O Estado de São Paulo (2020-05-22)

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O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 22 DE MAIO DE 2020 Metrópole A


ESTUDANTES


ENTRE O ALÍVIO


E A INCERTEZA


Isolamento vai a


51% na capital;


litoral cerca praias


Em todas as cidades ao norte, quem chega de fora é abordado em


barreiras sanitárias; até tratores são usados para erguer barreiras


Paula Felix


Com a reformulação das aulas
e a necessidade de isolamento
social por causa da pandemia
do novo coronavírus, cursos
de graduação precisaram se
adaptar para evitar atrasos e
evasão de alunos. O impacto


disso é que, em um futuro
próximo, a graduação pode se-
guir uma linha mista, de cursos
presenciais com aulas virtuais
e ensino a distância (EAD)
com uma proposta mais intera-
tiva. A avaliação é do Semesp,
entidade que representa man-
tenedoras de ensino superior
do País – e apresentou nesta
quinta-feira o Mapa do Ensino
Superior no Brasil.
O levantamento, com base
em números do Censo da Edu-
cação Superior, ofertados pelo
Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais (Inep)

e referentes a 8,45 milhões de
matrículas realizadas em 2018 –
dado mais atualizado –, aponta
que as matrículas para EAD
cresceram 16,9% de 2017 para


  1. No período de 2009 a
    2018, o aumento foi de 145%. No
    caso das matrículas presen-
    ciais, houve queda de 2,1% no
    mesmo período.
    Comparando os dados com a
    situação atual, Rodrigo Capela-
    to, diretor executivo do Se-
    mesp, afirma que a pandemia
    vai afetar ambos os modelos,
    mas deve frear o crescimento
    acelerado de cursos de EAD. “O


ensino presencial vinha perden-
do espaço pelo preço e pela
questão da flexibilidade. O alu-
no vai, fica sentado, muitas ve-
zes à noite, quando ele está can-
sado. Por causa da pandemia, o
ensino presencial está se rein-

ventando, o que o torna mais
atrativo. Quando essa situação
acabar, ele deve ser um misto
de aulas expositivas de forma
remota com aulas em grupo em
laboratórios. Vai ser interessan-
te, porque os alunos vão ter
mais interatividade com profes-
sores e, quando tiver o encon-
tro presencial, será mais rico.”
Na avaliação do diretor execu-
tivo da entidade, esse movimen-
to vai fazer com que o modelo
EAD com aulas gravadas e pa-
dronizadas também se reinven-
te e passe a ser mais interativo.
Mas desafios impostos pela

doença terão de ser estudados
pelas instituições que ofere-
cem cursos presenciais. “Vai
ser necessário conseguir tornar
o preço mais atrativo. O grande
custo é a folha de pagamento,
que não vai ser reduzida.”
Capelato diz ainda que a enti-
dade vê com preocupação os im-
pactos do avanço da doença.
“Os dados não são positivos.
Houve uma queda de 13,9% dos
novos alunos em 2020, visto
que já tivemos o ingresso no pri-
meiro semestre. No segundo se-
mestre, (o ingresso) deve ser irri-
sório. Quem teve o ingresso em
2020, teve pouca aula e já preci-
sou migrar para o ensino remo-
to, perdeu o contato com o câm-
pus. Deve trancar o curso.”

Entidades temiam competição desleal no Enem;
falta definir datas de vestibulares e ano letivo

Renata Cafardo


Técnicos do Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educa-
cionais (Inep) estudam reduzir
o conteúdo do Exame Nacional
do Ensino Médio (Enem) este
ano. Segundo apurou o Esta-
dão, uma ideia seria fazer ape-
nas um dia de prova, em vez dos
dois que acontecem normal-
mente. Dessa forma, o Enem te-
ria menos questões. Hoje são
180 testes e uma redação.
O Inep anunciou anteontem
o adiamento do exame, que é o
maior vestibular do País, e esta-
va marcado para 1.º e 8 de no-
vembro. Mais de 4 milhões de
estudantes já se inscreveram –
as inscrições terminam hoje. O
Inep, que faz parte do Ministé-
rio da Educação (MEC), não de-
finiu ainda uma nova data. Mes-
mo assim, a página do Enem na
internet ainda informava até a
tarde desta quinta-feira que
não haveria adiamento.
De acordo com técnicos ouvi-
dos pelo Estadão, os estudos es-
tão tentando calcular quantas
perguntas podem ser retiradas
para que fique só um dia de pro-
va, mas não tão longo. É impor-
tante também manter a preci-
são do modelo estatístico, a
Teoria de Resposta ao Item
(TRI). Por ela, as perguntas são


