O Estado de São Paulo (2020-05-19)

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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 19 DE MAIO DE 2020 Política A


ELIANE CANTANHÊDE
Excepcionalmente, a
coluna não é publicada hoje.

Marlla Sabino / BRASÍLIA


Mais de 30 anos depois do con-
fisco das cadernetas de poupan-
ça, o ex-presidente Fernando
Collor de Mello pediu perdão,
ontem, pela medida anunciada
em 18 de março de 1990. As des-
culpas foram publicadas na con-
ta no Twitter do atual senador
do Pros por Alagoas.
O Plano Brasil Novo, que fi-
cou popularmente conhecido
como Plano Collor 1, tinha o ob-


jetivo de conter a hiperinflação


  • em fevereiro de 1990, a taxa
    foi de 72,78%. Além de troca da
    moeda, de Cruzado Novo para
    Cruzeiro, e cortes de gastos pú-
    blicos, o plano previa o blo-
    queio de todos os recursos, em
    poupanças ou contas-corren-
    tes, de qualquer valor acima de
    50 mil Cruzados Novos, o equi-
    valente a cerca de R$ 18 mil.
    Collor afirmou ontem que
    acreditava que as medidas radi-
    cais poderiam conter a inflação.
    “Acreditei que aquelas medidas
    radicais eram o caminho certo.
    Infelizmente errei. Gostaria de
    pedir perdão a todas aquelas
    pessoas que foram prejudica-
    das pelo bloqueio dos ativos”,
    escreveu o senador.
    O ex-presidente começou a


sequência de tuítes dizendo
que “era momento de falar com
mais clareza de um assunto deli-
cado e importante: o bloqueio
dos ativos do começo do meu
governo”. Então, afirmou que o
momento do confisco era de in-
flação de 80% ao mês. A situa-
ção econômica do País, segun-
do ele, prejudicava os mais po-
bres e “pessoas estavam mor-
rendo de fome”.
“Era uma decisão dificílima.
Mas resolvi assumir o risco. Sa-
bia que arriscava ali perder a mi-
nha popularidade e até mesmo
a Presidência”, disse o ex-presi-
dente. “Quisemos muito acer-
tar. Nosso objetivo sempre foi o
bem do Brasil e dos brasilei-
ros”, continuou.
Existem hoje pelo menos 144

mil poupadores ou seus herdei-
ros que podem pleitear compen-
sação financeira devido ao con-
fisco das poupanças.

Nas últimas semanas, o sena-
dor tem reforçado sua presença
no Twitter e abriu espaço para
perguntas. Em 9 de maio, após o

passeio do presidente Jair Bol-
sonaro de jet ski no dia em que o
Brasil passava a barreira de 10
mil mortos, ele escreveu: “Se
continuar assim, vai afundar”.
Conhecido por sua personali-
dade sisuda, Collor tem respon-
dido aos questionamentos com
bom humor e não foge das polê-
micas. A um seguidor desconfia-
do garantiu que é ele mesmo
quem posta. A outro que questio-
nou se ele e Thereza Collor se
davam bem, respondeu: “O que
você acha?” A empresária é viú-
va de Pedro Collor, que denun-
ciou o irmão presidente, provo-
cando o impeachment.

Arrependido. O senador Fernando Collor de Mello (Pros)

Após 30 anos, Collor se desculpa


por confisco da poupança


Ex-presidente admite


que errou ao acreditar


que ‘medidas radicais’
iriam ajudar a conter


inflação de quase 80%


l Revogação
Por determinação de Bolsonaro,
o Ministério da Defesa revogou 3
portarias do Exército que dificul-
tavam o acesso do crime organi-
zado a munições e armamentos.

l Apuração
MPF abriu procedimentos para
apurar o caso – para a procurado-
ra Raquel Branquinho (foto), Bol-
sonaro teria agido para benefi-
ciar uma parcela de eleitores.

l Resposta ao MPF
General Laerte Santos (foto), do
Comando Logístico do Exército,
disse que revogou as portarias
para atender a “administração
pública e as mídias sociais”.

VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL - 30/11/2015 -

Patrik Camporez / BRASÍLIA


O Ministério Público Federal
(MPF) acionou a Justiça para
que o Exército retome a vali-
dade de portarias sobre con-
trole de armas e munições re-
vogadas no mês passado por
ordem do presidente Jair Bol-
sonaro. Como revelou o Esta-
dão, procuradores investi-
gam se houve interferência in-
devida do presidente da Repú-
blica na Força ao determinar
a suspensão das normas.
Na ação, enviada à 22.ª Vara
de Justiça Federal do Distrito
Federal, os procuradores pe-
dem, em caráter de liminar, a
declaração de ilegalidade sobre
tais revogações. As três porta-
rias, publicadas entre março e
abril, estabeleciam regras mais
rígidas de controle, rastreabili-
dade e identificação de armas e
munições importadas e fabrica-
das pela indústria nacional, sob
a finalidade de atividades espor-
tivas, de colecionador e tam-
bém para abastecer os quartéis.
“Infelizmente, com a realida-
de criminosa do nosso país, vi-
venciamos inúmeros casos de
furtos e desvios de armamen-
tos e munições. E essas armas
acabam sendo disponibilizadas
para facções e organizações cri-


