O Estado de São Paulo (2020-05-19)

(Antfer) #1

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A2 Espaçoaberto TERÇA-FEIRA, 19 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






A metamorfose dos generais
Luiz Eduardo Ramos e Walter
Braga Netto em políticos foi o
que o leitor viu quando lidera-
ram exibição de irracionalidade
no Planalto, na sexta-feira, 15.
Braga Netto sacou um gráfi-
co sobre a covid-19 no mundo.
Estava usando um argumento
difundido pelas milícias bolso-


naristas. O truque que o con-
venceu era usar o cálculo de
mortes por cem mil habitan-
tes e comparar os dados do
Brasil com países com um índi-
ce pior. O objetivo dos bolso-
naristas ao espalhar a tabela é
confundir.

http://www.estadao.com.br/e/supercolunagodoy

M


esmo neste cenário
dramático, com a
aproximação rápida
dos 20 mil óbitos, com recor-
des sendo batidos todos os
dias, temos de conviver com o
fantasma da subnotificação,
que pode multiplicar as esta-
tísticas oficiais por números
ainda incalculáveis no Brasil, e
com a corrupção, que se faz
tristemente viva entre nós.
A Lei Nacional da Quarente-
na (Lei 13.979/2020) demons-
trou sintonia com as necessida-
des brasileiras quando, além
de afrouxar as regras das licita-
ções para contratações públi-
cas visando a salvar vidas, esta-
beleceu simultaneamente o de-
ver de serem criados sites espe-
cíficos para a prestação de con-
tas das contratações emergen-
ciais durante a pandemia – ain-
da não cumprido por diversos
governos estaduais, como os
de São Paulo e Rio de Janeiro,
por exemplo.
Já se noticiam episódios de
corrupção concreta, como a
aquisição de respiradores su-
perfaturados oriundos de em-
presa que se dedica à venda de
vinhos em Manaus, onde o go-
vernador enfrenta dois pedi-
dos de impeachment. No Rio,
um ex-juiz governador decreta
sigilo no que diz respeito às
contratações públicas da saú-
de, o que torna ainda mais gra-
ve o fato de não ter criado o site
específico para prestar contas.
Descobriu-se também o for-
necimento de R$ 4 milhões
em aparelhos falsificados em
Mato Grosso e de outros 200
respiradores igualmente super-
faturados, pagos adiantada-
mente em Santa Catarina, pro-
venientes de pessoa jurídica
dedicada ao ramo do prazer.
Mas tudo isso jamais poderá
ser classificado como novida-
de num país que já conheceu a
“máfia dos vampiros”, das am-
bulâncias e das sanguessugas,
e por aí vai.
Corrupção já é algo devasta-
dor e erosivo do sistema demo-
crático em tempos de normali-
dade institucional. Como clas-
sificar os atos de corrupção co-
metidos durante a excepciona-
lidade pandêmica?

Sergio Moro, que como juiz
julgou casos graves de corrup-
ção e outros crimes contra o
patrimônio público investiga-
dos pela Lava Jato, por sua tra-
jetória foi convidado a assumir
o cargo de ministro da Justiça
e Segurança Pública. Depois
de abdicar de um cargo vitalí-
cio e de sua carreira de 22 anos
na magistratura, parece ter si-
do expelido do governo, me-
nos de um ano e quatro meses
depois, e apontou, ao sair, gra-
ves atitudes de interferência
nada republicanas na Polícia
Federal (PF) pelo presidente,
agora investigadas pelo STF.
Nesta “nova era” pós-Moro,
o diretor-geral da PF “dos so-
nhos” do presidente foi barra-
do pelo STF com base nos
princípios da impessoalidade
e da moralidade, em razão das
graves acusações e dos víncu-
los pessoais entre o nomeado

e o nomeante.
O sucessor de Moro ponde-
rou com acerto que a não en-
trega de vídeo referente à reu-
nião ministerial de 22 de abril,
comprobatória das interferên-
cias, poderia ter caracterizado
ato de obstrução da Justiça e
transformado o episódio no
Watergate brasileiro, aludin-
do ao escândalo de corrupção
estadunidense que culminou
com a renúncia de Richard Ni-
xon em 1974.
O vídeo foi, afinal, entregue.
Mas, poucos meses antes, este
mesmo governo que resistiu a
entregar o vídeo editou a Me-
dida Provisória (MP) 928, difi-
cultando o acesso a informa-
ções públicas em plena pande-
mia, a qual foi derrubada em
caráter liminar pelo STF, que
fez prevalecer a advertência
de Bobbio: “Governo da demo-
cracia é o governo do poder
público em público”.
Aos domingos, várias “mani-
festações”, na contramão uni-
versal do isolamento, têm in-
cluído na “pauta” o fechamen-

