O Estado de São Paulo (2020-05-18)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:C-5:20200518:
O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 18 DE MAIO DE 2020 Especial H5


Ana Lourenço


O confinamento por causa da
pandemia do novo coronavírus
mudou a rotina de todos nós – e
também dos nossos animais de
estimação. Passeios deixaram de
ser frequentes, mas, por outro la-
do, passamos mais tempo em ca-
sa. Como tirar o melhor proveito
de tantas mudanças – e, princi-


palmente, como se readaptar
quando nossas rotinas muda-
rem novamente (esperamos
que), em breve?
Para responder a essas ques-
tões, o Estadão conversou com
Alexandre Rossi, médico veteri-
nário e especialista em compor-
tamento animal, dono de dois
cães (o Barthô e a Estopinha) e
da gata Miah. Tanto em seu pro-
grama Missão Pet, no canal por as-
sinatura NatGeo, quanto no site
da sua empresa Cão Cidadão
(caocidadao.com.br), ele vem

dando dicas e sugestões para li-
dar com os pets durante a quaren-
tena – no site, é possível agendar
uma consulta gratuita com um
adestrador. Confira.

Passeios e confinamento. Se-
gundo Alexandre, os cachorros,
principalmente, tendem a ficar
mais ativos e excitados com a fa-
mília em casa. É importante subs-
tituir os passeios diários por ou-
tro tipo de atividade física – ele
recomenda, por exemplo, encon-
trar maneiras de estimular a caça

à comida, em vez de apenas ofere-
cer o alimento ao animal no pote,
seja escondendo pela casa ou co-
locando em brinquedos, para es-
timular a atividade.
No entanto, ele explica que a
energia gasta não é a mesma. “O
passeio é um dos momentos
mais prazerosos para os cães. Ele
faz exercício, é uma companhia
agradável com o tutor, tem chei-
ros e estímulos visuais, cogniti-
vos, táteis...”, conta.
Sobre os animais acostuma-
dos a fazer necessidades fora de
casa, ele recomenda cautela, já
que alguns cães podem ter pro-
blemas de saúde por segurar de-
mais a urina e as fezes. “É impor-
tante que esses cachorros saiam
para passear. Ou tem que arran-
jar alguém que possa ajudar, ou
procurar os horários mais vazios
para sair...”, instrui. Treinar um
animal que está habituado a sair
para fazer xixi e cocô para fazer
dentro de casa não é tão simples,
segundo ele. “Esse treino envol-
ve você acostumar o cachorro
com substratos que vai usar em
casa: levar o tapete higiênico, o
jornal, etc. E, aos poucos vai tra-

zendo para a casa.”

Treinamento. Com os donos
passando mais tempo dentro de
casa, seria a quarentena um bom
momento para começar a trei-
nar os bichos? Alexandre acredi-
ta que sim. “É uma oportunidade
que as pessoas têm para curtir
mais o cão”, diz. “Nada melhor
do que a supervisão para você
educar e estimular bons compor-
tamentos, inibir
comportamen-
tos que não são
desejados.”
Ele recomen-
da, no entanto,
que os tutores
prestem aten-
ção à alimenta-
ção e não exagerem nas recom-
pensas. “Você tem que calcular
quanto o animal vai comer duran-
te o dia e usar aquele tanto”, diz.
Outro ponto importante é em re-
lação aos treinamentos repetiti-
vos, que podem criar impactos
musculares e ósseos no animal.