minosas que se utilizam do ar-
mamento sem que as autorida-
des públicas possam localizar
esse material, tendo em vista a
inadequação dos métodos de
rastreabilidade e controle”, des-
taca a ação do MPF.
Ao solicitar a investigação, a
procuradora regional da Repú-
blica Raquel Branquinho rela-
tou a possibilidade de Bolsona-
ro ter agido para beneficiar uma
parcela de seus eleitores, que de-
fendem o setor das armas. Se-
gundo a procuradora, não há es-
paço na Constituição “para
ideias e atitudes voluntaristas”
do presidente, ainda que pauta-
das por “bons propósitos”.

Pedido. A ação civil que pede a
retomada das portarias, no en-
tanto, não tem como finalidade
apontar eventual interferência
no Exército por parte de Bolso-
naro. “O objetivo da peça foi
apenas apontar as irregularida-
des nas revogações e os graves
prejuízos gerados por essas me-
didas”, afirma o MPF.
“A Procuradoria da Repúbli-
ca no Distrito Federal não pos-
sui atribuição para investigar e
processar atos do presidente da
República – nem por conduta
criminal, nem por ação ímpro-
ba. Nesses casos, cabe ao Sena-

do Federal apurar crimes de res-
ponsabilidade e ao Supremo
Tribunal Federal, crimes co-
muns”, diz o órgão.
Em resposta ao MPF, o Co-
mando Logístico do Exército
(Colog) admitiu que revogou
três normas de controle de ar-
mas e munições para atender a
questionamentos e questões le-

vantados pela “administração
pública e as mídias sociais”.
Em ofício à Procuradoria no
último dia 28, o general Laerte
de Souza Santos, chefe do Co-
log, tentou justificar o cancela-
mento das portarias 46, 60 e 61.
“Ocorre que, tão logo publica-
das oficialmente as referidas
portarias, surgiram inúmeros
questionamentos e contrapon-
tos levantados por diversos se-
tores da sociedade, especial-
mente nas mídias sociais, e da
administração pública em ra-
zão da tecnicidade do tema”, es-
creveu o general.
Responsável pelas portarias,
o general de Brigada do Exérci-
to Eugênio Pacelli Vieira Mota
afirmou, em carta, que as nor-
mas visavam à segurança nacio-
nal e não atenderam a “interes-
ses pontuais” do setor arma-
mentista. O general deixou o

cargo de diretor de Fiscalização
de Produtos Controlados uma
semana depois de os atos terem
sido publicados pelo Exército.
Durante o período em que este-
ve na vaga, ele chefiou o grupo
que elaborou os textos.

Congresso. A investigação so-
bre interferência de Bolsonaro
no Exército aumentou o desgas-
te do chefe do Planalto no Con-
gresso Nacional.
Na Câmara, deputados do
PSB, que apresentaram um pe-
dido de impeachment com base
nas acusações de interferência
na Polícia Federal (PF), ava-
liam incluir a acusação por inge-
rência no Exército no processo.
Além disso, parlamentares do
partido apresentaram há uma
semana um projeto de decreto
legislativo para resgatar a vali-
dade das portarias anuladas.

GABRIELA BILO / ESTADÃO

O governador de Roraima, An-
tônio Denarium (PSL), disse
ontem que contraiu o no-
vo coronavírus. “Hoje
(ontem) amanheci
sintomático, com
um pouquinho de
febre e tosse, com
sintomas leves, e
testei positivo para
o coronavírus. Es-
tou passando bem e
vou continuar trabalhan-
do de casa. Eu e a minha famí-
lia vamos cumprir agora a qua-
rentena”, afirmou o governa-
dor em vídeo.

O Ministério Público enviou
parecer ao ministro do Supe-
rior Tribunal de Justiça
Og Fernandes contra
a transferência para
o hospital do supos-
to conselheiro da
Guiné-Bissau
Adaílton Maturi-
no, preso por lide-
rar esquema de ven-
da de sentença no Tri-
bunal de Justiça da Ba-
hia. Maturino foi diagnostica-
do com covid-19. Segundo a
Procuradoria, ele recebe trata-
mento adequado na prisão.

