O Estado de São Paulo (2020-05-19)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-3:20200519:
O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 19 DE MAIO DE 2020 NotaseInformações A


O


maior risco para o País é a saída
do governo do ministro da Eco-
nomia, Paulo Guedes, segundo
gestores do mercado financeiro
ouvidos em recente pesquisa
do Bradesco BBI. O perigo de
uma segunda onda do novo coronavírus apare-
ce em seguida na escala das preocupações. Mas
por que o ministro deixaria o posto? A resposta
a essa pergunta remete ao principal fator de in-
segurança, o presidente Jair Bolsonaro. Além
de prejudicar o combate à pandemia, sua atua-
ção tem provocado péssimos efeitos na econo-
mia, elevando a incerteza, assustando investido-
res e convertendo o Brasil em zona de perigo.
Pressionado com frequência pelo presidente,
por seus aliados e também por outras figuras
do Executivo, o chefe da equipe econômica foi
visto no mercado, durante semanas, como a bo-
la da vez no jogo das demissões. Ele sobrevive,
mas o temor permanece.
O próximo ministro da Saúde, é difícil duvi-
dar, será submisso aos interesses do presidente
da República e a seus pontos de vista contrários
à ciência e à prática médica. O desastre será
mais amplo se também o Ministério da Econo-


mia ficar subordinado, integralmente, às conve-
niências pessoais e familiares do chefe do Exe-
cutivo. Basta pensar nas negociações com o
Centrão para entender os temores de muitos
agentes do mercado.
Além da esperada negociação,
já iniciada, de postos no governo
e nas empresas federais, os obje-
tivos eleitorais poderão afetar os
fundamentos da economia. Isso
ocorrerá se for afrouxado o pro-
grama de ajustes fiscais e de re-
formas. Esse programa, segundo
os compromissos conhecidos
até hoje, deverá ser integralmen-
te retomado no próximo ano, de-
pois de esgotada a fase de calami-
dade fixada em lei. A partir daí, e
com as contas públicas já severa-
mente afetadas pelas medidas
emergenciais, será preciso iniciar um duro e in-
dispensável trabalho de arrumação.
A confiança na execução desse trabalho é fun-
damental para a avaliação de risco do Brasil. As
expectativas, no entanto, são inevitavelmente
afetadas quando o presidente mantém a políti-

ca em estado de crise, latente ou explícita, com
pressões contra seus ministros e agressões a re-
presentantes do Judiciário e do Legislativo ou
diretamente a esses Poderes.
Efeitos dessa crise permanente são facilmen-
te visíveis na fuga de capitais e na
depreciação do real. A valoriza-
ção do dólar, de cerca de 45% nes-
te ano, até a metade de maio,
acrescentou mais de R$ 900 bi-
lhões à dívida externa de empre-
sas e instituições bancárias brasi-
leiras. Com isso, o endividamen-
to, medido em moeda nacional,
saltou de R$ 1,939 trilhão em ja-
neiro para R$ 2,846 trilhões nes-
te mês, segundo dados do Banco
Central (BC). A variação decor-
reu quase exclusivamente do
câmbio, porque poucos emprésti-
mos foram tomados nesse período. A situação,
também de acordo com o BC, é particularmen-
te complicada para as empresas – cerca de 20%


  • desprovidas de mecanismos de defesa contra
    a variação cambial.
    Esse é um bom exemplo dos danos causa-


dos ao setor empresarial pelas ações do presi-
dente, orientadas por seus objetivos eleitorais
e por suas preocupações com familiares e
companheiros.
Em menos de um ano e meio nove ministros
foram demitidos ou se demitiram. Em menos
de um mês saíram dois ministros da Saúde, por
discordarem das orientações anticientíficas e
perigosas do presidente, e um ministro da Justi-
ça, por discordar de interferência política na Po-
lícia Federal, órgão de Estado em princípio imu-
ne a interesses de governantes.
Afastado o ministro da Justiça, o ministro
Paulo Guedes foi apontado no setor financeiro
como o próximo alvo de seu chefe. O ministro
sobrevive e tem sido ocasionalmente prestigia-
do em momentos mais críticos para o presi-
dente. Mas a insegurança no mercado perma-
nece. Não está em jogo apenas a manutenção
da responsabilidade fiscal. Se a economia for
reaberta de forma precipitada e atabalhoada,
sem atenção ao risco sanitário, o episódio se-
guinte, como se viu em outros países, poderá
ser um novo tombo. Haverá mais atraso na re-
cuperação, como sabe o mercado. Também is-
so o presidente ignora.