to do STF e do Congresso – ti-
rania, com protagonismo do
chefe do Executivo federal.
Hoje, após acerto com o
Centrão, ao qual foram cedi-
dos poderosos cargos do se-
gundo e do terceiro escalões e
que é integrado por dezenas
de parlamentares investigados
e processados por atos de cor-
rupção, para se vacinar do im-
peachment, o governo já come-
ça a contabilizar esses votos a
seu favor, não obstante ter ju-
rado solenemente que jamais
repetiria esse tipo de prática
política, que os manuais de
ciência política podem chamar
de tudo, menos de presidencia-
lismo de coalizão.
Dessa forma, a cada dia que
passa fica mais claro que o dis-
curso de campanha anticorrup-
ção do então candidato, hoje
presidente, nada era além de
peça de marketing político pa-
ra instrumentalizar seus apoia-
dores nas redes sociais.
Observe-se que não se avan-
çou na agenda anticorrupção.
Exemplo: punição do caixa 2
eleitoral, discutido desde as
Dez Medidas contra a Corrup-
ção. Na última quarta editou-se
a surpreendente MP 966, que
torna impunes agentes públi-
cos por atos de corrupção co-
metidos durante a pandemia.
Não creio em capas heroicas
ou balas de prata para enfren-
tar a corrupção. A corrupção ja-
mais será extinta, mas pode
ser controlada com investi-
mento em educação, transpa-
rência e consciência. E se a so-
ciedade vestir essa camisa, se
unir e lutar sem precisar de he-
róis. Se as instituições forem
modernizadas e eficientes, in-
cluindo partidos democráti-
cos, íntegros e transparentes e
reforma política, se houver
exercício da cidadania pleno
nas escolhas eleitorais, cons-
cientizando as pessoas em vol-
ta, fiscalizando o cumprimen-
to da lei e buscando os necessá-
rios ajustes nas regras do jogo.

]
DOUTOR EM DIREITO PELA USP,
PROCURADOR DE JUSTIÇA, É O IDEA-
LIZADOR E PRESIDENTE DO INS-
TITUTO NÃO ACEITO CORRUPÇÃO

Resultados negativos do tri-
mestre foram recorde para
Petrobrás, Suzano, Azul e JBS.

http://www.estadao.com.br/e/prejuizos

SUPERCOLUNA


General contesta covid-19 com tabela


Itália e sede da Igreja Católi-
ca começam a retomar gra-
dualmente a normalidade
após o pico da pandemia do
novo coronavírus.

http://www.estadao.com.br/e/vaticano

l“Que continuem testando até terem segurança para administrá-la em
escala mundial.”
MARCIA MARTES

l“Espero que nosso presidente abandone a cloroquina e comece a se
preocupar com o desenvolvimento das vacinas. Se não, vamos ser um
dos últimos a recebê-las por aqui.”
DOUGLAS BOTAN

l“Deus abençoe e que, em breve, a vacina esteja acessível a todos!”
LÉLA MORET RODRIGUES

l“Não se animem. Somos os últimos cogitados a receber a vacina
por falta de liderança no combate à pandemia.”
DRIELY EDUARDA

INTERAÇÕES

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Clube sul-coreano diz ter
contratado empresa para
colocar manequins com ca-
misetas do time nas arqui-
bancadas em apoio à equipe.

http://www.estadao.com.br/e/fcseoul

Espaço Aberto


A


internet, sinônimo de
participação, é o instru-
mento de uma revolu-
ção democrática destinada a
arrancar o poder das mãos de
uma casta de profissionais da
política e entregá-lo ao ho-
mem comum, ou é, antes de
tudo, um instrumento de con-
trole, vetor de uma revolução
a partir do topo que capta
uma quantidade enorme de
dados a fim de utilizá-los para
fins políticos?
É nessa segunda internet e
nos personagens que primeiro
a entenderam e usaram como
tal que se concentra Os Enge-
nheiros do Caos, de Giuliano
Da Empoli, um livro imprescin-
dível para entender o Brasil e
o mundo de hoje.
Com intuições brilhantes so-
bre a natureza humana, a inter-
net e a democracia na era do
narcisismo de massa, ele mer-
gulha nos bastidores das cam-
panhas que elegeram (Oba-
ma), Donald Trump, Boris
Johnson, Matteo Salvini, Bibi
Netanyahu e Viktor Orbán,
deslocando a luta pela conquis-
ta de votos, “da tentativa de
unir eleitores em torno de um
denominador comum numa ló-
gica que tendia a marginalizar
os extremistas do passado, pa-
ra a arte de inflamar paixões
no maior número possível de
grupelhos que valoriza e põe
os extremistas no centro do
processo de hoje” (Bolsonaro
é só uma menção, pois o livro
é de dezembro de 2019).
Os cientistas de dados, mes-
mo usando só as chaves classi-
ficatórias do Facebook e simi-
lares, conseguem operacionali-
zar campanhas com milhares
de grupos sendo bombardea-
dos por mensagens personali-
zadas, até contraditórias entre
si, sem que os “alvos” jamais fi-
quem sabendo o que têm em
comum com os demais apoia-
dores dos “seus” candidatos. A
campanha do Brexit, por exem-
plo, foi feita com o disparo de
bilhões de mensagens sob me-
dida: para os animalistas, uma
sobre as regulamentações eu-
ropeias que ameaçam os direi-
tos dos animais; para os caça-
dores, sobre as regulamenta-


