O Estado de São Paulo (2020-05-22)

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H2 Especial SEXTA-FEIRA, 22 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


SONIA RACY


DIRETO DA FONTE


Mariane Morisawa
ESPECIAL PARA O ESTADO
LOS ANGELES


Little Fires Everywhere, série
em oito episódios que chega
ao Amazon Prime Video no
Brasil nesta sexta-feira, 22,
tem alguns pontos em co-
mum com o sucesso Big Little
Lies, da HBO – além do “little”
no título.
Ambas têm um mistério no
centro, mulheres como perso-
nagens principais e são basea-
das em best-sellers. Pequenos
Incêndios por Toda Parte, de Ce-
leste Ng, e Pequenas Grandes
Mentiras, de Liane Moriarty,
foram publicados aqui pela In-
trínseca. E as duas são produzi-
das e estreladas por Reese Wi-
therspoon, que interpreta
mães controladoras – lá, Made-
line, aqui, Elena. “Engraçado,
eu não consigo ver semelhan-
ças entre as duas, a não ser a
maternidade, que é a essência
das personagens”, disse a atriz
em evento da Associação de
Críticos de Televisão, em Pasa-
dena, região de Los Angeles.


Big Little Lies se passava nu-
ma área afluente da Califór-
nia, com cinco mães lidando
com masculinidade tóxica,
abuso sexual e violência do-
méstica. Em Little Fires
Everywhere, baseado nas expe-
riências da escritora Celeste
Ng como americana de ori-
gem asiática em Shaker Heigh-
ts, em Ohio, também mostra
diferentes maneiras de ser
mãe e discute privilégio, clas-
ses sociais e racismo.
Elena Richardson (Withers-
poon) é de uma família tradi-
cional da cidade do Meio-Oes-
te, um lugar cheio de verde,
com belas casas e muitas re-
gras para não só ser, mas pa-
recer rica. Elena tem um ca-
samento modelo, quatro fi-
lhos adolescentes e é jorna-
lista. Acredita-se uma pro-
gressista, sem um fio de ca-
belo racista, mas não se dá
conta das vantagens que
teve na vida. E crê em se
encaixar nos moldes e fa-
zer tudo de forma plane-
jada e certinha, por isso
vive às turras com a fi-
lha Izzy (Megan Stott).
A chegada de Mia
Warren, vivida pela
atriz Kerry Washing-

ton (da série Scandal e do filme
Django Livre) e sua filha, a tam-
bém adolescente Pearl (Lexi
Underwood), num carro ve-
lho, onde moram se for preci-
so, transforma tudo. Mia é o
oposto de Elena: artista plásti-
ca, faz tudo espontaneamente,
mudando-se quando dá vonta-
de. As duas têm uma relação
tensa desde que se conhecem,
quando Elena mostra um apar-
tamento da família para Mia
alugar. Piora quando Pearl fica
amiga dos filhos de Elena, fas-
cinada por aquela vida que
não tem, e Izzy, incompreen-
dida pela mãe, se identifi-
ca com a artista.
O romance de Celes-
te Ng lidava com o ra-
cismo com a persona-
gem Bebe Chow (Lu
Huang), uma imigran-
te que vai colocar Ele-
na e Pearl de lados
opostos mais uma vez.
Mas, ao escalar Kerry
Washington para o pa-
pel de Pearl, há uma ou-
tra camada de debate so-
bre o assunto. Não que ela te-
nha sido escalada por isso.
Ganhadora do Oscar de me-
lhor atriz de 2006 pelo filme
Johnny & June e indicada na

