O Estado de São Paulo (2020-05-23)

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A10 Política SÁBADO, 23 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO

Na reunião ministerial em que
admite interferir em órgãos do
governo, o presidente Jair Bol-
sonaro defendeu armar a popu-
lação para, segundo a sua vi-
são, evitar que se imponha
uma ditadura no País. No en-
contro, ocorrido no Palácio do
Planalto no dia 22 de abril, o
presidente indica ver fragilida-
de nas instituições ao declarar
considerar ser “fácil”, “facíli-
mo” dar um golpe e acabar com
o atual sistema democrático.
“Quero todo mundo armado!
Que o povo armado jamais será
escravizado.”
“Pôr uma ditadura! Facíli-
mo! Um bosta de um prefeito
faz uma bosta de um decreto,

algema, e deixa todo mundo

dentro de casa. Se tivesse arma-

do, ia para a rua”, afirmou Bol-

sonaro, se referindo a medidas

restritivas impostas para evi-

tar a propagação do novo coro-

navírus. “E se eu fosse ditador,

né? Eu queria desarmar a popu-

lação, como todos fizeram no

passado quando queriam, an-

tes de impor a sua respectiva

ditadura.”

Na sequência, Bolsonaro co-

bra dos ministros da Defesa,

Fernando Azevedo, e da Justi-

ça, na época ainda Sérgio Mo-

ro, que assinassem uma porta-

ria para dar “um puta de um

recado para esses bostas”. A

portaria citada foi publicada

no Diário Oficial da União do

dia seguinte, aumentando o nú-

mero de munições de armas de

fogo que cada pessoa pode ter

acesso.

Com a modificação, o núme-

ro de projéteis permitidos, no

ano, pode ultrapassar 6 mil, se-

gundo as contas do Instituto

Sou da Paz. “Por que que eu tô

armando o povo? Porque eu

não quero uma ditadura! E não

dá pra segurar mais! Não é?

Não dá pra segurar mais”, disse

Bolsonaro na reunião.

A medida foi publicada uma

semana após Bolsonaro orde-

nar suspender outras três porta-

rias do Exército que, na visão de

especialistas, dificultavam a

aquisição pelo crime organiza-

do de munições desviadas de

quartéis. Como revelou o Esta-

dão, o Ministério Público Fede-

ral investiga interferência inde-

vida do presidente no episódio.

Na segunda-feira, procuradores

acionaram a Justiça para que as

normas sejam restabelecidas.

‘Rabo’. Bolsonaro também ci-

ta decisões “monocráticas” to-

madas por ministros do Supre-

mo Tribunal Federal para fazer

referência a um possível impea-

chment.

“O dia que for proibido de ir

para qualquer lugar do Brasil,

pelo Supremo, acabou o man-

dato. Espero que eles não deci-

dam, ou ele, né? Monocratica-

mente, querer tomar certas me-

didas porque daí nós vamos ter

uma crise política de verdade”,

disse Bolsonaro. “Eu não vou

meter o rabo no meio das per-

nas. Isso daí...zero, zero. Tá cer-

to?”, completou o presidente.

Bolsonaro se referia à sua

participação em uma manifes-

tação que defendia o fechamen-

to do Congresso e do STF no

fim de semana anterior. A orga-

nização do ato virou alvo de in-

quérito na Corte por decisão do

ministro Alexandre de Moraes.

Poucos dias antes, Moraes já

havia decidido, monocratica-

mente, que o governo federal

não poderia derrubar decretos

de Estados e municípios que es-

tabeleceram medidas de isola-

mento social. A decisão do mi-

nistro foi confirmada mais tar-

de pela maioria da Corte. /

JUSSARA SOARES, JULIA LINDNER,

AMANDA PUPO, MARCELO GODOY,

PEPITA ORTEGA, PAULO ROBERTO

NETTO, BIANCA GOMES, RAYSSA

MOTTA e RAFAEL MORAES MOURA

Ao reclamar que não recebia in-

formações dos órgãos de inteli-

gência do governo, na reunião

do dia 22 de abril, o presidente

Jair Bolsonaro afirmou que tem

um sistema de informações par-

ticular que funciona. Sua fala

não dá detalhes sobre como se-

ria esse sistema próprio.

