O Estado de São Paulo (2020-05-24)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-2:20200524:
B2 Economia DOMINGO, 24 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Se dependesse somen-
te de convicções e deci-
sões de certos minis-
tros de Estado e de
membros da família do
presidente da Repúbli-
ca, a balança comercial
já não mais seria a principal responsá-
vel pela situação ainda relativamente


confortável das contas externas do
País nem estaria assegurando, com
folga, o bom desempenho do agrone-
gócio brasileiro, um raro segmento da
economia que apresenta resultados
positivos em meio à crise do novo co-
ronavírus. País repetidamente critica-
do por membros do primeiro escalão
do governo de Jair Bolsonaro, a Chi-
na, que há anos é o principal destino
das exportações brasileiras, está com-
prando mais produtos agroindus-
triais originários do País.
Em abril, por exemplo, a segunda
maior economia do mundo aumen-

tou em 61% as importações de produ-
tos do agronegócio brasileiro na com-
paração com um ano antes, de acordo
com o Ministério da Agricultura, Pe-
cuária e Abastecimento (Mapa). As
exportações desses produtos para a
China alcançaram US$ 4,76 bilhões
no mês passado, contra US$ 2,96 bi-
lhões em abril do ano passado. No
mês, a participação da China nas ex-
portações brasileiras do setor passou
para 46,6%, ante 36,1% em 2019.
Nos quatro primeiros meses do
ano, as exportações do agronegócio
alcançaram US$ 31,40 bilhões, o equi-

valente a 46,3% do total exportado
pelo País no período. Mesmo com a
redução notável do comércio mun-
dial e da queda dos preços internacio-
nais em razão da pandemia de covid-
19, o total exportado pelo agronegó-
cio aumentou 5,9% em valor na com-
paração com o primeiro quadrimes-
tre de 2019. O resultado foi alcançado
por causa do aumento de 11,1% da
quantidade exportada, pois o índice
de preços diminuiu 4,7%.
Também no quadrimestre o papel
da China como importador de produ-
tos brasileiros do agronegócio foi des-

tacado. No período, o valor exporta-
do pelo Brasil para aquele país alcan-
çou US$ 11,85 bilhões, ou 37,7% do
total.
Já as exportações para os Estados
Unidos, segundo principal destino
dos produtos agropecuários brasilei-
ros, ficaram em US$ 1,92 bilhão no
quadrimestre, valor 14,2% menor do
que o registrado em igual período do
ano passado. Ressalve-se que a econo-
mia chinesa já começa a se recuperar
da crise do coronavírus, enquanto a
americana registra os piores índices
econômicos em muitas décadas.

Alto Escalão


Editorial Econômico


De que depende


a tranquilidade


da balança


E-MAIL: [email protected]
TWITTER: @COLUNADOBROAD

O


Itaú Unibanco estrutura, com algumas construtoras, uma nova
linha de crédito imobiliário com taxa de juros atrelada à caderneta
de poupança, algo inédito no País. O trabalho envolve apenas pou-
cas empresas do primeiro escalão como Cyrela, Eztec e Trisul e está sen-
do tocado pelo braço de atacado da instituição, o Itaú BBA (foto). A primei-
ra fase deve envolver em torno de dez projetos. Ao todo, estima-se que o
banco liberará cerca de R$ 1 bilhão. A nova modalidade visa financiar, em
um primeiro momento, construtoras e incorporadoras. Chamada ‘plano
empresário’, está prevista para ser lançada nos próximos 15 dias. A modali-
dade vai ao encontro de um pleito da Associação Brasileira de Incorpora-
doras Imobiliárias (Abrainc).


A


té a próxima quarta-feira, o go-
vernador de São Paulo, João Do-
ria, e o prefeito do Município de
São Paulo, Bruno Covas, terão de deci-
dir se decretam ou não o isolamento
radical da população, o lockdown, co-
mo procedimento destinado a enfren-
tar o novo coronavírus.
Será quarta-feira porque no dia 31 de
maio se esgota o prazo dos decretos
que impuseram a quarentena e é preci-
so saber o que vem depois.
Epidemiologicamente, esta parece a
melhor opção, diante do agravamento
da crise e do aumento do risco de colap-
so do sistema público de saúde. No Esta-
do, até esta sexta-feira, já são mais de 76
mil infectados e 5,7 mil mortes, os leitos
de UTI estão com ocupação de 75% no
Estado e de 91% na Grande São Paulo.
Antes de mais nada, é preciso saber
se o lockdown não viria tarde demais e
até que ponto poderia funcionar. E, se
não funcionar, saber se os resultados
não poderiam ser piores do que se o
isolamento simples fosse mantido.
Não há resposta conclusiva para essas
perguntas.
A população não parece motivada a
enfrentar o bloqueio de circulação.
Cerca de metade das pessoas não vem
observando nem sequer a quarentena,
em parte porque está cansada do isola-
mento e, também, porque precisam tra-
tar de arrumar algum sustento.
Nova pergunta: confinar os morado-
res das periferias em suas casas não
produziria efeito mais nocivo, o de in-
fectar mais rapidamente os mais po-
bres, os que não dispõem de condições
mínimas de higiene para se proteger?
Só na Grande São Paulo são 21,5 mi-
lhões de habitantes. Por aí se vê que, se
for para adotar a saída radical, será pre-
ciso engajar todos os prefeitos da re-
gião e não apenas o do Município de
São Paulo. Qual seria o índice de suces-
so de uma operação de lockdown? Ele-
var de 60% a 70% o confinamento po-

