O Estado de São Paulo (2020-05-19)

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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 19 DE MAIO DE 2020 A


Internacional


Após reabrir 40 mil escolas, França


fecha unidades com novos infectados


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


PARIS


Uma semana após a volta às
aulas de um terço das crian-
ças na França, o governo ma-
peou 70 novos casos de coro-
navírus em 7 escolas reaber-
tas e decidiu fechá-las como
precaução. Pelo menos 150
mil alunos de 40 mil unidades



  • entre creches e ensino fun-
    damental – voltaram às aulas
    na semana passada e o gover-
    no defende a retomada mes-
    mo com a notificação dos ca-
    sos nos colégios.
    Ontem, outros 185 mil estu-
    dantes de ensino médio tam-
    bém retornaram para a escola –
    o país tem pelo menos 500 mil
    matriculados em todos os ní-
    veis escolares. O restante deve
    retornar ao ano letivo até a
    próxima semana.
    Em entrevista à rádio RTL, o
    ministro da Educação da Fran-
    ça, Jean-Michel Blanquer, dis-
    se que a manutenção do plano
    de reabertura é fundamental.
    Segundo ele, toda a proposta
    para a retomada das aulas foi
    amparada em abordagens de
    médicos e pediatras e “as con-
    sequências de não ir à escola
    seriam muito mais sérias”.
    “Isso causaria danos conside-
    ráveis, psicológicos, alimenta-
    res, de saúde e, em seguida, ha-
    verá a questão do abandono (es-
    colar). Minha grande preocupa-
    ção são aquelas (crianças) so-
    bre as quais não temos mais no-
    tícias. Ir à escola não é um assun-
    to secundário. Esperar o vírus
    desaparecer seria loucura para
    a nossa sociedade”, defendeu.
    Blanquer não especificou se
    os 70 casos de covid-19 esta-


vam entre estudantes ou pro-
fessores. A imprensa francesa
informou que todos as notifica-
ções foram detectadas no nor-
te do país, sem esclarecer em
quais cidades.
“Temos de acostumar a socie-
dade a ir à escola”, disse o minis-
tro à RTL ontem. “É absoluta-
mente essencial que nossos fi-

lhos não sejam vítimas colate-
rais das condições sanitárias do
país”, afirmou o ministro.
As novas notificações de ca-
sos de alunos que retornaram às
aulas trouxeram preocupação
extra às autoridades de saúde,
pois o país registrou, na semana
passada, a primeira morte de
uma criança com uma infecção
rara, chamada Síndrome de
Kawasaki, que pode ter sido de-
sencadeada pela covid-19.
De acordo com o jornal Le
Monde, porém, o governo consi-
dera que o isolamento de re-
giões onde aparecerem novos
casos é a forma mais eficiente de
retomar as atividades com um
risco mínimo para a população.
As autoridades francesas, in-
formou o jornal, citaram o caso

de dois matadouros que apare-
ceram como novas fontes de
contaminação e foram rapida-
mente isolados, em Fleury-les-
Aubrais, no Departamento de
Loiret, onde foram identifica-
dos 54 casos de coronavírus, e
em Saint-Brieuc, no Departa-
mento de Côtes-d’Armor, onde
foram confirmadas 69 notifica-
ções na doença.
“Desde a semana passada,
identificamos 25 grupos (de
pessoas contaminadas) em
nosso território. O sistema
criado para testar, isolar e que-
brar as cadeias de contamina-
ção está operacional”, disse o
ministro da Saúde, Olivier Vé-
ran, ao Journal du Dimanche.
Segundo as estatísticas divul-
gadas na noite de ontem pelo go-

verno e publicadas pelo Le Mon-
de, há uma tendência de desace-
leração da pandemia. Uma se-
mana após o levantamento das
ordens de confinamento, a Fran-
ça registrou 131 mortes em 24 ho-
ras, incluindo 8 em asilos entre
domingo e segunda-feira – o
país já teve picos de mais de 700
óbitos em um só dia.
No entanto, os cientistas con-
cordam que nenhuma avaliação
sobre a forma como a França
tem conduzido seu plano de des-
confinamento pode ser feita
por pelo menos as próximas
duas semanas.
Até ontem, as autoridades
francesas relatavam pelo me-
nos 142.411 pessoas infectadas
com o coronavírus e 28.108 mor-
tes em todo o país. / AFP e REUTERS