“Sistemas de informações, o

meu funciona. O meu particu-

lar funciona. Os que têm oficial-

mente, desinforma. E voltando

ao tema prefiro não ter informa-

ção a ser desinformado em ci-

ma de informações que eu te-

nho”, disse o presidente.

O ex-ministro Gustavo Be-

bianno, morto em março, disse

que no início do governo o filho

do presidente e vereador Car-

los Bolsonaro (Republicanos-

RJ) queria criar uma Abin para-

lela, formada por policiais fede-

rais. A declaração foi dada em

entrevista ao programa “Roda

Viva”, da TV Cultura no último

dia 3 de março.

Em outro momento do en-

contro, o presidente disse aos

auxiliares que não pode ser “sur-

preendido com notícias”. “Pô,

eu tenho a PF que não me dá

informações; eu tenho as inteli-

gências das Forças Armadas

que não têm informações; a

ABIN tem os seus problemas,

tem algumas informações, só

não tem mais porque tá faltan-

do realmente... temos proble-

mas... aparelhamento, etc. A

gente não pode viver sem infor-

mação”, disse Bolsonaro.

Na sequência, o presidente re-

corre a uma metáfora da vida

familiar: “Quem é que nunca fi-

cou atrás da... da... da... porta ou-

vindo o que o seu filho ou a sua

filha tá comentando? Tem que

ver pra depois... Depois que ela

engravida não adianta falar

com ela mais. Tem que ver an-

tes. Depois que o moleque en-

cheu os cornos de droga, não

adianta mais falar com ele. Já

era. E informação é assim.”

Questionado, ontem à noite,

sobre o que seria seu sistema

particular de informações, Bol-

sonaro deu uma resposta sem

dados concretos: “É um colega

de vocês da imprensa, é um sar-

gento no Batalhão de Opera-

ções Especiais no Rio, um capi-

tão do Exército em Nioaque, é

um capitão da Polícia Civil em

Manaus, é um amigo que eu fiz

em um determinado local... Es-

sa informação que eu tenho,

pessoal minha, que eu descu-

bro muitas coisas, que lamenta-

velmente não descubro via inte-

ligência oficial, que é a PF, Mari-

nha, Aeronáutica e Abin.”

Bolsonaro afirmou, ainda,

que o vídeo não traz nenhum

indício que possa comprovar a

acusaçãode tentativa de interfe-

rência política na PF e fez críti-

cas ao ministro Celso de Mello,

do STF, que determinou a publi-

cidade à gravação. “Qual parte

do vídeo contém a mínima com-

provação de que houve interfe-

rência minha na superintendên-

cia do Rio, ou de qualquer outro

Estado, ou na diretoria-geral da

PF? Zero, não tem nada. Lamen-

to, senhor Sérgio Moro, uma

pessoa que tem história, um pas-

sado, ajudou muito a fazer justi-

ça no Brasil mostrando corrup-

ções bilionárias em estatais... te-

nha um fim melancólico des-

se”, afirmou.. / R.M.M., J.L,, J.S.,

A.P., P.R.N., B.G., M.G., R.M. e P.O.

lO presidente Jair Bolsonaro

afirmou que o serviço secreto

chinês tem agentes infiltrados

em ministérios brasileiros. A de-

claração foi feita presidente na

reunião ministerial do dia 22 de

abril. “É uma realidade. Não

adianta esconder mais, tapar o

sol com a peneira, né? Tem, não

é... em vá... em alguns ministé-

rios têm gente deles plantando

aqui dentro, né? Então não quere-

mos brigar com os chineses, ze-

ro briga com a China. Precisa-

mos deles para vender? Sim.

Eles precisam também de nós.”

Bolsonaro disse ainda que no

fim de semana anterior estava

estudando como é que “o serviço

chinês trabalha nos Estados Uni-

dos”. “Qual a preocupação nossa

aqui?” perguntou. O trecho se-

guinte da fala do presidente esta-

va coberto por uma tarja preta no

laudo da Polícia Federal divulga-

do pelo Supremo Tribunal Fede-

ral. Mas é claro o sentido da fra-

se de que Bolsonaro se refere ao

país asiático. “Tá todo mundo

vendo o que tá acontecendo.”

