O Estado de São Paulo (2020-05-23)

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B4 Economia SÁBADO, 23 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


ADRIANA


FERNANDES


C


hamou bastante a atenção
dos gestores do mercado fi-
nanceiro que participaram
esta semana de uma live fechada, or-
ganizada pelo BTG, a fala do vice-
presidente da Câmara, Marcos Pe-
reira (Republicanos-SP).
Uma das principais lideranças do
Centrão e também na lista dos cota-
dos para substituir Rodrigo Maia
(DEM-RJ), Pereira falou do movi-
mento esperado, nos próximos me-
ses, para a ação das duas alas (bas-
tante distintas) que existem hoje no
governo Jair Bolsonaro. A ala mili-
tar e a da equipe do ministro da Eco-
nomia, Paulo Guedes.
Na live, Marcos Pereira abriu o jo-
go e acabou revelando palavras a ele
ditas pelo ministro da Casa Civil,
Braga Netto, em reunião na semana
retrasada, na Câmara dos Deputa-
dos com outros presentes. “Daqui a

alguns meses o governo terá de enfren-
tar a intransigência do ministro Paulo
Guedes”.
Nesse caso, a intransigência apon-
tada pelo líder do Centrão e ex-minis-
tro da Indústria e Comércio Exterior
continua sendo a disputa em torno
de uma maior participação do Estado
para tirar a economia do buraco de-
pois da reabertura na fase pós-pande-
mia da covid-19.
Essa é uma divisão bem mais ampla
do que aquela em torno do confronto
observado na divulgação do polêmico
programa Pós-Brasil, lançado no mês
passado com o aval da ala militar e que
expôs publicamente, pela primeira
vez, as entranhas da divisão entre es-
ses dois grupos dentro do governo.
A disputa vem ganhando fôlego tam-
bém com o debate em torno da exten-
são dos programas de assistência à po-
pulação mais vulnerável. O que está fa-

zendo a diferença cada vez mais é o
apoio dos novos aliados do presidente
do Centrão, que já escolheram o seu
lado: a ala militar.
Por isso, o mercado está tão interes-
sado em ouvir aquelas lideranças dos
partidos do Centrão, que já estão aber-
tamente juntas do presidente, para ver
onde e como a banda vai tocar daqui
para frente.
No primeiro momento, Guedes teve
o apoio do presidente Bolsonaro.
“Quem manda é o Guedes”, reforçou o
presidente depois da tensão provoca-
da com o Pós-Brasil no mercado, que
reagiu na época com alta dos juros, dó-
lar e queda da Bolsa.
O debate em torno do Pós-Brasil pa-
rece assunto velho, mas não é. O Pós-
Brasil e a avaliação de muitos dentro
do governo de que o Ministério da Eco-
nomia é grande demais continuarão as-
sombrando Guedes nos próximos me-
ses. A percepção que ficou para os parti-
cipantes da live é que Marcos Pereira
passou a avaliação de militares, que
continuam insatisfeitos com a reação
da equipe econômica para a retomada.
Está claro para as duas alas que o
encontro marcado com a intransigên-
cia, a que se referiu Marcos Pereira,
será o momento em que os dados ofi-
ciais mostrarem aquilo que todo

mundo já espera: a explosão do de-
semprego.
A expectativa é de que o estrago da
pandemia no mercado de trabalho vai
ficar mais definido em julho e agosto.
Os dados apresentados, na quinta-fei-
ra à noite, pela secretaria de Trabalho
já apontam nessa direção. Os pedidos
de seguro-desemprego tiveram um sal-
to na primeira quinzena de maio. Um
aumento de 76,2% em relação ao mes-
mo período do ano passado.
Recente estimativa do Instituto Bra-
sileiro de Economia (Ibre) da Funda-
ção Getúlio Vargas indicou que o mer-
cado de trabalho tem mostrado uma
rápida piora de seus indicadores em
consequência da pandemia. Para o ano
de 2020, a previsão é que a taxa de de-
semprego atinja uma média de 18,7%,
uma alta de quase 7 pontos porcen-
tuais em relação ao ano anterior.
Uma resposta rápida ao aumento do
desemprego será sem dúvida fator de
pressão do Palácio do Planalto que vai
se intensificar. É quando as duas for-
ças vão mostrar a sua força. Emprego é
hoje a maior cobrança do presidente
na equipe econômica. No vídeo da reu-
nião ministerial do dia 22 de abril, di-
vulgado com autorização do Supremo
Tribunal Federal, Bolsonaro fala para
Guedes que 10 milhões de “carteiras