Pelo menos 70 casos de covid-19 foram diagnosticados depois do retorno às aulas e 7 colégios entraram em uma nova quarentena;


governo, no entanto, mantém plano de retorno dos estudantes e 185 mil alunos de ensino médio retomaram as suas atividades ontem


E


m uma típica noite de
sábado, conseguir
uma cobiçada mesa
com vista para a Bourbon
Street, no French Quarter, se-
ria quase impossível. Mas lá
estavam Mariah Castille e Ty-
ler Labiche, compartilhando
batatas fritas e molhos, um
tanto atordoados com o que

acontecia naquela noite.
Era o primeiro dia da fase 1 –
quando a ordem de permanên-
cia em casa foi cancelada e Nova
Orleans, no Estado da Louisia-
na, deveria começar a voltar à
vida. Pela primeira vez em dois
meses, a maioria das empresas
foi autorizada a abrir. Restau-
rantes e bares que servem comi-

da podem acomodar clientes
em até 25% da capacidade.
Depois de uma temporada de
festivais de música cancelados,
isolamento social, doença e
morte, era hora de começar a
festa novamente. Labiche e Cas-
tille haviam saído para um fim
de semana de sua casa em Lafa-
yette, a duas horas de distância.
“Pensamos que no primeiro
dia de volta, este lugar estaria
lotado”, disse Labiche. “É um
dos maiores lugares de festa do
planeta.” Três dos 147 assentos
do restaurante estavam ocupa-
dos naquele momento.
Somente na Bourbon Street,
três grandes hotéis com cente-

nas de quartos estavam fecha-
dos. As ruas do bairro francês fi-
caram vazias o suficiente para
que meia dúzia de jovens mulhe-
res de bicicleta andassem des-
preocupadas. Seus gritos anima-
ram brevemente a noite.
Ao anunciar a primeira fase
de uma reabertura restrita na ci-
dade, na semana passada, a pre-
feita de New Orleans, LaToya
Cantrell, disse que estava equili-
brando a saúde pública com as
necessidades econômicas. Um
conjunto semelhante de diretri-
zes foi estabelecido pelo gover-
nador democrata do Estado,
John Bel Edwards, para o restan-
te da Louisiana.

Muitas empresas estavam se-
dentas por isso. Caminhões de
comida e cerveja começaram a
aparecer na cidade na semana
passada, abastecendo alguns
restaurantes e bares. No entan-
to, como sinal da natureza ambi-
valente da reabertura, vários em-
presários disseram que passa-
riam essa oportunidade por en-
quanto. Para eles, ainda é muito
cedo para atrair clientes com se-
gurança e fazer os funcionários
cozinharem em locais aperta-
dos. Segundo eles, não faz senti-
do econômico operar com 25%
da capacidade, o que na verdade
representa perda de dinheiro.
“Queremos permanecer rele-

vantes, queremos que as pes-
soas não se esqueçam de nós,
mas também precisamos pre-
servar nossa capital”, disse
Archie Casbarian, sócio do
Arnaud's, um restaurante
com mil lugares, próximo à
Bourbon Street, que se junta
a vários outros locais que fica-
rão fechados.
No Estrella Steak & Lobs-
ter House, perto da orla, os
funcionários esperaram duas
horas por um cliente. “Acho
que é hora de mais pessoas
saírem de suas casas”, disse
John Simpson, de 37 anos,
que ficou surpreso quando
entrou no local. / W. POST

WASHINGTON


O presidente americano, Do-
nald Trump, fez uma revelação
surpreendente ontem ao afir-
mar que está tomando hidroxi-
cloroquina, um medicamento
antimalária que divide os espe-
cialistas de saúde sobre sua efi-
cácia no combate à infecção pe-
lo novo coronavírus. Sua inges-
tão não é recomendada pelo
próprio governo americano.
Destacando que teve o teste
negativo para a covid-19 e não


tem sintomas da doença,
Trump disse que toma o remé-
dio “há cerca de uma semana e
meia”. “Eu tomo o comprimido
todos os dias”, afirmou, acrescen-
tando que também ingere zinco
preventivamente.
Questionado sobre os moti-
vos da automedicação, pois não
estando doente, ele disse que
“porque eu acho que é bom”.
“Ouvi um monte de boas histó-
rias. E se não for bom, eu lhe di-
rei. Não vou me prejudicar com
isso”, disse ele a repórteres na Ca-
sa Branca. “Já existe há 40 anos
para (combater) malária, lúpus,
outras coisas. Eu tomo. Trabalha-
dores da linha de frente (contra o
coronavírus) recomendam. Mui-
tos médicos recomendam”, dis-
se.
As evidências que mostram a