calibradas, em testes anterio-
res, para se saber se são fáceis,
médias ou difíceis. A intenção é
manter o grau de dificuldade.
Hoje, são 45 questões de cada
área (Linguagens, Ciências Hu-
manas, Ciências da Natureza e
Matemática). Uma possibilida-
de seria diminuir para 30 de ca-
da, o que daria um total de 120
questões. Os técnicos buscam
incluir perguntas com enuncia-
dos menores para que a prova
possa ser feita mais rapidamen-
te. Como o Estadão mostrou,
um Enem “mais leve” é um pedi-
do de entidades de universida-
des privadas, que veem o adia-
mento da prova como um pro-
blema para o ano letivo de 2021.
O diretor do Semesp, que re-
presenta as instituições particu-
lares de São Paulo, Rodrigo Ca-
pelato, diz que um dia só de pro-
va poderia tornar o processo
mais rápido. “Os alunos não fa-
zem nada antes de sair a nota do
Enem”, diz.
Segundo ele, os estudantes
só decidem por uma universida-
de particular depois de sabe-
rem que não conseguiram uma
vaga nas públicas, pelo Sisu,
que usa a nota do Enem. Ele
acredita que uma prova reduzi-
da – inclusive sem a redação —
faria o Inep corrigir mais rápido
os milhões de exames. O proces-
so para liberação da nota costu-
ma durar dois meses.
O diretor do Colégio Bandei-
rantes, Mauro Aguiar, sugere o
mesmo. “Quem conhece avalia-
ção acha desaconselhável reda-
ção em exames envolvendo
massa de candidatos. Há dificul-
dades para minimizar o subjeti-
vismo”, diz. Ele cita exames
americanos de admissão em
universidades, como o Teste de
Aptidão Escolar (SAT, na sigla
em inglês). Técnicos do Inep,
no entanto, não pensam em eli-
minar a redação pelo significa-
do dela na prova. “Seria uma si-
nalização ruim para o ensino
médio, de que não há necessida-
de de escrever”, diz um funcio-
nário que pediu para seu nome
não ser divulgado.

Tulio Kruse
José Maria Tomazela


No primeiro dia de feriadão
improvisado em São Paulo,
aprovado pela Prefeitura da
capital para conter o avanço


do novo coronavírus, o isola-
mento social ficou em 51%. Já
para afastar os turistas, pre-
feituras estão fechando as
mais belas praias do litoral
norte com cercas e tapumes.
Viaturas das guardas munici-

pais permanecem na faixa de
areia para abordar turistas desa-
visados. Em todas as cidades,
quem chega de fora é abordado
em barreiras sanitárias que fun-
cionam 24 horas. Cidades da re-
gião têm os mais altos índices

de isolamento social e temem
perder os esforços realizados
até agora para evitar a dissemi-
nação do novo coronavírus.
Em São Sebastião, usou-se
um trator de esteira para erguer
barreiras nos acessos às praias
mais procuradas pelos turistas.
Os acessos mais amplos foram
fechados com cercas e tapu-
mes. As ações abrangem as
Praias de Maresias, Juqueí, Paú-
ba, Camburi, Camburizinho,
Guaecá e Barra do Sahy. A cida-
de tem 320 casos e 2 mortes pe-
lo novo coronavírus. As barrei-
ras nos acessos à cidade serão
mantidas até segunda-feira. Já a
prefeitura de Bertioga instalou
faixas nas praias com advertên-
cias aos veranistas.
Em Ubatuba, com 43 casos e 1
óbito, a prefeitura mobilizou
200 funcionários e voluntários
para manter isoladas as 28
praias. Viaturas da Guarda Mu-
nicipal circulam pelas faixas de
areia. As duas entradas princi-

pais da cidade têm barreiras. A
prefeitura de Caraguatatuba,
com 91 casos e 4 óbitos, levou
para o trecho municipal da Ro-
dovia dos Tamoios uma de suas
principais barreiras, que antes
acontecia na área urbana.
Os turistas têm a temperatu-
ra medida e são obrigados a
preencher um questionário. O
secretário de Mobilidade Urba-
na, Maurício Ferreira, descre-
veu algumas desculpas dadas
por veranistas como esdrúxu-
las. “Cortar a grama da casa, ali-
mentar o gato, pagar o pedreiro,

visitar a tia que não via há muito
tempo, tudo seria motivo para a
viagem até nossa cidade”, disse.
No primeiro dia de barreira, fo-
ram abordados cerca de 500 veí-
culos. Uma pessoa com tempe-
ratura acima de 37,8 graus foi
encaminhada para a unidade de
atendimento da covid-19.

