O Estado de São Paulo (2020-05-19)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-1:20200519:B1 TERÇA-FEIRA, 19 DE MAIO DE 2020 INCLUI CLASSIFICADOS O ESTADO DE S. PAULO


E&N


Socorro bilionário para elétricas adia


reajuste médio de 12% na conta de luz


ECONOMIA & NEGÓCIOS


Pacote costurado pelo governo deve somar entre R$ 10 bi e R$ 12 bi e será viabilizado por meio de decreto presidencial; concessionárias


de distribuição reclamam de queda na demanda e aumento da inadimplência, que saltou de 4% para 12%, depois do início da quarentena


Anne Warth / BRASÍLIA


Uma operação montada pelo
governo federal vai permitir
que o setor elétrico possa to-
mar novos empréstimos para
enfrentar os efeitos econômi-
cos da pandemia do novo co-
ronavírus. O financiamento
terá como garantia a conta de
luz, mas os custos serão divi-
didos entre os consumidores
e as empresas.
O socorro, cujas estimativas
estão entre R$ 10 bilhões e R$ 12
bilhões, será viabilizado por
meio de decreto presidencial,
ao qual o Estadão/Broadcast te-
ve acesso. Ele será publicado an-
tes mesmo da aprovação da me-
dida provisória que permite a
ajuda pelo Congresso.
O financiamento visa a cobrir
custos gerados pela crise da co-
vid-19 no setor elétrico e evitar
um reajuste médio imediato de
cerca de 12% no meio da pande-
mia. A Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel) tem
acompanhado diariamente os
números do setor.
Desde o início da pandemia
no País, medidas de isolamento
social levaram a uma queda na
demanda de energia de 10% a
12% nas primeiras semanas, al-
go que subiu para 12% a 15% nos
últimos dias. Já o aumento do
desemprego e a dificuldade pa-
ra realizar pagamentos, com
bancos trabalhando em horário
reduzido, levaram a inadim-
plência para cerca de 12% – an-
tes, ela se situava em torno de
3,5% a 4,0%.
Somados, esses dois efeitos
têm afetado o caixa das distri-
buidoras, que funcionam como
arrecadadoras no setor elétrico



  • cerca de 80% do que elas rece-
    bem é repassado para outros
    elos da cadeia, como transmis-
    soras, geradoras e até mesmo
    para o próprio governo, por
    meio de impostos. Assim, difi-
    culdades nas concessionárias
    de distribuição podem se tor-
    nar uma crise em toda a cadeia.
    Diferentemente das opera-
    ções firmadas em 2014 e 2015,
    desta vez, o socorro às elétricas


terá os custos compartilhados
entre o setor e os consumido-
res. No financiamento organiza-
do pelo governo da ex-presiden-
te Dilma Rousseff, os custos fo-
ram integralmente repassados
para a conta de luz, que chegou
a subir 50% em 2015. Dessa vez,
o consumidor pagará os custos
da queda demanda, mas não ar-
cará com os custos das distribui-
doras, como inadimplência. Ca-
berá à Aneel fazer essa conta.

Reajuste. Aumentos tarifários
deverão ocorrer no segundo se-
mestre deste ano – ainda que me-
nores, em torno de 5%. Isso por-
que o governo deixou claro, no
decreto, que toda a energia com-