Rotina no home office. Duran-
te a quarentena, a divisão de tem-

po é um desafio, inclusive para os
animais. Como ensinar que esta-
mos trabalhando e não é hora de
brincar? Para Alexandre, o ideal é
oferecer atividades para o ani-
mal se entreter e gastar energia
por conta própria. “É importan-
te fazer isso antes de o problema
acontecer, porque as pessoas cos-
tumam fazer o oposto: elas vão
lembrar das dicas quando come-
çar a reunião e o cachorro não
estiver parando quieto”, afirma.
“Isso ensina o cachorro de que,
quando tem reunião, basta ele te
incomodar que ele vai conseguir
os brinquedos mais legais.”
Alexandre recomenda simular
reuniões e criar estratégias. “Dei-
xa o animal perceber que quando
você está sentado, de frente para
o computador, você não vai fazer
muitas coisas”, sugere. “Minha
gatinha fica passeando no tecla-
do. Então, chega uma hora que
eu tenho que colocar limite. Um
truque é colocar uma fita dupla
face em cima da bancada. Isso
faz ela parar na hora, porque ela
sabe que eu vou colocar aquela
fitinha e vai grudar a pata dela
um pouquinho e ela não vai gos-
tar. Então só de pegar e colocar
em cima o rolinho, ela para.”

Comportamentos atípicos. Du-
rante o isolamento, algumas ca-
sas adotaram novas dinâmicas: fi-
lhos voltaram para a casa dos
pais, namorados que decidiram
passar a quarentena juntos... E
os animais também sentem es-
sas mudanças. “De uma maneira
geral, os cachorros estão mais fe-
lizes com toda a movimentação
da casa do que os gatos. Tem ga-
tos que não ficam tão bem quan-
do a casa está cheia, especialmen-
te se for de estranhos”, explica.
Já os cachorros, segundo ele,
podem ficar mais excitados e an-
siosos. “Ele (o cachorro) fica com
uma ansiedade que predispõe a
compulsão, e essa compulsão po-
de ser de buscar atenção a toda
hora, latir demais, correr atrás
do rabo, lam-
ber a pata.”
Mas o do-
no também
pode contri-
buir para es-
se comporta-
mento atípi-
co, já que o
animal sente a energia do dono.
“Os cachorros conseguem obser-
var mudanças sutis de cheiros,
de comportamentos e até de mi-
croexpressões faciais”, conta Ale-
xandre. “Quanto mais convívio
o animal tem, mais ele presta
atenção na gente. Se estamos pas-
sando por um momento difícil,
estamos com medo, isso pode
afetá-lo, sim.”

Sextou!


‘É IMPORTANTE
SUBSTITUIR OS PASSEIOS
DIÁRIOS POR OUTRA
ATIVIDADE FÍSICA’

Luiz Carlos Merten


Houve um momento, nos anos
1980, em que o alemão Wim
Wenders parecia representar o
que de melhor e mais avançado
havia no cinema mundial. Fil-
mes como Paris Texas, Tokyo-


Ga e Asas do Desejo, num perío-
do até curto, entre 1984 e 87, pa-
receram englobar tudo o que
ele já vinha construindo desde

os curtas dos anos 1960. Paris
Texas passa nesta segunda, 18,
às 23 h, no Arte 1.
Wenders ou a (pós) moderni-
dade. Estradas, seres solitários,
dificuldade de comunicação.
Ulisses volta para casa, mas Pe-
nélope não esperou por ele.
Harry Dean Stanton faz o Ulis-
ses moderno de Wenders em
Paris Texas, como Michel Picco-
li foi o de Jean-Luc Godard em
O Desprezo, de 1963. Com o filho


  • Telêmaco? –, Travis, é seu no-
    me, atravessa o deserto em bus-
    ca da mulher. É um resto de ho-
    mem. Encontra Nastassia


Kinsky num peep show.
Degradação e reconstru-
ção dos mitos clássicos. Tra-
vis reaproxima mãe e filho,
mas isso não aplaca seus de-
mônios. Com o roteiro de
Sam Shepard e L.M. Kit Car-
son, a fotografia de Robby
Müller e a trilha com o solo de
guitarra de Ry Cooder, Paris
Texas ganhou a Palma de Ou-
ro em 1984, outorgada pelo
júri presidido por Dirk Bogar-
de e integrado, olhem só, por
Isabelle Huppert, Stanley Do-
nen, Ennio Morricone, Jorge
Semprun e Michel Deville.