O presidente não deixa claro o

que o leva a acreditar que o servi-

ço secreto chinês infiltrou agen-

tes no governo brasileiro bem

como não diz quem seriam os

espiões a serviço daquela nação.

“Devemos nos aliar com quem

tem umas afinidades conosco.

Pra gente poder fazer valer a nos-

sa vontade.” Além de Bolsonaro,

o ministro da Economia, Paulo

Guedes, é o primeiro a citar a Chi-

na na reunião a ter sua fala cober-

ta por tarja no laudo. / M.G., J.L.,

R.M.M., P.O. e R.M.

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Quando o CRECISP passou a operar com toda

a sua equipe em home office, devido ao decreto de

isolamento social, a Diretoria colocou em prática

algo que já vinha sendo planejado há algum tempo:

a consolidação do atendimento virtual do Conselho.

Sem sombra de dúvida, a automação do aten-

dimento aos requerentes torna as empresas mais

dinâmicas e eficientes, proporcionando satisfação

e trazendo credibilidade às instituições.

No caso específico do CRECISP, as inovações

tecnológicas sempre estiveram nos projetos da entida-

de, trazendo uma modernização à gestão e integrando

os seus diversos setores. E agora, com a pandemia,

surgiu o momento mais adequado para que essa fer-

ramenta fosse disponibilizada para a utilização dos

inscritos em seu contato com o CRECISP.

Assim, ao ingressar em sua área restrita no site

do Conselho, o corretor já pode contar com o chat

online, por meio do qual ele será prontamente aten-

dido, para tirar dúvidas, solucionar questionamentos

e acompanhar processos. Com isso, o trabalho será

mais rápido e haverá uma sensível diminuição no

Além do chat personalizado, outro ponto importante no contato com os corretores é o FAQ (Fre-

quently Asked Questions, ou Perguntas Frequentes), que é uma maneira rápida de auxiliar o profissional

a encontrar as melhores soluções para suas demandas.

No acesso ao link (www.crecisp.gov.br/faleconosco/atendimentovirtual) o corretor pode se informar sobre

seu cadastro, aprender a criar seu e-mail, a obter seu CIRP, e saber detalhes de cursos e palestras oferecidos

pelo CRECISP. “Tudo isso pela ferramenta de busca pelo assunto de interesse do requerente”, explicou Viana.

Vale lembrar que o atendimento via e-mail permanece também à disposição dos corretores, da seguinte forma:

Assuntos tratados pelo Atendimento Virtual, pelo e-mail: [email protected]

Cartão de Identidade e Regularidade Profissional (CIRP); Diploma Anual de Regularidade

Empresarial (DAREM); Boletos de anuidades; Denúncias; Inscrição Pessoa Física e Pessoa Jurídica;

Inscrição/ Renovação de Estágio; Reinscrição Pessoa física; Inscrição CNAI; Inscrição Secundária/

Exercício eventual; Cancelamento de inscrição (PF, PJ e estágio) e Suspensão de inscrição (a pedido

do Corretor); Suspensão de inscrição por débitos; Registro de Nome abreviado (PF)/ Nome fantasia

(PJ); Dúvidas sobre a lei 6.530/78 e legislação relacionada ao profissional; Recuperação de senha de

E-mails; Como criar site e e-mail @creci.org.br; Informações sobre cursos EAD e palestras; Pedido

de restituição de valores; Débitos (executados, protestados e não inscritos em dívida).; Avaliação

imobiliária; PTAM; Orientação sobre Exercício Ilegal da Profissão

Assuntos relativos ao Portal Imobiliário, pelo e-mail: ([email protected])

Como fazer a migração de dados; Como acessar a ferramenta; Conhecendo o Portal; Ativação de

Conta; Como cadastrar imóveis manualmente o Portal

Assuntos Tratados pela PRESIDÊNCIA, pelo e-mail: presidê[email protected]

Órgãos Públicos; Poder Judiciário; Agendamentos; Diretoria; Sugestões, reclamações e elogios

Automação garante eficiência

no atendimento aos inscritos

uso de recursos burocráticos, como papel e arquivos.