prada pelas distribuidoras e não
utilizada pelos consumidores se-
rá coberta pelas tarifas. Isso po-
derá ser feito tanto em proces-
sos de reajustes anuais como
em pedidos extraordinários.
Presidente da consultoria
PSR, Luiz Barroso avalia que o
empréstimo é uma solução de
curtíssimo prazo necessária pa-
ra prover liquidez e preservar a
solvência do setor. “É importan-
te que o valor do empréstimo se-
ja ajustado às necessidades do sis-
tema, e que não gere subsídios
cruzados em seu pagamento.”
Além de dividir os custos do
financiamento, o governo vai
impor contrapartidas às distri-
buidoras de energia. Elas não
poderão distribuir dividendos
acima do mínimo legal de 25%
caso fiquem inadimplentes
com obrigações do setor.
O presidente da Associação
Brasileira de Distribuidores de
Energia (Abradee), Marcos Ma-
dureira, avalia que o cumpri-
mento dessas condições depen-
de do montante de recursos a
ser financiado para as empre-
sas. “Precisamos de recursos
imediatos para manter o setor
em equilíbrio. Ninguém quer
mais dinheiro do que o necessá-
rio, mas as exigências devem
ser compatíveis com o que se
está colocando”, disse.
Indústrias também poderão
ser beneficiadas com o diferi-
mento de despesas dentro do
empréstimo da Conta-Covid.
Mas o risco da operação, caso
haja inadimplência, ficará com
as distribuidoras de energia. O
presidente da Associação Brasi-
leira de Grandes Consumido-
res (Abrace), Paulo Pedrosa,
disse que a situação do setor é
grave e que preservar o caixa
das empresas agora é um sinôni-
mo de sobrevivência.
O BNDES vai coordenar a
operação de socorro, que deve-
rá contar com a participação do
Banco do Brasil, Bradesco, Itaú,
Santander, BTG e Citi. Dessa
vez, a Caixa deve ficar de fora.
Juros e spread estão em negocia-
ção e devem ficar em torno de
CDI mais 2% a 2,5%.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Idiana Tomazelli / BRASÍLIA


A forte desaceleração da infla-
ção na esteira dos efeitos negati-
vos da pandemia do novo coro-
navírus vai impor um desafio
adicional ao governo em 2021: o
teto de gastos vai crescer me-
nos que o previsto inicialmen-
te. O espaço para despesas pú-
blicas ficará R$ 16,7 bilhões me-
nor, segundo estimativa do pró-
prio Ministério da Economia.
O teto é a regra que limita o
avanço das despesas do gover-
no federal, considerando a infla-


ção em 12 meses até junho do
exercício anterior – no caso de
2021, o índice de correção será a
variação do IPCA entre julho de
2019 e junho de 2020.
No envio da proposta de Lei
de Diretrizes Orçamentárias (L-
DO) de 2021, há um mês, a equi-
pe econômica estimava que a
correção do teto seria de 3,23%,
equivalente a um espaço adicio-
nal de R$ 47 bilhões. Agora, a
pasta prevê que a variação será
de 2,08%, o que resultaria numa
ampliação do teto em R$ 30,
bilhões para o ano que vem. O
IPCA acumulado em 12 meses
até abril está em 2,4%, segundo
dados do IBGE.
No mercado, a avaliação é
que o encolhimento do espaço
adicional do teto pode ser até
maior que o previsto pela Eco-
nomia. O BTG Pactual calcula

que a inflação que vai corrigir o
limite de despesas pode ficar ao
redor de 1,5%, resultando num
teto R$ 20 bilhões menor que o
estimado inicialmente.

Cortes. Nos últimos anos, o go-
verno tem recorrido ao corte de
despesas não obrigatórias, co-
mo custeio e investimentos pú-
blicos, para conseguir acomo-
dar o avanço de gastos com be-
nefícios previdenciários e salá-
rios de servidores dentro do te-
to. Na previsão original, antes
da desaceleração da inflação, as
despesas discricionárias (como
concessões de bolsas de pesqui-
sa, patrulhamento de rodovias
e confecção de passaporte, por
exemplo) já estavam em R$
103,1 bilhões, patamar conside-
rado relativamente baixo.
Agora, a desaceleração da in-
flação também deve dar algum
alívio na correção de despesas
como benefícios previdenciá-
rios, mas há pressão do Con-
gresso e de outras alas dentro
do próprio governo por aumen-
to nos investimentos da União
como medida de impulso à eco-
nomia após a atual crise. Os par-
lamentares também querem
tornar permanente o auxílio
emergencial de R$ 600 para tra-
balhadores informais, benefí-
cio que hoje custa mais de R$ 40
bilhões por mês.

