas apólices.
De outro lado, as seguradoras têm seus colaboradores,
corretores e impostos a pagar. Alguém imagina que dois
mil seguros novos são suficientes? Numa conta simples,
esses seguros totalizariam no máximo R$ 10 milhões. Pa-
ra dar uma ideia de quanto isso não é nada, uma única se-
guradora faturou em 2019 mais de R$ 15 bilhões. A conta
simplesmente não vai fechar.
A situação é tão ruim que algumas companhias já estão
pensando seriamente em deixar de operar com seguros
de veículos. O problema é que os demais ramos também
não estão tendo um desempenho vagamente medíocre.
Além de não estarem contratando seguros novos, os segu-
rados estão deixando de pagar suas apólices. Quer dizer,
o faturamento está colapsando e, ainda que a crise tenha
reduzido os acidentes de trânsito, os outros ramos conti-
nuam tendo sinistros, até porque, com as dificuldades eco-
nômicas, aumenta o número de tentativas de fraude con-
tra o seguro.
Como o cidadão não tem de onde tirar recursos, nem
consegue vender patrimônio para fazer frente a seus com-
promissos, ele simula um sinistro, seja lá do ramo que
for, veículo, incêndio, roubo, etc., e cobra a indenização
da seguradora.
Uma parte dessas fraudes é identificada e a seguradora
não indeniza, mas algumas passam e a indenização é pa-
ga, em detrimento dos segurados honestos que, na renova-
ção de suas apólices, terão o aumento de preço conse-
quente do pagamento das indenizações indevidas.
Um exemplo de como isso funciona pode ser visto em
informações dadas por duas das principais empresas de
recuperação de veículos roubados ou furtados. Segundo
uma, 85% dos veículos furtados não recuperados foram
fraudes para receber a indenização do seguro. E a outra
informa que, se é verdade que o número de roubos de veí-
culos caiu em função da crise, também é verdade que hou-
ve o aumento significativo dos avisos de furto de veículos
estacionados, quer dizer, sem ameaça ou violência contra
o segurado. Esses avisos, tradicionalmente, desde as cri-
ses econômicas do século passado, indicam o aumento
indiscutível das tentativas de fraude contra o seguro.
É importante frisar que, durante as últimas décadas, o
seguro de veículos sempre esteve entre as principais car-
teiras de seguros brasileiras. Aliás, nada que não aconteça
no mundo. Afinal, boa parte da economia internacional,
desde a primeira metade do século vinte, gira em torno
da indústria automobilística, cuja cadeia de produção é
muito mais ampla do que seu final, onde estão as monta-
doras.
Num cenário onde o governo informa que reviu suas
projeções e que teremos uma recessão de mais de 4,5%
em 2020, não há como as seguradoras terem um ano posi-
tivo. Boa parte delas ainda tem o seguro de veículos como
um de seus principais produtos e, levando em conta a pro-
dução de abril, não é por aí que ganharão dinheiro.
Para piorar, a nova onda de desemprego compromete o
faturamento dos seguros de vida e dos planos de saúde
privados, já seriamente afetados pela pandemia do coro-
navírus. E, para completar, o governo quer criar uma mo-
ratória para o pagamento dos prêmios. Decididamente,
2020 vai ser muito complicado para o setor de seguros.

]
SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E
SECRETÁRIO-GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

Mateus Apud
Thiago Lasco

O pedido de demissão de Nel-
son Teich do cargo de ministro
da Saúde, na manhã da última
sexta-feira, não chegou a ser
uma surpresa. Ele não se mos-
trou disposto a ceder à pressão
do presidente Jair Bolsonaro
em dois aspectos importantes
envolvendo a pandemia do co-
ronavírus: o uso da cloroquina
no tratamento de pacientes
com a Covid-19 e o relaxamento
das medidas de isolamento so-
cial, que tentam conter a disse-
minação do vírus.
“O mercado financeiro já to-
mou isso como dado: o próxi-
mo ministro da Saúde será ali-
nhado à visão de Bolsonaro, que
ignora completamente a ciên-
cia”, afirma Solange Srour, eco-
nomista-chefe da ARX Investi-
mentos. “E isso vem no pior mo-
mento da pandemia no País,
com expectativa de que o núme-
ro de mortos suba muito nos
próximos dias.”
Na opinião de Rafael Pa-
nonko, chefe de análises da To-
ro Investimentos, a instabilida-
de política é ainda mais preocu-
pante para o mercado do que a
posição adotada pelo próximo
ministro da Saúde. Ele critica a
falta de alinhamento e comuni-
cação do presidente com seus
ministros, o Legislativo, os Esta-
dos e municípios. “Isso atrasa a
recuperação, as coisas ficam pa-
ra o ano que vem. E isso tem um
custo. O crescimento torna-se
pífio, muito abaixo do espera-
do”, comenta ele.
Como consequência, o inves-
tidor reage com desconfiança –
sendo que o estrangeiro passa a
preferir direcionar o seu dinhei-
ro para outros países – e a Bolsa
entra no que Panonko chama
de “zona de congestão”.
A saída de Teich marca a nona
baixa de um ministro no gover-
no Bolsonaro e a terceira após o
início da pandemia do coronaví-