A automação dos processos de atendimento

vai muito mais além do que simplesmente atender

alguém. Com ela, é possível alimentar um relacio-

namento e garantir uma relação duradoura entre o

clienteeaempresa.

De acordo com o presidente do CRECISP,

José Augusto Viana Neto, a intenção é oferecer um

serviço que supere as expectativas do corretor e da

sociedade. “Temos condições de dar um suporte de

ótima qualidade, com funcionários treinados e ap-

tos a solucionar as pendências de nossos inscritos.

Estamos trabalhando diuturnamente no sentido de

aprimorar ainda mais esse atendimento, buscando

a excelência constante.”

Viana comentou, ainda, que a automação dará

ao Conselho uma visão mais ampla a respeito

das demandas dos inscritos, mostrando gargalos,

pontos críticos e norteando a Diretoria, para que

possa corrigi-los.

“A automação é a chave para a agilização de

processo e para o cumprimento de prazos, trazendo

credibilidade às instituições.”

FAQ

lIsolamento

lDesinformado

Presidente afirma ter

sistema particular

de informações

O

vídeo da reunião ministerial de 22

de abril conta várias histórias absur-

das, ilegais e imorais. Sobre a interfe-

rência em órgãos de Estado a discussão não

deixa dúvidas, pois o próprio presidente a

admite, inclusive trocando, ao longo de

suas manifestações, o velho “tá ok?” por um

“ponto final”, agora seu desfecho peremptó-

rio. “Sou o chefe supremo das Forças Arma-

das e ponto final”, “Interfiro e ponto final”.

A obsessão pelo tema levou Bolsonaro a

revelar a ação de outros serviços eficientes.

Antes de entrar a tarja da censura judicial

nesta parte da reunião, deu para entender

que ele citava um serviço de informação chi-

nês. A novidade, só conhecida com a divul-

gação do vídeo, é a revelação de que o presi-

dente tem um esquema paralelo pessoal de

informação que funciona, enquanto os de-

mais, do Estado, não funcionam.

Foi também absurda a insistência com

que se referiu à necessidade de armar o po-

vo, pior ainda a razão: para defender-se de

ditadura. “Como é fácil impor uma ditadu-

ra aqui; o povo, se tivesse armado, iria para

a rua”. Povo armado na rua é revolução, cri-

me organizado ou Forças Armadas. Bolso-

naro quer armar o povo para enfrentar pre-

feito que fixou regras de isolamento social

durante a pandemia.

O presidente esbravejou, pediu defesa do

goveno, respostas e briga frontal, afirman-

do que, “a continuar assim, vamos ter crise

política de verdade”. É aqui que sua condu-

ta na reunião onde se passou o suposto cri-

me objeto de inquérito no Supremo se mis-

tura à nota assinada pelo ministro chefe da

GSI, Augusto Heleno, com as ameaças insi-

nuantes de sempre.

Nenhuma estratégia de combate à pande-

mia que massacra os brasileiros, nenhuma

palavra de comiseração às vítimas do coro-

navírus. Ao contrário, o presidente criticou

o prefeito de Manaus por abrir covas coleti-

vas. Até isto, en passant.

Para Bolsonaro,

China mantém

espiões no Brasil

GABRIELA BILO/ESTADÃO

Em gravação,

Bolsonaro defende

armar população

“Um bosta de um prefeito

faz uma bosta de um

decreto e deixa todo mundo

em casa. Se tivesse armado,

ia para a rua.”

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE

Presidente diz que é ‘facílimo’ dar um golpe e acabar com o atual

sistema democrático e que, contra isso, quer todo mundo armado
Pelo armamento. ‘Povo armado jamais será escravizado’, afirmou Bolsonaro na reunião

“Sistemas de informações,

o meu funciona. Os que

têm oficialmente,

desinforma. E voltando ao

tema prefiro não ter

informação a ser

desinformado em cima de

informações que eu tenho.”

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE

Em reunião, Bolsonaro

se queixa de dados

que são passados

pelo órgãos oficiais:

‘O meu funciona’

]

ANÁLISE: Rosângela Bittar

Íntegra de vídeo conta

histórias absurdas,

ilegais e imorais