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A8 SEXTA-FEIRA, 22 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Internacional
PRAIA COM BAIA
E RESERVA FEITA
PELA INTERNET
Balneário francês reabre com distanciamento,
horários fixos e proibição de castelos de areia
L
a Grande-Motte, um
dos principais balneá-
rios da costa mediter-
rânea francesa, começou a
testar um jeito diferente de
frequentar a praia, em uma
reabertura lenta após meses
de confinamento.
Diferentemente do restan-
te do país, onde ainda vigora
uma proibição a banhistas, o
destino turístico permite
que as pessoas se esparra-
mem pela areia e tomem um
pouco de sol, mas dentro de
um cercado e com reserva pré-
via, que pode ser feita pela in-
ternet.
Desde ontem, La Grande-
Motte, perto de Montpellier, de-
limitou uma área de 2 mil me-
tros quadrados para testar o
que chama de “praia comparti-
lhada”, onde é permitido esten-
der a toalha, mas com “um máxi-
mo de proteção sanitária”. O si-
te do município indica que o tu-
rista deve reservar o espaço gra-
tuitamente, escolhendo um
dos dois horários disponíveis:
na parte da manhã, das 9 horas
às 12h30, e à tarde, das 14 horas
às 17h30. O interessado pode
conseguir um trecho de areia
para duas, quatro ou seis pes-
soas, que precisam ficar dentro
de um espaço delimitado por es-
tacas de madeira e cordas.
A experiência, prevista para
durar até 2 de junho, foi um su-
cesso absoluto no primeiro dia,
que coincidiu com um feriado
nacional e o clima de verão,
com temperaturas perto dos
30ºC. Para o prefeito Jacques
Witkowski, a iniciativa funcio-
nou e pode ser reproduzida em
outros centros turísticos da
França.
Desde o início da reabertura,
no dia 11, o local permitiu a en-
trada de banhistas, mas em con-
dições muito restritas com a
proibição de atividades de la-
zer, como construir castelos de
areia, praticar esportes em gru-
po ou fazer piqueniques.
Antes da pandemia, La Gran-
de-Motte recebia pelo menos 2
milhões de turistas ao ano, que
desapareceram nos últimos me-
ses. A cidade, criada do zero, ti-
nha como objetivo ser o desti-
no dos franceses que debanda-
vam em massa para a Espanha
no verão. Além disso, a ideia
também era frear o apetite de
especuladores imobiliários,
que já tinham plano de retalhar
a área e vender terrenos para
endinheirados por uma peque-
na fortuna.
De acordo com o jornal Le
Monde, o canteiro de obras foi
concedido ao arquiteto Jean Bal-
ladur, que dedicou 30 anos de
sua vida a ele. As obras come-
çaram em 1967. Foram movi-
mentados 5 milhões de me-
tros cúbicos de areia, o solo
foi dessalinizado e os mosqui-
tos que infestavam o local fo-
ram erradicados, segundo o
jornal. A primeira parte da ci-
dade foi inaugurada em 1974,
quando a estação se tornou
oficialmente um município.
Em 1983, o projeto estava
completo.
Segundo o historiador Gil-
les Ragot, quando começou
a ser construído, o balneário
foi apontado como uma re-
volução arquitetônica e sím-
bolo do turismo popular. Pa-
ra Ragot, La Grande-Motte
foi uma “utopia social”.
“Um turismo popular, onde
acampamentos, casas e apar-
tamentos individuais se en-
contram. Férias no mar de-
vem estar ao alcance de to-
dos”, disse o historiador ao
Le Monde. / EFE
BONN, ALEMANHA
A União Europeia divulgou
ontem novas diretrizes para
voos no bloco. As regras fo-
ram publicadas pela Agência
Europeia para Segurança da
Aviação (Aesa), órgão regula-
dor, e o Centro Prevenção e
Controle de Doenças. Entre
as medidas estão o uso obri-
gatório de máscara, restri-
ções à bagagem de mão, além
da redução do serviço de bor-
do e da proibição da venda de
produtos nos voos.
O documento de 28 páginas é
um sinal de como será voar pe-
los próximos anos – ou até que a
pandemia seja contida. “O obje-
tivo é garantir a proteção dos
passageiros contra o coronaví-
rus em cada etapa da viagem, do
início ao fim”, diz o protocolo.
“O próximo passo será as com-
panhias aéreas e as empresas
operadoras de aeroportos adap-
tarem as diretrizes a suas insta-
lações individualmente”, disse
Patrick Ky, diretor da Aesa.
A agência formulou as diretri-
zes a pedido da Comissão Euro-
peia para que os voos possam
ser retomados. De acordo com
o novo protocolo, o serviço de
bordo será reduzido ao máximo
- apenas comida lacrada e bebi-
das em lata serão servidas nos
voos mais longos. Os passagei-
ros terão a responsabilidade
pessoal de não viajar com sinto-
mas e respeitar rigorosamente
as novas regras. De agora em
diante, por exemplo, acompa-
nhantes – amigos e parentes –
terão de se despedir do lado de
fora do terminal e não poderão
entrar no aeroporto.
Os passageiros também fi-
cam obrigados a fornecer dados
de contato – nome, assento, te-
lefone ou e-mail – para serem
localizados caso alguém no mes-
mo voo seja diagnosticado com
a covid-19. Outro ponto é o cum-
primento do distanciamento so-
cial de 1,5 metro – quando for
possível, segundo a agência. A
medida é considerada uma das
mais problemáticas.
