O Estado de São Paulo (2020-05-19)

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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 19 DE MAIO DE 2020 Especial H3


1000 filmes do Merten


JornaldoCarro


LENDAS

T. E. Lawrence morreu há 85 anos após cair com sua SS100, motocicleta da


marca britânica que, assim como ele, teve uma trajetória espetacular e fugaz


O ELO ENTRE LAWRENCE DA


ARÁBIA E A BROUGH SUPERIOR


Tião Oliveira


Há 85 anos, morria Thomas
Edward Lawrence, após um aci-
dente com sua Brough Superior
SS100. A vida do arqueólogo, mi-
litar, diplomata, agente secreto
e escritor inglês, que ficou co-
nhecido como Lawrence da Ará-
bia, foi extraordinária e fugaz.
Assim como a trajetória da fabri-
cante de motos, sua compatrio-
ta, que ganhou o apelido de
Rolls-Royce das motocicletas.
Ambos tiveram seus destinos
profundamente marcados por
guerras mundiais. Conquista-
ram o respeito de seus pares e
de seus rivais. E viraram lendas.
T. E. Lawrence morreu aos 46
anos, no dia 19 de maio de 1935,
em Wareham, na Inglaterra. Fi-
cou seis dias em coma por causa
de um traumatismo craniano.
Apaixonado pela Brough Supe-
rior, ele sofreu um acidente
com sua SS100 ao desviar de
dois ciclistas na estrada. Estava
distante, portanto, das estrata-
gemas da Primeira Guerra, da
qual participou ativamente.
Nas incursões inglesas pelo
Oriente Médio, o militar foi um
dos responsáveis pela tomada
de Damasco, a capital da Síria,
em outubro de 1918.
No ano seguinte, George
Brough fundaria em Notting-
ham, na Inglaterra, a fábrica da
Brough Superior. A empresa
produziu motocicletas até



  1. Um bombardeio realiza-
    do pela Luftwaffe, a força aérea
    alemã, em maio de 1941 des-
    truiu totalmente a planta e de-
    cretou o fim da empresa.
    Durante seus 21 anos de atua-
    ção, a companhia produziu mo-
    tos de altíssima qualidade. O es-
    mero na fabricação, a alta quali-
    dade das peças, a ampla possibi-
    lidade de personalização e o al-
    to preço de seus produtos fize-
    ram com que a Brough Superior
    fosse apelidada de “Rolls-Roy-
    ce das motocicletas”.
    Em 1924, a fabricante chegou
    a utilizar essa alcunha como slo-
    gan em uma campanha publici-
    tária, que gerou uma ação na Jus-
    tiça movida pela Rolls-Royce.
    Após a Brough Superior mos-
    trar à marca de carros como
    suas motos eram construídas, a
    queixosa retirou o processo.
    A marca utilizava motores de
    dois cilindros em “V” das fabri-
    cantes inglesas Matchless, de
    998 cm^3 , e JA Prestwich (JAP),
    de 976 cm^3. Todas as motos
    eram testadas antes da entrega


e, se não passassem de 100 mph
(160,9 km/h), voltavam à enge-
nharia para serem recalibradas.
Os compradores recebiam ain-
da um certificado de qualidade.
George Brough morreu em 12
de janeiro de 1970, aos 79 anos.

E, como de 1919 a 1940 foram
produzidas 3.048 unidades, as
motos da Brough Superior vira-
ram objeto de desejo de colecio-
nadores no mundo todo.
Em março do ano passado,
por exemplo, uma rara SS100 fa-
bricada em 1930 foi leiloada na
Inglaterra. O modelo foi arre-
matado por £ 425.500 (cerca de
R$ 2,2 milhões na época).

Regresso. A boa notícia é que,
após quase 80 anos, a marca es-
tá de volta. No fim de 2013, foi
comprada pelo inglês Mark Up-
ham em sociedade com o fran-
cês Thierry Henriette, dono do
estúdio Boxer Design. Em no-
vembro daquele ano uma ver-
são moderna da SS100 foi reve-
lada no EICMA, como também
é conhecido o Salão de Milão (I-

