O Estado de São Paulo (2020-05-24)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-2:20200524:
A2 Espaçoaberto DOMINGO, 24 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






Servidores públicos que traba-
lham na Fundação Casa de Rui
Barbosa lançaram um abaixo-
assinado contra um processo
que tramita no governo fede-
ral para extinguir a Fundação,
transformando-a em um mu-
seu administrado pelo Institu-
to Brasileiro de Museus. Se a
mudança for concretizada, a


instituição perderá sua estru-
tura educacional e de pesqui-
sa e passará a ter como única
função manter o acervo de li-
vros e documentos. A presi-
dente da Fundação, Letícia
Dornelles, nega o risco de a
Fundação acabar.

http://www.estadao.com.br/e/ruibarbosa

T


enham cuidado e levem
a sério o presidente Jair
Bolsonaro, assim como
bala perdida, assalto com ar-
ma, excesso de velocidade, co-
ronavírus e atentados à demo-
cracia. São riscos tão sérios
quanto o desemprego, a devas-
tação da Amazônia, a perda de
mercados externos e a fuga de
capitais. Nada disso é abstrato
ou maldosamente hipotético.
O risco Bolsonaro, incluída
sua diplomacia, é preocupa-
ção diária nos mercados e fa-
tor constante de instabilidade
cambial. Além disso, é uma
sombra permanente sobre a
política de saúde. Enquanto
aumenta o contágio e se multi-
plicam as mortes atribuídas à
covid-19, o presidente estimu-
la as aglomerações, delas parti-
cipa e frequenta manifesta-
ções golpistas. Empenhado
em campanha pela reeleição e
na defesa de interesses familia-
res, tenta interferir na Polícia
Federal e pressiona governa-
dores e prefeitos pela retoma-
da imediata da economia.
Pode-se chamá-lo de risco
Bolsonaro ou custo Bolsona-
ro. Qualquer das duas deno-
minações é mais descritiva
que presidente Bolsonaro. O
termo Presidência remete à
noção de governo, atividade
quase sempre evitada pelo
atual chefe do Executivo. Um
ano depois de sua posse, o de-
semprego pouco havia muda-
do. No primeiro trimestre de
2019 os desocupados eram
12,7% da população ativa. No
período de janeiro a março de
2020 eram 12,2%, ainda sem
os efeitos da crise derivada da
pandemia.
Em um ano a taxa de subuti-
lização passou de 25% para
24,4% e a dos informais ficou
estável. Quando a pandemia
chegou, 12,9 milhões de pes-
soas estavam desempregadas,
mas até esse momento o che-
fe do Executivo havia ignora-
do ou desprezado o problema.
O descaso de sua excelência
em relação às condições eco-
nômicas do País sempre foi
notório. No ano passado o pro-
duto interno bruto (PIB) cres-
ceu 1,1%, pouco menos que

em 2017 e 2018. É quase espan-
toso um crescimento menor
que o do fim de mandato do
presidente Michel Temer, pre-
judicado pela incerteza eleito-
ral e pelos efeitos de uma de-
sastrosa paralisação do trans-
porte rodoviário – ação apoia-
da pelo deputado Jair Bolsona-
ro. Iniciado o mandato, o no-
vo presidente continuou evi-
tando o assunto. Questionado
sobre economia, costumava
remeter o interlocutor ao seu
“posto Ipiranga”, o ministro
da área, Paulo Guedes.
Mas o respeito à categoria
dos “postos Ipiranga” sumiu
quando apareceu uma pande-
mia devastadora. Em menos
de um mês saíram dois minis-
tros da Saúde, ambos médi-
cos e ambos empenhados,
mesmo com algumas conces-
sões diplomáticas, em levar
em conta a ciência e os pa-

drões profissionais.
Os dois ministros foram
pressionados a afrouxar as me-
didas de segurança e facilitar
o uso da cloroquina. Os benefí-
cios desse remédio são ainda
incertos no combate ao novo
coronavírus. Mas seus efeitos
colaterais são conhecidos, po-
dem ser sérios e envolvem ris-
co de morte. Entre o benefício
incerto e o perigo muito pro-
vável, fizeram a escolha mais
prudente. O medicamento
tem sido usado em casos gra-
ves de covid-19, mas nessas
circunstâncias a avaliação de
ganhos e riscos pode ser dife-
rente. Em qualquer caso, a opi-
nião médica é indispensável.
Essa opinião foi despreza-
da na pregação do uso amplo
da cloroquina. Também esse
tema foi ideologizado: quem
é de direita toma cloroquina,
quem é de esquerda, tubaína,
disse o presidente no dia 19.
Ele apareceu rindo, num ví-
deo, ao fazer essa piada. Na-
quele dia pela primeira vez
foi ultrapassada a linha de