ALEXANDRE MANFRIM/MD

Interferência


no Exército é


investigada


PONTOS-CHAVE

lRisco

O deputado Luiz Lauro Filho
(PSDB-SP), de 41 anos, morreu
ontem, em Campinas, após so-
frer um ataque cardíaco. Ele
chegou a ser internado, mas
não resistiu. O político foi ve-
reador de Campinas de 2013 a


  1. Na Câmara, cumpria seu
    segundo mandato. O parlamen-
    tar era filho do ex-deputado
    Luiz Lauro e sobrinho do atual
    prefeito de Campinas, Jonas
    Donizette (PSB). Em nota assi-
    nada pelo líder do PSDB na Câ-
    mara, Carlos Sampaio, a banca-
    da do partido afirmou que o


deputado “era admirado pelo
entusiasmo e espírito participa-
tivo”. O governador de São
Paulo, João Doria, prestou soli-
dariedade aos familiares e ami-
gos do deputado pelas redes
sociais. “Estou muito triste.”

Tribunal rejeita


denúncia contra


Lula por mesada


TJ DA BAHIA

l‘Perdão’

15
SUSPEITOS FORAM
DENUNCIADOS
NA OPERAÇÃO
FAROESTE

DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

MPF cobra


retorno de


portarias


sobre armas


“Com a realidade
criminosa do nosso país,
vivenciamos inúmeros
casos de furtos e
desvios de armamentos e
munições. E essas armas
acabam sendo
disponibilizadas para
organizações criminosas.”
TRECHO DE AÇÃO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO FEDERAL

Três normas sobre munição e armamentos


foram revogadas por ordem de Bolsonaro


Presidente. Jair Bolsonaro é alvo de procedimento no MPF sobre interferência no Exército

LUTO


Deputado Luiz Lauro Filho (PSDB) morre


aos 41 anos após sofrer ataque cardíaco


Planalto não entrega
resultados à Câmara
Após terminar o prazo de 30
dias, o Planalto não entregou
os exames de covid-19 do presi-
dente Jair Bolsonaro à Câma-
ra. Em resposta ao requerimen-
to do deputado Rogério Cor-
reia (PT-MG), o ministro Jor-
ge Oliveira, da Secretaria-Ge-
ral da Presidência, afirmou que
os documentos tratam de “es-
fera íntima”. O ministro cita
ainda que os resultados estão
disponíveis no STF. Laudos
que seriam de Bolsonaro fo-
ram entregues à Corte após o
Estadão pedir na Justiça para
ter acesso aos documentos.

EXAME DO PRESIDENTE

Os trabalhos do Congresso se-
rão mantidos sem recesso em
julho por causa da pandemia
do coronavírus. “A decisão foi
tomada por entendermos que
o Legislativo precisa continuar
trabalhando para amenizar os
efeitos negativos da pandemia
da covid-19”, disse o presiden-
te do Congresso, Davi Alcolum-
bre (DEM-AP), no Twitter.

Congresso Nacional não
terá recesso em julho

PANDEMIA
Governador de Roraima
diz que está com covid-

ANTÔNIO DENARIUM

Paulo Roberto Netto

O Tribunal Regional Federal da
3.ª Região (TRF-3) rejeitou de-
núncia apresentada contra o
ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e seu irmão, Frei Chico,
no caso das mesadas da Odebre-
cht. A decisão mantém o que ha-
via sido determinado em pri-
meira instância.
A denúncia apresentada pela
Procuradoria afirmava que Frei
Chico teria recebido mesadas
de R$ 3 mil e R$ 5 mil da Odebre-
cht, pagas trimestralmente,
sem contrapartida, de janeiro
de 2003 a março de 2015.
De acordo com o MPF, os pa-
gamentos integravam “pacote
de vantagens indevidas” ofere-
cidas pela empreiteira a Lula
com objetivo de obter diversos
benefícios e “evitar decisões”
do Planalto que prejudicassem
o setor petrolífero, em especial
os interesses da Braskem – bra-
ço petroquímico da Odebrecht.
A denúncia também acusava
Frei Chico de atuar, entre 1992
e 1993, com a Odebrecht na reso-
lução de greves na época.
Em primeira instância, a Justi-
ça considerou a denúncia “inep-
ta”. O caso foi levado ao TRF-3,
que, por unanimidade, mante-
ve a rejeição à denúncia. “Não
seria preciso ter aguçado senso
de Justiça, bastando de um pou-
co de bom senso para perceber
que a acusação está lastreada
em interpretações e um amon-
toado de suposições”, escreveu
o juiz Ali Mazloum, da 7.ª Vara
Federal Criminal de São Paulo.
Em nota, o advogado Cristia-
no Zanin Martins, que defende
Lula, afirmou que a denúncia
era uma “acusação imaginária”
da Lava Jato. “A decisão do
TRF-3 reforça a inocência de Lu-
la e excepcionalidade dos pro-
cessos contra o ex-presidente.”
A força-tarefa da Lava Jato de
São Paulo não quis comentar o
caso ontem.

Com coronavírus, réu da
Faroeste pede remoção

“Era uma decisão dificílima.
Mas resolvi assumir o risco.
Sabia que arriscava ali
perder minha popularidade
e até mesmo a Presidência.”
Fernando Collor de Mello
EX-PRESIDENTE E SENADOR
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