O Estado de São Paulo (2020-05-23)

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B8 Economia SÁBADO, 23 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Negócios

Renée Pereira


A perda de receita por causa
do coronavírus levou alguns
lojistas de aeroportos à Justi-
ça contra a Infraero para sus-
pender os contratos tempora-
riamente. Sem faturar há
mais de 60 dias, as empresas
não concordam com a propos-
ta apresentada pela estatal,
que administra aeroportos
como Congonhas (SP) e San-
tos Dumont (RJ). Mesmo der-
rotadas em primeira instân-
cia, elas recorreram da deci-
são para tentar mudar a situa-
ção.
Ainda em março, a Infraero
adotou algumas medidas para
tentar mitigar os efeitos econô-
micos causados pela pandemia.
A proposta inclui o desconto de
50% nos valores de alugueis
mensais, adiamento de cinco
meses do pagamento das men-
salidades de maio e junho e pror-
rogação do prazo contratual re-
ferente ao período de isolamen-
to social.
As medidas, no entanto, não
convenceram os lojistas, que
preferiram brigar na Justiça pe-
los direitos. Eles argumentam
que a prorrogação não resolve o
problema e pode agravar a situa-
ção de caixa das empresas no
pós-pandemia. “Quando chegar
outubro e novembro, as conces-
sionárias terão de pagar um alu-
guel e meio. O problema é que
não se sabe quando a situação se
normalizará”, explica o advoga-
do Bruno Régis, do escritório Ur-
bano Vitalino Advogados.
Ele entrou com uma ação pa-
ra tentar suspender o contrato
de seu cliente, mas o juiz acatou
o recurso da Infraero. “A estatal
alega que é preciso repartir os
prejuízos para que ela não que-
bre”, afirma Régis, destacando
que se trata de uma estatal e que


poderia ter aporte do governo
para se manter num período
tão conturbado.
Régis afirma que a suspensão
temporária está prevista nos
contratos de concessões em ca-
sos de força maior, como a pan-
demia de agora. “Ou seja, o con-
cessionário tem o direito de fa-
zer esse pedido, mas o posicio-

namento da Justiça tem sido
pró-Fazenda.”
O advogado da Associação
Nacional de Concessionárias
de Aeroportos Brasileiros (An-
cab), Herculano Xavier de Oli-
veira, conta que usou o mesmo
argumento na ação de suspen-
são temporária e reequilíbrio
dos contratos. A juíza entendeu
que as empresas precisarão ree-
quilibrar seus contratos, mas
não concedeu a tutela antecipa-
da. A associação recorreu ao Tri-
bunal Regional Federal (TRF) e
aguarda uma decisão. Essa ação
representa mais de 40 conces-
sionários, afirma Oliveira.

Sem luz. Um deles é o empresá-
rio Miguel Costa, que tem dois
estabelecimentos no Aeroporto
Santos Dumont e um em Congo-

nhas. Ele paga algo em torno de
R$ 68 mil de aluguel, mas desde
março não tem faturado nada.
“Em Congonhas, até a energia
elétrica foi desligada. Nada fun-
ciona, a escada rolante está para-
da e as luzes apagadas.”
Ele conta que algumas empre-
sas decidiram rescindir o con-
trato no aeroporto de São Pau-
lo, pois não conseguem pagar as
contas. O Estadão procurou al-
guns lojistas que não quiseram
se identificar na reportagem.
Um deles, no entanto, confir-
mou que está tentando nego-
ciar, de forma amigável, a resci-
são do contrato com a Infraero.
Em nota, a estatal disse que
também foi impactada pela cri-
se e que precisa equacionar
suas receitas para que se mante-
nha na condição de empresa

não dependente do Tesouro
(para o pagamento de funcioná-
rios e gestão dos aeroportos).
Destacou também que a propos-
ta feita teve adesão de cerca de
60% dos concessionários dos
aeroportos, o que corresponde
a aproximadamente 1.200 con-
tratos.
Do restante, 24% dos conces-
sionários recorreram ao poder
Judiciário, sendo que 90% das
decisões foram favoráveis à In-
fraero. Com relação à redução
do seu faturamento, a empresa
diz que ainda estima o impacto,
já que os valores referentes às
tarifas aeroportuárias têm dimi-
nuído tal qual o ritmo do setor
da aviação civil. Também avalia
os valores das receitas das con-
cessionárias dos aeroportos,
das quais é sócia.