N


o dia 6 de maio, o
Congresso apro-
vou o Projeto de
Lei Complemen-
tar (PLP)
39/2020, conge-
lando salário de servidores pe-
los próximos 18 meses, tendo
em vista a dificílima situação
das contas públicas causada pe-
la pandemia do novo coronaví-
rus. O congelamento foi a con-
trapartida para o repasse de R$
60 bilhões da União a Estados e
municípios. No entanto, o presi-
dente Jair Bolsonaro posterga a
sanção do projeto de lei, dando
margem para que sejam conce-
didos aumentos ao funcionalis-
mo. Além de evidente descaso
com o esforço do Legislativo pa-
ra não agravar ainda mais a si-
tuação das finanças públicas, o
presidente Jair Bolsonaro mos-
tra-se conivente com a pior face
do corporativismo público, que,
sem maiores pudores, se apro-
veita da atual situação do País
para expandir seus proventos.
Quem primeiro aproveitou o
atraso do presidente Bolsonaro
na sanção do PLP 39/2020 fo-
ram as Polícias do Distrito Fede-
ral (DF), que no dia 13 de maio
conseguiram um aumento de
8% a 25%. Com um custo de R$
505 milhões por ano, a proposta
prevê também pagamentos re-
troativos a janeiro de 2020. Dian-
te da atual situação do País, o
reajuste é simplesmente imoral.
O presidente Jair Bolsonaro
teve participação direta no au-
mento das polícias do DF. No
fim do ano passado, chegou-se
a anunciar a publicação de uma
medida provisória para tal fim.
Após o Estado/Broadcast reve-
lar pareceres da área econômi-
ca alertando para os riscos de


ilegalidade, já que as despesas
não estavam previstas no Orça-
mento, Jair Bolsonaro recuou e
a medida não foi editada. No en-
tanto, como agora ficou eviden-
te, o presidente não deixou de
ser conivente com a pressão
corporativista.
E, como se sabe, irresponsabi-
lidades fiscais nunca vêm sozi-
nhas. Na aprovação do aumen-
to das Polícias do DF, foi incluí-
do reajuste para policiais milita-
res de Roraima, Rondônia e
Amapá, ativos e inativos. Segun-
do o relator da proposta, sena-
dor Eduardo Gomes (MDB-
TO), todos esses aumentos
constituíam uma matéria “úni-
ca”. Sim, todos padeciam da

mesma imoralidade.
Na esfera estadual, o funcio-
nalismo também tem sido hábil
em aproveitar a janela de opor-
tunidade dada por Jair Bolsona-
ro. A Assembleia Legislativa do
Estado de Mato Grosso apro-
vou projeto concedendo au-
mento de salário para os postos
mais altos do governo do Esta-
do. A medida afeta 1,7 mil fun-
cionários com cargos de con-
fiança do governo. Com a apro-
vação, a remuneração de um
dos cargos comissionados do-
brou, de R$ 6.287,82 para R$
12.775,63. Contrário à aprova-
ção do aumento, o deputado
Ulysses Moraes (PSL-MT) reco-
nheceu ao Estado que a demo-
ra do presidente Jair Bolsonaro
em sancionar o PLP 39/2020 foi
decisiva para a aprovação do