assinadas vão para o saco”.
Se antecipando à pressão, Gue-
des tenta resgatar a construção de
uma agenda para a retomada – ain-
da sem ganhar o entusiasmo dos
parlamentares.
O ministro falou nesta semana
em um novo contrato de trabalho
emergencial simplificado para au-
mentar as contratações e acenou
com a extensão do auxílio emergen-
cial de R$ 600. “É possível... eu não
vou dizer que é provável..., mas é
possível que aconteça uma exten-
são..., mas será que a gente tem o
dinheiro para fazer a extensão a R$
600? Acho que não...”, disse Guedes
a empresários do setor de serviços,
o mais prejudicado pela crise.
O diagnóstico após a declaração
do ministro é de que com esse aceno
ele já começou a fazer uma guinada,
mesmo que tímida, para diminuir a
pressão. O problema, porém, só co-
meçará a ser resolvido quando o
crédito para as empresas, principal-
mente para os pequenas, começar a
fluir. Até agora, sem sinais de solu-
ção e com consequências negativas
justamente para o emprego.

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Patrik Camporez/ BRASÍLIA


O governo Bolsonaro deu
aval para as concessionárias
de rodovias federais pleitea-
rem à Agência Nacional de
Transportes Terrestres
(ANTT) reequilíbrio contra-
tual devido à pandemia do co-
ronavírus e consequente rea-
juste nas tarifas de pedágio.
As concessionárias só não en-
traram, imediatamente, com pe-
dido de reajuste, porque aguar-


dam do governo outras medi-
das para ajudá-las a enfrenta-
rem a redução do movimento
nas estradas.
De acordo com Associação
Brasileira de Concessionárias
de Rodovias (ABCR), a movi-
mentação nas estradas do País
concedidas ao setor caiu, nos
meses de abril e maio 44%. Isso
resultou numa queda na arreca-
dação de 30%.
Para reparar essas perdas, a
Advocacia-Geral da União (A-

GU) emitiu, no dia 13 de abril,
um parecer que reconhece que
as concessionárias, com a pan-
demia, estão tendo um prejuízo
não previsto em contrato.
O argumento das concessio-
nárias, acatado pelo governo, é
de que a responsabilidade pela
queda da movimentação nas es-
tradas é do Estado, já que o isola-
mento social foi imposto por go-
vernadores e prefeitos.
Desde o início desta semana,
associações de caminhoneiros

e transportadoras têm prepara-
do uma reação ao parecer da
AGU, com foco nos ministérios
da Infraestrutura e Economia,
se dizendo inclusive “traídas”
pelo governo. Os representan-
tes das categorias não questio-
nam o reequilíbrio dos contra-
tos, em si, mas alegam que o go-
verno não poderia ter dado mar-
gem para que isso acontecesse
por meio de reajuste das tarifas.
A Associação Nacional dos
Usuários do Transporte de Car-

ga (ANUT) estima que para ree-
quilibrar os contratos as empre-
sas devem aumentar as tarifas
de pedágio em 30%. “Nós temos
empresas que estão com extre-
ma dificuldade até para pagar sa-
lário de seus funcionários. Por
isso o governo não pode aumen-
tar o gasto das empresas com o
pagamento de tarifas mais ca-
ras. Isso nós não aceitamos”,
diz o presidente Luiz Baldez.
“A gente está vivendo uma si-
tuação muito complicada. O ca-

minhoneiro está sem frete”, diz
o presidente da Associação Bra-
sileira dos Condutores de Veí-
culos Automotores (Abrava),
Wallace Landim, conhecido co-
mo Chorão. A entidade repre-
senta mais de 2 milhões de cami-
nhoneiros autônomos do País.
O Ministério da Infraestrutu-
ra avalia, no entanto, que não há
condições para promover um
reajuste generalizado das tari-
fas, apesar da pressão das con-
cessionárias.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS Brasileiro em situação irregular no exterior frauda informações para receber auxílio. Pág. B7}


Intransigências


E-MAIL: [email protected]
ADRIANA FERNANDES ESCREVE AOS SÁBADOS

Transportadores reagem a possível alta de pedágio


Governo dá aval para negociação, pois concessionárias de estradas federais dizem que tiveram queda de até 30% na arrecadação

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