mil mortes em 24 horas –
1.719 segundo a informação
oficial. Pelos padrões nor-
mais de compostura, o mo-
mento era impróprio para gra-
cinhas. Alguém deve ter avisa-
do o presidente, porque de-
pois ele postou mensagem la-
mentando as mortes.
Talvez ele desconhecesse
os novos números, dirá algu-
ma pessoa caridosa. Mas o
desconhecimento, nesse caso,
é apenas mais uma evidência
de seu distanciamento do pro-
blema real. Ele já havia classi-
ficado a covid-19 como gripe-
zinha, participado de aglome-
rações e respondido com um
famoso “e daí?” a uma pergun-
ta sobre as mortes.
Recentes manifestações de
interesse pela economia estão
fora do padrão mantido por
mais de um ano. As condições
econômicas já eram muito ru-
ins antes da pandemia. Duran-
te cinco meses consecutivos,
entre novembro e março, a in-
dústria produziu menos que
um ano antes, segundo o Insti-
tuto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Dados de
abril já refletirão os efeitos da
nova crise, mas seria tolice
atribuir o mau estado da in-
dústria, do emprego e do con-
sumo só aos problemas asso-
ciados à covid-19.
Ao defender o menor isola-
mento, a pronta reativação
econômica e a difusão de um
medicamento milagroso, o
presidente reafirma seu popu-
lismo, atende a pressões de
grupos empresariais e tenta
neutralizar possíveis competi-
dores na próxima eleição. Ao
manter as tensões políticas e
a pressão contra o Legislativo
e o Judiciário, reforça a inse-
gurança de investidores, já as-
sustados com a desordem no
enfrentamento da emergên-
cia sanitária. A fuga de capi-
tais e a alta do dólar são refle-
xos muito claros desses fatos.
O risco Bolsonaro afasta in-
vestidores e o custo Bolsona-
ro pesa nas contas de empre-
sas brasileiras.

]
JORNALISTA

Montagens nacionais serão
exibidas no canal da Secreta-
ria Municipal de Cultura.

http://www.estadao.com.br/e/mostra

CULTURA NACIONAL


Fim da Fundação Casa de Rui Barbosa?


Golfista jogará pela primei-
ra vez em três meses. Retor-
no de Woods põe os holofo-
tes mais uma vez na saúde
de suas costas.

http://www.estadao.com.br/e/golfe

l“Não duvido nada. Brasileiro é muito ingênuo nesse quesito, tem voca-
ção para idolatrar o que vem de fora.”
ADRIANA DAMA

l“Resultado de um governo que está mais preocupado em encontrar
um inimigo do que em governar!”
AIRTON LIMA JR.

l“Essa parte do vídeo não deveria ter sido excluída? Isso acaba com-
prometendo as relações comerciais entre os países.”
ANDRÉA OLIVEIRA

l“Comprar briga com um dos seus maiores parceiros comerciais. Ele
tem muita noção do que está fazendo.”
JAMILLE MOURÃO

INTERAÇÕES

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Relembre o tricolor que ven-
ceu o mundial e a Libertado-
res há 15 anos. Time levou a
sério a máxima de ganhar
em casa e empatar fora.

