O Estado de São Paulo (2020-05-23)

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A4 SÁBADO, 23 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política

»SINAIS
PARTICULARES.
Celso de Mello,
ministro do STF

»Como é? Apesar de a fala
de Heleno ter sido interpre-
tada no mundo político co-
mo ameaça, interlocutores
do ministro da Defesa recha-
çam qualquer possibilidade
de ruptura institucional.

»Pera lá. Militares de alta
patente de fora do governo
até concordam com Hele-
no, mas criticaram a divul-
gação da nota. Oficiais das
unidades de pronta respos-
ta, que ficam nas bases mili-
tares e quartéis, sumiram.
O silêncio é significativo:
costumam sempre apoiar o
general em tudo.

»Tá ok. O ministro do STF
Celso de Mello enviou à
Procuradoria-Geral da Re-
pública o pedido de apreen-
são dos celulares do presi-
dente e de seu filho, Carlos.
O procedimento é praxe.

»Sétima arte. Brasília pas-
sou a semana na expectati-
va de qual seria a edição do
vídeo da reunião ministe-
rial por Celso de Mello. No
fim do dia, brincava-se que
foi um diretor adepto do
estilo de planos-sequência.

»Ufa. A reprodução do ví-
deo da reunião de 22 de
abril gerou um certo alívio
para parlamentares do Cen-
trão, novos “aliados” do go-
verno. A leitura é de que
não houve “bala de prata” e
que repercutiu muito bem
entre bolsonaristas.

»Ufa 2. O grupo avalia que
a oposição não conseguirá
intensificar a pressão pelo
impeachment. Este cenário
exime o Centrão de ter de
se articular para barrar a
iniciativa agora. Querem
guardar forças para quan-
do, e se, for preciso.

»Não, não. Parlamentares
da oposição, por outro la-
do, acreditam que a pressão
da sociedade vai aumentar
e que a força dos aliados do
presidente “tem limite”.

»Ação. A JBS negocia o
destino dos R$ 400 milhões
doados pela empresa para o
combate à covid-19 no Bra-
sil. No DF, será reformada
e mobiliada uma ala desati-
vada de um hospital a ser
definido pelo governo.

»Ação 2. Em outros locais,
a JBS construirá hospitais
modulares com base em
“alinhamento entre o comi-
tê gestor do projeto e o po-
der público para que a aju-
da seja a mais efetiva possí-
vel”, diz Joanita Karoleski,
coordenadora das doações.

»Futuro. O objetivo é aten-
der desde demandas emer-
genciais até ações que se-
jam vistas como um legado.
As doações serão destina-
das a 17 unidades da Federa-
ção e 162 cidades.

»No verão... O ex-ministro
Sérgio Moro deixou a magis-
tratura e o governo Bolsona-
ro, mas criminalistas conti-
nuam na sua cola.

»... passado. O grupo Prer-
rogativas, que reúne cerca
de 400 juristas e entidades
representativas do Direito,
realiza hoje a live: “A suspei-
ção do ex-juiz Sérgio Moro
na Lava Jato em debate”.

COM MARIANA HAUBERT. COLA-
BOROU ROBERTO GODOY.

I


nterlocutores do ministro da Defesa, Fernando Azevê-
do e Silva, dizem que ele está muito “preocupado” e
“pensativo” com o momento. Nos bastidores, a crítica
dele seria direcionada especialmente ao Judiciário. Foi nes-
se contexto que o comandante das Forças Armadas teria
concordado com a nota do ministro do Gabinete de Segu-
rança Institucional (GSI), Augusto Heleno, de que há uma
“evidente tentativa de comprometer a harmonia entre os
poderes” e que a apreensão do celular do presidente, Jair
Bolsonaro, pode ter “consequências imprevisíveis”.

Embates preocupam o


ministro da Defesa


MARIANNA HOLANDA (INTERINA*)
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
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POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/COLUNA-DO-ESTADAO/

KLEBER SALES/ESTADÃO

PSDB e DEM se
unem na Câmara.

