O Estado de São Paulo (2020-05-18)

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H6 Especial SEGUNDA-FEIRA, 18 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


José Antonio Leme


Motor dianteiro, central ou tra-
seiro? Transversal ou longitudi-
nal? Ao contrário de certos
itens que têm lugar fixo no auto-
móvel (caso dos faróis sempre
na dianteira e do volante à fren-
te do motorista), a posição do
motor pode variar, dependen-
do da finalidade do veículo. E
cada escolha implica perdas e
ganhos.
Atualmente, a maioria dos
carros têm motor dianteiro, na
posição transversal. É na frente
também que se encontra a tra-
ção, facilitando (e “encurtan-
do”) o trajeto entre a geração de
força e as rodas.
Com o motor “atravessado”
sob o capô, ele ocupa menos es-
paço e permite redução do ta-
manho do veículo. Menos espa-
ço para a máquina, mais espaço
para as pessoas, que é o que im-
porta. Um dos primeiros carros
do mundo a utilizar a fórmula
foi o inglês Mini, em 1959.
A maior parte dos carros com
motor transversal tem quatro
cilindros. Mas uma das tendên-
cias atuais é o emprego de moto-
res compactos de apenas três ci-
lindros, que equipam as novas
gerações de automóveis 1.0.
Mas há também alguns (pou-
cos) exemplos de motores dian-
teiros transversais de cinco ci-
lindros em linha e também V6.
É o caso, por exemplo, do pro-
pulsor VR6 da Volkswagen. No
passado, ele equipou modelos
como o Passat.
Motores dianteiros de três ou
quatro cilindros normalmente
destinam-se a automóveis de
produção em massa. São os
mais baratos e também costu-
mam ser os mais econômicos.
Uma das desvantagens desse
tipo de opção é a tendência ao
subesterço. Ao entrar rápido de-
mais em uma curva, a frente po-
de não respeitar a trajetória de-
sejada pelo motorista e conti-
nuar em linha reta. Isso deve-se
ao fato de concentração de peso
na frente do carro.


Dianteiro longitudinal. Nesse
caso, o motor fica no mesmo
sentido do comprimento do veí-
culo, e não de lado. Isso implica
uma readequação também do
câmbio. Enquanto no motor
transversal ele é acoplado na la-
teral do carro, no longitudinal
ele fica centralizado, e pode in-
vadir a cabine. Isso exige um tú-
nel central maior e mais largo, o
que rouba espaço interno, ou
obriga a um aumento nas di-
mensões do automóvel.
Geralmente, motor longitudi-
nal na dianteira está associado a
tração traseira ou integral (nas
quatro rodas). Essa opção é co-
mum em automóveis maiores,
que utilizam propulsores de
seis ou mais cilindros.
Mas a receita foi utilizada por
muito tempo pela Volkswagen
na linha Gol e no Santana, por
exemplo. No hatch, isso só mu-
dou a partir de 2008, quando a
montadora trocou a plataforma
arcaica do carro por uma base
mais moderna, derivada da utili-
zada no Polo.
Em modelos de maior cilin-


drada com tendência esportiva,
a receita tende a resultar em au-
tomóveis de boa dirigibilidade.
Isso porque o eixo dianteiro fi-
ca apenas com a função de ester-
çar o carro, enquanto as rodas
traseiras empurram o veículo.
O problema é que o consumo
costuma ser maior, já que há
perdas no caminho entre o pro-
pulsor e as rodas traseiras.

Central. É a posição preferida
nos projetos esportivos. O mo-
tor central favorece a distribui-

ção de peso, que fica centraliza-
do no automóvel. E isso se refle-
te em melhor dirigibilidade.
Porém, é um tipo de aplica-
ção que sacrifica o espaço inter-
no e praticamente elimina a pos-
sibilidade de existência de ban-
cos traseiros. Assim, geralmen-
te projetos com essa configura-
ção têm dois luga-
res e motores
com no mínimo
seis cilindros, po-
dendo a chegar a
16, como no caso
do W16 do Bugat-
ti Veyron.
Outros exem-
plos de automóveis que empre-
gam esse tipo de configuração
são Porsche Cayman, Ferrari
F8 Tributo, Audi R8, Ford GT e
Lamborghini Huracán. Boa par-
te dos fabricantes costuma dei-
xar o motor visível, sob uma
tampa transparente.
Graças a esse tipo de localiza-
ção do motor, esses esportivos
costumam ser ágeis em curvas e
entregam boa tração em acelera-
ções. Uma desvantagem é a ma-
nutenção. Geralmente, depen-
dendo do trabalho a ser realiza-
do, é preciso desmontar toda a
parte de trás do carro.

Traseiro. Esse tipo de aplica-
ção ainda resiste bravamente
no Porsche 911. Conceito utili-
zado desde a primeira geração
do esportivo, consiste na insta-
lação do motor de cilindros
opostos atrás do eixo traseiro.
Essa posição deixa praticamen-
te todo o peso do trem de força
localizado na ex-
tremidade trasei-
ra do veículo. Is-
so garante mais
tração na hora de
acelerar.
Outros mode-
los que fizeram
história com mo-
tor traseiro são o Volkswagen
Fusca, a primeira geração do
Fiat 500 e o Smart ForTwo.
O Porsche 911 prova na práti-
ca como a tração traseira é óti-
ma para ajudar na aceleração.
Afinal, o peso naquela posição
faz o carro oferecer melhor tra-
ção. O lado negativo é a tendên-
cia excessiva ao sobresterço. Es-
pecialmente sob baixa aderên-
cia, o carro pode perder a estabi-
lidade e derrapar de traseira,
com risco de acidente. Porém, o
auxílio da eletrônica e a adoção
da tração integral têm ajudado
a manter o carro sob controle.