rus. Antes dele, Luiz Henrique
Mandetta, que também ocupa-
va a cadeira da Saúde, e Sérgio
Moro, que estava no Ministério
da Justiça e da Segurança Públi-
ca, divergiram do presidente e
deixaram o cargo.
Agora, o que continua preocu-
pando os principais agentes do
mercado financeiro é o futuro
de Paulo Guedes, ministro da
Economia.
“Não existe hoje outra pes-
soa ou entidade que possa fazer
o trabalho dele: alguém do Con-
gresso mais alinhado com o pre-
sidente, ou um cara forte no Se-
nado que puxasse votos para a
aprovação das reformas. Quem
pode manter as reformas em
pauta é apenas o Paulo Gue-
des”, diz Rodrigo Franchini, só-
cio da Monte Bravo. “Sem ele,
Bolsonaro pode querer dar uma
guinada populista para tentar
se reeleger.”
Fernando Borges, gestor de
ações da Garde Investimentos,
compartilha a mesma opinião.
“Bolsonaro está vivendo aquele
‘momento Dilma’, quando ela
se viu obrigada a mudar o rumo
do governo para permanecer
no poder”, compara ele. “Que
ele faça um ajuste em menor es-
cala, então. Mas não vá em dire-
ção à expansão fiscal.”

Na cabeça do gestor. Para sen-
tir os temores dos principais
gestores do País, o Bradesco
BBI tem feito periódicas consul-
tas neste período de pandemia.
Durante os dias 4 e 5 de maio,
101 representantes das princi-
pais casas de gestão de recursos
do Brasil avaliaram as perspecti-
vas para os mercados e a econo-
mia do País. Esse foi o terceiro
levantamento da instituição
desde que a pandemia come-
çou. Os anteriores foram feitos
em março e abril.
Nesta nova pesquisa, o Bra-
desco BBI verificou que a saída
de Paulo Guedes do governo é o
principal risco que o País corre,

na visão dos agentes do merca-
do financeiro. Além disso, hou-
ve uma nítida piora na avaliação
sobre o tempo necessário para a
volta à normalidade e, conse-
quentemente, sobre o desempe-
nho esperado da economia.
O E-Investidor listou as prin-
cipais conclusões que o Brades-
co BBI fez com base nas respos-
tas das gestoras:

Principal risco. Segundo o le-
vantamento, o principal risco
que os gestores enxergam para
o País no momento é o ministro
da Economia sair do governo
(40,6%). Em seguida, estão a se-
gunda onda da Covid-19
(34,7%) e a falência das empre-
sas brasileiras (14,9%).
Sobre a probabilidade de
Guedes deixar o cargo, 41,6%
acreditam que há entre 10% e
30% de chances. Outros 24,8%
responderam que essa possibili-
dade está entre 30% e 50%, en-
quanto 14,9% apontaram entre
50% e 70%.

Demora na retomada. Há tam-
bém uma nova avaliação sobre
a retomada da economia. No le-
vantamento feito há um mês,
16% dos consultados acredita-
vam que as atividades volta-

riam ao normal até o fim
de maio e 56% somente de
julho em diante.
Agora, ninguém espera
que isso ocorra até o fim
de maio: 68% creem que
ocorra no terceiro trimes-
tre do ano e 24% somente
depois de setembro.