Pág. A


Legislativo


Heleno reage com ameaça


após ato de decano do STF


Poderes. Chefe do GSI aponta ‘consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional’


após ministro Celso de Mello encaminhar solicitação de apreensão de celular de Bolsonaro


Tânia Monteiro
Vinícius Valfré / BRASÍLIA

O Palácio do Planalto reagiu
em tom de ameaça à decisão
do ministro Celso de Mello,
do Supremo Tribunal Fede-
ral, de encaminhar para análi-
se da Procuradoria-Geral da
República pedido de apreen-
são dos celulares do presiden-
te Jair Bolsonaro e seu filho, o
vereador Carlos Bolsonaro
(Republicanos-RJ). Na tarde
de ontem, o ministro Augus-
to Heleno, do Gabinete de Se-
gurança Institucional (GSI),
assinou uma nota afirmando
que se o pedido “inconcebí-
vel e inacreditável” for aceito
poderá ter “consequências
imprevisíveis para a estabili-
dade nacional”.
A “Nota à Nação Brasileira”,
como o comunicado foi chama-
do por Heleno, foi autorizada
pelo presidente e chancelada
pelos ministros militares que
despacham no Planalto. “Eu
olhei e falei: ‘o senhor fique à
vontade’”, relatou Bolsonaro
numa entrevista na noite de on-
tem. “Agora, peraí: um ministro
do STF querer o telefone funcio-
nal de um presidente da Repú-
blica que tem contato com líde-
res do mundo... tá de brincadei-
ra, comigo?”, emendou.
O ministro da Defesa, Fernan-
do Azevedo, também endossou a
nota antes da divulgação. “A sim-
ples ilação de o presidente da Re-
pública ter de entregar o seu celu-
lar é uma afronta à segurança na-
cional”, afirmou ao Estadão.
Em reação ao Planalto, o gabi-

nete do ministro Celso de Mel-
lo divulgou nota para observar
que as críticas do governo fo-
ram precipitadas, pois ele limi-
tou-se a encaminhar ao procura-
dor-geral, Augusto Aras, pedi-
do de apreensão dos aparelhos
feito pelo PDT, PSB e PV no âm-
bito do inquérito que apura de-
núncias do ex-ministro da Justi-
ça Sérgio Moro de interferência
de Bolsonaro na Polícia Federal.
“Vê-se, portanto, que o Ministro
Celso de Mello nada deliberou a
respeito nem sequer proferiu
qualquer decisão”, informou.
Na nota que gerou a mais re-
cente crise entre os poderes, He-
leno escreveu que o pedido de
apreensão do celular do presi-
dente é “inconcebível” e “ina-
creditável”. “Caso se efetivas-
se, seria uma afronta à autorida-
de máxima do Poder Executivo
e uma interferência inadmissí-
vel de outro poder, na privacida-
de do Presidente e na segurança
institucional do País”, ressal-
tou. “O Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência da
República alerta as autoridades
constituídas que tal atitude é
uma evidente tentativa de com-
prometer a harmonia entre os
poderes e poderá ter conse-
quências imprevisíveis para a
estabilidade nacional.”
A reação ao ministro do GSI
dominou as redes de políticos e
militantes. O presidente da Câ-
mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
disse que a nota de Heleno preju-
dica a estabilidade do País. “Não
pode ter ameaça ou agressão,
porque isso fragiliza a relação
com as instituições”, disse Maia.

Por sua vez, o presidente da
OAB, Felipe Santa Cruz ressal-
tou o “anacronismo” do gene-
ral. “Saia de 64 e tente contri-
buir com 2020, se puder”, escre-
veu no Twitter. O governador
de São Paulo, João Doria
(PSDB), afirmou que a fala de
Heleno foi desrespeitosa e auto-
ritária. Já o governador do Mara-
nhão, Flávio Dino (PCdoB), es-
creveu que nenhuma autorida-
de está imune a investigações
ou acima da Lei.

‘Intromissões’. Militares de fo-
ra do Planalto ouvidos pelo Esta-
dão se queixaram das “constan-
tes intromissões” do Judiciário
em decisões do Executivo. Eles
avaliaram que há um “nítido” ob-
jetivo político de atingir o gover-
no e o presidente.
Ainda pela manhã, Carlos Bol-
sonaro já se manifestava no

