O Estado de São Paulo (2020-05-23)

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O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 23 DE MAIO DE 2020 Metrópole A


Oxford recruta mais


de 10 mil voluntários


Falecimentos


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


João Ker
Fabiana Cambricoli
Mateus Vargas


Um estudo observacional
com mais de 96 mil pacientes
internados mostrou que o
uso da cloroquina ou da hi-
droxicloroquina em pacien-
tes com o novo coronavírus,
mesmo quando associados a
antibióticos, aumenta o risco
de morte nos infectados pela
covid-19. É a maior pesquisa
realizada até o momento so-
bre os efeitos que essas subs-
tâncias têm no tratamento
do vírus. A cloroquina é defen-
dida pelo governo Jair Bolso-
naro como opção de trata-
mento, inclusive para pacien-
tes sem gravidade.
“Nós fomos incapazes de con-
firmar qualquer benefício da
cloroquina ou da hidroxicloro-
quina em resultados de interna-
ção pela covid-19. Ambas as dro-
gas foram associadas à diminui-
ção de sobrevivência dos pa-
cientes internados e a um au-
mento da frequência de arrit-
mia ventricular quando usadas
no tratamento da covid-19”,
conclui o estudo, liderado pelo
professor Mandeep Mehra, da
Escola de Medicina de Harvard,


e publicado anteontem na revis-
ta científica The Lancet.
A pesquisa foi realizada com
pacientes de 671 hospitais em
seis continentes, internados
entre 20 de dezembro de 2019
e 14 de abril deste ano. Das
96.032 pessoas analisadas,
14.888 foram tratadas com algu-
ma variação ou combinação da
cloroquina nas primeiras 48 ho-
ras de internação.
Entre os pacientes do grupo
de controle, ou seja, que não to-
maram nenhuma das drogas, a
mortalidade foi de 9,3%. Entre
os que tomaram a hidroxicloro-
quina sozinha ou combinada
com um antibiótico, o porcen-
tual de mortos foi de 18% e
23,8%, respectivamente. Já en-
tre os que tomaram a cloroqui-
na, a mortalidade foi de 16,4% e,
nos casos em que o remédio foi
administrado com antibióti-
cos, o índice subiu para 22,2%.
Na quarta-feira, o Ministério
da Saúde divulgou um docu-
mento em que defende o uso da
hidroxicloroquina para todos
os pacientes com covid-19, mes-
mo os com sintomas leves da
doença. Embora não haja com-
provação científica da eficácia
do medicamento contra a doen-
ça, o ministério alegou, no docu-

mento, que não tem poder de
diretriz, que o Conselho Fede-
ral de Medicina (CFM) autori-
zou recentemente que médicos
receitem a seus pacientes a clo-
roquina e a hidroxicloroquina.
Confrontado sobre o novo es-
tudo, o ministério afirmou que
acompanha mais de 40 pesqui-

sas clínicas envolvendo medica-
mentos para tratar a covid-19 e
não quis comentar os resulta-
dos. Em nota, a pasta se limitou
a dizer que “com base em estu-
dos existentes e parecer do Con-
selho Federal de Medicina
(CFM), além de experiência da
rede pública na utilização da clo-
roquina, cumpre o princípio da
equidade ao dar oportunidade
de todos os brasileiros, com
seus médicos, buscarem a me-
lhor opção de tratamento con-
tra o coronavírus”. Fontes do
ministério dizem que ninguém
acredita que a orientação do go-
verno mudará com a publicação
do novo estudo.
Também procurados pela re-
portagem, o Conselho Federal
de Medicina (CFM) e a Associa-

ção Médica Brasileira (AMB)
não se pronunciaram sobre pos-
síveis implicações do novo estu-
do nas recomendações brasilei-
ras sobre o uso do remédio. O
CFM disse “estar acompanhan-
do todos os trabalhos científi-
cos relevantes relacionados ao
tratamento da covid-19, dentre
eles este publicado pela The
Lancet.” Já a AMB afirmou que
ainda está analisando o estudo.
Para Fernando Bacal, diretor
científico da Sociedade Brasilei-
ra de Cardiologia, embora se-
jam necessárias mais pesquisas
sobre o uso do remédio em pa-
cientes com quadros leves, o es-
tudo da The Lancet traz mais um
alerta sobre os riscos da utiliza-
ção indiscriminada da medica-
ção. “Ele reforça nossa reco-

mendação de utilização desse
medicamento só dentro de pro-
tocolos de pesquisa”, afirmou.