A administração de alguns ae-
roportos, no entanto, já adian-
tou que a determinação é impos-
sível de ser cumprida. John Hol-
land-Kaye, executivo do Hea-
throw, de Londres, disse que es-
sa distância física no portão de
embarque significaria uma fila
de um quilômetro para entrar
em um Boeing 747.
O documento também deter-
mina a medição de temperatura
e estabelece que ninguém viaja
com mais de 38°C. Os aeropor-
tos terão de oferecer cabines on-
de as autoridades devem ques-
tionar as pessoas que não pude-
rem embarcar. No texto, po-
rém, a agência admite que a me-
dida não é totalmente eficaz pa-
ra identificar a covid-19 e reco-
nhece que serve mais para de-
sencorajar o embarque de passa-
geiros com febre.
Barreiras de acrílico se torna-
rão comuns nos pontos de
check-in e nas áreas de seguran-
ça. Os funcionários dos aeropor-
tos deverão fornecer álcool em
gel e máscaras para os passagei-
ros que não levarem uma – elas
serão obrigatórias para maiores
de 6 anos.
A autoridade europeia reco-
menda também reduzir ao máxi-
mo as bagagens de mão para ace-
lerar o embarque e diminuir o
risco de contaminação. A limita-
ção, no entanto, não seria uma
determinação, mas uma orien-
tação para que as companhias
incentivem os passageiros, ofe-
recendo descontos para que as
malas sejam despachadas.
Nas últimas semanas, as com-
panhias aéreas vêm discutindo
o futuro do assento do meio nas
aeronaves, para ampliar o dis-
tanciamento dos passageiros.
Segundo a nova diretriz, em via-
gens dentro da Europa e para os
EUA ele poderá ser ocupado.
Mas, para locais mais distantes,
como Indonésia e Malásia, será
obrigatório deixá-lo vazio.
Usar o banheiro também fica-
rá mais difícil. As companhias aé-
reas foram aconselhadas a reser-
var um lavatório exclusivo para
a tripulação e devem evitar que
os passageiros façam fila nos cor-
redores. As autoridades alfande-
gárias foram orientadas a agili-
zar o controle de passaporte, de
preferência usando tecnologia
de reconhecimento facial. Algu-
mas salas e corredores dos seto-
res de imigração, portanto, deve-
rão ser redesenhados para que o
distanciamento seja respeitado.
A Associação Internacional
de Transportes Aéreos (Iata),
que reúne 290 companhias aé-
reas, elogiou as medidas. “As di-
retrizes estão de acordo com as
recomendações das empresas
e aeroportos”, disse a organiza-
ção, em comunicado.
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
MILÃO
A Itália tornou-se o primeiro
país europeu a enfrentar um ele-
vado número de mortos pelo co-
ronavírus quando as infecções
se alastraram no final de feverei-
ro. Um novo estudo indica que,
na ocasião, as autoridades esta-
vam cientes de que o surto ti-
nha começado muito antes do
que se acreditava.
O estudo, do Hospital Poli-
clínico de Milão, descobriu que
1 em cada 20 doadores de san-
gue já tinha anticorpos do vírus
na época, dias após a Itália diag-
nosticar o primeiro caso de co-
ronavírus no país, em 20 de feve-
reiro.
A descoberta sugere que o ví-
rus já estava se espalhando pela
Itália pelo menos duas semanas
antes de sua detecção. Evidên-
cia similar também surgiu na
França, onde uma amostra cole-
tada de um paciente, em 27 de
dezembro, recentemente tes-
tou positivo para o novo corona-
vírus, e na Califórnia, onde fun-
cionários da área de saúde des-
cobriram uma morte relaciona-
da ao vírus em 6 de fevereiro.
Na Itália, os pesquisadores
realizaram testes para ver se en-
contravam anticorpos em 800
amostras de sangue coletadas
em Milão, entre 24 de fevereiro
e 8 de abril. Eles descobriram
que 4,6% das pessoas assinto-
máticas que doaram sangue nas
primeiras semanas desse perío-
do – que coincidiu com o início
da pandemia – tinham anticor-
pos para o coronavírus. “Nossa
impressão é que a infecção co-
meçou a circular no fim de 2019
ou no começo de 2020”, disse
Luca Valenti, um dos pesquisa-
dores.
Apesar de o estudo não reve-
lar nenhuma novidade sobre a
natureza do vírus, ele dá uma
clara ideia de sua chegada à Eu-
ropa. Além disso, pode ajudar a
explicar o grande número de
mortos na Itália, que ontem che-
gou a 32.486 óbitos. O país en-
trou em sua terceira semana de
reabertura gradual depois de
uma longa quarentena e ontem
foram registradas 156 mortes
em 24 horas, a maioria na Lom-
bardia. / NYT
lTurismo
Distância.
Mulher em área
reservada em La
Grande-Motte,
na França
Vírus chegou à Itália antes de fevereiro, aponta estudo
2 milhões
de turistas frequentavam
todos os anos o balneário
La Grande-Motte antes da
pandemia do coronavírus
atingir a França.
UE restringe bagagens, serviços de
bordo e obriga uso de máscara em voos
Em documento de 28 páginas, Agência Europeia para Segurança da Aviação estabelece ainda que passageiros terão responsabilidade de
não embarcar com sintomas da covid-19; parentes e amigos terão de se despedir de quem vai pegar avião do lado de fora dos terminais
CLEMENT MAHOUDEAU / AFP
Cercadinho francês
LUCA BRUNO/AP
Cuidado. Imagem do artista Franco Rivolli, em Milão
Um de cada 20 doadores
de sangue de hospital
de Milão já tinha
anticorpos antes do
anúncio do primeiro caso