O aplicador da Prova Brasil, por
se tratar de um exame nacional,
deveria ser ligado a uma banca
examinadora externa, contratada
pelo Inep. Macedo diz, porém,
que muitos deles são amigos e pa-
rentes dos diretores.
Colégios municipais bem ava-
liados nas provas externas rece-
bem gratificações estaduais e fe-
derais, via Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profis-
sionais da Educação (Fundeb), daí
o intuito de manter os resultados
escolares elevados. Parte do bônus
é repassada aos professores, mas
só os da 5ª e 9ª séries são contem-
plados. Segundo o jornalista, os
docentes das demais séries que
teriam tentado denunciar a fraude
foram acuados pelos diretores.
Um professor municipal afirma
que viu alunos de séries adianta-
das – alguns de colégios privados
- substituírem os de baixo desem-
penho na 5ª série. Segundo ele, há
uma divisão nas salas entre estu-
dantes “adequados”, “médios” e
“críticos”, e muitos desses últimos
são dispensados no dia da aplica-
ção das provas externas.
O esquema teria começado
em 2013, numa das escolas bem
ranqueadas no Ideb, e foi copia-
do em outros colégios locais. Só
em 2018, por sugestão do Minis-
tério Público do Estado do Ceará
(MPCE), a banca examinadora do
Spaece, contratada pela Secreta-
ria Estadual de Educação, passou
a exigir foto dos alunos.
Laudos médicos
Há relatos sobre alunos encami-
nhados para consultas médicas
por recomendação de diretores
escolares sem o consentimento
dos pais. Atendimentos em Sobral
e Coreaú (na mesma região) resul-
taram em atestados que excluem
a nota da criança do sistema de
avaliação. Ela faz a prova, mas sua
nota não é computada por conta
do laudo.
O secretário de Educação de
Sobral, Herbert Lima, nega todas
essas acusações. Para ele, os ví-
deos desrespeitam o trabalho dos
educadores da cidade, que “trans-
segundo o ipea, foi
graças à meLhoria
no ensino púbLico
de sobraL que
houve um aumento
de 125% na renda
per capita do
município em duas
décadas
IBGE. O indicador varia de zero a um, em que quanto
mais próximo de zero, menor a desigualdade.
A melhoria na educação alavancou o Índice de De-
senvolvimento Humano (IDH) da cidade. Ele passou
de 0,537, em 2000, para 0,714, em 2010. Entre 2000
e 2010, Sobral saltou do oitavo para o segundo lugar
no estado, atrás de Fortaleza (0,754), e de 2.719º para
1.486º no ranking nacional.
Mas o Ideb é imperfeito. Como ele só avalia por-
tuguês e matemática, desconfia-se que as escolas
privilegiem em excesso essas disciplinas ao longo do
ensino fundamental e, sobretudo, na 5ª e na 9ª séries,
as chamadas “séries foco”, porque nelas é aplicada a
Prova Brasil, principal indicador do índice.
sucesso contestado
Outro senão é a série de reportagens “Educação do
Mal”, veiculada no YouTube, que questiona o suces-
so educacional de Sobral. O jornalista Wellington
Macedo, autor dos vídeos, acusa a Secretaria de Edu-
cação local de fraudar os resultados do Ideb e do Spa-
ece (Sistema Permanente de Avaliação da Educação
Básica do Ceará), a avaliação censitária estadual.
Macedo diz que diretores e professores tem-
porários coagem os melhores alunos a fazer es-
ses exames no lugar de colegas de baixo desem-
penho. Alguns desses últimos ainda receberiam
laudos atestando déficit cognitivo para, assim,
não terem suas notas contabilizadas. Segundo
o jornalista, o aplicador faz “vista grossa” para a
cola e há casos em que os próprios professores
orientam os alunos a trocar respostas por meio de
sinais pré-combinados.
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