deria reduzir o número de mortos e o
nível de utilização dos leitos de UTI? O
que garantiria esse sucesso numa cida-
de que não conseguiu nem sequer blo-
quear meia dúzia de avenidas nem man-
ter por apenas uma semana o rodízio
de 24 horas nos veículos?
Para exigir a observância do lock-
down, seria preciso garantir punições
severas para infrações. Que tipo de puni-
ção poderia ser usada? Prender os trans-
gressores, quando as autoridades vêm
fazendo o contrário e vêm soltando pre-
sos para evitar o alastramento da conta-
minação nos presídios? Ou aplicar mul-
tas sobre quem não tem dinheiro nem
para se alimentar?
Além disso, não deixa de ser limite
incontornável à eficácia de um isola-
mento radical o funcionamento de su-
permercados, feiras livres, farmácias,
postos de gasolina, bancas de revistas e
oficinas de reparo de veículos. Além dis-
so, o mercado financeiro não pode pa-
rar, a Bolsa tem de seguir os mercados
internacionais, os bancos precisam per-
manecer abertos, os portos e os corre-
dores de acesso e de saída de mercado-
rias não podem fechar.
Ah, sim, as autoridades poderiam op-
tar por um lockdown seletivo. Nesse ca-
so, que critério adotar? Por idade, por
localização geográfica? E como admi-
nistrar a obediência a essa decisão? Por
tudo isso se vê que tanto o governador
como os prefeitos terão de optar por
saídas de enorme gravidade sem clare-
za do que estão decidindo.

»Mira de um lado... Em uma estra-
tégia para o pós-crise, a Abrainc,
que representa as maiores incorpo-
radoras do País, levou ao Banco
Central a proposta de criação de
uma linha de financiamento para a
compra de imóveis, com juros atre-
lados à remuneração da de poupan-
ça em uma tentativa de reduzir as
taxas do mercado imobiliário.


»... acerta do outro. No caso do
Itaú, o objetivo, por ora, é financiar
as construtoras. A torcida do setor,
entretanto, é de que a nova modali-
dade seja oferecida futuramente
também às pessoas físicas, dando
uma injeção de ânimo às vendas,
passada a pandemia. Procurados,
Itaú e construtoras não falaram.


»Aceita cartão? A Cielo, de Brades-
co e Banco do Brasil, já atraiu quase
70 empresas com a solução que per-
mite o uso dos recursos do auxílio
emergencial de R$ 600, em paga-
mentos de compras com cartões.


São mais de 6,3 mil maquininhas
inteligentes que oferecem o serviço.

»A a Z. A maioria dos cadastrados,
obviamente, é do setor de supermer-
cados e inclui nomes como Carre-
four Brasil, Big e GPA, dono do Pão
de Açúcar, Extra e Assaí. Há ainda
lojas de construção e farmácias co-
mo a Pague Menos. Estabelecimen-
tos menores também estão na lista.

»Upload. As medidas de isolamen-
to para conter a pandemia têm im-
pulsionado a digitalização dos clien-
tes da Enel Brasil, maior grupo de
distribuição de energia do País. A
empresa registrou crescimento de
14% na adesão dos consumidores
de suas concessionárias em São Pau-
lo, Goiás, Ceará e Rio Janeiro a seus
serviços digitais desde o início da
pandemia, em março. O grupo for-
nece energia elétrica para 17 mi-
lhões de clientes.

»Live. A pandemia tem provocado
reflexos permanentes no dia a dia
corporativo. A Associação Brasileira
do Alumínio (Abal) resolveu tornar
virtuais, de maneira permanente, as
reuniões mensais de seus 16 comi-
tês. Somente em passagens aéreas, a
economia será de R$ 60 mil por
mês. No outro lado da moeda, as
aéreas sofrerão o impacto.

»Inevitável. O trabalho remoto tam-
bém veio para ficar nos bancos. Pes-
quisa da consultoria de recursos hu-
manos Russell Reynolds Associates
mostra que, no pós-pandemia, o ho-
me office deve se consolidar entre
as instituições com impacto, inclusi-
ve, no tamanho das instalações.

»Rotina. Outra conclusão da pes-
quisa é que a produtividade dos em-
pregados aumentou significativa-
mente. A XP Inc. foi a primeira a dar
essa sinalização. No Banco do Brasil,
cogita-se o emendar home office
provisório como definitivo a vários
funcionários.