http://www.estadao.com.br/e/tricolor

Espaço Aberto


J


air Bolsonaro exibe notó-
rios traços autoritários já
desde antes de sua elei-
ção. Elogia o regime instaura-
do em 1964 e a tortura, atua
contra os direitos cidadãos e,
sobretudo, zomba dos direi-
tos humanos. Tais marcas são
visíveis para todos, impossí-
vel ignorar discursos e gestos,
incluindo as mãos prontas pa-
ra acionar armas.
O projeto de poder que o
conduz é simplório e demagó-
gico, mas contém em seu bo-
jo séculos de pensamento
contrário à democracia, ao li-
beralismo, à modernidade.
Mas somente no exercício do
cargo máximo da República
ele revela todo o ranço reacio-
nário e liberticida que move
o seu ânimo.
Em ato de que foi cúmplice,
o presidente deu ultimato aos
demais Poderes: ou seguem o
seu ditado ou aceitam o peso
das Forças Armadas, que o
apoiam. Tal ameaça piora
quando diz que a Constitui-
ção será obedecida e, note-
mos, ele é a Constituição.
Com a frase Bolsonaro reto-
ma as teses teológico-políti-
cas do século 17 inglês, em es-
pecial as de Tiago I. Para aque-
le monarca, rex est lex (o rei é
a lei). Desde aquele tempo
ocorre a luta entre juízes inde-
pendentes, Parlamentos e go-
vernos despóticos (B. Bour-
din: Theological-Political Ori-
gins of the Modern State). Em
cada lance histórico um deles
obtém hegemonia sobre os de-
mais. Em cada novo movimen-
to de controle estatal surge
um regime político diferente.
O programa de Montes-
quieu – por ele encontrado
no diálogo As Leis, de Platão –
sobre a harmonia política é
um modelo a ser perseguido,
nunca foi realizado. Quando
a tese liberal democratiza o
Estado, o puro modelo se
aproxima dos fatos. Mas se a
crise de poder deixa as insti-
tuições acéfalas, o Judiciário
se imiscui ou o Parlamento tu-
do decide.
O mais frequente é o Execu-
tivo praticar golpes de Estado
para impor os seus alvos. A


crônica dos golpes marca os
nomes de Napoleão e de seu
sobrinho, seguidos por mui-
tos ditadores. Nos golpes os
governantes se livram das
obrigações instauradas pela
democracia liberal, sobretudo
a liberdade de imprensa e a
responsabilização dos que
ocupam cargos públicos.
Sem democracia o soberano
não deve satisfações aos Parla-
mentos, aos juízes, à cidada-
nia. Tal costume foi combati-
do na Inglaterra por Edward
Coke (1552-1634). Ao admoes-
tar o rei, que defendia seus pri-
vilégios contra “os advoga-
dos”, Coke afirma que o sobe-
rano “não foi educado no co-
nhecimento das leis da Ingla-
terra”. Tiago I replica: se Coke
tem razão, o rei deveria estar
sob a lei. A hipótese seria “trai-
ção evidente”. Tiago cita Brac-
ton: Rex non debet esse sub homi-

ne sed apud Deo et lege (o rei
não deve estar sob a lei huma-
na, mas sob a lei divina).
Em 1616, Tiago adianta que
“os reis são justamente cha-
mados deuses, pois exercem
um modo de semelhança do
Divino poder sobre a Terra.
Considerados os atributos de
Deus, vemos o quanto eles
concordam com a pessoa de
um rei. Deus tem poder de
criar ou destruir, fazer ou des-
fazer ao seu arbítrio, dar vida
ou enviar a morte, a todos jul-
gar e a ninguém prestar con-
tas (to be accountable). O mes-
mo poder possuem os reis.
Eles fazem e desfazem de
seus súditos, têm poder de er-
guer e abaixar, de vida e mor-
te, julgar acima de todos os
súditos em todos os casos e
só devem prestar contas a
Deus (yet accountable to none
but God)”.
Ainda em 1616 ele se dirige
aos juízes da Star Chamber:
“Não usurpem a prerrogativa
da Coroa. Se aparecer uma
questão ligada à minha prer-