Crônicas de SP*


JornaldoCarro


O


meu primeiro reflexo ao
acordar é pegar o celular e
procurar as notificações
dos sites de notícia. A esperança é a
de me deparar com a manchete defi-
nitiva sobre uma vacina ou um re-
médio eficaz contra a covid-19. Es-
se dia vai ser louco...
Vou pular da cama, abrir a janela e
gritar: “Quem diria, mel com limão!
Mel com limão!”
Na minha fantasia, a saída para
pandemia seria algo prosaico e aces-
sível, como mel com limão, suco de
tomate temperado com Tabasco ou
gim-tônica. Algo que eu poderia re-
solver abrindo a geladeira de casa.

Nesse dia, vou tomar o banho mais
demorado da vida, soltar a voz no chu-
veiro e desfilar um repertório vasto,
que deve abraçar de Frank Sinatra a
Zeca Pagodinho. Vou fazer a barba
com esmero e me achar jeitoso. Vou
usar uma roupa de festa. Tipo
smoking ou fraque. Como não sei a
diferença entre eles, e a ilusão é mi-
nha, vou de fraque.
Antes de sair de casa, vou tomar o
café da manhã dos campeões, um café
da manhã tão, tão, TÃO, que em algu-
mas culturas ele seria chamado de
“breakfast”.
No Estadão, uma matéria incrível
da Fabi (Fabiana Cambricoli) vai expli-

car como a vacina ou o remédio ou ain-
da o mel com limão nos livrou da pande-
mia e do distanciamento social. De-
pois, vou ligar a televisão para assistir a
Aline Midlej, da Globo News, abrir um
sorrisão e avisar: “Acabou, vencemos a
pandemia”.
E dá-lhe ouvir o Drauzio Varella,
Jean Gorinchteyn, Margareth Dalcol-
mo, Roberto Medronho e todos os
médicos, pesquisadores e especialis-
tas (que eu já enxergo como se fosse da
família) esclarecendo os detalhes des-
sa vitória da humanidade.
Sim, devidamente trajado, vou dar
um abraço no porteiro antes de sair
por aí. Mesmo já tendo feito o meu
“breakfast”, planejo entrar em cada
lanchonete e pedir a coxinha mais
amanhecida do balcão. Vai ser a coxi-
nha da vitória!
Então, vou subir a Rua Teodoro Sam-
paio e entrar em uma loja de instrumen-
tos musicais. Vou comprar uma guitar-
ra vermelha, daquele tipo que as ban-

das de metal farofa usavam nos anos


  1. E daí que eu não sei tocar?
    De fraque, com minha guitarra de-
    baixo do braço, vou seguir para a Dr.
    Arnaldo e pegar o ônibus para o traba-
    lho. Sim, o Brasilândia ou o Morro
    Grande.
    Vou curtir cada segundo de espera
    pelo busão. Não vou praguejar, não vou
    reclamar de nada. Vou esperar meu co-
    letivo como quem espera um beijo de
    olhos fechados (e todo exagero será
    perdoado durante a quarentena).
    Quando o ônibus chegar, vai ser uma
    festa. Até o cobrador estará de bom hu-
    mor – mesmo diante da impossibilida-
    de de troco para uma nota de R$ 20.
    Vou sentar na janelinha e curtir a pai-
    sagem como se fosse um turista na mi-
    nha própria cidade. Olha, a Avenida Pa-
    caembu, a Rua Monte Alegre, toda a
    Barra Funda...
    Já posso sentir o cheiro do Rio Tietê.
    E esse cheiro é bom. Que saudade de
    sentir o fedor do Tietê!


No trabalho, vou exibir minha gui-
tarra vermelha, abraçar os colegas e
contar um monte de lorotas sobre
minha vida na quarentena. Vai ser
lindo.
Sobre o que vou fazer na minha
primeira noite depois do fim do con-
finamento? Bem, prefiro contar
mais tarde, vou deixar para uma ho-
ra em que nenhuma criança estiver
me lendo.
Tudo isso vai acontecer de verda-
de. Ou quase tudo. Menos a parte do
mel com limão.
A cura não será por meio do mel
com limão, do suco de tomate tem-
perado com Tabasco ou da gim-tôni-
ca. A cura virá pela ciência, pelas pes-
quisas, estudos, testes e processos
rígidos.
Por enquanto, precisamos de pa-
ciência e de sonhos loucos. O meu é
mais ou menos assim. E o seu? Co-
mo será o seu primeiro dia depois do
fim da pandemia?

DIANTEIRO,


CENTRAL OU


TRASEIRO?


À mostra. Motores centrais, como o da
Lamborghini, geralmente ficam visíveis

A posição do motor no automóvel depende de vários


fatores, e cada escolha tem vantagens e desvantagens


NA MAIORIA DOS

VEÍCULOS ATUAIS,
ELE ESTÁ NA

DIANTEIRA

O primeiro dia


depois do fim


GILBERTO AMENDOLA

l]


CELSO JUNIOR/ESTADÃO

MINI/DIVULGAÇÃO

Extremos. Mini (acima) foi um dos pioneiros no uso do motor transversal dianteiro, enquanto o Porsche 911 mantém-se fiel ao conceito do propulsor traseiro

PORSCHE/DIVULGAÇÃO

Arcaico.
Até 2008, o
Gol tinha o
motor
numa
posição
que
ocupava
muito
espaço na
dianteira

LAMBORGHINI/DIVULGAÇÃO
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