O teto menor pode se tornar
um obstáculo a esse debate e
até colocar a chamada “âncora
fiscal” na mira dos parlamenta-
res e da ala política do governo,
que em outras ocasiões já defen-
deram flexibilizações na regra.
A equipe econômica, no entan-
to, tem reforçado o discurso de
que qualquer alteração no teto
poderia arranhar a credibilida-

de da política fiscal do País num
momento em que o Brasil preci-
sou elevar de forma brutal sua
dívida para fazer frente às des-
pesas de combate à pandemia.
Sem essa credibilidade, o aler-
ta dos técnicos é que os juros da
dívida podem subir, uma vez
que o mercado perderá a refe-
rência de risco de continuar fi-
nanciando o Brasil.

MEDIDAS JÁ TOMADAS

BNDES negocia


‘crédito âncora’


a fornecedores


Governo avalia revisar benefícios sociais. Pág. B3}


lVariação

Retração. Desde o começo da pandemia houve queda na demanda de eletricidade de até 15%

Cadeira Aeron

l Trabalho
Suspensão temporária do contra-
to de funcionário por até dois me-
ses e a redução de jornada e salá-
rio em até 70%, por até três me-
ses; linha de crédito emergencial
de R$ 40 bilhões para financiar
salários em pequenas e médias
empresas por dois meses

l Aéreas
Adiamento do pagamento das
tarifas de navegação aérea; pra-
zo de 12 meses para reembolsar
passagens canceladas, com soli-

citações feitas até o fim do ano

l Caixa
Oferta de R$ 154 bilhões para
capital de giro

l Banco do Brasil
Disponibilização de R$ 100 bi-
lhões em linhas de crédito para
pessoas físicas e empresas

l BNDES
Injeção de R$ 55 bilhões na eco-
nomia para reforçar o caixa das
empresas e apoiar trabalhadores

Aline Bronzati

O BNDES começou a estrutu-
rar uma linha de financiamento
para apoiar a cadeia de fornece-
dores de segmentos mais afeta-
dos pela pandemia do novo co-
ronavírus. O orçamento está
sendo definido, mas deve so-
mar, ao menos, R$ 2 bilhões e o
primeiro candidato a acessar os
recursos deverá ser o setor de
varejo, segundo apurou o Esta-
dão/Broadcast.
Batizada de “crédito ânco-
ra”, a modalidade já foi utiliza-
da pelo BNDES em outras oca-
siões. A ideia é que as grandes
empresas atuem como repassa-
doras de recursos do banco de
fomento a sua cadeia de forne-
cedores. Assim, pequenas e mé-
dias empresas poderão ter aces-
so a condições de crédito melho-
res, aproveitando-se da qualida-
de do risco de grupos maiores.
Conversas já têm ocorrido en-
tre representantes do BNDES e
entidades do setor de varejo. Ou-
tros segmentos que também fo-
ram afetados na crise, como o au-
tomotivo, também são elegíveis
ao chamado “crédito âncora”.
No passado, o BNDES apro-
vou operações de apoio a forne-
cedores. Dentre as empresas
que acessaram os recursos, esti-
veram nomes como O Boticário
e Renner. Enquanto na empresa
de cosméticos o objetivo foi fi-
nanciar a rede de franqueados,
na rede varejista o apoio foi a for-
necedores nacionais, empres-
tando recursos para a moderni-
zação de fábricas, por exemplo.
O banco de fomento tem
coordenado a ajuda ao lado de
bancos privados a segmentos
que tiveram seus negócios cor-
roídos pelas medidas de isola-
mento, essenciais para comba-
ter a propagação do vírus.

HOANA GONCALVES/MINISTERIO DA ECONOMIA–3/5/

Correção do teto segue


IPCA, em queda no ano;


governo estima redução


de R$ 16,7 bi no espaço


para despesas públicas


Inflação menor vai afetar


teto de gastos em 2021


2,4%
é a variação acumulada em 12
meses até abril pelo IPCA, que
serve de referência para a corre-
ção do teto de gastos. Analistas
de mercado afirmam que há
chances de o índice desacelerar
ainda mais, como efeito da
queda da atividade econômica
e da demanda produzida pela
quarentena contra o novo
coronavírus. O BTG Pactual, por
exemplo, fala em um porcentual
de 1,5% até o próximo mês.

Economia. Contra mudanças na política do teto de gastos

JF DIORIO / ESTADÃO–29/10/
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