rogativa ou mistério do Esta-
do, trato que não lhes diz res-
peito, consultem o rei ou o
seu conselho, ou ambos; por-
que tais matérias são trans-
cendentes. As prerrogativas
absolutas da Coroa não são
assunto para a língua de um
advogado nem é legal dispu-
tar sobre elas”.
Coke foi preso na Torre de
Londres por negar as referidas
prerrogativas. É inaceitável pa-
ra o governante absolutista a
norma que obriga os dirigentes
a prestar contas de seus atos.
O conceito de accountabi-
lity, com origens na democra-
cia grega e retomado no Re-
nascimento, liga-se direta-
mente à liberdade de impren-
sa. Basta ler os escritos elabo-
rados pelos puritanos (precur-
sores dos que fizeram a Revo-
lução Norte-Americana), em
especial os de John Milton, co-
mo a Areopagítica. Vencedora
em muitos momentos da His-
tória, a democracia liberal per-
deu o controle do Estado des-
de a contrarrevolução conser-
vadora iniciada no século 19.
Ela persiste em ideários retró-
grados que chegaram ao po-
der via pactos demagógicos
com setores religiosos inimi-
gos da ciência. Tais líderes bi-
sonhos desejam, mas não pos-
suem saberes para instalar
uma ditadura. Iletrado, o diri-
gente não governa e quer di-
tar. Recordemos o chiste de
César contra os sáfaros de Ro-
ma: Sylla nescivit literas, non po-
tuit dictare – ou seja, Sylla ig-
norava as letras, não podia di-
tar (Curtius, E.: A Literatura e
a Idade Média Latina).
Infelizmente devemos repe-
tir hoje o dito de Coke: “Bolso-
naro não foi educado no co-
nhecimento das leis brasilei-
ras”. Quem identifica sua pes-
soa com a Constituição repete
de modo hilário Tiago I (um
governante culto, afinal). Mas
um dia “o rei” deixará os palá-
cios rumo à insignificância.

]
PROFESSOR DA UNICAMP,
É AUTOR DE 'RAZÕES DE ESTADO
E OUTROS ESTADOS
DA RAZÃO' (PERSPECTIVA)

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
JOÃO FÁBIO CAMINOTO / DIRETOR DE JORNALISMO
MARCOS BUENO / DIRETOR FINANCEIRO
MARIANA UEMURA SAMPAIO / DIRETORA JURÍDICA
NELSON GARZERI / DIRETOR DE TECNOLOGIA

CENTRAL DE ATENDIMENTO AO LEITOR:
FALE COM A REDAÇÃO:
3856-
[email protected]
CLASSIFICADOS POR TELEFONE:
3855-
VENDAS DE ASSINATURAS: CAPITAL:
3950-
DEMAIS LOCALIDADES:
0800-014-
VENDAS CORPORATIVAS: 3856-

GOLFE
Tiger Woods joga
para combater covid

Globo transmite final
do mundial de 2005

COMENTÁRIOS DE LEITORES NO PORTAL E NO FACEBOOK:

THOMAS J. RUSSO/USA TODAY SPORTS ISSEI KATO/REUTERS

]
Roberto Romano


Tema do dia


Pegue seu passaporte de ci-
néfilo, rompa o isolamento
social por meio de filmes.

http://www.estadao.com.br/e/paris

Bolsonaro,


o Absolutista


Líderes bisonhos
desejam, mas não
possuem saberes para
instalar uma ditadura

O risco Bolsonaro é o mais


grave no meio da pandemia


A economia já estava
mal e o desemprego
era elevado antes de
chegar o coronavírus

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)

AV. ENGENHEIRO CAETANO ÁLVARES, 55
CEP 02598-900 – SÃO PAULO - SP
TEL.: (11) 3856-2122 /
REDAÇÃO: 6º ANDAR
FAX: (11) 3856-
E-MAIL: [email protected]
CENTRAL DE ATENDIMENTO
AO ASSINANTE
CAPITAL E REGIÕES METROPOLITANAS:
4003-
DEMAIS LOCALIDADES: 0800-014-77-
https://meu.estadao.com.br/fale-conosco

CENTRAL DE ATENDIMENTO ÀS AGÊNCIAS DE
PUBLICIDADE: 3856-2531 – [email protected]
PREÇOS VENDA AVULSA: SP: R$ 5,00 (SEGUNDA A
SÁBADO) E R$ 7,00 (DOMINGO). RJ, MG, PR, SC E DF:
R$ 5,50 (SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 8,00 (DOMINGO).
ES, RS, GO, MT E MS: R$ 7,50 (SEGUNDA A SÁBADO)
E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,
(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


Bolsonaro: serviço


secreto chinês está


infiltrado no Brasil


Presidente disse em reunião ministerial
do dia 22 que país asiático atuaria na
Esplanada

]
Rolf Kuntz

LAISA GOMES/FUNDAÇÃO CASA DE RUI BARBOSA FUTEBOL

No estadao.com.br


YOUTUBE

Mostra Internacional
tem exibições online

CINEMA

Uma viagem a Paris
sem sair do sofá
Free download pdf