tália) uma das mais importan-
tes feiras do setor no mundo.
O modelo foi desenvolvido
pelo Boxer Design e pela Akira
Technologies, que cria solu-
ções para os motores das equi-
pes do MotoGP e, apesar do no-
me, também é francesa.
Assim como a SS100 (sigla de
Super Sport) original, a nova
moto tem soluções de alta tec-
nologia e é feita com materiais
nobres, como titânio. O metal
está na liga (com aço) do chassi,
em forma de treliça, no subqua-
dro e na suspensão dianteira, cu-
ja balança é feita de uma liga de
alumínio e magnésio.
O motor de dois cilindros em
“V”, outra marca registrada da
SS100 original, tem 997 cm³, po-
de gerar 103 cv de potência a
9.600 rpm e 8,9 mkgf de torque
a partir dos 7.300 giros.
O câmbio tem seis velocida-
des. A moto pesa 186 kg e tem
pneus nas medidas 120/70 R18
na frente e 160/60 R18 atrás.
Em novembro do ano passa-
do, também no Salão de Milão,
a marca mostrou um novo pro-
tótipo. O modelo, feito em par-
ceria com a Aston Martin, mis-
tura elementos visuais do cupê
Vantage e soluções de engenha-
ria da Brough Superior.
Batizada de AMB 001, a super-
moto terá produção totalmen-
te artesanal e limitada a apenas
100 unidades. Entre os desta-
ques estão itens como a carena-
gem feita de fibra de carbono,
que ajudou a deixar o modelo
muito leve – pesa apenas 180 kg.
O motor é um V2 com turbo
que gera 180 cv. É a primeira vez
que uma moto da Brough Supe-
rior utiliza propulsor turbinado.
Segundo as duas marcas, a
AMB 001 custará ¤ 108 mil (uns
R$ 670 mil na conversão dire-
ta). As primeiras unidades se-
rão entregues no quarto trimes-
tre deste ano. Não há informa-
ções sobre mudança de datas.

B


illy Wilder morreu quase cen-
tenário em 2002 – aos 96
anos. Havia feito seu último
filme mais de 20 anos antes – Ami-
gos, Amigos, Negócios à Parte, de 1981
–, mas a verdadeira despedida ocor-
rera três anos antes, com Fedora.
Na época, o filme foi considerado
só uma retomada menos inspirada
do clássico Crepúsculo dos Deu-
ses/Sunset Boulevard, de 1950, mas
com o tempo adquiriu status de
cult. Em tempos de pandemia, em

que a quarentena é recomendada, vale
ver e rever esse grande filme de Wil-
der. É o que se pode fazer no strea-
ming do Mubi, que também dispõe de
outros clássicos que, com certeza, fa-
rão a felicidade dos cinéfilos. Wilder,
Alain Resnais, Jacques Becker? Corre
para o Mubi, sua cinemateca digital.

Fedora
Billy Wilder e o roteirista I.A.L. Dia-
mond, parceiros de longa data, basea-
ram-se no livro escrito pelo ator Tom

Tryon (de O Cardeal, de Otto Premin-
ger). Morre uma famosa estrela que
havia se retirado do cinema e, duran-
te o funeral, um produtor lembra co-
mo tentou convencê-la a voltar numa
nova versão de Anna Karenina. Há
mais de 40 anos, os críticos destaca-
ram as similaridades com Sunset Bou-
levard, mas lamentaram que a atriz
Marthe Keller não tivesse o carisma
de Gloria Swanson. O tempo deu ga-
nho de causa a Marthe, e a revelação
do desfecho é... Chocante?

Meu Tio da América
Alain Resnais ganhou o Grande
Prêmio Especial do Júri em Cannes,
em 1980 – a Palma de Ouro daquele
ano foi dividida entre Akira Kuro-
sawa (por Kagemusha) e Bob Fosse
(All That Jazz). Kirk Douglas presi-
dia o júri, é bom lembrar. Resnais e o
roteirista Jean Gruault se inspira-
ram nas pesquisas do médico e biólo-
go Henri Laborit, e em seus estudos
(behavioristas) sobre o comporta-
mento humano. Homens e ratos de
laboratório, reagindo aos estímulos.
Gérard Depardieu, a futura diretora
Nicole Garcia, um filme que estava à
frente do seu tempo, e continua na
vanguarda do cinema.

Os Amantes de Montparnasse
A cinebiografia do pintor Modi-
gliani por um dos gigantes do cine-
ma francês. Com o maior galã fran-
cês da época – Gérard Philipe, que
morreria prematuramente em
1959, aos 36 anos – e Anouk Aimée,
antes de estourar em 1960 com A
Doce Vida, de Federico Fellini, ao
lado de Marcello Mastroianni. A
crítica da época considerou que o
diretor Jacques Becker, autor do
belíssimo Casque D’Or/Amores de
Apache, de 1952, não se comprome-
teu com o material, como em ou-
tros filmes. Será? Grandes cenas
permanecem na lembrança de
quem viu.

Evolução.
Nova SS100
(D) é de 2013
e ABM 001
(abaixo) sairá
por ¤ 108 mil

FOTOS: BROUGH SUPERIOR/DIVULGAÇÃO

Ícones. O militar Lawrence
e sua SS100 customizada

ACERVO

Wilder para ver a qualquer hora

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