oram 70,9 milímetros de água despejados pela chu-
va que caiu na região metropolitana de São Paulo en-
tre domingo e segunda-feira, 10 e 11 de março, segundo
o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da
prefeitura da capital paulista. É certamente um gran-
de volume, equivalente a 1/3 das precipitações previs-
tas para o mês inteiro, e em algumas áreas a situação
foi ainda pior: foram registrados, por exemplo, 182mm
em Santo André, 109,5mm no bairro do Jabaquara (zona sul da capital) e
103mm na Vila Prudente (zona leste). O resultado, numa metrópole com
alto grau de impermeabilização do solo, foi o previsível: transbordamen-
to de rios e córregos, vias alagadas, deslizamentos de terra, trânsito caóti-
co, severas perdas de patrimônio e, mais sério ainda, mortes – 14 pessoas
perderam a vida na região por motivos ligados aos efeitos da chuva. Em
comum, os prefeitos dos municípios mais atingidos pelo fenômeno afir-
maram que a precipitação foi “atípica”, bem acima da média, e que pouco
haveria a fazer. Talvez seja preciso lembrar a eles que ocorrências como
essa se encaixam no que os cientistas do Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas (IPCC) apresentam como características de even-
tos extremos em tempos de aquecimento global, e que, portanto, já não é
possível limitar-se a pôr a culpa em São Pedro e lavar as mãos. A tendên-
cia, com o passar do tempo, é que chuvas como essa deixem de ser tão atí-
picas – e as cidades precisam estar preparadas para resistir a elas.
O atípico
que veio para ficar
Terra em Transe
A chuva que castigou a Grande
São Paulo em março foi um novo
e impactante exemplo do que
significam eventos extremos em
tempos de mudança climática
28 MOHAMMED HUWAIS / AFP
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abril/maio 2019 Planeta
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