projeto. “A pressa foi tanta com
o projeto que chegaram a con-
vocar uma votação no sábado”,
disse Novaes.
Também houve aumento de
salário do funcionalismo na Pa-
raíba. Por unanimidade e em ca-
ráter de urgência, a Assembleia
Legislativa aprovou reajuste sa-
larial de 5% para servidores pú-
blicos estaduais, ocupantes de
cargos ou empregos públicos
de provimento efetivo, ativos,
inativos e pensionistas. No
Amapá, com a possibilidade de
congelamento dos gastos com
pessoal, o Legislativo estadual
deu andamento a projeto de lei
alterando a estrutura adminis-
trativa do Tribunal de Contas
do Estado, com a criação de no-
vos cargos.
Ao ser aprovado o aumento
para servidores estaduais na Pa-
raíba, o líder do governo na As-
sembleia, deputado Ricardo Bar-
bosa (PSB), disse que a medida
“comprova a preocupação da
Casa em garantir o bem-estar
dos servidores nesse momento
de incertezas”. É evidente a dili-
gente preocupação com o fun-
cionalismo. O que não se tem
visto, especialmente por parte
do presidente da República, é a
preocupação com o restante
dos brasileiros.
O País vive uma situação
drástica por força da covid-19,
com desastrosos efeitos sociais
e econômicos. No entanto, o
presidente Bolsonaro poster-
gou a sanção de projeto de lei,
garantindo que corporações de
funcionários públicos ampliem
seus vencimentos em plena pan-
demia. Alheio ao interesse públi-
co, o presidente opta por mi-
mar seus grupelhos eleitorais.
O resto da Nação que se dane.

N


o fim de abril a
Organização
Mundial da Saú-
de (OMS) lan-
çou uma iniciati-
va global – Ac-
cess to Covid-19 Tools (ACT)
Accelerator – para promover o
desenvolvimento, produção e
acesso equitativo a novos diag-
nósticos, terapias e vacinas con-
tra a covid-19. O Brasil não só
não se prontificou a colaborar,
como poucos dias depois o pre-
sidente da República acusou a
OMS de estimular a masturba-
ção e a homossexualidade na
primeira infância. Na posição
em que está, o País não só per-
de a oportunidade de colabo-
rar no combate global à pande-
mia, como corre o risco de ser
preterido no processo de distri-
buição de eventuais vacinas e
tratamentos.
Cientistas do mundo inteiro
estão acelerando num ritmo
sem precedentes a busca pela
cura da covid-19. Desde janeiro
o número de publicações tem
dobrado a cada 14 dias. Após os
testes laboratoriais pré-clíni-
cos, vacinas e tratamentos são
submetidos a quatro fases de
testes com humanos antes de
serem liberados. No momen-
to, há seis vacinas na Fase 1 e
dois medicamentos na Fase 3 –
um deles, o antiviral remdesi-
vir, já autorizado para uso
emergencial nos EUA.
Mas não é suficiente encon-
trar e testar as fórmulas. Uma
distribuição rápida e eficaz
impõe desafios políticos e eco-
nômicos. A indústria farmacêu-
tica precisa despender bilhões
de dólares construindo fábri-
cas para produzir vacinas. Co-
mo admitiu Bill Gates, cuja fun-

dação coordena esforços pela
busca da vacina, muitos desses
bilhões serão perdidos. Consi-
derando a projeção de perda de
milhões de vidas e trilhões de
dólares para a economia glo-
bal, é um custo que vale a pena.
Mas para mitigá-lo e potenciali-
zar uma distribuição rápida e
equitativa a coordenação inter-
nacional é indispensável.
O Acelerador ACT da OMS
foi projetado com este propósi-
to. A iniciativa reúne governos,
agências internacionais e fun-
dações privadas. Líderes de 40
países já apoiaram a iniciativa.
Só a União Europeia se com-
prometeu a fazer um aporte de
7,4 bilhões de euros.

Cientistas brasileiros estão
fazendo a sua parte. Em mea-
dos de abril, o Estado apurou
que existem mais de 70 estu-
dos sobre o coronavírus em an-
damento. O País tem uma gran-
de indústria de vacinas. Com
efeito, o desenvolvimento cien-
tífico no Brasil nasceu no início
do século passado motivado pe-
lo combate a epidemias e ende-
mias encabeçado por pioneiros
como Oswaldo Cruz, Emílio Ri-
bas, Carlos Chagas e Adolfo
Lutz. A OMS, por sinal, foi cria-
da a partir de uma proposta de
diplomatas brasileiros, em
1946, e foi liderada por 20 anos
(1953-1973) pelo médico brasi-
leiro Marcolino Candau. Ago-
ra, setores das ciências no Bra-
sil se mobilizam para tentar
convencer o governo a integrar

