O Estado de São Paulo (2020-05-22)

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A14 SEXTA-FEIRA, 22 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Esportes


LAUSANNE


O presidente do Comitê
Olímpico Internacional
(COI), Thomas Bach, admi-
tiu pela primeira vez ontem a
possibilidade de cancelamen-
to da Olimpíada de Tóquio,
marcada agora para julho de



  1. Isso ocorrerá se a disse-
    minação do novo coronaví-
    rus não estiver controlada.
    Os Jogos já foram adiados em
    um ano justamente por causa
    da pandemia. Ontem, Bach
    foi claro: não há plano B. Se
    não puder ser realizada na ca-
    pital japonesa no próximo
    ano, somente haverá Olimpía-
    da em Paris, em 2024.
    “Francamente, consigo en-
    tender isso (o cancelamento),
    porque você não pode empre-
    gar para sempre 3 mil ou 5 mil
    pessoas em um comitê organi-
    zador. Você não pode mudar to-
    do ano a programação esporti-
    va mundial inteira de todas as
    principais federações. Você
    não pode ter os atletas sob incer-
    tezas”, afirmou o presidente do
    COI, em entrevista à BBC.
    Se isso ocorrer, será a quarta
    vez na era moderna que uma
    Olimpíada deixará de ser reali-
    zada. Porém, nas três vezes an-
    teriores o cancelamento ocor-
    reu por causa das duas Guerras
    Mundiais (Berlim-1916, Tó-
    quio-1940 e Londres-1944).
    A afirmação de Bach está em
    consonância com declaração re-
    cente de Shinzo Abe, primeiro-
    ministro japonês, de que os Jo-
    gos – marcados para o período
    entre 23 de julho e 8 de agosto
    de 2021, mas que exige dos atle-


tas aclimatação no Japão com
algum tempo de antecedência –
podem não ocorrer caso a pan-
demia não esteja contida. O
país já registra 784 mortes por
causa da covid-19.
O adiamento forçado da
Olimpíada custou caro. Na se-
mana passada, Bach revelou
que somente o COI estima ar-
car com custos de até US$ 800
milhões (R$ 4,45 bilhões) para
cobrir despesas e outros itens
sob sua responsabilidade.
Cerca de US$ 150 milhões
(R$ 834,6 milhões) serão repar-
tidos pelos diferentes grupos
do Movimento Olímpico, como
os Comitês Olímpicos nacio-
nais e as federações internacio-
nais, “para que continuem com
as suas atividades e os seus pro-
gramas de apoio aos atletas”,
afirmou o presidente do COI.
Os outros US$ 650 milhões
(cerca de R$ 3,61 bilhões) serão
destinados ao Comitê Organiza-
dor de Tóquio-2020.
Apesar do alerta, Thomas Ba-
ch reforçou que o objetivo do
COI é realizar a Olimpíada em


  1. O dirigente reconheceu,
    no entanto, que há muitas inde-
    finições, incluindo a possibilida-
    de de os atletas terem de perma-
    necer em isolamento na Vila du-
    rante o período dos Jogos.
    “O que isso pode significar pa-
    ra a vida em uma Vila Olímpica?
    Todos esses cenários diferen-
    tes estão sendo considerados e
    é por isso que estou dizendo
    que é uma tarefa gigantesca,
    porque existem muitas opções
    diferentes que não são fáceis de
    abordar”, disse Bach. “Quando
    tivermos uma visão clara de co-
    mo o mundo será visto em 23 de
    julho de 2021, tomaremos as de-
    cisões apropriadas.”
    Realizar os Jogos com por-
    tões fechados, como defende
    uma pequena parte dos japone-
    ses, é algo que não está no radar
    do COI. “Não é isso que quere-
    mos, porque o espírito olímpi-
    co é sobre unir fãs. É isso (a pre-
    sença de torcedores) que torna os
    Jogos únicos”, defende Tho-
    mas Bach, para quem essa hipó-
    tese não passa no momento de
    especulação.