Twitter contra Celso de Mello.
“Meu celular? (...) Que crime te-
ria cometido para tamanha velo-
cidade e abuso? Nenhum. A nar-
rativa do sistema continua em
pleno vapor!”, escreveu.
Com o passar das horas, a
temperatura política na Praça
dos Três Poderes, que abriga de
um lado o Planalto e do outro o
Supremo, se elevou ainda mais.
Celso de Mello divulgou, pouco
antes das 17 horas, o áudio da
reunião de Bolsonaro com mi-
nistros, no dia 22, em que o pre-
sidente teria deixado claro uma
interferência na Polícia Fede-
ral. Nesse mesmo encontro,
Bolsonaro propôs armar a popu-
lação para evitar contra prefei-
tos e governadores que decidi-
ram pelo isolamento no comba-
te ao novo coronavírus e che-
gou a defender o uso das Forças
contra outros poderes.
Numa entrevista no começo
da noite à Rádio Jovem Pan, Bol-
sonaro afirmou que não é “ra-
to” para entregar seu aparelho à
Justiça. “Tá na cara que eu ja-
mais entregaria meu celular. A
troco de quê?”, disse.
Por fim, na portaria do Palá-
cio da Alvorada, Bolsonaro vol-
tou a criticar o ministro do Su-
premo. “O que parece que Cel-
so de Mello quer é que fique co-
zinhando a entrega do meu tele-
fone. Ninguém vai pegar meu
telefone. Mais ainda, senhor
Celso de Mello, está no Supre-
mo o pedido para abrir o sigilo
dos advogados do Adélio. O Bra-
sil quer saber”, disse, referindo-
se a Adélio Bispo, que o esfa-
queou em 2018.

C


riticado até pelos filhos do presidente Jair Bolsona-
ro por conta da sua atuação no Gabinete de Seguran-
ça Institucional (GSI), o general reformado Augusto
Heleno Ribeiro ganhou sobrevida no cargo depois de se co-
locar, na prática, como porta-voz e escudo para seu chefe.
Nos momentos de maiores polêmicas do governo, ele tem
adotado um discurso raivoso em suas redes sociais. Assim
conquistou o apoio dos bolsonaristas e saiu do foco.
Contudo, suas atitudes não são sintonizadas nas Forças
Armadas. Nos bastidores, integrantes do Alto-Comando
reclamam que os ministros da ala militar do Planalto se
colocam como representantes da totalidade das Forças,
mas para boa parte deles essa sintonia não é automática.
Tanto que quando o presidente e seus ministros entram
em polêmicas envolvendo questões antidemocráticas, co-

mo o fechamento de outros Poderes, militares da ativa di-
zem, nos bastidores ou, até mesmo, em nota oficial, que as
Forças não se envolvem em política. Heleno, por sua vez,
não economiza em discursos que lembram o passado de
levantes e agitações. Na polêmica da vez, ele destacou que
a mensagem em que criticava o pedido do ministro do Su-
premo Tribunal Federal, Celso de Mello, à Procuradoria-
Geral da República – de busca e apreensão do celular de
Bolsonaro –, era uma “nota à Nação brasileira”, como es-
creviam velhos comandantes militares.
Ao aparecer ao lado do então candidato à Presidência
Jair Bolsonaro, em 2018, Heleno ajudou a vencer a resistên-
cia ao nome do ex-capitão nas Forças Armadas, uma rela-
ção que sempre foi estremecida, especialmente, entre o
deputado federal e os oficiais. Na disputa eleitoral, os gene-
rais refratários a Bolsonaro avaliaram que Heleno poderia
segurar possíveis rompantes do presidente. Mas a avalia-
ção é a de que o ministro foi “engolido” pela guerra palacia-
na ao se associar à militância. A sugestão é que ele deveria
se preservar em nome da sua biografia.

Rodrigo Agostinho

General virou porta-voz


e escudo de Bolsonaro


PRONTO, FALEI!

ALBERTO BOMBIG
*O colunista está em férias.

lReação

]
BASTIDORES: Andreza Matais

“Ricardo Salles faz o Brasil passar vergonha. Não va-
mos ceder um milímetro no Congresso. Seguiremos
na defesa da nossa biodiversidade.”

Deputado federal (PSB-SP)

»CLICK. O líder do DEM,
Efraim Filho (PB), voltan-
do para o Estado se depa-
rou com o aeroporto de
Brasília completamente
vazio – uma raridade an-
tes do coronavírus.

COLUNA DO ESTADÃO

DIDA SAMPAIO/ESTADÃO–12/5/

“Um ministro do STF querer
o telefone funcional de um
presidente da República que
tem contato com líderes do
mundo. Tá de brincadeira
comigo?”

“Tá na cara que eu jamais
entregaria meu celular”

“O que parece que Celso de
Mello quer é que fique
cozinhando a entrega o meu
telefone. Ninguém vai pegar
meu telefone”
Jair Bolsonaro
PRESIDENTE

GSI. Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, diz ser ‘inconcebível’ pedido de apreensão de celular do presidente
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