o seu Acelerador ACT.
Mas o presidente e seus cor-
religionários atuam na contra-
mão desses esforços. Recente-
mente, o deputado federal
Eduardo Bolsonaro, presiden-
te da Comissão de Relações
Exteriores da Câmara, tentou
desqualificar o diretor da
OMS, Tedros Adhanom, com
o argumento espúrio de que
ele não foi eleito pelo povo bra-
sileiro. Em menos de um mês,
seu pai, o presidente Jair Bol-
sonaro, provocou a demissão
de dois ministros da Saúde
por se recusarem a seguir
orientações contrárias à OMS
e à comunidade médica.
Bolsonaro tem sido aponta-
do por algumas das principais
publicações mundiais (entre
elas a revista médica The Lan-
cet) como o “líder do negacio-
nismo global” e “a maior amea-
ça ao combate ao vírus no Bra-
sil”. Muito além do anedotário,
há o risco real de o País ser iso-
lado pela comunidade interna-
cional como um foco da covid-
19 e uma ameaça para o mun-
do. Estudo recente do Imperial
College de Londres mostrou
que o Brasil tem a maior taxa
de contágio, e é possível que
em pouco tempo se torne o epi-
centro da crise global.
A sociedade civil e as insti-
tuições republicanas preci-
sam se mobilizar urgentemen-
te para neutralizar o obscuran-
tismo do Planalto e integrar o
País à cooperação internacio-
nal na busca pela cura. Se o im-
perativo moral de solidarieda-
de global não bastasse, o me-
ro pragmatismo o exige: a ex-
clusão do País desta coopera-
ção pode excluir milhões de
brasileiros da cura.

O risco Bolsonaro e o mercado


ANTONIO CARLOS PEREIRA / DIRETOR DE OPINIÃO

Pelo comportamento de
seu líder, Brasil corre o
risco de ser preterido na
distribuição da cura

Fórum dos Leitores O ESTADO RESERVA-SE O DIREITO DE SELECIONAR E RESUMIR AS CARTAS. CORRESPONDÊNCIA SEM IDENTIFICAÇÃO (NOME, RG, ENDEREÇO E TELEFONE) SERÁ DESCONSIDERADA / E-MAIL: [email protected]


Notas & Informações


Quem é o irresponsável


O presidente Bolsonaro
mostra-se conivente
com a pior face do
corporativismo público

Um país doente


lDesgoverno Bolsonaro
‘Vada a bordo!’
Totalmente oportuno o edito-
rial Vada a bordo! (17/5, A3).
Mas o sr. Bolsonaro não voltará
a bordo para capitanear o País
porque nunca esteve lá. Falta-
lhe competência para tal. O que
o Brasil fez na última eleição
presidencial foi um salto no es-
curo rumo ao desconhecido. O
resultado não podia ser outro.
STEFANO ADDEO NETO
[email protected]
OSASCO


De gaiato
Bolsonaro ainda não entendeu
que não foi eleito como um lí-
der, as circunstâncias é que o
levaram à Presidência. Sua atitu-
de se assemelha mais à Melô do
Marinheiro, dos Paralamas do
Sucesso – “Entrei de gaiato num
navio/ Entrei, entrei, entrei pelo
cano/ Entrei de gaiato/ Entrei, en-
trei, entrei por engano” –, do que
ao caso do capitão Schettino.
MAURICIO MANGINI
[email protected]
SÃO PAULO


Enganação dos números
Se o sr. Bolsonaro e seus ferre-


nhos seguidores prestassem
atenção aos números da elei-
ção, deveriam parar de se jactar
dos 57 milhões de votos. A gran-
de maioria foi dada contra o
PT. Eu mesmo votei sem conhe-
cer muito do candidato, assim
como a maioria dos meus co-
nhecidos, com o único objetivo
de não permitir a volta do petis-
mo. Se o candidato no segundo
turno fosse o Zé da Esquina,
teria o meu voto. Acredito que
não mais de 15% tenham vota-
do no “seu Jair” com conheci-
mento de causa e sabendo de
quem se tratava. Ou seja, ele
teve uns 8,550 milhões de votos,
não mais que isso.
SYDNEY BRATT
[email protected]
SÃO PAULO

Pária mundial
A coluna Piada no exterior (17/5,
A7), da jornalista Vera Maga-
lhães, retrata com exatidão a
vergonha que teremos ao sair
do Brasil, de agora em diante.
Que país e que presidente são
esses? Muitos votaram nele es-
perando que sua vida desse
uma virada para melhor, mas se
enganaram redondamente. É

hora de enxergar e reconhecer
o erro. A vida e a esperança
após a pandemia voltarão, mas,
realmente, o Brasil estará no
fim da fila para o reingresso.
PERICLES CARROCIN
[email protected]
SÃO PAULO