OMS. Ontem, o diretor do pro-
grama de emergências da Orga-
nização Mundial da Saúde
(OMS), Michael Ryan, voltou a
desaconselhar o uso da cloro-
quina no tratamento de pacien-
tes do novo coronavírus. “Sabe-
mos que o governo (brasileiro)
aprovou o uso mais abrangente
da cloroquina, mas, de acordo
com as revisões sistemáticas da
OMS, as evidências clínicas não
apoiam o uso para tratamento
da covid-19. Não antes que te-
nhamos resultados dos estudos
em andamento”, disse. /
COLABOROU GUILHERME BIANCHINI,
ESPECIAL PARA O ESTADO

Paula Felix

A Universidade de Oxford anun-
ciou ontem que está recrutan-
do mais de 10 mil voluntários
do Reino Unido para a realiza-
ção das próximas fases de um
estudo para testar uma vacina
para o novo coronavírus. O gru-
po iniciou os testes com o imu-
nizante no mês passado com
mais de 1 mil pessoas.
Para a fase 2, os pesquisado-
res vão avaliar a resposta do sis-
tema imunológico em um gru-
po que vai incluir crianças de 5 a
12 anos e idosos. De acordo com
a instituição, os participantes
da fase 1 estão sendo acompa-
nhados e a meta é atingir até
10.260 voluntários nas fases 2 e
3 da pesquisa.
Além de verificar a eficácia do
imunizante, a etapa vai avaliar
se as doses causam efeitos cola-
terais considerados inaceitá-
veis. Até o fim do estudo, os par-
ticipantes não vão saber se rece-
beram a nova vacina ou um imu-
nizante que será utilizado co-

mo controle.
Outro objetivo da pesquisa é
analisar os efeitos da vacina em
pessoas com mais de 55 anos,
que não participaram da fase 1.
A vacinação deverá ser realiza-
da até junho.
De acordo com a universida-
de, a divulgação dos resultados
vai depender do número de in-
fecções dos voluntários. Caso
haja diminuição nos índices de
transmissão do vírus, a divulga-
ção pode demorar até seis me-
ses. A fase 3 terá a participação
de pessoas com mais de 18 anos.

Outra vacina. No início da se-
mana, outra vacina em testes
também teve resultados preli-
minares divulgados. O produto
em desenvolvimento pela far-
macêutica americana Moderna
se mostrou seguro e capaz de
induzir resposta imune, mas o
desempenho divulgado se ba-
seia na avaliação de apenas oito
participantes da pesquisa e não
foi publicado em nenhuma re-
vista científica – ou seja, o traba-
lho ainda não foi revisado por
outros cientistas.
A corrida pela vacina contra o
coronavírus mobiliza cientis-
tas do mundo todo. Segundo a
revista The Lancet, ao menos
cem imunizantes estão em tes-
te contra a covid-19.

A primeira rodada de testes em
humanos de uma possível vaci-
na contra a covid-19 mostrou re-
sultados preliminares animado-
res: o imunizante foi capaz de
criar uma resposta imune entre
os voluntários e foi considera-
do seguro e bem tolerado, se-
gundo um estudo publicado on-
tem na renomada revista cien-
tífica The Lancet. O próprio arti-
go ressalta, porém, que novos
estudos são necessários para
confirmar se essa resposta imu-
ne observada no organismo dos
voluntários é, de fato, capaz de
proteger contra uma infecção
por covid-19.
O estudo, conduzido por cien-
tistas chineses do Instituto de
Biotecnologia de Pequim, con-
tou com a participação de 108
voluntários saudáveis que fo-
ram acompanhados por 28 dias
na fase 1 da pesquisa. Eles serão
monitorados ainda por seis me-
ses, quando os resultados finais
deverão ser divulgados.
A vacina em testes utiliza a
forma atenuada de um vírus cau-


sador de resfriado (adenoví-
rus) como meio de levar para
dentro das células o material ge-
nético que codifica uma proteí-

na do coronavírus responsável
por sua replicação. Quando nos-
so sistema imunológico reco-
nhece essa proteína como parte
de um elemento invasor, come-
ça a produzir anticorpos contra
o coronavírus.
O teste foi feito com três dife-
rentes doses do imunizante: bai-
xa, média e alta. Em todos os
casos, o imunizante foi capaz
de criar a resposta imune e não
teve efeitos colaterais impor-
tantes. Os mais comuns foram
febre, fadiga, dor de cabeça e do-
res musculares.

“Esses resultados represen-
tam um marco importante. O
estudo demonstra que uma do-
se única da nova vacina produz
anticorpos e células T específi-
cas para o vírus em 14 dias, tor-
nando-a candidata potencial pa-
ra investigação futura”, disse
Wei Chen, primeiro autor do es-
tudo e professor do Instituto de
Biotecnologia de Pequim.

Ressalva. “No entanto, esses
resultados devem ser interpre-
tados com cautela. A capacida-
de de desencadear respostas
imunes não indica necessaria-
mente que a vacina protegerá
seres humanos contra a covid-


  1. Esse resultado mostra uma
    visão promissora para o desen-
    volvimento de vacinas contra a
    covid-19, mas ainda estamos
    longe de que ela esteja disponí-
    vel para todos”, completou.
    O pesquisador ressaltou que
    outras limitações do estudo são
    referentes à amostra pequena
    de pacientes, curto período de
    acompanhamento e ausência
    de randomização (quando os
    pacientes de cada grupo são es-
    colhidos aleatoriamente).
    A fase 2 do estudo já foi inicia-
    da e será randomizada, duplo-
    cego (quando nem participan-
    tes nem investigadores e avalia-
    dores sabem qual voluntário re-
    cebeu a vacina e qual recebeu
    placebo) e contará com a parti-
    cipação de 500 indivíduos. Pela
    primeira vez, incluirá maiores
    de 60 anos, população impor-
    tante por ter maior risco de
    complicações. / F.C.