mesma categoria por Livre
(2015), Reese Witherspoon
estava procurando uma par-
ceira dentro e fora das telas,
como já tinha feito com Nico-
le Kidman em Big Little Lies e
Jennifer Aniston em The Mor-
ning Show.
“Eu queria trabalhar com a
Kerry fazia tempo. Somos ami-
gas há anos e, quando li o livro,
vi que havia ali
muitos elemen-
tos complexos.
Precisava de al-
guém com quem
pudesse ter con-
versas difíceis.
Meu primeiro
instinto foi o de
pensar em quem realmente
vai botar a mão na massa. Por-
que é muito trabalho produzir
e atuar em uma série. E Kerry
faria isso, eu sabia. Fora que
ela traz uma graça e um aspec-
to intelectual ao trabalho”,
afirmou ainda.
O livro já tratava de diferen-
ças sociopolíticas, culturais e
de classe, na opinião de Kerry
Washington. “E também lida-
va com raça e de uma maneira
não binária, não são só bran-
cos e negros”, contou a atriz.
“Ele fala de identidade asiáti-

ca e imigrante, além de classe.
Mas adicionar esse outro ele-
mento de raça na equação,
com a Mia, enriquece a narrati-
va. É bastante coisa para des-
trinchar.”
Para dar conta de tudo, a
showrunner Liz Tigelaar mon-
tou uma equipe de roteiristas
diversificada, não só em ter-
mos de raça e de classe. “Havia
mães solteiras,
filhos de imi-
grantes, gente
como eu que foi
adotada, artis-
tas, poetas, gen-
te criada em
Ohio”, infor-
mou. “E nin-
guém estava lá por um aspec-
to, para ser a voz de uma raça,
ou para representar. Todos es-
tavam lá como seres comple-
tos e tiveram conversas muito
pessoais sobre os temas que
importavam para eles.”
Para Kerry Washington, is-
so tornou os personagens
mais ricos ainda. “Essas duas
são mulheres que se ama ou se
odeia. São como você, ou não
dá para ter ideia de como se
tornaram quem são. Mas são
muito reais e complexas”,
acrescentou.

‘REGINA FOI TRAÍDA


PELA SEGUNDA VEZ’


Caderno 2


CINEMATECA

DIFERENTES


MODOS DE SER


Regina Duarte chega à Cine-
mateca Brasileira sem cargo
definido e com a instituição
agonizando. Contas de luz,
que em média custam R$
150 mil por mês, estão atra-
sadas, débitos de folha de
funcionários se acumulam,
e até a unidade principal, na
Vila Clementino, tem seu
alvará em processo de rene-
gociação com a Prefeitura
de SP, a quem pertence o
terreno.

A Acerp – Associação Ro-

quette Pinto, que gere a Ci-
nemateca – tem esperança,
segundo a coluna apurou,
de que “Regina abrace a cau-
sa”. O MEC, ano passado,
rompeu o contrato de ges-
tão com a Acerp e já deve
R$ 11 milhões à entidade.

Indagado a respeito, Carlos
Vereza – amigo de Regina e
agora ex-eleitor de Bolsonaro


  • a ex-secretária foi “traída
    pelo presidente pela segunda
    vez” com a nova nomeação.
    A primeira, quando a atriz


passou dois meses na Cultura
e “ele não liberou um tostão
pra ela trabalhar”. E agora
“não faço ideia que cargo Re-
gina pode ocupar, porque ali
é lugar de técnicos em audio-
visual. Mas desejo que ela en-
contre alegria, tenho manda-
do mensagens pra ela”.

A última vez que estiveram
juntos foi na posse da então
secretária, em Brasília. An-
tes, Vereza entrevistou a
atriz, na Cinemateca, para
seu programa Plano Sequên-
cia (TV Escola) dedicado
a Olga Futemma, mais antiga
funcionária da instituição e
atual coordenadora. Justa-
mente sob quem se especula-
va, ontem, que Regina entra-
ria no lugar. Vereza não acre-
dita. “Posso garantir que do-
na Olga não sai”. E torce pa-
ra que a amiga atriz não de-
mita ninguém.