ções europeias que, ao contrá-
rio, protegem os animais; para
os libertários, mensagens so-
bre o peso da burocracia de
Bruxelas; para os estatistas, so-
bre os recursos desviados do
Estado de bem-estar para a
União, e assim por diante...
A coisa começa na Itália, “o
Vale do Silício do populismo”.
É do vazio da morte da velha
política pela Operação Mãos
Limpas que surge Gianroberto
Casaleggio, “mistura de John
Lennon pós-moderno com a
cibercultura californiana” que,
com o país procurando algo
novo, é o primeiro a abrir a
porta para a ação política radi-
cal por fora dos partidos e do
parlamento, “esse monumen-
to aos mortos”, com o site do
Movimento 5 Estrelas, “uma
ideia à procura de quem a en-
carnasse”. Ele arma de algorit-
mos a exploração do “senti-

mento de raiva que atravessa
todas as sociedades, alimenta-
do por aqueles que pensam ter
sido lesados, excluídos, discri-
minados ou insuficientemente
ouvidos”. E para sua surpresa
quem virá a encarná-la são out-
siders histriônicos cuja estrela
sobe tanto mais vertiginosa-
mente quanto mais “incorre-
tas” e iconoclastas são suas
manifestações e o escândalo
com elas do establishment e da
mídia tradicional, que “cai em
todas as suas provocações”.
O refino da fórmula dá-se
com a parceria de Steve Ban-
non e Andrew Breitbart, jorna-
lista para quem “o esta-
blishment americano está im-
pregnado de uma cultura pro-
gressista hipócrita e elitista
que se apoia no Democrat Me-
dia Complex para traçar as fron-
teiras do justo e do injusto, do
dizível e do indizível, pautar o
discurso publico e perseguir fe-
rozmente os hereges”.
“The Donald”, com sua lon-
ga experiência de televisão, lo-
go se dá conta de que as elei-

ções americanas são “um rea-
lity show cheio de maus ato-
res” e, com seu talento midiáti-
co, o slogan “Deixe-me ser o
porta-voz da sua ira” e uma
absoluta falta de cerimônia pa-
ra com “todos quantos se
orientam pelas preocupações
do New York Times com os
banheiros transgênero e os ca-
samentos homossexuais, ope-
rou o milagre de fazer de um
bilionário nova-iorquino a voz
dos excluídos de todos os 44
Estados americanos que não
são banhados nem pelo Pacífi-
co, nem pelo Atlântico”.
Da Empoli enxerga as afini-
dades eletivas perfeitas entre
o mundo das redes e alguma
forma de democracia direta, e
tem todas as razões do mundo
para temer esta generalista,
violenta e sem filtros, que enti-
dades como o Movimento 5 Es-
trelas querem impor e tem os
mesmos vícios que a que o PT
tentou nos enfiar goela abaixo
diversas vezes durante o reina-
do da dinastia Lula.
Como quase toda a geração
dos que viveram sob a hegemo-
nia ininterrupta da esquerda
nos últimos cem anos, Da Em-
poli parece não ter nenhuma
visibilidade do sistema de de-
mocracia semidireta sólida e
transparentemente ancorada
na vontade popular, defendida
de eventuais pendores autori-
tários pela pulverização do po-
der proporcionada pelo siste-
ma de eleição distrital pura
que se pratica nos Estados Uni-
dos desde a virada do século 19
para o 20. Não há dúvida que a
vida conectada levará a algum
modelo de democracia mais di-
reta no futuro imediato. Mas
para todos quantos souberem
escolher a boa não há nada a te-
mer. Liberados de uma políti-
ca que hoje é bandalha porque
pode, se estarão habilitando,
ao ganhar o poder de mandar
nela, a dar o mesmo salto espe-
tacular que os Estados Unidos
deram no século 20 tanto em
matéria de liberdade quanto
de afluência material.

]
JORNALISTA, ESCREVE
EM WWW.VESPEIRO.COM

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
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IGREJA
Vaticano reabre
Basílica de São Pedro

FC Seoul se desculpa
por bonecas sexuais

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]
Fernão Lara Mesquita


Tema do dia


Na pandemia, museus têm
oferecido alternativas onli-
ne. Seria o “novo normal”?

http://www.estadao.com.br/e/museuvirtual

O livro que (quase)


mata a charada


‘Os Engenheiros do
Caos’ é imprescindível
para entender o Brasil
e o mundo de hoje

Sem heróis nem


balas de prata


Discurso anticorrupção
do candidato hoje
presidente não passava
de marketing eleitoral

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)

AV. ENGENHEIRO CAETANO ÁLVARES, 55
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E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,
(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


Coronavírus: vacina


testada em humanos


gera resposta segura


l Níveis dos anticorpos das pessoas
testadas foram semelhantes aos das
recuperadas da covid-19, diz farmacêutica

]
Roberto Livianu

DIDA SAMPAIO/ESTADÃO FUTEBOL

No estadao.com.br


ECONOMIA

Empresas brasileiras
têm prejuízo histórico

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