O Estado de São Paulo (2020-05-22)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-5:20200522:
O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 22 DE MAIO DE 2020 Política A


Marinho cita ‘devassa’ em


contas e pede investigação


Suplente do senador Flávio Bolsonaro requisita ao MPF que apure


notícias de que seus registros bancários estariam sendo vasculhados


Caio Sartori / RIO


Após as afirmações que fez en-
volvendo o senador Flávio Bol-
sonaro (Republicanos-RJ), de
quem é suplente, o empresário
Paulo Marinho prestou ontem
depoimento no Ministério Pú-
blico Federal sobre suspeita
de vazamento de informações
da Operação Furna da Onça.


Durante o depoimento, a de-
fesa do empresário e pré-candi-
dato à prefeitura do Rio pelo
PSDB pediu ao MPF que investi-
gue informações de que suas
contas bancárias estariam sido
alvo de uma “devassa” em repre-
sália às suas declarações.
Marinho se disse “perplexo”
com a possibilidade de invasão
de suas contas. Segundo o site

O Antagonista, “algum podero-
so de Brasília” estaria deman-
dando informalmente dados
bancários do empresário. “Eu
solicitei ao procurador que to-
masse as providências e apuras-
se”, disse Marinho após deixar a
sede do MPF no Rio.
Marinho e sua defesa não de-
ram detalhes sobre o que seria a
suposta devassa nas suas con-

tas bancárias.
Na eleição de 2018, o patrimô-
nio declarado do candidato a su-
plente era de R$ 752,7 mil. A lis-
ta de bens não inclui, por exem-
plo, a casa no Jardim Botânico,
zona sul do Rio, que serviu co-
mo uma espécie de bunker para
a campanha de Bolsonaro. Isso
porque a residência e outros
bens do empresário estão no no-
me de sua esposa.
A estratégia seria uma forma
de impedir bloqueios de bens
na Justiça, já que Marinho en-
frenta vários processos envol-
vendo antigos negócios, como
os feitos em parceria com Nel-
son Tanure, de quem já foi só-
cio no estaleiro Verolme e com
quem trabalhou no Jornal do
Brasil. Os dois viraram inimi-
gos na Justiça, onde também
responderam a processos movi-
dos por antigos funcionários.

Ao deixar a Procuradoria-Ge-
ral, Marinho disse que deixou
provas de suas declarações com
os procuradores, mas que não
poderia revelar mais nada. “Re-
produzi o meu depoimento de
ontem (anteontem, à Polícia Fe-
deral) com riqueza de detalhes
maior porque a investigação
aqui é mais ampla. Trouxe pro-
vas, deixei nas mãos do procura-

dor. E ele me recomendou que
eu, igualmente ao depoimento
de ontem, não declarasse ou di-
vulgasse o teor.”
Entre as provas que podem
ter sido apresentadas por Mari-
nho estão papéis que compro-
vem a realização de reuniões en-
tre ele, Flávio e outros aliados
que ele citou em entrevista pu-
blicada no domingo pelo jornal
Folha de S.Paulo. À publicação,
Marinho relatou que Flávio te-
ria recebido, de um delegado da
Polícia Federal, informações va-
zadas sobre uma investigação
que poderia atingir seu ex-asses-
sor Fabrício Queiroz.
O procurador Eduardo Beno-
nes disse que o conteúdo apre-
sentado por Marinho é significa-
tivo e faz com que as investiga-
ções continuem. “Foi produti-
vo. No mínimo temos razão pa-
ra continuar as investigações.”

lApontado por Paulo Marinho
como uma das pessoas que pre-
senciaram o suposto vazamento
da Operação Furna da Onça, o
advogado Victor Granado Alves
defendeu Jair Bolsonaro e os fi-
lhos em casos que envolvem
ofensas aos quilombolas, pedi-
dos de reparação à imprensa e
acusação contra Marcelo Freixo.


MP mantém


inquérito sobre


bens de Flávio


GILVAN DE SOUZA/AGÊNCIA O DIA

Oitiva. Paulo Marinho, ao
deixar Procuradoria-Geral

Assessor de senador


defendeu família


Embora a Polícia Federal (PF)
do Rio de Janeiro tenha pedido
o arquivamento de um inquéri-
to que apura se o senador Flávio
Bolsonaro (Republicanos-RJ)
mentiu ao declarar imóveis nas
últimas eleições, o Ministério
Público Eleitral decidiu que vai
continuar com a investigação
de suspeita de lavagem de di-
nheiro e falsidade ideológica
eleitoral.
Além disso, o caso, que está
nas mãos da 204ª Promotoria
Eleitoral do Rio de Janeiro, pas-
sa a receber o auxílio do Grupo
de Atuação Especializada no
Combate à Corrupção (Gaecc),
o mesmo que investiga o supos-
to esquema de rachadinha
(quando servidores devolvem
aos políticos parte dos seus salá-
rios) no antigo gabinete de Flá-
vio na Assembleia Legislativa
do Rio de Janeiro.
Em março, a PF havia pedido
o arquivamento do inquérito,
mas a Promotoria não concor-
dou e solicitou ajuda ao Gaecc.
Isso porque as duas investiga-
ções podem se cruzar, já que o
inquérito eleitoral apura se o se-
nador mentiu ao declarar seu
patrimônio nas últimas elei-
ções de que participou.
A informação a respeito da
manutenção do inquérito foi no-
ticiada pelo jornal O Globo e con-
firmada pelo Estadão. “O Gru-
po de Atuação Especializada no
Combate à Corrupção do MPRJ
(GAECC/MPRJ) confirma que
passou a atuar no caso a partir
de auxílio solicitado pela 204ª
Promotoria Eleitoral e que está
analisando o inquérito para ado-
ção das medidas cabíveis”, in-
formou o Ministério Público,
por meio de nota.


Rachadinha. A investigação do
Gaecc sobre o esquema de ra-
chadinha está em estágio mais
avançado. Há mais de um ano,
em abril de 2019, os promoto-
res conseguiram autorização
da Justiça para fazer as primei-
ras quebras de sigilo bancário e
fiscal dos investigados. Depois,
em dezembro, chegaram a cum-
prir mandados de busca e
apreensão.
O juiz que autorizou as medi-
das cautelares, Flávio Itabaiana
Nicolau, é o mesmo em cujas
mãos está a função de decidir
sobre o que for produzido no
inquérito eleitoral.
O esquema investigado teria
o ex-assessor Fabrício Queiroz
como operador financeiro. Ho-
mem de confiança da família
Bolsonaro, ele seria o responsá-
vel por receber de volta parte
do salário dos funcionários do
gabinete de Flávio. O senador
nega todas as acusações de irre-
gularidades. / C.S.

Free download pdf