Dólar alto. Na primeira
enquete, 30,7% dos gesto-
res acreditavam que o va-
lor da moeda americana
no final do ano seria entre
R$ 4,91 e R$ 5,10 ou acima
de R$ 5,10.
Agora, 40% deles acredi-
tam que a cotação será aci-
ma de R$ 5,30 no final des-
te ano, 27% entre R$ 5,10 e
R$ 5,30 e 23% entre R$ 4,91
e R$ 5,10.
Há um mês, o valor espe-
rado para a moeda ameri-
cana era de R$ 5 no final de


  1. A cotação atual é de
    R$ 5,86.


Varejo em alta. Segundo
dados da enquete de abril,
o top 3 de setores que os
gestores comprariam pa-
ra adicionar ao seu portfó-
lio seriam o elétrico
(20,2%), o de bancos
(20,2%) e o do varejo
(16%).
Na pesquisa do mês de
maio, o top 3 continua o
mesmo, mas em ordem di-
ferente. Segundo os da-
dos, agora os gestores têm
preferência para adicio-
nar ao seus portfólios
ações de empresas do se-
tor de varejo (20,2%), ban-
cos (18,2%) e elétrico
(15,2%).

Fugindo do risco. Os da-
dos do segundo levanta-
mento mostraram que
65,3% dos gestores respon-
deram “não” quando per-
guntados se pretendiam
aumentar o beta (maior
risco para buscar mais re-
torno) do seu portfólio
nos próximos dez dias. Já
na terceiro, 80,08% res-
ponderam que “não” têm
a intenção de aumentar o
beta do seu portfólio nos
próximos 30 dias.

Ofertas secundárias. Per-
guntados na pesquisa do
Bradesco BBI se teriam in-
teresse em participar de
ofertas secundárias de
ações e de quais setores,
40% dos gestores respon-
deram que estão de portas
abertas para a área da saú-
de. Na sequência, 37,9% in-
dicaram preferência pelo
varejo.

Ameaças


ao seguro


lInsegurança

l]
ANTONIO PENTEADO
MENDONÇA

GABRIELA BILO / ESTADAO–18/12/2019

Saída de Guedes é


o maior temor do


mercado financeiro


“Não existe hoje outra
pessoa ou entidade que
possa fazer o trabalho dele.
Quem pode manter as
reformas em pauta é apenas
o Paulo Guedes.”
Rodrigo Franchini
SÓCIO DA MONTE BRAVO

“Isso (falta de alinhamento)
atrasa a recuperação, as
coisas ficam para o ano que
vem. E isso tem um custo. O
crescimento torna-se pífio,
muito abaixo do esperado.”
Rafael Panonko
CHEFE DE ANÁLISES DA TORO

Nova troca na Saúde joga os holofotes para a crise política e


gestores se preocupam com o ministro da Economia


Futuro incerto. Para gestor, sem Guedes, Bolsonaro pode querer dar uma guinada populista para tentar se reeleger

Artigo


mercados


US$ 1/NY1 Euro/EuropaLondres1 Libra/ BrasilR$ 1/
Dólar americano 1,000 1,0819 1,2103 0,1708
Euro 0,924 1,0000 1,1187 0,1579
Franco suíço 0,972 1,0516 1,1764 0,1660
Libra esterlina 0,826 0,8939 1,0000 0,1411
Iene 107,168 115,9465129,7040 18,3070

Venc. Aju. C. Abe. Min. Máx.Var.%
Açúcar NY*JUL/20 10,38 337.770 10,29 10,68 -0,76
Café NY* JUL/20 106,85 80.055 106,55 109,15 0,14
Soja CBOT**JUL/20 8,39 324.272 8,3658,430 0,18
Milho CBOT**SET/20 3,230253.634 3,210 3,2430,31

AS MOEDAS NA VERTICAL:VALOR DE COMPRA SOBRE AS DEMAIS FONTE: IDC

Trabalhador assalariado e doméstica*
SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO ALÍQUOTA
Até R$ 1.045,00 7,5%
De 1.045,01 até R$ 2.089,60 9%
De R$ 2.089,61 até R$ 3.134,40 12%
De R$ 3.134,41 até R$ 6.101,061 14%

Maiores altas do Ibovespa INSS - Competência (Maio)
R$ Var. % Neg.
SMILES ON NM 12,03 10,16 7.715
CIA HERING ON NM 11,97 7,84 31.173
BRASKEM PNA N1 23,44 5,73 33.603