Expectativa com a gestão Má-
rio Frias, novo secretário da
Cultura? “Não posso ter. Ele
tem visão cultural muito ali-
nhada ao bolsonarismo”. Por
outro lado, faz apelo que cui-
dem da conta de luz, porque
a Cinemateca é refrigerada
24 horas “e temem um quin-
to incêndio”. A Cinemateca
custa R$ 13 milhões ao ano.
Neste 2020, não recebeu
qualquer repasse do gover-
no federal. \CECÍLIA RAMOS

Colaboração
Cecília Ramos [email protected]
Marcela Paes [email protected]

lA Vale está destinando R$
500 mil para potencializar ini-
ciativas de programa de volunta-
riado corporativo. Exemplo:
projeto escolhido visando arre-

cadar R$ 30 mil, só recebe da
empresa recursos quando con-
seguir R$ 15 mil em doações.

lO Projeto Fogão na Rua, de Éri-
ca Matusita, entrega quinzenal-
mente 500 refeições e kits de hi-
giene para moradores de rua.

lA MyBasic, que já produziu e

doou cerca de 20 mil máscaras,
faz nova ação em parceria com o
Instituto Ecotece.

lEm tempos de coronavírus, a
Câmara Árabe celebra o fim do Ra-
madã de um jeito diferente. A enti-
dade doa 500 cestas básicas para a
Mesquita Brasil, que faz trabalho
assistencial no Cambuci.

Blog: estadão.com.br/diretodafonte Facebook: facebook.com/SoniaRacyEstadao Instagram: @colunadiretodafonte

Reese Witherspoon e Kerry Washington


se unem na série ‘Little Fires Everywhere’


TRAMA SE BASEIA EM

LIVRO DA ESCRITORA
DE ORIGEM ASIÁTICA

CELESTE NG

POLAROID


José Bechara tem oscilado entre observações “pragmáticas e
subjetivas” a respeito dos efeitos pandemia. “Essa coisa de
novo normal, se vir, não será por pura vontade da humanida-
de. Como me lembrou um dos filhos, já passamos por tragé-
dias mais devastadoras e não mudamos. Alguns indivíduos e
alguns pequenos grupos talvez mudem – temos visto isso em
manifestações de ações solidárias. Mas acho que o que cha-
mamos de humanidade, só muda mesmo, quando é obrigada”,
pondera artista plástico, que segue trabalhando na quarente-
na. “Já reuni material suficiente para uma nova exposição”.

RESPONSABILIDADE
SOCIAL

DENISE ANDRADE/ESTADÃO

MÃE

Combustão


A recente peregrinação de
usineiros a Brasília, para con-
versar com Bolsonaro, per-
deu a razão de ser. Queriam,
e quase conseguiram, arran-
car do governo um aumento
da Cide na gasolina – com in-
tuito de que o etanol se tor-
nasse mais competitivo nas
bombas. A gasolina, vendida
nas refinarias, chegou a acu-
mular queda de preço de 52%
no ano, até o início de maio.

Isso fez crescer sua competiti-
vidade em relação ao etanol.

Combustão 2


Entretanto, a competitivida-
de do etanol, segundo mate-
mática do setor, é viável com
preço até 70% do cobrado na
compra de gasolina.

Hoje, segundo dados da
ANP, o produto está ainda a
64%. Isto é, abaixo do limite
traçado.

Combustão 3


Pelo que se apurou, avisado
pela ala liberal do governo,
Bolsonaro deu um chega pa-
ra lá na turma do álcool. Mas,
mesmo assim, não conse-
guiu que desistissem total-
mente da ideia.

Tem de tudo


Darson Ribeiro – ator e dire-
tor do recém inaugurado Tea-
tro-D, no Itaim – está entre-
gando livros para ajudar a
manter a casa. Em parceria
com a Cia das Letras, ele tem
dado descontos de até 30%
nas obras da editora.

Ele também está fazendo li-
ves diretamente do equipa-
mento cultural. Amanhã, por
exemplo, transmite D-Va-
neios de Amor: D-A Lírica ao
Lirismo, com participação es-
pecial do tenor Rubens Me-
dina ao piano de cauda.

FOTOS AMAZON PRIME VIDEO

Encontro.
Com oito
episódios
série fala de
privilégios,
classes
sociais,
racismo e
desafios da
maternidade

SILVANA GARZARO/ESTADÃO

Reese.
Outra mãe
controladora
na carreira
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