»Ringue. A decisão sobre o que se-
rá feito com o dinheiro que sobrou
no processo de migração da TV ana-
lógica para o sinal digital ficará a car-
go do Conselho Diretor da Agência
Nacional de Telecomunicações (Ana-
tel). A Seja Digital, entidade criada
para administrar os recursos e distri-
buir kits para permitir o acesso da
população de baixa renda à tecnolo-
gia, tem em caixa hoje um saldo de
R$ 1,4 bilhão. O uso dos recursos é
alvo de disputa.

»Quero. O governo federal defende
o uso do dinheiro para expandir a
banda larga na região Norte do País.
Já o setor de radiodifusão quer que
seja investido para prover sinal digi-
tal para 1,7 mil municípios com me-
nos de 50 mil habitantes – hoje, es-
sas localidades são atendidas por tor-
res e antenas analógicas das próprias
prefeituras e associações locais.

»Votação. A proposta para uso dos
recursos será avaliada esta semana
em reunião do Grupo de Implanta-
ção do Processo de Redistribuição e
Digitalização de Canais de TV e RTV
(Gired), vinculado à Anatel.

»Sonho. O gestor João Luiz Braga
deixou a XP Asset e abrirá sua pró-
pria casa de investimento. Ele criará
o fundo com participação da gesto-
ra. A XP Asset seguirá comandada
por Marcos Peixoto. A XP confir-
mou a saída e disse, em comunica-
do, que não haverá mudança nos
processos de investimento.

CIRCE BONATELLI, ALINE BRONZATI,
ANDRÉ VIEIRA, CRISTIANE BARBIERI, ANNE
WARTH E WELLINGTON BAHNEMANN

CELSO


MING


ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA-31/1/

» “Quero o povo armado”
Do ponto de vista do interesse público, a
revelação de maior gravidade que saiu
da gravação da reunião ministerial de 22
de abril foi a disposição do presidente
Bolsonaro de armar a população contra
prefeitos e governadores: “Eu quero é
que o povo se arme! (...) O povo armado
jamais será escravizado”. Em última
análise, esse é um projeto de criação de
milícias, cujo modelo é hoje o do gover-
no bolivariano da Venezuela de Maduro.
A ideia revela que o presidente espera
confrontação com as polícias estaduais.

» Abin paralela
Outra novidade é a de que o presidente
conta com um serviço paralelo de infor-
mações, porque não confia nem nas in-
formações passadas pela Agência Brasi-
leira de Informações (Abin) nem pelos
serviços de inteligência das Forças Ar-
madas: “Eles são uma vergonha, uma
vergonha, que eu não sou informado”.
Da Abin, Bolsonaro se queixou de que é
uma instituição com “problemas de infil-
tração”. A falta de informações é tam-
bém uma das razões pelas quais o presi-
dente quer controlar a Polícia Federal.

IFC tem novo líder no Brasil


Carlos Leiria Pinto retorna ao
braço de fomento do Banco
Mundial, agora como gerente
geral para o Brasil. Ele substi-
tui Hector Gomez Ang, atual
líder para Angola, Botswana,
Moçambique e Zâmbia.


»Visa. A ex-ministra de tec-
nologia de informação e comu-
nicação da Colômbia Silvia


Constaín está como vice-presi-
dente de Government Engage-
ment para América Latina e
Caribe.

»Banco do Brasil. A nova di-
retora de marketing e comuni-
cação é Ana Cláudia Kakinoff
Correa, após a saída de Alexan-
dre Alves de Souza. Ela está
no BB desde 1992.

»Huawei. O novo CEO da
operação brasileira é Sun Bao-
cheng, que substitui Yao Wei.

»Brink’s. Marcelo Caio
Bartolini D’Arco, vindo da
Panalpina, chega para presi-
dente no lugar de Fernando
Sizenando.

»Pipefy. Para chefe de RH foi
contratada Daniela Catalan
(ex-ScanSource).

»DHL Supply Chain. Antes
diretora de Novos Negócios,
Érica Couto passa a diretora
sênior da área de desenvolvi-
mento de negócios.

»Publicis. Duas promoções:
Gabriela Borges e Juliana Elia
a heads de atendimento e pla-
nejamento, respectivamente.

»Komatsu. Luciano Rocha
passou a vice-presidente exe-

cutivo da Divisão de Constru-
ção; Guilherme Santos, de Mi-
neração, e Sonia Fanhani, Fi-
nanças, Controladoria, Impos-
tos, TI, RH e Administrativo.

»Eletromidia Elemidia. Eduar-
do Alvarenga, que era Elemi-
dia, assume como CEO. Daniel
Simões (antes Eletromidia)
fica no conselho, responsável
por expansão. Alexandre Guer-
rero vira Chief Sales Officer.

CONFIRA

Adotar ou não adotar


o lockdown em São Paulo


Doria e Covas. Difícil decisão

| LUANA PAVANI | E-MAIL: [email protected]

coluna do


Itaú dará crédito atrelado à


poupança a construtoras


E-MAIL: [email protected]

ALEX SILVA/ESTADÃO - 8/4/

FELIPE RAU/ESTADÃO-4/9/

RODRIGO TORRES

NILTON FUKUDA / ESTADÃO - 4/12/.
Free download pdf