O adiamento da Olimpíada de
Tóquio para 2021 mudou os pla-
nos de todos os atletas, sobretu-
do os veteranos. Para estes, se
os Jogos vierem mesmo a ser
cancelados, será o fim do sonho
olímpico. No limite da idade pa-
ra competir em alto nível, suas
chances de participar da dispu-
ta de Paris, em 2024, são pratica-
mente nulas.
É o caso do velejador Robert
Scheidt, referência do Brasil na
modalidade. O dono de cinco

medalhas olímpicas já precisou
refazer seus planos com o adia-
mento por um ano dos Jogos de
Tóquio. Aos 47 anos, ele voltou
a competir na classe Laser, que
exige bastante fisicamente do
atleta. Daqui a quatro anos, será
muito difícil para ele, apesar de
toda a sua técnica e experiên-
cia, competir na Françã.
Há casos emblemáticos, co-
mo o do velocista Justin Gatlin.
O norte-americano – campeão
olímpico dos 100 metros em
Atenas-2004 – pretendia se apo-
sentar neste ano, após disputar
uma Olimpíada pela quarta vez
na carreira. Vai esperar para se
despedir em 2021, quando esta-
rá com 39 anos, e disse acreditar
que ainda assim teria chance de
correr por uma medalha. Mas

se a competição em Tóquio for
cancelada, ele não deverá pro-
longar seu adeus às pistas.
Allyson Felix, outra represen-
tante do atletismo dos EUA,
tem problema semelhante.
Após dar à luz sua filha em de-
zembro de 2018, ela estabele-
ceu os Jogos de Tóquio, até en-
tão marcados para 2020, como
sua competição final. Em 2021,
ela terá 35 anos e, mantidos os
planos de disputar sua quinta
Olimpíada, terá ainda de enfren-
tar mais uma temporada de vi-
da dupla, de mãe e de atleta. Es-
sa disposição ela tem. Mas espe-
rar quatro anos não faz parte
dos planos de Felix.
Um cancelamento dos Jogos
de Tóquio também deverá pri-
var o universo olímpico de pelo

menos dois outros grande atle-
tas: Tiger Woods e Pau Gasol.
Lenda do golfe, Woods busca
sua primeira participação em
Jogos Olímpicos e lucrou com o
adiamento este ano, pois uma
lesão nas costas vinha atrapa-
lhando seu rendimento na bri-
ga por vaga. Com isso, ganhou
mais tempo para obter classifi-
cação para 2021, quando terá 45
anos. Mas, apesar de a idade não
ser um grande empecilho no gol-
fe, esperar até Paris talvez não
faça parte de suas ambições.
Gasol, de 39 anos, conquistou
quase tudo em sua carreira no
basquete. Falta apenas o ouro
olímpico. Por isso, pretendia de-
fender a Espanha em Tóquio no
ano que vem para completar a
coleção, que já tem duas pratas
e um bronze. Convivendo com
lesões e processos de recupera-
ção física, o atleta está cada vez
mais perto da aposentadoria e
não deverá ter condições físicas
para esperar até 2024. / CIRO
CAMPOS E FELIPE ROSA MENDES

Futebol. O poço do Cruzeiro
parece não ter fundo. O clube,
que caiu para a Série B e começa-
rá a competição com seis pon-
tos negativos – foi punido pela
Fifa por não pagar dívida com o
Al-Wahda, dos Emirados Ára-
bes Unidos –, fechou 2019 de-
vendo R$ 803.486.208. Apenas
no ano passado, no último da


gestão de Wagner Pires de Sá, o
déficit foi de R$ 394.100.974.
Pires renunciou a seu manda-
to na presidência que iria até 31
de dezembro deste ano pouco
depois do rebaixamento da
equipe à Série B do Campeona-
to Brasileiro. Ontem, o advoga-
do Sérgio Santos Rodrigues, de
37 anos, foi eleito para cumprir
um mandato-tampão, de 1.º de
junho até o fim do ano.
A eleição foi tumultuada,
com xingamentos, empurra-
empurra e até uma cusparada
no rosto do ex-presidente Zezé
Perrella – que apoia Rodrigues.
O presidente eleito assumirá

numa situação de caos. O clube
mineiro virou caso de polícia. É
investigado pelo Ministério Pú-
blico local por cinco crimes que
teriam sido praticados ainda na
administração de Wagner Pires
(outubro de 2017 a dezembro
de 2019): falsificação de docu-
mentos, falsidade ideológica,
apropriação indébita, organiza-
ção criminosa e lavagem de di-
nheiro.