Capital. Em todo o Estado, a
média de isolamento social foi
ainda menor do que na capital –
49% na quarta, um ponto por-
centual a mais do que no dia an-
terior. À exceção dos fins de se-
mana, quando mais pessoas
têm ficado em casa, é o resulta-
do mais alto desde o início do
mês. Só que ainda longe do
ideal, de 60% ou 70%.
Ontem, a Assembleia Legisla-
tiva analisava no fim da noite o
projeto do governador João Do-
ria (PSDB) que adianta para se-
gunda-feira o feriado estadual
de 9 de julho. A proposta visa a
ampliar o isolamento social.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


lEfeito covid

Erika Motoda

A


lunos e instituições de
ensino receberam
bem a notícia do adia-
mento do Exame Nacional
do Ensino Médio (Enem), an-
teriormente marcado para
os dias 1.º e 8 de novembro.
Mas com ressalvas. Isso por-
que o Ministério da Educa-
ção decidiu postergar a pro-
va de um a dois meses, perío-
do considerado “abstrato”
por não definir data exata.
“Queremos critérios, co-
mo atrelar o adiamento ao

tempo de prorrogação do ano
letivo, pois ainda não sabemos
quanto tempo as aulas vão ficar
suspensas”, disse o presidente
da União Nacional dos Estudan-
tes (UNE), Iago Montalvão.
A desigualdade entre estudan-
tes ricos e pobres foi um dos
principais motivos que levaram
entidades ligadas à educação e
o Ministério Público Federal
(MPF) a pressionar o governo
pelo adiamento, já que os alu-
nos com melhores condições te-
riam como prosseguir com os
estudos durante o isolamento.
Para a coordenadora pedagó-

gica da UniFavela, Fernanda
Azevedo, a pandemia se somou
a outras dificuldades. “O tempo
de preparação para o vestibular
é bem corrido por si só, porque
tem a defasagem de conteúdo
que alguns alunos precisam cor-
rer atrás. Antes, eles utilizavam
para estudar o espaço do Insti-
tuto Vida Real, que fica descen-
do o Complexo da Maré”, expli-
cou. “Agora, temos alunos que
estão afastados de qualquer es-
paço alternativo às casas, que às
vezes têm bastante gente. Eles
relatam também a falta de aces-
so à boa internet.”
Mesmo quem tem estrutura
reclama de dificuldades de
adaptação. Se no ano passado
Maria Júlia Akemi Umeki, de 19
anos, conseguia ficar até as 22
horas no cursinho, um ambien-
te de “calmaria”, neste ano ela
precisou procurar um quarto
inutilizado em casa para trans-
formar em seu ambiente de es-
tudo. “Montei uma mesa e me
isolei da família para conseguir
me concentrar melhor. Mas sei
que é um privilégio ter esse mo-

mento de solitude.” Ela, que
tenta uma vaga em Medicina
na USP, aprovou o adiamen-
to por ter mais tempo para
estudar. Para ingressar no
curso terá de prestar outra
prova, a Fuvest, que ainda
não sinalizou se vai adiar as
datas. “(As universidades)
Não se posicionarem deixa a
gente ainda mais nervoso.”
Os cursinhos disseram
que não tiveram o cronogra-
ma afetado pelo isolamento
porque conseguiram trans-
portar as aulas para o ambien-
te virtual. Agora, com o adia-
mento do Enem, estão ava-
liando o que fazer com a so-
brevida que adquiriram.

Rodízio. O diretor do Anglo,
Daniel Perry, contou que a es-
cola já se prepara caso seja
possível voltar às atividades
presenciais neste ano. “Se ne-
cessário, um rodízio entre os
alunos. Um grupo terá as au-
las presenciais, e o outro terá
o mesmo conteúdo, só que
no ambiente digital.”

lSem redação


Exame teria menos


questões que as 180


habituais, caso ideia seja


colocada em prática;


redação deve ser mantida


lTrânsito livre

Novo normal manterá EAD no ensino superior presencial


“É difícil se engajar, porque
esse aluno teve 15 dias de
aula efetivamente. Ele deve
trancar o curso.”
Rodrigo Capelato
DIRETOR DO SEMESP

Pandemia fará cursos se


reinventarem; neste ano,


queda de alunos já foi de


13,9% no 1º semestre,


segundo Semesp


FELIPE RAU/ESTADÃO - 3/11/

1º dia de prova, em 2019. Mais de 4 milhões já se candidataram neste ano e as inscrições devem ser encerradas hoje

Teste para milhões

“Quem conhece avaliação
acha desaconselhável
redação em exames
envolvendo massa de
candidatos. Há dificuldades
para minimizar o
subjetivismo.”
Mauro Aguiar
DIRETOR DO COLÉGIO BANDEIRANTES,
DA ZONA SUL DE SÃO PAULO


Com adiamento,


Enem pode ser


reduzido a 1 dia


2 quilômetros
foi o pico de lentidão na capital
paulista ontem. Segundo a Com-
panhia de Engenharia de Tráfego
(CET), a cidade de São Paulo não
registrou nenhum congestiona-
mento.
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