Sem intervalo


C


oronavírus, isolamento so-
cial, álcool em gel e máscara.
Salários reduzidos, trabalhos
cancelados e reservas financeiras sen-
do consumidas. Noticiários com nú-
meros de mortes, contaminados e re-
ceio iminente de lockdown. Sauda-
des do ontem, medo do agora e dúvi-
das sobre o amanhã. Tudo junto e mis-
turado: é o que temos para hoje.
O coração dispara, o músculo ten-
siona e a pupila dilata. Grande parte

das pessoas no mundo está sentindo
neste período da quarentena sintomas
relacionados à angústia e ansiedade.
Mas, no meio disso tudo, vem aquele
rabo abanando, o olhar que acalma e o
amor incondicional que só um pet pode
dar. Você sabia que nossos cães e gatos
são um grande suporte emocional? E is-
so não é mero relato do que vivo com a
Ella (minha sharpei-filha). Estudos cien-
tíficos mostram que os bichinhos de esti-
mação amenizam a sensação de solidão

e depressão. Em contato com os ani-
mais, nosso organismo produz hormô-
nios como a ocitocina, prolactina e sero-
tonina. A consequência? Nosso humor
melhora e, consequentemente, ficamos
mais felizes. E tem mais: os pets são res-
ponsáveis por reduzir o nível de cortisol
que causa o estresse.
A psicóloga Juliana Bastos, especiali-
zada em terapia cognitiva e comporta-
mental, mestre em educação pela Uni-
versidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF), ressalta que a vivência com os
animais reduz dores, aumenta a imuni-
dade e a atividade cerebral e potenciali-
za emoções positivas. “A literatura cien-
tífica reconhece que a presença dos pets
é uma terapêutica não farmacológica
muito eficaz, pois eles nos ajudam a ca-
nalizar nossas emoções e dar um senti-

do para nossas vidas”, diz a pedagoga,
que também é “mãe da pet” Maria
Flor.
Mesmo antes de estar ciente da
comprovação científica, eu já descon-
fiava do poder curativo e calmante da
Ella. Sinto paz ao seu lado. Desenvol-
vemos uma parceria e cumplicidade
impressionantes. Se ela não pode ir à
um programa, perco a vontade. Sim-
plesmente, não vejo sentido.
Isso me fez lembrar do nosso réveil-
lon. Deixei de ir à uma festa porque
pets não eram permitidos. Ficamos,
eu e a Ella, em casa vendo um filmi-
nho. Na virada a abracei, dei um beijo
e disse: quem sabe ano que vem, Elli-
nha? Quando o mundo entender que
os pets só fazem bem e merecem es-
tar em todos os locais com a gente.

Alexandre Rossi dá dicas para deixar a mudança de rotina


imposta pelo confinamento mais divertida para donos e pets


ANIMAL


Rampage: Destruição Total
(EUA, 2018). Dir. de Brad Peyton, com Dway-
ne Johnson, Naomie Harris, Malin Ackerman,
Jeffrey Dean Morgan

Desde que deixou de ser The
Rock, Dwayne Johnson inves-
tiu numa linha de herói de ação
com humor. Um brutamontes
com ternura. Aqui, experimen-
tos clandestinos transformam
primata albino que é o dodói de
Dwayne num monstro destrui-
dor. E ele tem de salvar a cidade,
o gorilão e, claro, conquistar a
mocinha. É o oposto do Wim
Wenders aí do lado. Nada faz
sentido, mas diverte. / L.C.M.

GLOBO, 22H36, COL., 115 MIN.

Guia pet friendly*


QUARENTENA


DIEGO VEIGA

‘Equipe’.
Alexandre
Rossi com
Estopinha e
Barthô

‘Paris, Texas’


e os mitos


degradados e


reconstruídos


DESTAQUE
WARNER

Filmes na TV


CRIS BERGER
GUIAPETFRIENDLY.COM.BR

l]


CRIS BERGER/GUIA PET FRIENDLY

Nossos pets fazem


bem à saúde

Free download pdf