eficácia da hidroxicloroquina no
tratamento da covid-19 são escas-
sas e, no mês passado, a Food and
Drug Administration (FDA),
agência federal americana de

controle de remédios e alimen-
tos, desaconselhou o uso do me-
dicamento fora de um ambiente
hospitalar, apenas algumas sema-
nas após autorizar de forma

emergencial o uso para os pacien-
tes que estejam internados.
Trump vinha fazendo propa-
ganda frequente da droga como
um tratamento seguro e eficaz
para o coronavírus, mas deixou
de defender a substância como
fazia no início da pandemia.
“Não quero que eles fiquem
doentes. E há uma chance muito
boa de que esse remédio tenha
um impacto, especialmente no
início da doença”, disse.
Trump acrescentou que ele
também está tomando zinco,
além da hidroxicloroquina. De
acordo com o jornal New York Ti-
mes, Trump possui uma partici-
pação financeira na Sanofi. A em-
presa francesa é uma das maio-
res fabricantes da cloroquina do
mundo. Outro motivo possível
para sua simpatia pela substân-

cia é que um das maiores acionis-
tas da organização é uma empre-
sa gerida por Ken Fisher, grande
doador do Partido Republicano,
do qual Trump é membro.

OMS. O presidente dos EUA vol-
tou a atacar a Organização Mun-
dial de Saúde (OMS). De acordo
com Trump, a entidade é “uma
marionete da China”, reiterando
as críticas sobre a gestão desta
agência da ONU da pandemia do
novo coronavírus. “Não estou
contente. Eles nos deram um
monte de maus conselhos.”
Os Estados Unidos superaram
ontem a marca das 90 mil mortes
e 1,5 milhão de casos registrados
de covid-19, segundo contagem
da Universidade Johns Hopkins,
que revelou um salto de 10 mil
notificações pelo novo coronaví-
rus em uma semana em todo o
país, que hoje lidera o total de ca-
sos e óbitos em todo o mundo. /
NYT e AFP

Bélgica busca


respostas para


tantas mortes


lSala cheia

TURISTAS AINDA NÃO


DERAM AS CARAS


Sem estar doente, Trump diz tomar hidroxicloroquina


BRUXELAS

Pelos números oficiais, a Bélgi-
ca foi o país mais atingido no
mundo pelo coronavírus. A na-
ção de 12 milhões tem a maior
taxa de mortalidade entre os ca-
sos confirmados, em 16,4%. E
tem o maior número de mortes
em termos de população: 78
mortes por 100 mil, segundo es-
tatísticas compiladas pela Uni-
versidade Johns Hopkins.
Os EUA, em comparação, re-
lataram 27 mortes por coronaví-
rus por 100 mil pessoas. A Espa-
nha registrou 58. A Itália, 52. No
Brasil, são 7,1 vidas perdidas
por 100 mil habitantes.
As autoridades belgas tenta-
ram diminuir a preocupação, su-
gerindo que seus números são
produtos de seus métodos con-
tábeis e comprometem-se a cap-
turar uma imagem precisa de
seu surto. “Contamos com mui-
ta precisão, mas isso não alivia o
fato de termos sido atingidos se-
veramente”, disse Steven Van
Gucht, chefe da divisão de doen-
ças virais do governo.
Uma explicação, disse ele, po-
de ser a densidade populacional
do país em comparação com
seus vizinhos, além do fato de
muitos belgas estarem de férias
no norte da Itália no fim de feve-
reiro, quando a pandemia come-
çou por lá. / W. POST

185 mil
alunos do ensino médio
voltaram às aulas ontem. Na
semana passada, 150 mil do
ensino fundamental já haviam
retornado para as escolas. O
país tem 500 mil estudantes.

Nada de festa

Nova Orleans vê bares e restaurantes vazios


DOUG MILLS/THE NEW YORK TIMES

Presidente dos EUA


afirma que ingere o


medicamento há uma


semana todos os
dias ‘porque é bom’


Receita. Trump diz que remédio não prejudicará sua saúde

SEBASTIEN BOZON / AFP

Nova lição. Estudantes em sala de aula, em Mulhouse, oeste da França, são obrigados a manter distância e usar máscaras
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