Aeroportos privados. A situa-
ção dos lojistas de aeroportos
privados não é muito diferente.
Alguns tentaram reduzir os alu-
guéis na Justiça, mas agora par-
tiram para uma negociação bila-
teral com as concessionárias
dos aeroportos. “A negociação
tem sido caso a caso. Alguns já
conseguiram os benefícios plei-
teados e outros ainda estão em
conversas com as administrado-
ras dos aeroportos”, diz Mário
Portela, presidente da Ancab.
Segundo ele, nesse caso, os lo-
jistas terão mais sucesso se o go-
verno federal adiar para 2021 o
pagamento das outorgas dos ae-
roportos previsto para este
ano. As parcelas de seis aeropor-
tos já foram prorrogadas para
dezembro pela Agência Nacio-
nal de Aviação Civil (Anac).

A Apple está procurando um
executivo para liderar iniciati-
vas de compra de podcasts e
produção de programas pró-
prios para a sua plataforma de
áudio. Para competir com o ri-


val Spotify, que domina a área
dos streamings de áudio, a em-
presa da maçã espera encontrar
um nome que possa aumentar a
presença da marca no segmen-
to com conteúdo exclusivo, afir-
mou a agência de notícias
Bloomberg, na quinta-feira.
Atualmente, a Apple tem mi-
rado dois tipos de produções
próprias de áudio, ambos conec-

tados ao Apple TV+, serviço de
streaming de vídeo da marca.
Uma delas são podcasts com
conteúdos derivados das pró-
prias séries em vídeo do servi-
ço, os chamados spin-offs. O ou-
tro tipo de conteúdo são progra-
mas que podem fazer o cami-
nho inverso e virar produções
audiovisuais, como séries, por
exemplo.

Segundo fontes próximas, o
executivo procurado pela Ap-
ple vai responder diretamente à
Ben Cave, chefe da divisão de
podcasts da companhia.
O movimento ajudaria a Ap-
ple em duas frentes simultâ-
neas: promover o Apple TV+ no
segmento de vídeos, onde en-
frenta forte concorrência de
Netflix e Disney+; e colocar a

empresa no páreo com o Spo-
tify em serviços de áudio.

Disputa. Apesar de, nos Esta-
dos Unidos, a Apple possuir
uma parcela bastante grande de
usuários, o Spotify continua
sendo o líder em streamings de
música paga — incluindo pod-
casts. Atualmente, a empresa
sueca tem 130 milhões de assi-

nantes no mundo, enquanto a
Apple Music registra 60 mi-
lhões de assinantes.
Com o maciço investimento
da rival em podcasts, a Apple
tenta correr em busca de mais
conteúdo para ganhar espaço
— ou deixar de perder. Na ter-
ça-feira, 19, o Spotify comprou
os direitos exclusivos do pod-
cast de Joe Rogan, comentaris-
ta americano, que tem seu pro-
grama frequentemente entre
os mais vistos no streaming da
Apple. /AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O Google ainda não planeja tor-
nar permanente o trabalho re-
moto de seus funcionários. Em
entrevista à revista americana
Wired, Sundar Pichai, presiden-
te da empresa, disse que precisa
refletir sobre os benefícios de
ter as equipes longe dos seus es-
critórios.
O executivo afirmou que sa-
be que o mundo pós covid-19
será diferente, mas que não é