Maiores baixas do Ibovespa
P.ACUCAR-CBDON NM 55,15 -7,93 16.650
CYRELA REALTON NM 12,65 -7,19 40.660
GERDAU PN N1 10,92 -6,98 39.105


No mundo Pontos Dia%Mês% Ano%

(^1) Nova York DJIA 23.685,42 0,25 -2,71-17,01
(^1) Frankfurt - DAX 10.465,17 1,24 -3,65-21,01
(^1) Londres - FTSE 5.799,77 1,01 -1,72-23,10
(^1) Tóquio - NIKKEI 20.037,47 0,62 -0,77 -15,30
IBOVESPA: 77.556,62 PONTOS 1 DIA -1,84 (%) MÊS -3,66 (%) ANO -32,94 (%)
Tesouro Direto ()
Venda Dia % Mês % Ano %
Dólar Comercial 5,8390 0,34 7,36 45,55
Dólar Turismo 5,9830 0,34 7,16 43,82
Euro 6,3150 0,51 6,01 40,52
Ouro 330,501 0,16 11,88 63,09
WTI US$/barril 29,7900 6,55 56,38 -51,44
IBrentUS$/barril 32,8800 1,42 23,56 -50,18
IGP-M (FGV) 1,0668 IPCA (IBGE)1,0240
IGP-DI (FGV) 1,0610 INPC (IBGE)1,0246
IPC-FIPE 1,0261 ICV-DIEESE -
FATORES VÁLIDOS PARA CONTRATOS CUJO ÚLTIMO REAJUSTE OCOR-
REU HÁ UM ANO. MULTIPLIQUE O VALOR PELO FATOR
DATA TAXA ANOTAXA DIA MÊS% ANO%
CDB (20/31) 2,81 -0,35 -11,08 -36,28
CDI 2,90 0,00 -20,55 -34,09
TR/TBF/Poupança/Poupança Selic (%) CDB - CDI
12/5 a 12/6 0,0000 0,2241 0,5000 0,1733
13/5 a 13/6 0,0000 0,2250 0,5000 0,1733
14/5 a 14/6 0,0000 0,2160 0,5000 0,1733
Índice Março Abril No ano12 Meses
INPC (IBGE) 0,18 -0,23 0,31 2,46
IGPM (FGV) 1,24 0,80 2,50 6,68
IGP-DI (FGV) 1,64 0,05 1,80 6,10
IPC (FIPE) 0,10 -0,30 0,19 2,61
IPCA (IBGE) 0,07 -0,31 0,22 2,40
CUB (Sinduscon) 0,09 -0,41 0,02 3,07
FIPEZAP-SP (FIPE) 0,29 0,21 0,99 2,26
Inflação (%) Moedas e Commodities
AUTÔNOMO (BASE EM R$) ALÍQUOTA A PAGAR (R$)
De 1.039,00 a 6.101,06 20% De 207,80 a 1.220,21
Vencimento 7/6. O porcentual de multa a ser aplicado fica
limitado a 20%, mais taxa Selic.
Agrícolas - Mercado Futuro
VENCIMENTO (
)ANO (%) R$
Tesouro IPCA 15/8/2026 3,53 2.658,71
15/5/2035 4,56 1.695,30
Com Juros Semestrais 15/8/2030 4,12 3.857,14
Tesouro Prefixado 1º/1/2023 4,77 884,94
1º/1/2026 7,36 670,76
Tesouro Selic 1º/3/2025 0,0310.605,77
()TÍTULOS A VENDA
VALORES DE MERCADO REFERENTES AO PREGÃO DE 15/05/2020
Agrícolas - Mercado Físico
Índices de reajuste do aluguel (Maio)
(
) Em cents por libra-peso (**) Em US$ por bushel
Soja Ult. Var. (%)Var. 1 ano(%)
CEPEA/ESALQ, R$/sc 60 kg 115,83 -0,37 47,93
Boi
CEPEA/ESALQ, R$/@ 194,90 -2,23 25,82
Milho
CEPEA/ESALQ, R$/sc 60 kg 50,57 -0,07 50,33
Café
CEPEA/ESALQ, R$/sc 60 kg 593,87 0,85 54,62

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