Em outra frente, o Cruzeiro
convive com processos traba-
lhistas. Entre eles, estão o do
técnico Mano Menezes, que di-
rigiu o time entre 2016 e 2019 e
pede R$ 5,3 milhões por falta de
pagamento, e o do preparador
físico André Nicolau, que foi
funcionário do Cruzeiro de ja-
neiro de 2018 até este ano e re-
quer R$ 800 mil em sua ação.
Na Série B, a situação, que já
será ruim quando o campeona-
to começar, pode ficar pior. O
Cruzeiro pode perder mais seis
pontos se não pagar R$ 11,2 mi-
lhões ao Zorya, da Ucrânia, pela
compra do atacante Willian (a-
tualmente no Palmeiras), em


  1. Tem oito dias para quitar
    a dívida ou começará a Série B
    com 12 pontos negativos.


RALF ACERTA COM O AVAÍ
PARA DISPUTAR A SÉRIE B

Para veteranos, não competir em


2021 significaria o fim do sonho


]O presidente do Avaí, Francisco
Battistotti, informou que o volante
Ralf, ex-Corinthians, assinou contrato
ontem com o clube para disputar a

Série B do Brasileiro. Prestes a com-
pletar 36 anos, Ralf estava no merca-
do desde que deixou o Corinthians.
Ele não joga desde o fim do Brasilei-
rão do ano passado. O volante teve
duas passagens pelo time paulista,
de 2010 a 2015 e entre 2018 e 2019.

FRANCK ROBICHON / EFE

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


ESPORTE INTERATIVO

TUDO TEM LIMITE

ALEX SILVA/ESTADÃO - 10/11/

AÇÃO TRABALHISTA

Cruzeiro revela rombo de R$ 800 milhões


Disney World é favorita


para receber a NBA


Olimpíada. Presidente Thomas Bach descarta outro adiamento; se pandemia não estiver controlada em 2021, não haverá competição


Thomas Bach
PRESIDENTE DO COI

‘Não se pode mudar
a programação das
federações todo ano
e manter os atletas
sob incertezas’

GUSTAVO ALEIXO / CRUZEIRO

Mandato-tampão. Rodrigues foi eleito ontem presidente

Dívida foi apurada no


balanço de 2019 do


clube, que pode perder


no total 12 pontos na


Série B por dar calote


5,3 milhões
de reais é o valor que Mano
Menezes pede na Justiça

Basquete. O complexo da
Disney World em Orlando está
se tornando favorito para se-
diar um possível retorno da
NBA em meio à pandemia do
novo coronavírus. Existe a pos-
sibilidade de que os 259 jogos
que faltam na temporada regu-
lar e os dos playoffs sejam dispu-
tados na Flórida. “A NBA tem
Orlando/Disney World como
grande favorito para ser o local


onde os jogos da temporada
2019-20 sejam retomados. Ga-
nhou um claro impulso, à frente
de cidades como Las Vegas”, in-
formou ontem o site The Athle-
tic, especializado em basquete
nos Estados Unidos.
A temporada regular da NBA
está suspensa desde 12 de mar-
ço. Em sua tentativa de concluir
a disputa, os dirigentes plane-
jam concentrar as equipes em

uma ou duas sedes, onde os atle-
tas ficariam protegidos o máxi-
mo possível do vírus, submeti-
dos a testes regulares e joga-
riam com portões fechados.
De acordo com o The Athle-
tic, a liga tende no momento pa-
ra a realização de jogos apenas
no complexo esportivo Disney
World de Orlando, embora ou-
tros locais, como Las Vegas e
Houston, também tenham sido
considerados. Orlando está no
caminho certo para ser escolhi-
da “desde que os detalhes finais
sobre os testes da doença e o
uso do hotel sejam resolvidos”.
A NBA continua, porém, a

considerar um formato de
dois locais para o retorno, o
que faz com que Las Vegas
tenha chances. Mas ainda
não confirmou se a tempora-
da será retomada nem ofere-
ceu um cronograma. O co-
missário Adam Silver disse
em 12 de maio que levaria de
duas a quatro semanas para
fazer esse anúncio oficial.
As equipes esperam que a
NBA emita diretrizes que
lhes permitam convocar os
jogadores, no que seria um
primeiro passo em direção a
um avanço formal da retoma-
da da temporada. /AFP

COI admite cancelar Jogos de Tóquio


Atletas como o brasileiro
Robert Scheidt e o
americano Justin Gatlin
não terão como esperar
até os Jogos de Paris

Sob ameaça. Mesmo depois do adiamento, a realização da Olimpíada de Tóquio ainda não está totalmente assegurada

Fla tem
muro da

Gávea
pichado

A visita do
presidente Ro-
dolfo Landim a
Jair Bolsonaro
no dia em que
1.179 morre-
ram por covid-
19 motivou
o vandalismo.
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