Maniqueísmo
Ótimo o artigo Heróis da retira-
da, de Luiz Sérgio Henriques
(17/5, A2), extremamente tem-
pestivo para uma reflexão séria
dos poucos bons políticos que
ainda nos restam. É preciso sair
do embate maniqueísta e me-
díocre que vivemos.
ANTONIO CARLOS MESQUITA
[email protected]
SÃO PAULO

lEconomia
Pajelanças
Nem seria preciso uma crise
com as dimensões desta que
nos aflige para surgirem gran-
des achados originados nas
mentes lampejantes que abri-
lhantam o Poder Legislativo.
Vem de ilustre senador a pro-
posta de limitar, durante a pan-
demia, os juros das UTIs finan-
ceiras – rotativos de cartão de

crédito e cheque especial – em
20% ao ano. Por que 20% e não
12%, como proposto em 1988?
Por que não 38,45%? Ele men-
ciona juros atuais de 600%, tão
reais quanto os moinhos de ven-
to contra os quais investia o
Cavaleiro da Triste Figura. O
destino das feitiçarias, tablita,
confisco, congelamento de pre-
ços, com direito à caça de bois
no pasto, deveria servir de aler-
ta. E essa é apenas uma das di-
versas propostas delirantes que,
se materializadas, serão ruino-
sas para o País. As lojas de por-
celana rejeitam a entrada de
elefantes, excelências!
ALEXANDRU SOLOMON
[email protected]
SÃO PAULO

Na contramão
Li com muita tristeza e indigna-
ção a notícia de que Estados
estão concedendo reajuste de
salário a seus servidores, em
meio a uma pandemia que de-
semprega, empobrece e reduz
salários de milhões de trabalha-
dores nos mais diversos seg-
mentos. O que é isso, afronta,
provocação ou politicagem
sórdida? Até quando seremos

desafiados e humilhados por
decisões políticas inconsequen-
tes e irresponsáveis? Não é pos-
sível que fiquemos de braços
cruzados vendo nossos irmãos
passarem necessidade, enquan-
to outros se apoderam dos nos-
sos impostos para engordar a
conta bancária de lobistas egoís-
tas, sem nenhum ato nobre de
solidariedade. Será que temos
de engolir mais esse desaforo
sem que nenhuma autoridade
responsável tome alguma medi-
da concreta contra isso?
ELIAS SKAF
[email protected]
SÃO PAULO

lEm São Paulo
Rodízio e ‘lockdown’
O prefeito terminou com o ine-
ficaz rodízio de 24 horas, de-
pois de uma semana em que
pôs centenas de milhares de
paulistanos em risco sanitário
no transporte público superlota-
do. E continua a falar em lock-
down. Mas para fazê-lo há neces-
sidade de primeiro implantar o
distanciamento social, o confi-
namento e o acesso à água cor-
rente em cortiços, favelas, inva-
sões e todas as comunidades

carentes da cidade – cuja estra-
tégia deve ser apresentada pelo
prefeito aos paulistanos com a
máxima urgência. Sem essas
amplas providências o prefeito
só poderá impor um lockdown
falso, punindo os que já estão
confinados, sabe-se lá para quê.
SUELY MANDELBAUM, urbanista
[email protected]
SÃO PAULO

lIn memoriam
Laudo Natel
A partida de Laudo Natel me
entristece, de verdade. Um
homem digno, correto, exem-
plar. Amigo do meu pai, em
julho de 1966 nomeou-me dire-
tor da Comepa, por conta do
que trabalhamos – Márcio Tho-
maz Bastos e eu, por ordem
do Henri Aidar – na criação da
Cesp. Voltamos a nos encon-
trar multiplamente no correr
do tempo, a última vez há uns
cinco anos no seu escritório da
Rua Nestor Pestana. A dor da
saudade é, no entanto, supera-
da pela certeza de que um dia
nos reencontraremos – ele,
meu pai e eu – lá no céu!
EROS ROBERTO GRAU
SÃO PAULO
Free download pdf