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lGrupo avaliado

Vacina chinesa tem boa avaliação,


mas análise não termina este ano


Isolamento fica em 52%; SP terá feriado. Pág. A20 }


Cloroquina


amplia risco


de morte,


diz estudo


lAlerta

Alzira Maria Castro de Jesus –
Dia 18. Era viúva. Deixa a filha Edna,
parentes e amigos. A cerimônia de
cremação foi realizada no Cemité-
rio e Crematório Primaveras.
Laurinda Araújo Oliveira – Era
solteira. Deixa parentes. A cerimô-
nia de cremação foi realizada no Ce-
mitério e Crematório Primaveras.
Jacira Martins Francisco – Aos
79 anos. Era viúva de Raimundo
Francisco. Deixa os filhos Eliete, Eli-
zeu, parentes e amigos. O enterro


foi realizado no Cemitério e Crema-
tório Primaveras.
Maria Apparecida Soares – Dia


  1. Era solteira. Deixa os filhos Ia-
    ra, Iramar e Itamara. O enterro foi
    realizado no Cemitério e Cremató-
    rio Primaveras.
    Mercedes da Silva Miranda –
    Dia 18. Era viúva. Deixa a filha Regi-
    na, parentes e amigos. A cerimônia
    de cremação foi realizada no Cemi-
    tério e Crematório Primaveras.
    Rute Ribeiro Seixas – Dia 17.


Era viúva. Deixa parentes e ami-
gos. A cerimônia de cremação foi
realizada no Cemitério e Cremató-
rio Primaveras.
Santina Bertão Miranda – Dia


  1. Era viúva. Deixa os filhos Débo-
    ra, Reginaldo Aparecido e Majoy.
    A cerimônia de cremação foi reali-
    zada no Cemitério e Crematório
    Primaveras.
    Benedito Burim – Dia 17. Era ca-
    sado com Leonilda Ancioto Burim.
    Deixa os filho Jair, Carlos e Maria


Teresa. A cerimônia de cremação
foi realizada no Cemitério e Crema-
tório Primaveras.
Clayton dos Santos – Dia 21. Dei-
xa parentes e amigos. O enterro foi
realizado no Cemitério e Cremató-
rio Primaveras.
Gilvan Silva Rocha – Dia 20. Era
casado com Maria Vitória Batista
Rocha. Deixa os filhos Robson,
Cristiane e Camila. O enterro foi
realizado no Cemitério e Cremató-
rio Primaveras.

Isaque Alves Bernardes – Dia


  1. Era solteiro. Deixa parentes e
    amigos. O enterro foi realizado no
    Cemitério e Crematório Primaveras.
    José Humberto Costa – Dia 20,
    aos 53 anos. Filho de José Mar-
    tins Costa e Maria das Graças Cos-
    ta. Era solteiro. Deixa o filho Igor.
    O enterro foi realizado no Cemité-
    rio da Paz.
    Vicente Camelo de Andrade –
    Dia 20. Era casado com Cleusa Apa-
    recida de Andrade. Deixa os filhos


Rosilene, Rosana, Isa e Ruth. O en-
terro foi realizado no Cemitério e
Crematório Primaveras.
Vicente Oliveira Beatrice – Dia


  1. Era solteiro. Deixa parentes e
    amigos. A cerimônia de cremação
    foi realizada no Cemitério e Crema-
    tório Primaveras.
    Vinicius Roberto Pereira Mar-
    tins – Dia 18. Era solteiro. Deixa pa-
    rentes e amigos. A cerimônia de cre-
    mação foi realizada no Cemitério e
    Crematório Primaveras.


Segunda fase de
pesquisa de imunizante
contra o coronavírus
vai incluir crianças de 5
a 12 anos e idosos

Imunizante produzido


em Pequim usa forma


atenuada de vírus que


causa resfriado; não


houve reação grave


108
voluntários saudáveis participa-
ram do estudo conduzido pelo
Instituto de Biotecnologia de Pe-
quim e foram acompanhados por
28 dias. Eles serão monitorados
durante seis meses.

Cautela. Teste é positivo, mas caminho para vacina é longo

TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

“Sabemos que o governo
aprovou o uso mais
abrangente da cloroquina,
mas, segundo as revisões da
OMS, as evidências clínicas
não apoiam o uso para
tratamento da covid-19.”
Michael Ryan
DIRETOR DA OMS

Trabalho com mais de 96 mil pacientes vê


menor sobrevida e maior risco de arritmia


Perigo. Cloroquina não tem eficácia contra a covid-19 comprovada e ainda pode au mentar o risco de arritmia cardíaca

NICOLAS ASFOURI / AFP
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