possível definir como serão as
atividades após a crise.
Embora não descarte mudan-
ças, Pichai ressalta que ainda é
muito cedo para pensar em co-
mo podem ser as dinâmicas de
trabalho e que será necessário
avaliar diversos pontos, como
produtividade.
“Acho que não vamos sair dis-
so (crise) e voltar para onde está-
vamos antes de tudo isso come-
çar. Então, espero que nos adap-
temos, mas ainda é muito cedo
para dizer como vai ser”, disse.
“Desde o início, estou empolga-
do que isso esteja funcionando
bem. Mas essa percepção é ba-
seada no fato de que todos nós
nos conhecemos e temos um

histórico de interações regula-
res. Quão produtivos seremos
quando diferentes equipes que
normalmente não trabalham
juntas tiverem de se reunir para
o brainstorming, o processo
criativo?”, completou.

Rivais. A postura é diferente
de alguns dos principais rivais
da companhia. O Facebook, por
exemplo, anunciou que espera
nos próximos 10 anos alocar em
trabalho remoto até metade de
seus 50 mil funcionários – o pla-
no da companhia será reforça-
do principalmente com novos
contratados.
Na semana passada, o Twit-
ter anunciou que tornará o ho-
me office permanente para al-
guns de seus funcionários, mes-
mo após o encerramento da cri-
se provocada pelo coronavírus.
A opção foi dada a posições que
não exigem presença física.
/AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


lImprevisibilidade

Lojistas de terminais vão à Justiça contra


Infraero para suspender contratos


Impasse. Lojistas afirmam que estão há 60 dias sem faturar; Infraero diz que também teve perdas com a pandemia e que precisa se autossustentar

Apple quer executivo para reforçar produção de podcasts


Google não planeja trabalho


remoto após a crise da covid-19


Anatel admite que leilão


do 5G pode sofrer atrasos


“Quando chegar outubro e
novembro, as
concessionárias terão de
pagar um aluguel e meio. O
problema é que não se sabe
quando a situação se
normalizará”
Bruno Régis
ADVOGADO DOS LOJISTAS

RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS

Estatal propôs desconto de 50% nos valores de alugueis e adiamento de cinco meses do pagamento das mensalidades de maio e junho;


lojistas argumentam que a prorrogação não resolve o problema e pode agravar a situação de caixa das empresas no pós-pandemia


YVES HERMAN/REUTERS-20/1/2020

Em entrevista,


presidente da empresa
diz que é preciso


considerar fatores como


produtividade


Cautela. Pichai não quer
decidir sobre ‘home office’

O uso de serviços de banda lar-
ga no Brasil cresceu entre 40% e
50% em meio à pandemia de co-
ronavírus, disse o presidente da
Agência Nacional de Telecomu-
nicações (Anatel) ontem, admi-
tindo pela primeira vez que me-
didas de distanciamento social
para conter a pandemia podem
atrasar o cronograma do leilão
5G, as redes de comunicação de
quinta geração.
“A pandemia certamente ge-
ra algum impacto no cronogra-
ma e na própria cadeia de supri-
mentos do 5G no curto prazo...
Isso é inexorável”, disse o presi-
dente da agência reguladora,
Leonardo Euler de Morais, em
uma transmissão pela internet
realizada pela think organiza-

ção Aliança Conecta Brasil F4.
“No longo prazo, porém, esti-
mula o 5G, a expansão da fibra e
a infraestrutura de telecomuni-
cações uma vez que testa a im-
portância das soluções digitais
para endereçamento da crise”,
acrescentou.
No início de abril, já com a
intensificação da crise causada
pelo coronavírus no Brasil, a
Anatel tinha dito que ainda era
“prematuro” falar em adiamen-
to do leilão e que o processo po-
deria ainda ocorrer neste ano. A
previsão era a de que o leilão
ocorre em novembro.
Desde então, diversas empre-
sas, como a Claro, vieram a pú-
blico pedir por um novo calen-
dário para o processo. /REUTERS
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